Já está nas livrarias Elogio
ao Amor, Alain Badiou e Nicolas Truong, na tradução de Dorothée de
Bruchard, (editora Martins Fontes). É um desses livros que você começa a
ler e não consegue parar. Mesmo sabendo que uma releitura, mais demorada e com lápis
e papel para anotações, se fará necessária.
A seguir, um pequeno fragmento do livro. Nele
Badiou faz uma analise da teoria do amor de Jacques Lacan:
- Também dialogando com Platão, o psicanalista
Jacques Lacan, que é, segundo o senhor, um dos maiores teóricos do amor,
sustentou que “não existe relação sexual”. O que ele queria dizer com isso?
- Essa é uma tese interessantíssima, que deriva
da concepção cética e moralista, mas que leva ao resultado oposto. Jacques
Lacan nos lembra que na sexualidade cada um está, na verdade, preocupado com
sua própria história, digamos assim. Há, é claro, a mediação do corpo do outro,
mas, no fim das contas, o gozo será sempre o nosso próprio gozo. O sexual não
une, separa. Uma pessoa estar nua, colada a outra, é uma imagem, uma
representação imaginária. A realidade é que o gozo nos conduz para longe, para
muito longe do outro. A realidade é narcisista, o vínculo é imaginário. Não há,
portanto, relação sexual, conclui Lacan – expressão que causou escândalo,
porque na época todo mundo falava justamente em “relações sexuais”. Se não
existe relação sexual na sexualidade, é o amor que vem suprir a falta de
relação sexual. Lacan não diz, de maneira nenhuma, que o amor é um disfarce da
relação sexual. O que diz é que não existe relação sexual e que o amor é aquilo
que surge no lugar dessa não relação. O que é muito mais interessante. Essa
ideia o leva a dizer que, no amor, o sujeito procura abordar o “ser do outro”.
No amor é que o sujeito vai além dele mesmo, além do narcisismo. No sexo, ele
está, no fim das contas, em relação consigo mesmo, com a mediação do outro. O
outro serve para que ele descubra a realidade do gozo. No amor, em
contrapartida, a mediação do outro tem valor em si. O encontro amoroso é isso:
você sai em busca do outro para fazê-lo existir com você, tal como ele é. Essa
é uma concepção muito mais profunda do que aquela, absolutamente banal, segundo
a qual o amor não passaria de uma pintura imaginária sobre a realidade do sexo.
......
Uma ótima leitura, e uma leitura fundamenta para aqueles
que vivenciam a escuta diária da clínica.
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