Sim ao universalismo, não à uniformidade
Elisabeth Roudinesco
Passadas duas décadas, a emancipação mudou de figura. Não sonhamos mais mudar o mundo; exibimos nossos signos distintivos, nosso sofrimento, nosso ressentimento. Luta-se para defender identidades; pensa-se por categorias, ao passo que o ser humano é sempre plural. Essa abordagem dá lugar a múltiplos trabalhos no campo universitário, conduzidos por professores em sua maioria brilhantes e diplomados à perfeição. No entanto, cada vez mais frequentemente, seus estudos servem também como apoio para um militantismo identitário que suplantou as outras abordagens (sociais, psíquicas, marxistas etc.) e que maneja alegremente a designação - o "Negro", o "Branco", o "cisgênero" etc. - e os "dizeres obscuros", a ponto de sucumbir por vezes a uma espécie de delírio.
E é assim que o debate se vê engajado sob o modo de uma dicotomia simplista: haveria, de um lado, os "universalistas" (os bons), que fetichizam o universal para dele fazer uma espécie de filosofia geral, a única suscetível de encarnar, em todos os seus traços, nossa boa e velha República Francesa; do outro, em oposição, estariam os "multiculturalistas" (os maus), influenciados pelo mundo anglófono, fetichizando, por sua vez, a diferença. Ora, essa maneira de raciocinar é contrária a toda abordagem minimamente objetiva das sociedades humanas. Em cada coletividade, existem universais antropológicos: a estrutura familiar, a interdição do incesto, a existência da homossexualidade, a religião, a loucura... E existem diferenças, que se distribuem segundo as sociedades e as épocas, e cujas particularidades são indispensáveis à vida em comum.
Sob o efeito da queda do comunismo e do triunfo da economia liberal (a partir de 1989), nosso mundo moderno se uniformizou. É, portanto, no interior desse vasto conjunto planetário que as diferenças das sociedades vêm agora se exprimir. Ora, é sabido que a uniformização do mundo leva ao desastre. Lévi-Strauss sempre afirmou que o que faltava aos povos primitivos não era nem a cultura, nem o pensamento, mas o acesso à ciência, à medicina e à técnica, e que eles estavam ameaçados de extinção por essa razão, e não devido a qualquer "inferioridade".
"De perto e de longe": eis qual era, para ele, a boa distância. Se todo mundo se parece, a humanidade se dissolve no nada; se cada um deixa de respeitar a alteridade do outro ao afirmar sua própria identidade, a humanidade se afunda no ódio perpétuo. Do mesmo modo, o escritor Léopold Sédar Senghor definia a "negritude" como um conjunto de valores culturais, econômicos, políticos, artísticos dos povos da África, das minorias negras da América, da Ásia, da Europa ou da Oceania, ocultados pelo colonialismo. Para ele, não era questão de "raça". Mas, assim como Aimé Césaire, admirável poeta com quem fundou a editora Présence Africaine nos anos 1950, Senghor defendia também que esses valores deveriam se integrar em uma civilização universal, precisamente para evitar que os Negros sejam assimilados à força a uma cultura dominante.
Forjar uma cultura comum
Cada um - o homem negro, assim como o homem ocidental - levava seu pensamento a ser partilhado, para forjar uma cultura comum. Para Césaire, a negritude era um grito de dor - a rejeição da imagem abjeta do Negro fabricada pela colonização -, mas ela não deveria, em nenhum caso, colocar-se à parte da cultura universal. O emprego da palavra "Nègre" em lugar de "Noir" era uma maneira de inverter o estigma ao enobrecer, e mesmo sublimar, esse termo advindo do léxico racista. Senghor e Césaire forjaram um grande movimento, apoiado por André Breton e depois por Jean-Paul Sartre e Claude Lévi-Strauss, que procurava fazer emergir a cultura negra nesse conjunto universal. Também Frantz Fanon, o autor de Pele negra, máscaras brancas, convocava à emancipação dos povos em linha direta com a Declaração dos Direitos do Homem, de 1789, ou seja, com aquilo que a França elaborou de mais universalizável.
Mas "universal" não quer dizer que seja preciso querer aplicar por toda parte nosso modelo republicano jacobino. Todos os países democráticos forjaram uma laicidade, um Estado de direito, respeitando ao mesmo tempo as crenças e as liberdades. Somente sua concepção de laicidade - notadamente no mundo anglófono - não é a mesma que a nossa: historicamente, os Estados Unidos (grande democracia em que o presidente jura sobre a Bíblia), assim como o Reino Unido (monarquia constitucional) são nações fundadas sobre justaposições de comunidades: é, pois, absurdo acusá-los de não serem o que somos e denunciar o seu "comunitarismo".
in: Reverso vol.43 no.81 Belo Horizonte jan./jun. 2021
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