Afinal, o que é o ensaio?
O ensaísmo é tema de uma das mesas e da oficina
literária da Flip 2013. Dois dos maiores ensaístas contemporâneos, o britânico
Geoff Dyer e o americano John Jeremiah Sullivan se encontram para conversar
sobre o gênero no domingo à tarde. O mediador do encontro, o escritor e
jornalista Paulo Roberto Pires, é editor da mais importante revista de ensaios
do país, a “serrote”, do Instituto Moreira Salles, e será também o responsável
pelas aulas da oficina. O elenco da festa reúne ainda alguns outros nomes importantes
do ensaísmo contemporâneo, do consagrado italiano Roberto Calasso, aos jovens
Francisco Bosco e Lila Azam Zanganeh.
Mas de que se fala,
afinal, quando falamos em ensaio? O gênero é, por definição, problemático, pois
uma de suas premissas é contestar a distinção entre aparência e essência, que
organiza qualquer classificação genérica. Quer dizer: uma das ideias fundamentais do ensaio é que seu autor abra mão de
fórmulas padrão de escrita para construir um texto que dê conta da
singularidade do seu objeto. Aquilo
que o ensaio procura dizer é inseparável de sua maneira de dizê-lo. Por que
isso faria do ensaio um gênero problemático? É que a própria ideia de gênero
pressupõe a identificação de regularidades por detrás das diferenças aparentes
– na classificação genérica, as diferenças entre os indivíduos ou espécies são
reconduzidas a uma identidade geral. Desse ponto de vista, a diversidade
aparente é reunida sob o guarda-chuva de uma essência comum. É exatamente o interesse pela diferença, porém, que define o ensaio e
o distingue do pensamento acadêmico. Em
vez do conceito geral, que descreve vários casos particulares, o ensaio procura
uma expressão única capaz de dizer o seu objeto naquilo que ele tem de mais
próprio. Ao fazer isso, ele rejeita
a separação entre forma e conteúdo e propõe outra forma de pensar e compreender
a própria noção de gênero.
Dois textos publicados
recentemente pela imprensa estrangeira ajudam a pensar as manifestações
contemporâneos do ensaio, particularmente nos EUA. Ambos reconhecem a
dificuldade de definição intrínseca ao gênero, mas procuram construir uma
caracterização histórica de seu desenvolvimento que permita pensar o que há de
específico naquilo que entendemos hoje por ensaísmo. O mais interessante nos
dois textos é o olhar crítico que lançam sobre uma certa voga atual do ensaio,
identificando uma certa diluição de seu potencial de pensamento e uma deriva em
direção a uma escrita autobiográfica que tende a não se comprometer com nenhum
ponto de vista, ou a simplesmente transformar o autor em persona humorística.
Como terceira indicação de leitura, como as duas primeiras também em inglês,
vale tirar um tempo para acompanhar o raciocínio tipicamente tortuoso, mas
fascinante, do filósofo alemão Theodor W. Adorno em seu clássico “O ensaio como
forma”.
By: Miguel
Conde
Fonte: Blog da FLIP
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