segunda-feira, outubro 27, 2014

Amor, Desejo e Gozo


AMOR, DESEJO E GOZO EM FREUD E LACAN

Como desenvolvi em meu recente livro Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan - vol.1: as bases conceituais (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000), amor, desejo e gozo são elementos que fazem parte de uma estrutura que apresenta em sua base a ausência de inscrição da diferença sexual no inconsciente, tal como Freud pôde designar em seu artigo metapsicológico sobre O inconsciente.
A entrada do sujeito humano no campo da linguagem implica a perda de um gozo absoluto: assim, para todo sujeito, o gozo será sempre parcial, pois será apenas uma parcela da pulsão que obterá satisfação. É isso precisamente que Lacan denomina de gozo fálico, isto é, o gozo parcial e possível, ligado à linguagem e ao fato de que a entrada na linguagem ocasiona uma perda de ser para o sujeito humano.

O regime do desejo é fundado para o sujeito humano precisamente porque, na perda originária do gozo, o sujeito passa a viver numa relação contínua com uma falta de satisfação: o desejo é a expressão dessa falta de satisfação absoluta. O desejo permanece para sempre insatisfeito, o que leva a uma busca incessante de novos objetos, na tentativa de obter esta satisfação tão almejada e jamais alcançada. No nível estrito do desejo, a relação do sujeito com o objeto é extremamente lábil e fugaz, e nesse nível ele está sempre em busca de novos objetos que proporcionem uma plena satisfação. É o que faz Lacan aproximar o desejo da metonímia, isto é, do mero deslocamento de um objeto para outro.
É nesse ponto da estrutura que o amor tem uma participação  especial, pois o amor vem estabilizar a relação - tão instável - do sujeito com o objeto do desejo e, sendo assim, ele vem tentar preencher a falta que no campo do desejo não consegue jamais ser preenchida. O amor dá sentido àquilo que, no campo do sentido, não tem nenhum sentido.

A paixão amorosa é igualmente um efeito derradeiro da estrutura: quando na paixão o sujeito tem a ilusão de ter preenchido esta falta com algum objeto amoroso, ele tem a vivência de estar muito próximo daquele gozo absoluto que havia perdido originariamente. É nesse ponto que surge o perigo do crime passional: quando o sujeito perde um objeto que ele sente como sendo o objeto, ele pode passar ao ato no suicídio ou no homicídio, já que ele sente que algo nele também morreu ou foi morto – a sensação da plenitude.

Marco Antonio Coutinho Jorge é psicanalista, membro do Corpo Freudiano do Rio de Janeiro, professor da pós-graduação em psicanálise da UERJ, autor de Sexo e discurso em Freud e Lacan (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1988) e Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan – vol. 1: as bases conceituais (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000).

FONTE: Site do autor.


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