Para dissecar o falo: fetiche, violência e sedução
Tania Rivera
Desde que Simone de Beauvoir explicitou como base do patriarcado a posição do homem como “o Sujeito, o Absoluto”, de quem a mulher seria “o Outro”[1], a crítica feminista não cessou de denunciar a falácia da existência de um sujeito neutro capaz de sobrevoar a realidade para dela extrair verdades universais. Nesta trilha, devemos convir que não é anódino ou secundário que o autor Freud, à parte a condição de judeu que lhe trouxe dificuldades patentes, era um homem europeu bastante bem assentado na sociedade vitoriana entre os séculos XIX e XX, posto que nenhuma teorização se dá de maneira isenta quanto às questões de gênero, nem imune em termos históricos e geopolíticos. É irremediavelmente da posição de homem, e em um contexto marcadamente patriarcal da História europeia, que ele pensa e constrói elaborações teóricas, ainda que sua experiência clínica possa levá-lo a escutar o que está em jogo em configurações distintas da sua. Graças a esta escuta, de fato, ele inventa a psicanálise, e neste mesmo gesto desloca-se da posição de neutro representante da racionalidade que lhe seria assegurado pela tradição filosófica até então, para dedicar-se justamente a descentrar a razão, questionar os próprios pilares da subjetivação e neles encontrar, como eixo central, a sexualidade.
Não me parece que com tal descentramento Freud chegue a subverter e superar a estrutura patriarcal na qual se move. Mas creio que sua posição epistemológica (ou seja, quanto às próprias condições de produção do conhecimento), ao se deslocar da racionalidade filosófica que se acredita capaz de encontrar no próprio intelecto o material de elaboração de categorias universais para dedicar-se à escuta da singularidade de alguns/algumas – e especialmente de suas pacientes mulheres – permite que se desenhem linhas de força divergentes em relação aos esquemas hegemônicos, e que se revelem alguns de seus alicerces ocultos. Um destes é, sem dúvida, a anomia – ou melhor, a perversão – como algo inerente ao sexual tal como o concebe a teoria freudiana. Como sustenta o texto ”Três Ensaios sobre a Sexualidade”, de 1905, a sexualidade deve ser estudada a partir de suas “aberrações”, ou seja, justamente através das práticas condenadas pela moral vigente, pois ela é fundamentalmente perversa e resiste a toda normatização[2]. Ainda que a partir daí o psicanalista se dedique a construir toda uma teoria do desenvolvimento psicossexual que envolve fases a serem superadas e implica uma certa ideia de evolução em direção a uma organização genital, ele manterá sempre a noção de perversão como núcleo pulsante do sexual, a partir da ideia de que “a neurose é o negativo da perversão”[3], que embaralha as cartas da moralidade vigente para mostrar que o recalcamento em prol desta pode fazer adoecer e que desejos “perversos” não deixam de se exprimir, de forma deslocada, nos comportamentos mais variados, inclusive naqueles que podem parecer mais castos ou ascéticos.
Se é na figura da “criança perversa polimorfa” que a noção de perversão se declina explicitamente no texto de 1905, é importante perceber que ela não deixa de ressoar, implicitamente, o problema fundamental a que se dedicara Freud nos anos anteriores, o problema que funda a própria psicanálise e sua concepção de sexualidade, a partir do que lhe dizem suas pacientes histéricas, desde o momento em que ele de fato se dispõe a ouvi-las: a cena de estupro.
Assim a nomeio aqui, porque me parece importante e mesmo urgente abandonar o eufemismo do termo “sedução”[4] pelo qual Freud a inscreve na teoria, para situar nela a perversão do pai, como fazia o psicanalista em carta a Wilhelm Fliess de 6 de dezembro de 1896: “Parece-me cada vez mais que o aspecto essencial da histeria é que ela decorre da perversão por parte do sedutor”[5]. De fato, nisso que contam ao psicanalista seus pacientes – principalmente mulheres que, apesar de estarem fortemente silenciadas naquele contexto social, não deixavam de se rebelar e fazer ver através de seus sintomas – trata-se, de maneira geral, de narrativas que dão contornos e denunciam com muita nitidez um ato de abuso que seria perpetrado por um homem, em geral o próprio pai, de modo a objetificar corpos para usá-los a seu bel-prazer. E este fato bastaria para que se perceba que aquilo mesmo que mais tarde será nomeado como gênero é fulcral na teoria e na clínica psicanalítica, pois ao apontar nessa cena o fator patogênico central das neuroses a teoria freudiana se implica, de saída, em uma notável explicitação da estrutura patriarcal vigente. De fato, tal ato pelo qual a própria psicanálise se inaugura traz à luz uma violência fundamental, o trauma, situando como seu agente o protagonista do patriarcado em um comportamento que performa e reafirma seu poder de maneira abusiva sobre sujeitos vulneráveis, como crianças e adolescentes, em uma derrapagem perversa do pátrio poder não deve ser confundida com a plasticidade anômica da sexualidade em geral, pois perpetra um assujeitamento que põe em risco a própria integridade psíquica de suas vítimas. Uma vez assim situado, este gesto freudiano pode ser visto como ponto de partida para uma verdadeira dissecação do patriarcado – e ser tomado por nós como alicerce de uma leitura feminista dos textos psicanalíticos que aposte metodologicamente na potência de análise e desvelamento das narrativas patriarcais implicada em alguns de seus enunciados, ainda que o próprio Freud os enuncie, como não poderia deixar de ser, do interior mesmo da estrutura patriarcal, ou seja, em uma performance de gênero, como mostra de resto com eloquência sua escolha de um significante que esconde a brutalidade do trauma patriarcal sob o véu do erotismo implicado no termo “sedução”.
Também as hesitações do autor a respeito do estatuto desta cena podem ser vistas como parte de sua performance de gênero. Como se sabe, depois de considerá-la como fato, Freud duvidará de seu caráter real e a considerará como uma fantasia, ou seja, como uma cena efetiva em seus efeitos subjetivantes, mas que não corresponderia necessariamente a um acontecimento factual. Como um dos motivos que o levam a abandonar a teoria de que a causa da histeria residiria em um abuso sexual ocorrido na infância, Freud menciona em outra carta a Fliess, meses depois daquela em que postulava que a histeria decorreria da perversão do sedutor, “a surpresa de que, na totalidade dos casos, o pai, sem excluir o meu, tinha que ser considerado um pervertido”[6]. A frequência com a qual o abuso por parte do pai se daria na sociedade teria que ser considerada muito alta, prossegue o psicanalista, dado o alto número de pessoas atingidas por sintomas histéricos, “muito embora, certamente, essas perversões tão generalizadas contra as crianças não sejam muito prováveis”[7]. Por fim, no afã de salvar o pai de tal condenação, Freud afirmará ao amigo que “não se pode distinguir entre a verdade e a ficção que foram catexizadas pelo afeto”[8]. Ao longo das décadas seguintes, o psicanalista construirá sua teoria mantendo-se fiel a tal constatação de indecidibilidade entre ficção e realidade e reafirmando neste limiar a nefasta eficácia psíquica do trauma, como se a clínica não lhe cessasse de mostrar que a violência deste é real e referente à História, ainda que não se atualize necessariamente em um episódio de estupro nas histórias individuais de seus pacientes. Ele não chega a notar, contudo, que suas próprias especulações em ”Totem e Tabu” poderiam lhe fornecer a chave para entender tal violência traumática como algo implicado nas próprias linhas de força do pacto social patriarcal, ainda que xs sujeitxs dela se apropriem através da configuração de fantasias singulares que lhes conferem um lugar nesta narrativa. Já a consideração lacaniana de que a versão do pai é uma per-versão/pai-versão (père-version) parece-me encontrar nesta direção suas incidências teóricas e clínicas mais importantes, ainda que seu autor dedique-se mais a sublinhar com ela a pluralidade de versões possíveis de inscrição da função paterna do que a ideia de que em tal função estaria em jogo, ao mesmo tempo que a inscrição do nome/não do pai (nom/non du père) como garante da Lei, uma violência fundamentalmente abusiva e não apenas aquela implicada no ato civilizatório de dar limites e normatizar.[9]
Parece-me que os dois psicanalistas, apesar não deixarem, cada um a seu modo, de indicar o caminho para tal, permaneceram impossibilitados – devido à posição de gênero na qual se situavam, sem dúvida – de perceber que tal paiversão/perversão que é o fulcro do trauma e se conforma na fantasia fundamental de estupro deve ser posta em jogo com a narrativa sobre as origens da sociedade considerada um “mito teórico” por Freud, aquela do mencionado ”Totem e Tabu”. Em uma síntese muito rápida, pode-se dizer que este texto de 1912 conta como os irmãos (no masculino) um dia se uniram para assassinar o pai da horda primitiva, “um pai violento e ciumento que guarda todas as fêmeas para si próprio e expulsa os filhos à medida que crescem”, como escreve Freud[10]. A mulheres não aparecem no relato senão neste lugar de objeto de posse ilimitada do pai da horda primitiva e jamais serão nomeadas ao lado dos irmãos que fundam a fratria através da absorção do pai em banquete compartilhado e de sua ereção e reverência como Totem, marcada pela observância de tabus. Ora, devemos considerar que logicamente anterior ao ato fundante do assassinato do pai está implícito em tal narrativa um outro ato: o da objetificação abusiva das mulheres por parte do pai perverso. A reverência ao Totem e a obsessiva obediência aos tabus que servem de modelo etnográfico para o pacto social cegam a tal ponto aqueles que se identificam e reconhecem como “irmãos” e se culpam pela morte do pai, que lhes passa despercebido isso que no entanto é igualmente importante neste mito teórico: a violência de que é objeto o corpo feminino (ou o corpo por este ato feminizado, para dizê-lo mais precisamente) e cujo agente princeps é o pater familias do patriarcado. Não seria excessivo, em minha opinião, ver aí o fundamento perverso do que se costuma tomar como Lei na teoria psicanalítica, e que deve ser assim revista para que se reconheça nela, ao lado do estabelecimento de limites que visariam evitar que algum dos irmãos se coloque extorsivamente no lugar do pai primevo, a inscrição de ditames que estruturam e visam manter posições de poder que só se sustentam pelo desapoderamento e a violenta sujeição de muitxs.
Como psicanalista – e de maneira corajosa e honesta, diga-se de passagem – Freud não deixa de performar em seus escritos sua dificuldade em reconhecer tal lugar ao abuso paterno, como mostra seu primeiro caso clínico publicado como tal, o caso Dora, também de 1905. Essa jovem paciente não cessa de denunciar, em seu tratamento, o gesto do pai de colocá-la em posição de objeto em um quarteto, oferecendo-a ao marido de sua amante. Freud não pôde, contudo, reconhecer a violência de tal oferecimento e é o fato de não fazê-lo que leva Dora abandonar o tratamento, em minha opinião – mais do que a falha do analista em reconhecer os desejos homossexuais desta em relação à amante de seu pai, que ele alega ter sido a causa para tal. Terei que deixar para outro escrito uma revisão detalhada deste caso, naturalmente, mas não posso me furtar aqui de indicar um dos mais notáveis pontos de performance de gênero por parte do psicanalista: a consideração de que a “violenta repugnância” que sua paciente teria sentido aos 14 anos quando o Sr. K, o marido da amante do pai, a agarrou e beijou subitamente, seria um sinal de predisposição histérica, na medida em que tal “situação” deveria despertar “uma nítida sensação de excitação sexual” em uma “mocinha virgem de quatorze anos”[11]. E Freud completa, no parágrafo seguinte, peremptório: ”Eu tomaria por histérica, sem hesitação, qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos preponderante ou exclusivamente desprazerosos, fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos”.[12]
É espantoso que Freud considere que uma mulher não histérica, ou seja, supostamente “normal”, deveria sentir excitação sexual em qualquer situação, independentemente de com quem ela se dá, e sobretudo que ela deva senti-lo e consequentemente prestar-se a servir como objeto sexual de alguém por quem ela não parece ter manifestado nenhum interesse erótico, e que além disso faz parte de um conluio com seu pai no qual ela é tomada como mero objeto de troca. Portanto, se a psicanálise realiza “uma análise de uma sociedade patriarcal”[13], como indicava a feminista marxista australiana Juliet Mitchell já na década de 1970, devemos considerar que ela o faz de maneira complexa e mesmo problemática. De modo arguto, Mitchell assinala que o fato de analisá-la – ou seja, fragmentá-la de modo a mostrar seus componentes, dissecando-a – não faz da psicanálise “uma prescrição para uma sociedade patriarcal”, ainda que eventualmente ela tenha sido “usada” para tal[14]. A autora não deixa de apontar, assim, que a análise – ou seja, a quebra, segundo a etimologia da palavra – do patriarcado implica um certo “uso” da teoria, ou seja, que enunciados psicanalíticos são performados em determinada posição de enunciação, o que se pode fazer de várias maneiras e com diversos fins. De fato, devemos sempre desconfiar, a respeito da teoria em geral, e mais agudamente do que se refere a questões de gênero, da pretensão de falar em nome d’A Teoria, assim unificada e simplificada. Isso não é apenas pretensioso ou ingênuo, mas nitidamente anti-analítico, posto que a posição de enunciação que o próprio Freud forja em sua obra resiste a tal simplificação dogmática e nos obriga a movermo-nos por sua trama de modo muito mais interessante e complexo e que implica uma apropriação ativa e singular, como indica Jacques Lacan em seu retorno aos textos fundantes. Atualmente, creio que se deve defender tal método de leitura não apenas por seu rigor, mas sobretudo pelo que considero ser sua dimensão política: com ele trata-se de assumir que sempre lidamos com a teoria de maneira ativa, situada em termos históricos, geopolíticos e raciais e jamais neutra ou universal, mas nitidamente marcada no que diz respeito ao lugar ou lugares ocupados por cada leitor/leitora quanto a sexualidade, sexuação e gênero.
Por isso devo assumir minha posição de autoria aqui como a de alguém que se identifica como mulher (e branca e de classe média, em um país marcado pela violência colonial e a submissão colonizada a autores estrangeiros, em boa medida, até hoje) e que considera importante que se suspendam criticamente as leituras sobre sexualidade e sexuação consideradas canônicas e tidas por neutras e universais, para mostrar que elas costumam se basear na naturalização de certo ponto de vista dentre outros possíveis, e tal ponto corresponde, grosso modo, à posição daqueles sujeitos que se reconhecem como “meninos” face a essas questões – aqueles mesmos que o tabuleiro falopatriarcal situa como “homens”. Como uma pequena parte de um programa mais amplo de desdobramento das perspectivas de gênero implicadas nos conceitos freudianos, tentarei agora analisar uma “cena” teórica precisa, para sublinhar que em sua própria concepção a questão do falo implica uma subversão tão radical de seu suposto suporte na anatomia que ela chega às raias de uma demolição paródica. E que tal perspectiva sobre o falo nos permite ao mesmo tempo descortinar que as operações de sexuação feitas sob sua égide têm por alicerce, como já denunciava claramente a fantasia de estupro, um ato de violência perpetrado sobre alguns corpos, como demonstra uma das mais importantes noções a respeito do falo, mas que tem sido surpreendentemente negligenciada pelos psicanalistas em geral: o fetiche.
Trata-se com o fetiche de uma descoberta, como diz Freud, uma “descoberta subsidiária”, ocasional, que ocorre na escuta analítica de “um certo número de homens” que nunca disso se queixam e chegam mesmo a louvar o modo pelo qual ele “lhes facilita a vida erótica”[15]. É no texto “Fetichismo”, de 1927, que o psicanalista expõe sua tese, e de forma muito curiosa: “Ao enunciar agora que o fetiche é um substituto para o pênis (Penisersatz)”, diz, “decerto criarei um desapontamento”[16]. Sob o signo da decepção que tal substituição causaria, Freud se apressa em acrescentar que não se trata nela de “qualquer pênis ocasional”[17], mas sim do “falo (Phallus) da mulher (da mãe)”[18], que teria sido “extremamente importante na primeira infância, mas posteriormente perdido”[19]. Ele “normalmente deveria ter sido abandonado”, prossegue, assinalando que o fetiche “se destina exatamente a preservá-lo da extinção.”[20]
Em primeiro lugar, devo ressaltar que o fetiche desloca assim a anatomia, imediata e claramente, para o domínio da fantasia e do desejo – ou, mais precisamente, das teorias sexuais infantis, entre as quais não deixara de ser mencionada a da “posse universal do pênis” em um texto freudiano de 1908[21]. Se o substituto desse órgão fantasmático perdido tem “o pênis do homem” como seu ”protótipo normal”[22], como afirma Freud no final do texto de 1927, é importante notar que os exemplos em seguida mencionados estão longe de oferecer o que o autor qualifica como “símbolos”[23]. Trata-se, em geral, de uma deriva sobre a imagem do corpo da mulher-mãe na qual cada fetiche é uma espécie de “parada” no meio do caminho, cristalizando o suspense da revelação tão ansiada e ao mesmo tempo temida de modo a manter intacta a possibilidade que este corpo seja ao mesmo tempo o suporte da falta e da não-falta.
Assim o sapato ou o pé, o cabelo ou a pele ou o púbis, as peças de lingerie, etc. mostram que se trata sobretudo de dividir esse corpo em partes que podem ou não dar origem a outros objetos-fetiches. Neste sentido, em vez de se afirmar como modelo por meio de seus símbolos, o órgão do “homem” como “protótipo normal”[24] é justamente o que o fetiche parece subverter, a ponto de mostrar que qualquer coisa pode, em última instância, ocupar seu lugar, desde que um certo olhar a invista como objeto, como veremos mais adiante.
Além disso, e apesar de nunca retirar explicitamente de tal “pênis do homem” o papel de referência central, Freud não deixa de indicar outro modelo de construção do fetiche; um modelo aliás seria muito mais condizente com a lógica que caracteriza tal construção: a da posição cindida do menino que permite que se mantenham ao mesmo tempo tanto o reconhecimento quanto a recusa da suposta “castração feminina”[25]. Trata-se do tapa-sexo, ou seja, uma peça de roupa que se acrescenta à anatomia de forma a ocultar os genitais e assim manter as duas possibilidades em relação ao corpo da mãe, além de autorizar “a hipótese de que os homens eram castrados”, como escreve o autor[26]. Por essa via, devemos reconhecer que a construção do fetiche implica nada menos que a demolição da concepção binária que se baseia na suposta posse de um órgão como privilégio de poucos, e que lhe é implícita, também por sua dispersão numa diversidade de objetos, imagens e palavras, uma poderosa denúncia da “pretensão do pênis de se fazer passar pelo falo” como faz a noção de dildo no pensamento de Paul Preciado.[27]
Antes de avançarmos nessa direção, contudo, é importante examinar a cena fetichista, encarando-a como uma espécie de mito teórico, assim como a narrativa de ”Totem e Tabu”[28], mas distinguindo-se desta pela prevalência do escópico sobre o narrativo. O primeiro e mais surpreendente exemplo de fetiche mencionado por Freud sugere que este corresponderia ao próprio olhar como objeto: trata-se de nada mais que “um certo brilho no nariz”, que em seguida é desdobrado como um “olhar lançado no nariz”, graças à substituição translinguística entre o termo alemão Glanz e o glance em inglês, na fala deste analisando criado na Inglaterra[29]. Longe de rejeitar essas elaborações freudianas como ilusões imaginárias secundárias frente a uma operação significante mais fundamental, proponho que se veja nelas o índice da natureza fantasística ou fantasmática (isto é, constituída por uma montagem significante muito complexa entre imagens e palavras) da própria teoria do falo – e nesse sentido devemos lembrar que Freud não deixou de considerar, no já mencionado “Sobre as teorias sexuais das crianças”, de 1908, a própria castração como uma das teorias sexuais infantis, ao lado daquela da posse universal do falo[30]. Neste sentido, o fetiche explicita a investidura do visível como cena sexuante, mostrando que é num jogo de olhares, imagens e palavras que cada pessoa se torna sujeito sexuado. E se em tal cena algo brilha, esse brilho não vem tanto de algum objeto ou característica anatômica em si mesmos quanto de um olhar que o (re- ou des-)cobre e investe libidinalmente.
Este olhar não é pouco e está longe de se referir a miragens e ilusões imaginárias. Como observa Donna Haraway, “todos os olhos, inclusive os nossos, são sistemas perceptivos ativos que constroem traduções e maneiras específicas de ver, ou seja, formas de vida”[31]. Nessa linha, o que proponho aqui chamar cena sexuante visa localizar as “maneiras específicas de ver” que comandam o discurso falocastrador e sua maneira de investir o corpo nele situado como da mulher/mãe, de modo a dessencializar os enunciados que dele decorrem e tentar abrir outros possíveis pontos de vista. Minha proposta de tomar a sexuação como cena e o método de leitura por ela aberta é, assim, nitidamente influenciada pelo perspectivismo que Deleuze salienta em Leibniz e formula na ideia de que “será sujeito aquele que vier ao ponto de vista, ou sobretudo aquele que se instalar no ponto de vista”[32] –, modulada contudo, mais particularmente, pelo perspectivismo ameríndio estudado pelos antropólogos Tânia Stolze Lima e Eduardo Viveiros de Castro[33]. Ao lado disso, a proposta decorre do diálogo descentrado com a arte que me parece fundamental à própria teorização psicanalítica e ao qual venho me dedicando há muitos anos, por entender que neste campo da cultura se apresentam mais explicitamente alguns dos pontos de vista que estão habitualmente invisibilizados e silenciados sob enunciados que se apresentam como universais. Afinal, deve-se sempre perguntar “com o sangue de quem foram feitos meus olhos?”[34], como também faz Donna Haraway, explicitando com eloquência que o olhar hegemônico se sustenta sobre o sacrifício de alguns corpos.
É neste contexto teórico-crítico que devemos ressituar e tentar espacializar cenicamente a já mencionada tese central de Freud segundo a qual o fetiche seria o “substituto do pênis da mulher (da mãe) em que o menininho outrora acreditou e que – por razões que nos são familiares – não deseja abandonar”[35]. A fórmula não deixa de indicar, e muito claramente, que se trata de uma cena cujo ponto de vista organizador é “o menino”. A importância de reconhecer que é uma cena está justamente aí: no fato de que cada cena implica um certo número de posições que cada narrativa põe em jogo a partir de um determinado ponto de vista. No caso da cena fetichista narrada por Freud, trata-se explicitamente do menino como protagonista que organiza as linhas de construção do quadro em que aparece, em súbita revelação, um corpo supostamente castrado e diante do qual ele se vê em perigo de perder “o trono e o altar” correlativos ao órgão que a “natureza” teria dotado de “parte de seu narcisismo”[36]. Como se vê, o “menino” – ou melhor, se me permitem o trocadilho, o “homenino”, já que o lugar de “homem” se define na lógica patriarcal pela aderência a esta narrativa – é ao mesmo tempo agente do olhar e objeto deste, ainda que seu próprio corpo não apareça literalmente em cena. “Não, isso não pode ser verdade”, diz Freud – e toda essa passagem ressoa com um toque de humor, como indica a expressão que alude ao Estado e à Igreja, “o trono e o altar”, cujo uso em alemão denota certa ironia, segundo o tradutor do texto na mais recente edição francesa[37]. De fato, o drama fálico, com o pânico que o caracteriza, não está longe da pantomima, com as atitudes indignadas e afetadas diante de uma ameaça que o menino conhece muito bem e de fato já foi cumprida, na medida em que o órgão com o qual a cultura patriarcal o teria dotado de poder não serve de garantia contra a deflação narcísica que o atinge; ao contrário, como sabemos, essa cultura tende a lhe oferecer nada além do ridículo papel de sujeito feudal diante de seu Soberano, o pai supostamente imune a qualquer deficiência – ou seja, o ao-menos-um que escaparia à castração e que é o alicerce da própria construção falocastradorapatriarcal, e que não é outro senão o pai da horda primitiva, ou seja, o pai perverso, por quem o homenino teme receber o violento tratamento de feminização.
Desestabilizando a pretensão do falo de ser um significante ordenador e fulcral para a ordem simbólica, a teoria do fetiche revela com nitidez, de fato, a retórica fálica como aquela da paródia e da pantomima. Se poderia questionar, contudo, o passo que dou aqui ao tomá-la como modelo privilegiado da teoria fálica. Afinal, os fetichistas não seriam perversos que “afastam defensivamente” o que Freud chama de “susto da castração à vista de um órgão genital feminino”, enquanto outros se tornariam “homossexuais em consequência dessa impressão” e “a grande maioria” a superaria[38]? Para responder a essa questão de forma mais embasada seria necessário retomar não apenas a dialética entre neurose e perversão, afirmada desde 1905 na fórmula, já citada, segundo a qual “a neurose é o negativo da perversão”[39], como também a complexa elaboração freudiana sobre os diferentes mecanismos de defesa e sua relação com o que só muito mais tarde, com Lacan, seria nomeado como “estruturas clínicas”. Obviamente, tenho que desistir de fazê-lo neste breve ensaio. Mas não posso deixar de apontar que, longe de cercear a defesa fetichista no domínio da perversão, Freud a vincula a uma “posição cindida”, a recusa (Verleugnung), cuja descrição se baseia, significativamente, em um caso de neurose obsessiva[40]. “Em todas as situações da vida”, diz Freud, ”o paciente oscilava entre duas presunções: uma, de que o pai ainda estava vivo e atrapalhava suas atividades; outra, oposta, de que tinha o direito de se considerar como sucessor do pai.”[41]
Ora, seguindo à risca a ideia freudiana segundo a qual “o exemplo é a coisa original e real[42], podemos considerar a “oscilação” deste paciente como modelo da relação com o pai que caracteriza o patriarcado moderno e, consequentemente, a gramática fálica que Freud analisa (ou seja, despedaça e disseca) em seu seio, no entre-séculos europeu. Ela corresponde aproximadamente à relação do “homem” ao Pai como um lugar que ele seria convidado ou forçado a ocupar, por identificação, mas do qual é ao mesmo tempo expulso – na medida em que jamais poderá substituir o pai suposto incólume a toda falta. Mas é preciso destacar em tal gramática fálica a modulação entre falta e perda como oscilação entre impotência e violência, bem como o papel que o corpo feminizado nela desempenha, como revela a teoria do fetiche.
Antes de examinar o papel que o corpo da mulher-mãe desempenha nessa narrativa, impõe-se a questão de saber se na cena por ela conformada se poderiam marcar outros possíveis pontos de vista, distintos daquele do homenino, e se a partir deles a montagem simbólico-imaginária seria capaz de alterar-se de modo significativo. Afinal, diante de tal corpo não seria possível enxergar, em vez da ausência da “ansiada visão do membro feminino”[43], um outro órgão, a vulva? Antes de rejeitar essa possibilidade em nome da primazia do falo em sua dimensão simbólica, lembremos que a codificação desse corpo em termos de falta e castração decorre de algo logicamente anterior: a teoria sexual infantil da posse universal do pênis, que nada garante ser uma fantasia universal e igualmente partilhada por todos os sujeitos. Além disso, deve-se ressaltar que várias fantasias estão enredadas na cena da sexuação, visto que o corpo em questão nunca é o da anatomia ou o do instinto, mas de saída aquele da pulsão e dos rastros (e traços) nele deixados pelo desejo do Outro. Neste sentido, tal cena se mistura e sobrepõe a muitas outras cenas em que nos são oferecidas posições às quais podemos aderir ou nos recusarmos, ao menos parcialmente, seguindo as linhas de força dadas por certos significantes, mas em uma montagem singular e com uma gramática própria, por assim dizer. Assim, os processos pelos quais um sujeito é reconhecido (e se reconhece) como homem, mulher ou não binário, trans ou queer (e o que mais vier como invenção significante na cultura) envolvem um complexo jogo entre imagens e significantes que circulam na cultura em dado momento e que configuram palavras e olhares que cruzam um sujeito e o Outro – implicando também a partilha de significantes com alguns outros, como sublinha Pedro Ambra[44]. Em outras palavras, nunca estamos sozinhos na cena sexuante, e se no texto sobre o fetichismo não aparece a figura da “menina”, o papel da mulher-mãe é contudo decomposto e declinado significativamente na figura da “mulher”, em sua última frase, na qual Freud diz que assim como “o protótipo normal do fetiche é o pênis do homem”, aquele do órgão inferior “é o pequeno pênis real da mulher, o clítoris”[45]. Para parafrasear a pergunta de Haraway citada há pouco, não resta dúvida de que é sobre “o sangue” do corpo de algumas pessoas que se ergue o olhar fetichista (e fetichizador) que faz do falo algo supostamente superior – ainda que a curiosa expressão “pênis do homem”, ao lado da igualmente interessante ideia de um “pênis” – e “real”! – que seria “da mulher” mostre também e ao mesmo tempo que não se trata de diferença anatômica em termos de ter ou não ter um órgão, mas da nominação de algo que pode estar em qualquer corpo e nunca é dado, mas talvez sempre seja artifício. Sempre fetiche.
De fato, é logicamente necessário que a mulher seja posicionada como inferior para que se sustente a claudicante superioridade masculina, em um dos eixos da gramática fálica: aquele que nomearemos de complementaridade hierárquica. Isso chega a nem parecer tão grave, quando comparado a outro pilar desta gramática: a exclusão categórica. Este se modula no papel de encarnação da castração dado à mulher-mãe, pois implica que exista apenas uma categoria ontológica válida, a qual se baseia na exclusão de muitxs. É urgente reconhecer em termos psicanalíticos, com efeito, que se trata de um ato, e de um ato de violência, na própria atribuição de castração a um corpo que parece diferente do seu. O lugar atribuído a uma parte considerável da humanidade – xs não-homeninos, digamos – é muito claramente, na lógica fálica, aquele do aterrorizante, do traumático ou, no melhor dos casos, do perturbador, unheimlich. Sejamos claros: a assim delineada sexuação masculina tem como axioma a misoginia, a partir da qual se constrói o fetiche, justamente, que seria capaz de conferir às mulheres “a característica que as torna toleráveis como objetos sexuais” e poderia até “salvar” o homem de se tornar homossexual[46]. A fantasia da vagina dentata, embora não esteja literalmente presente no texto de 1927, talvez seja aquela que sustenta toda a montagem narrativa e cênica do falo, e a suposta reivindicação fálica que Freud indica em outros momentos como um dos eixos da sexuação da “mulher” não deixa de mostrar dela uma versão diluída e eufemística.
Ao lado de aceitar e se deixar colonizar pelo lugar da inferioridade, a única possibilidade disponível para o corpo dx não-homenino, na lógica falofetichista, é a de se prestar a encarnar a ameaça de castração e assim se oferecer à falicidade substitutiva do fetiche, um sucedâneo que corta o corpo para erigir em objeto uma de suas partes (pés, cabelos, etc.), ou elege um objeto no lugar do corpo ou como seu suplemento, ou ainda toma o corpo femininizado in totum como objeto segundo os valores estéticos vigentes. Seja como for, a posição atribuída às ditas “mulheres” nessa gramática é a de colocar seus corpos e sua performance de gênero a serviço da recusa da castração de quem as olha. E quando essas pessoas se recusam a fazê-lo ou algo dá errado nesse cenário tão repetitivo em termos de mascarada ou strip-tease, revela-se bruscamente o lado oculto da construção falofetichista: a violência sobre o corpo feminizado.
De fato, a idealização e fascínio ou veneração fetichista do corpo feminino esconde uma violência extrema. Longe de fundar-se em uma suposta evidência biológica, a suposta castração da mulher se vale de diferenças anatômicas para justificar um ato, uma operação cultural que as coloca em uma posição de inferioridade e humilhação que pode levar até à mortificação. Freud não deixa de sublinhar isso na relação do fetichista com o fetiche, que se caracteriza pela oscilação entre polos opostos “ternura” e “hostilidade” – equivalentes ao par recusa/reconhecimento da castração – e inclui a possibilidade de que o fetiche seja tratado de um modo “que claramente equivale a uma apresentação figurativa da castração”. Isso corresponderia, como não poderia deixar de ser, a uma “forte identificação com o pai”, a quem, afinal de contas, o menino atribuiria “a castração da mulher”[47]. Para sustentar esta hipótese, Freud menciona não só a figura obsoleta do cortador de tranças, mas também o assustador costume chinês “de mutilar o pé feminino e, depois disso, reverenciá-lo como um fetiche.”[48]
Parece-me urgente relacionar tal violência com a ideia seminal da antropóloga argentina (e que esteve durante muitos anos radicada no Brasil) Rita Segato, segundo a qual a estrutura patriarcal-colonial da modernidade se baseia na apropriação “do corpo da mulher e deste como primeira colônia”[49]. O corpo feminizado seria, nesta direção, o primeiro objeto da “expropriação inevitavelmente violenta” da qual emana o poder[50], de uma maneira que a própria autora já havia correlacionado em conferência de 2003 à castração segundo a psicanálise, pondo a teoria lacaniana em “exegese recíproca” com relatos etnográficos de mitos como o dos baruya, relatado por Godelier, no qual os homens somente se apropriam do objeto sagrado (uma flauta) que lhes confere poder ao usurpá-lo das mulheres[51]. Apesar de caracterizar tal ato de expropriação de que são objeto as mulheres como uma transgressão que marca o advento da lei, Segato não chegar a caracterizar o pater familias como eminentemente perverso, como aqui proponho. Sua tese sobre a violência que se dá no corpo da mulher como o que funda e mantém o patriarcado parte, contudo, da escuta de estupradores presos para identificar em seu ato (que não deixa de se aproximar da noção psicanalítica de acting out ou passagem ao ato) um “mandato social” que os empurra a encenar o papel de poder – atuando a recusa da castração, eu diria – violentamente sobre o corpo feminizado.[52]
A articulação de Segato sobre tal “injunção de estupro”, como ela a chama, serve de apoio para a proposta feita acima de que a “fantasia de sedução” seja considerada como a denominação eufemística de uma violação que, em última análise, é muito real para os corpos feminilizados segundo a lógica falofetichista, no sentido de que marca uma violência estrutural exercida simbolicamente sobre alguns sujeitos para o suposto benefício de outros sujeitos. Com efeito, na gramática da sexuação de que estamos tratando aqui, o papel oferecido aos corpos feminizados é o de se deixarem colonizar pela lógica falofechistista a ponto de a ela se oferecerem em sacrifício. Em contrapartida à injunção de estupro que atingiria os “homens”, gostaria de propor, nesse sentido, a ideia de um “mandato sacrificial” atribuído pela cultura às “mulheres”, para indicar a extensão da linha de força que Freud aponta na seguinte frase: “Pode-se pensar que o homem chinês quer agradecer à mulher por se ter submetido à castração.”[53]
Que a “mulher” (ou, mais rigorosamente, que x não-homenino) se submeta a tal gramática (e busque, em substituição ao que lhe faltaria, o filho (especialmente um menino) ou o pênis do homem), ou que se rebele contra ela através de uma reivindicação fálica tingida de inveja e cuja único resultado possível seria o ressentimento: assim são esboçados os caminhos de um suposto reconhecimento da castração de sua parte. Formas melancólicas, todas elas, nas quais cabe axs não-homeninos identificar-se com a encarnação da falta para sustentar a claudicante fantasia masculina de não castração.
Para encerrar este breve ensaio, gostaria de apontar uma questão que me parece incontornável, atualmente, tanto na clínica quanto na teoria e na atuação dxs psicanalistas na Cultura: seria a psicanálise capaz de localizar e caracterizar outros pontos de vista – diferentes daquele do homenino na cena falofetichista – nos quais, sem dúvida, muitos dos sujeitos contemporâneos se situam e se movem, hoje, e reconhecer os significantes que organizam as gramáticas de sexuação que lhes correspondem?
Este me parece ser o desafio a ser assumido, especialmente, por aquelxs que se vêem tomados em seus corpos pela injunção de servirem sacrificialmente como suporte da recusa da castração em alguns – e são assim sistematicamente violentados, de formas diversas e corriqueiras, mas que por vezes podem culminar emfeminicídio e crimes transfóbicos, para que se reafirme tal frágil recusa.
Para se deslocar de tal lugar sacrificial, necessitamos forjar outros significantes e outros modos de articulá-los – outras gramáticas –, forçando a entrada de outros pontos de vista na cena falofetichista e apostando na possibilidade de construirmos variadas narrativas cênicas nas quais outros significantes – que hoje me parecem frequentes e numerosos, devo assinalar, na escuta clínica de não-homeninos – possam ser assumidos ativamente e contribuir para um deslocamento da centralidade da pai-versão/perversão patriarcal. Este texto é o primeiro passo para outras elaborações que vão nesta direção e para as quais gostaria de convidar xs leitores a contribuir pelo e-mail taniarivera@id.uff.br ♦
REFERÊNCIAS
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[1] BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: 1. Fatos e Mitos. (1949) 4ª ed. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970, p. 10.
[2] FREUD, Sigmund (1905) ”Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VII, p. 128.
[3] FREUD, Sigmund (1905) ”Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VI., p. 157.
[4] FREUD, Sigmund (1896) “A hereditariedade e a etiologia das neuroses”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Trad. Margarida Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1986, vol. III, p. 144.
[5] In MASSON, Jeffrey Moussaieff (ed.) (1985) A Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986, p. 213.
[6] Carta de 21 de setembro de 1897. In MASSON, Jeffrey Moussaieff (ed.) (1985) A Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986, p. 265.
[7] MASSON, Jeffrey Moussaieff (ed.) (1985) A Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986, p. 265..
[8] MASSON, Jeffrey Moussaieff (ed.) (1985) A Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986, p. 265-266
[9] Tenho naturalmente de deixar para outro texto a exploração da noção de père-version nesta chave, mas não resisto a trazer uma citação de Lacan que reforça tal leitura, ao sublinhar na função paterna algo “perversamente” orientado em relação à mulher: “Um pai só tem direito ao respeito, se não ao amor, que se o dito, o dito amor, o dito respeito, é, vocês não vão acreditar no que estão ouvindo, per-versamente (père-versement) orientado, ou seja feito de uma mulher, objeto a que causa seu desejo”. LACAN, Jacques (1974-1975). RSI. Séminaire 22 (Transcrição estabelecida pela Association Freudienne Internationale (AFI)), p. 65. Disponível em <https://ecole-lacanienne.net/wp-content/uploads/2016/04/seminaire_seminario_transcription_ALI_1974_1978.pdf.> Consultado em 15 de março de 2023.
[10] FREUD, Sigmund (1913) ”Totem e Tabu”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Orizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XIII, p. 169.
[11] FREUD, Sigmund (1905) ”Fragmento da análise de um caso de histeria”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VII, p. 37.
[12] FREUD, Sigmund (1905) ”Fragmento da análise de um caso de histeria”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VII, p. 37.
[13] MITCHELL, Juliet (1974) Psicanálise e feminismo: Freud, Reich, Laing e a Mulher. Trad. Ricardo Brito Rocha. Belo Horizonte: Interlivros, 1979, p. 17.
[14] MITCHELL, Juliet (1974) Psicanálise e feminismo: Freud, Reich, Laing e a Mulher. Trad. Ricardo Brito Rocha. Belo Horizonte: Interlivros, 1979, p. 17.
[15] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 179.
[16] Ibid., p. 179. Este trecho, bem como outros trazidos a seguir, foi por nós revisto de acordo com o original em língua alemã. FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismus”. In: Gesammelte Werke (GW). Londres: Imago, 1948, vol. XIV, p. 312.
[17] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 179. (G.W., p. 312.)
[18] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XX., p. 180. (G.W., p. 312.)
[19] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 179. (G.W., p. 312.)
[20] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 179. (G.W., p. 312.)
[21] Ver FREUD, Sigmund (1908) “Sobre as teorias sexuais das crianças”. In:. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Maria Aparecida Moraes Rego. Rio de Janeiro: Imago, 1976, vol. IX, p. 213-238.
[22] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 185.
[23] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 182.
[24] Ver FREUD, Sigmund (1908) “Sobre as teorias sexuais das crianças”. In:. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Maria Aparecida Moraes Rego. Rio de Janeiro: Imago, 1976, vol. IX, p. 185.
[25] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 183.
[26] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 184.
[27] PRECIADO, Beatriz (Paul) (2000) Manifesto contrassexual: Práticas subversivas de identidade sexual. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: N-1 Edições, 2014, p. 75.
[28] FREUD, Sigmund (1913) ”Totem e Tabu”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Orizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XIII, p. 20-192.
[29] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 179.
[30] Ver FREUD, Sigmund (1908) “Sobre as teorias sexuais das crianças”. In:. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Maria Aparecida Moraes Rego. Rio de Janeiro: Imago, 1976, vol. IX
[31] HARAWAY, Donna (1991) Ciencia, Cyborgs y Mujeres: La Reinvención de la Naturaleza. Trad. Manuel Talens. Madrid: Ediciones Cátedra, 1995, p. 327. Eu traduzo todas as citações em línguas estrangeiras.
[32] DELEUZE, Gilles (1988) A Dobra: Leibniz e o Barroco. Trad. Luiz B. L. Orlandi. Campinas: Papirus, 1991, p. 36.
[33] Ver LIMA, Tânia Stolze (1996) O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia Tupi. Mana, Rio de Janeiro: vol. 2, n. 2, pp. 21-47, 1996 e CASTRO, Eduardo Viveiros de (2002) A inconstância da alma selvagem. São Paulo: CosacNaify, 2014.
[34] HARAWAY, Donna (1991) Ciencia, Cyborgs y Mujeres: La Reinvención de la Naturaleza. Trad. Manuel Talens. Madrid: Ediciones Cátedra, 1995, p. 330.
[35] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 180.
[36] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 180.
[37] FREUD, Sigmund (1927) ”Fétichisme” [Trad. René Lainé]. In: Oeuvres complètes: Psychanalyse. Trad. Janine Altounian et alli. Paris: P.U.F., 1994, vol. XVIII, p. 126.
[38] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, pp. 181-182.
[39] FREUD, Sigmund (1905) ”Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VI., p. 157.
[40] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 180. (GW: p. 127).
[41] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 183.
[42] FREUD, Sigmund (1909) ”Notas sobre um caso de neurose obsessiva”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud. Trad. Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. X, p. 168.
[43] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 182.
[44] Para este autor, trata-se de “uma alteridade plural que autoriza o sujeito a assumir determinada identidade no contexto da sexuação”. AMBRA, Pedro. O ser sexual e seus outros. São Paulo: Blucher, 2022, p. 37.
[45] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 185.
[46]FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 181.
[47] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 184. (G.W.: p. 317.)
[48] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 185.
[49] SEGATO, Rita (2016) La guerra contra las mujeres. Buenos Aires: Prometeo, 2020, p. 17. Tradução minha.
[50] SEGATO, Rita (2016) La guerra contra las mujeres. Buenos Aires: Prometeo, 2020, p. 17.
[51] Ver SEGATO, Rita (2003) Las Estructuras Elementales de la Violencia. Ensayos sobre género entre la Antropología, el Psicoanálisis y los Derechos Humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes.
[52] Ver SEGATO, Rita (2003) Las Estructuras Elementales de la Violencia. Ensayos sobre género entre la Antropología, el Psicoanálisis y los Derechos Humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes.
[53] FREUD, Sigmund (1927) ”Fetichismo”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol. XXI, p. 185.
In: Revista Lacuna, 6 de junho de 2023