"O
que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”,
resumiu Pina Bausch o propósito de seu trabalho. A artista que se vestia
permanentemente de preto e calçava número 41 foi uma das coreógrafas mais
importantes do século 20.
Philippine Bausch – ou Pina
Bausch, como ficou conhecida -, nasceu em Solingen, na Alemanha a 27 de Julho
de 1940, em plena Guerra Mundial. Os pais
tinham um pequeno restaurante com um café ao lado que, mais tarde, lhe forneceu
as memórias para a sua famosa peça “Café Müller”, em 1978.
Aos quinze anos, isto é,
bastante tarde, começou a estudar Dança na Academia Folkwang, na cidade de
Essen, que era dirigida por Kurt Jooss, um dos expoentes máximos do mundo do
Ballet, e um dos fundadores do movimento Expressionista. Bausch diz
que sempre amou a dança porque era tímida e tinha medo de falar mas que, quando
movia o corpo, podia sentir. Quando terminou o curso, obteve uma bolsa do
governo alemão e foi para Nova Iorque continuar os seus estudos na famosa
Escola Juiliard.
Corria o ano de 1960 e
Pina trabalhou com professores especialíssimos como Anthony Tudor, José Limón e
Paul Taylor. Os bons resultados obtidos traduziram-se em convites para dançar
no New American Ballet e um ingresso na Companhia do Metropolitan Opera Ballet. Para Bausch, os anos que passou em Nova Iorque foram os melhores da sua
vida, ou, pelo menos, os mais marcantes em termos de criatividade no seu
trabalho. A cidade fervilhava de vanguardistas e a Dança, como outras formas
artísticas, passava por uma fase revolucionária.
Em 1962, Bausch voltou à
Alemanha com um convite para ocupar o lugar de solista na
Companhia recentemente formada pelo seu antigo mestre Kurt Jooss, o Folkwang
Ballet, onde também trabalhou com Hans Zülig e Jean Cébron. Nos anos seguintes
será sobretudo uma bailarina, mas, em 1968, estreia como coreógrafa com a
peça Fragment, assumindo pouco depois as funções de diretora artística e
coreógrafa da companhia.
Em 1973 é convidada
a dirigir a Companhia de Bailado do Teatro de Wuppertal, um momento decisivo de sua carreira. Foram anos cruciais,
mas também de grandes dificuldades. Pina Bausch chocou o público, a crítica, e
até os próprios intérpretes – “muitos a abandonaram”, com peças onde os
bailarinos podiam correr pelo palco, falar, gritar, ou repetir até à exaustão o
mesmo movimento. Os espectadores deixavam a sala e a crítica vociferava que
aquilo não era dança.
Com uma montagem de Brecht e Weill, Pina Bausch
rompeu definitivamente com todas as formas tradicionais do teatro-dança, em
1976. Ela se voltou para uma dança cênica obstinada e contundente, diretamente
ligada ao teatro falado. Colagens de música popular, clássica, free jazz e
enredos fragmentários culminaram numa nova forma de encenação, caracterizada
por ações paralelas, contraposições estéticas e uma linguagem corporal incomum
para a época.
Para os amigos e admiradores, um dos aspectos
mais admiráveis da coreógrafa foi a sua “determinação”, que a levou a nunca
desistir da sua linguagem, mesmo quando esta foi quase unanimemente rejeitada.
Essa coragem e integridade acabaram por ser recompensadas. Bausch tornou-se um
dos nomes mais respeitados da dança contemporânea, e também uma artista de
grande público, que enchia as salas nas muitas cidades do mundo onde apresentou
os seus trabalhos.
Pina Bausch morreu na manhã de 30 de junho de
2009. Uma morte rápida e inesperada vitimou-a cinco dias após um diagnóstico de
câncer. Uma semana antes, ela ainda subiu ao palco do Teatro de Wuppertal, cuja
companhia de dança dirigia desde 1973.
Um ano após sua morte, o professor de Filosofia chileno Ronald Kay, com
quem Bausch viveu, e o filho em comum dos dois, Salomon, coordenam juntos uma
fundação, detentora também dos direitos de encenação das peças da coreógrafa.
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