sexta-feira, abril 21, 2023

JACQUES LACAN - SEMINÁRIO 1976-1977

 

O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte 

Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan



Aula 10

19 de Abril de 1977

 

Estou com um pequeno incômodo hoje, uma dor nas costas, de modo que isso não me ajuda a ficar de pé. E quando me sento, também sinto dor. Isso certamente não é uma razão, porque não sabemos o que é intencional, para que se elucubre sobre o que é suposto ser.

O eu, já que chamamos isso assim... o chamamos assim na segunda tópica de Freud ... o eu é suposto ter intenções, isso porque atribuímos a ele o que ele tagarela, o que chamamos de seu dizer. Ele diz - com efeito - ele diz, e ele diz imperativamente. Pelo menos é assim que começa a se exprimir.

O imperativo é o que apoiei, digamos no significante índice 2: S2. Esse significante índice 2 cujo sujeito eu defini, eu disse que um significante era o que representava o sujeito para um outro significante. No caso do imperativo, é aquele que escuta quem, assim vem em $, advém sujeito. Não que aquele que profere não advenha, ele também, incidentalmente como sujeito. Sim…

Eu gostaria de chamar a atenção para uma coisa: na psicanálise só existe eu gostaria. Sou evidentemente um psicanalista que tem um pouco mais de experiência, mas é verdade que o psicanalista, no ponto em que cheguei, depende da leitura que ele faz de seu analisante, do que seu analisante lhe diz em seus próprios termos...

Vocês ouvem, porque depois de tudo não tenho certeza se esse microfone funciona? Isso funciona lá... no... Hein? Sim ? Bom !

...o que seu analisante crê que está lhe dizendo, isso significa que tudo o que o analista escuta não pode ser tomado, como nos exprimimos, ao pé da letra.

Aqui eu preciso abrir um parêntese, eu disse a tendência que essa letra...cujo pé indica um agarrar-se ao chão, que é uma metáfora, uma metáfora rasteira, que combina bem com o pé ...a tendência que esta letra tem de rejuntar o Real, é seu negócio. O Real, na minha notação, é o que é impossível de rejuntar.

O que seu analisante, para o analista em questão, crê lhe dizer, não tem nada a ver - e isso Freud percebeu - não tem nada a ver com a verdade.

No entanto, deve-se lembrar que crer já é alguma coisa que existe: ele diz o que crê ser verdade. O que o analista sabe é que ele só fala de forma lateral ao verdadeiro, porque ignora o Verdadeiro. Freud - aí - delira o suficiente, porque imagina que o Verdadeiro é o que ele chama - ele - de núcleo traumático.

É assim que ele se exprime formalmente, a saber, que, à medida que o sujeito enuncia algo mais próximo de seu núcleo traumático - esse assim chamado núcleo, e que não tem existência, ele só existe no papel, que o analisante é exatamente como seu analista, quer dizer... como apontei ao invocar meu neto ...a aprendizagem que teve de uma língua entre outras, que para ele é lalíngua... que escrevo - sabemos - em uma só palavra …na esperança de ferrar - ela - a língua, que se equivoca com o fazer-real.

Lalíngua que seja lá o que for é uma obscenidade. O que Freud designa - perdoe-me a equivocidade aqui - a sombra-cena, é também o que ele chama a outra cena, aquela que a linguagem ocupa com o que se chama sua estrutura, estrutura elementar que se resume àquela parentesco.

Ressalto que há sociólogos que afirmaram sob o patrocínio de um homem chamado Robert Needham...quem não é o Needham que se ocupou tão cuidadosamente com a ciência chinesa, que é um outro Needham: o Needham da ciência chinesa não se chama Robert[1] ... ele, o Needham em questão, imagina fazer melhor do que os outros ao fazer a marcação - além disso justa - que o parentesco deve ser posto em questão, isto é, que ele comporta realmente outra coisa, uma variedade maior, uma diversidade maior do que... tem que ser dito, é a isso que ele se refere ...do que dizem os analisantes.

Mas o que chama a atenção é que os analisantes - eles - falam apenas disso, de modo que a observação, incontestavelmente, de que o parentesco tem valores diferentes em diferentes culturas, não impede que os analisantes remoam sua relação com os parentes - além disso, deve-se dizer, próximos - é um fato que o analista tem que suportar.

Não existe nenhum exemplo de que um analisante note a especificidade, a particularidade que diferencia - de outros analisantes - seu relacionamento com seus parentes mais ou menos imediatos. O fato de que ele só fala disso é de certa forma algo que fecha todas as nuances de sua relação específica, de modo que O parentesco em Questão - é um livro publicado pela Seuil - que O Parentesco em Questão destaca o valor primordial do fato que é da lalíngua que se trata.

Isso não tem as mesmas consequências que dizer que o analisante só fala sobre isso porque seus parentes próximos lhe ensinaram a lalíngua, que ele não diferencia o que especifica sua relação com eles, com seus parentes próximos.

Seria necessário perceber que o que chamarei nesta ocasião de a função da verdade, é de certa forma amortecida por algo prevalente, e seria preciso dizer que a cultura está ali tamponada, amortecida, e que, nesta ocasião, talvez fosse melhor evocar a metáfora - já que cultura também é uma metáfora - a metáfora do agri do mesmo nome. Seria necessário substituir o agri em questão pelos termos caldo de cultura, seria melhor chamar cultura de um caldo de linguagem.

Associar livremente, o que isso quer dizer? Estou me esforçando para levar as coisas um pouco mais longe aqui. O que quer dizer associar livremente? Isso é uma garantia... parece mesmo ser uma garantia ...que o sujeito que enuncia vai dizer coisas que têm um pouco mais de valor? Mas qualquer um sabe, enfim, que a raciocinação... como se chama isso na psicanálise …a raciocinação tem mais peso do que raciocínio.

Qual a relação entre o que se chama enunciado e uma proposição verdadeira? Devemos tentar, como enunciou Freud, ver em que se baseia essa alguma coisa... que não funciona senão na usura …na qual é suposta a Verdade. Seria preciso ver, abrir-se à dimensão da verdade como variável, quer dizer, do que... condensando as duas palavras assim …eu chamaria varidade, engolindo o “e”  de veriedade

Por exemplo, vou dar algo que tem bem seu preço: se um sujeito analisante desliza um neologismo em seu discurso...como acabei de fazer, por exemplo, a propósito da varidade …o que se pode dizer sobre esse neologismo?

Há qualquer coisa que se pode dizer sobre isso, é que o neologismo aparece quando se escreve. Mas não é, justamente, um motivo para acreditar que isso automaticamente seja o Real. Não é porque isso se escreve que isso dá peso ao que evoquei à pouco tempo a propósito do ao pé da letra.

Em suma, é preciso levantar a questão de saber se a psicanálise…peço seu perdão, peço perdão pelo menos aos psicanalistas …não é isso que se pode chamar de autismo a dois?

Ainda há uma coisa que permite forçar esse autismo, é justamente que a lalíngua é um caso comum e que...é justamente por onde eu sou, quer dizer, capaz de me fazer entender por todo mundo aqui ... é isso que é a garantia – é por isso que eu coloco na ordem do dia a Transmissão da Psicanálise -  é bem essa a garantia de que a psicanálise não claudica irredutivelmente no que chamei anteriormente de autismo a dois.

Falamos de astúcia da Razão, é uma ideia filosófica. Foi Hegel quem inventou isso. Não há a menor astúcia da Razão. Não há nada constante, contrariamente do que Freud enunciou em algum lugar:

 

Que a voz da razão era baixa, mas que ela repete sempre a mesma coisa.

 

Ela só repete as coisas para andar em círculos. Para dizer as coisas claramente: a razão repete o sinthoma.

E o fato de que hoje eu tenha que me apresentar diante de vocês com o que se chama de sinthoma físico não impede que, com justa razão, vocês possam se perguntar se não é intencional, se por exemplo eu não abundava em uma tal besteira de comportamento que meu sintoma, por mais físico que ele seja, ainda seja algo que é por mim querido.

Não há nenhuma razão para se deter nesta extensão do sinthoma, pois é algo suspeito, quer queiramos ou não. Por que esse sinthoma não seria intencional? É um fato que a língua... eu escrevo isso: a.l.í.n.g.u.a ... que a alíngua se alonga para ser traduzida uma na outra, mas que o único saber permanece o saber das línguas, que o parentesco não se traduz com efeito, porém ele  só tem isso em comum: que os analisantes não falam senão disso. A tal ponto que o que chamarei nessa ocasião de um velho analista se fadigou disso.

Por que é que Freud não introduz algo que ele chamaria de, o Ele. Quando eu escrevi minha coisinha ali, para lhes tagarelar, eu fiz um lapso, mais de um: ao invés de escrever, como Eu... como eu não estou particularmente cuidadoso, trata-se do que se chama a debilidade mental …eu fiz um lapso, eu - no lugar de, como Eu – escrevi, como Isso.

Escrever - já que tudo isso se escreve, é isso mesmo que constitui o dizer - escrever que o analisante se desvencilha com Eu, é também Eu com Ele. Que o analista fale do Eu e do Isso, jamais do Ele, é no entanto muito impressionante. Ele, porém, é um termo que se imporia.

E se Freud desdenha do fato de anunciar isso que se imporia - é preciso dizer - é porque ele é egocêntrico, e até superegocêntrico! É disso que ele é doente. Ele tem todos os vícios do mestre: ele não compreende nada de nada. Porque o único mestre, deve-se dizer, é a consciência, e o que ele diz sobre o inconsciente não é mais que confusão e falação, quer dizer, retorno a essa mistura de desenhos grosseiros e metafísica que não vão um sem o outro.

Todo pintor é antes de tudo um metafísico, um metafísico na medida em que faz esboços, grosseiros. Ele é um rascunhador, daí os títulos que ele dá a seus quadros. mesmo a arte abstrata se titulariza como as outras... eu não quis dizer se intitula porque isso não quereria dizer nada ...mesmo a arte abstrata tem títulos, títulos que se esforçam para esvaziar o máximo que podem, mas ainda assim se titularizam.

Não fosse isso, Freud teria extraído as consequências do que ele mesmo diz, que o analisante não conhece sua verdade, porque não pode dizê-la. O que eu defini como não cessando de se escrever, à saber, o sinthoma, é aí um obstáculo. Eu volto a isso.O que o analisante diz esperando que se verifique não é a verdade, é a varidade do sinthoma.

Devemos aceitar as condições do mental, das quais, na primeira fileira, está a debilidade, o que quer dizer a impossibilidade de sustentar um discurso contra o qual não há objeção, mental, precisamente. O mental é o discurso. Fazemos o melhor que podemos para arranjar isso dizendo que o discurso deixa traços.

Esta é a história do Entwurf, do projeto de Freud, mas a memória é incerta. O que sabemos é que existem lesões do corpo que nós causamos, no chamado corpo vivente, que suspendem a memória ou pelo menos não nos permitem contar os traços que lhe atribuímos quando se trata da memória do discurso.

Essas objeções à prática da psicanálise precisam ser levantadas. Freud era um débil mental, como todo mundo...como , na ocasião, eu mesmo, em particular…de outra, era também: neurótico. Um obcecado pela sexualidade, como se diz.

Não vemos por que a obsessão pela sexualidade não seria tão válida quanto qualquer outra, pois para a espécie humana a sexualidade é justamente obsedante. Com efeito ela é anormal no sentido que eu defini: Não existe relação sexual. Freud - quer dizer, um caso - teve o mérito de perceber que a neurose não era estruturalmente obsessiva, que ela era, no fundo, histérica, quer dizer, ligada ao fato de que não existe relação sexual, que isso causa desgosto a algumas pessoas que, no mínimo, é um signo, um signo positivo, de que isso as faz vomitar.

A relação sexual deve ser reconstituída por um discurso, quer dizer, por algo que tenha toda uma outra finalidade. Para que serve o discurso antes de tudo? Serve para ordenar, entendo por isso portar o mandamento, que me permito chamar de intenção do discurso, já que resta algo - de imperativo - em toda intenção.

Todo discurso tem um efeito sugestivo. Ele é hipnótico. A contaminação do discurso pelo sono mereceria ser posta em relevo, antes de ser valorizada pelo que se chama de experiência intencional, ou seja, ser tomada como um mandamento imposto aos fatos. Um discurso é sempre adormecedor, salvo quando não o compreendemos: então ele nos acorda.

Os animais de laboratório são lesados não é porque lhes fazemos mais ou menos mal, eles estão acordados, perfeitamente, porque não compreendem o que se quer deles, mesmo que seu suposto instinto seja estimulado. Quando vocês fazem os ratos se mexerem em uma pequena caixa, vocês estimulam seu instinto alimentar, como se exprime por aí, trata-se simplesmente da fome. Em suma, o despertar é o Real em seu aspecto de impossível. Que não se escreve senão à força ou pela força, a natureza, como qualquer noção que venha ao espírito, é uma noção excessivamente vaga.

Para dizer a verdade, a contra-natureza é mais clara que o natural. Os pré-socráticos, como são chamados, tinham uma inclinação para a contra-natureza. É por isso que eles merecem que se lhes atribua a cultura. Eles tinham que ser mesmo muito bons para forçar um pouco o discurso, o dizer imperativo que vimos que adormece.

A verdade acorda ou adormece? Depende do tom em que ela é dita. A poesia dita adormece. E aproveito para lhes mostrar a coisa que François Cheng cogitou, que na verdade se chama Cheng Tsi Chen. Ele anexou esse François, assim, história que lhe serve para que reabsorva a nossa cultura, o que não o impediu de se manter muito firme no que diz. E o que ele diz é A Escrita Poética Chinesa, que foi publicado pela Seuil e eu gostaria muito que vocês extraíssem dele as consequências, que vocês extraíssem dele as consequências, se vocês são psicanalistas, o que não é o caso de todo o mundo aqui.

Se você são psicanalistas, vocês verão que esses forçamentos são por onde um psicanalista pode fazer soar outra coisa, outra coisa que não o sentido...porque o sentido é o que ressoa com a ajuda do significante, mas o que ressoa não vai longe, é bem suave …o sentido, isso tampona, mas com a ajuda do que se chama de escrita poética vocês podem ter a dimensão do que poderia ser a interpretação analítica.

Certamente a escritura não é por onde a poesia, a ressonância do corpo, se exprime. Ainda assim, é bastante impressionante que os poetas chineses se exprimam pela escritura e que – para nós – seja preciso que tomemos a noção, na escritura chinesa, do que é a poesia, não que toda poesia...eu falo da nossa especialmente …que toda a poesia seja  tal como podemos imaginar pela escritura, pela escritura poética chinesa.

Mas talvez vocês sintam algo lá, algo que seja outra coisa e que faz com que os poetas chineses sejam incapazes de fazer qualquer outra coisa além de escrever. Existe  algo que dá a sensação de que eles não estão reduzidos a isso, é que eles cantarolam, é que eles modulam, é que aí que está o que François Cheng enunciou na minha frente, à saber: um contraponto tônico, uma modulação, que faz com que isso se cante, porque da tonalidade à modulação, há um deslizamento.

Para que vocês possam eventualmente se inspirar em algo que é da ordem da poesia, para intervir, é bem o que eu aconselharia, é bem a isso que vocês devem se voltar, porque a linguística é mesmo assim uma ciência que eu diria que é muito mal orientada. Se a linguística se eleva, é na medida em que um Roman Jakobson aborda francamente as questões da poética.

A metáfora e a metonímia não têm alcance para a interpretação a não ser na medida em que são capazes de fazer função de outra coisa. E essa outra coisa da qual elas fazem função é a união, estreita, do som o do sentido.

É na medida em que a interpretação justa extingue um sintoma que a verdade se especifica em ser poética. Não é do lado da lógica articulada – embora de vez em quando eu deslize para ela – não é do lado da lógica articulada que devemos sentir o alcance de nosso dizer, não, é claro, que não haja alguma coisa que mereça duas vertentes. O que sempre enunciamos – porque é a lei do discurso – o que sempre enunciamos como sistema de oposição, é isso mesmo que teríamos que ultrapassar, e a primeira coisa seria extinguir a noção de Belo.

Não temos nada a dizer do belo. É de uma outra ressonância que se trata, a ser fundada sobre dito espirituoso. Um dito espirituoso não é belo, ele não se sustenta senão de um equívoco, ou - como diz Freud - de uma economia. Nada é mais ambíguo do que essa noção de economia. Mas mesmo assim, a economia funda o valor.

Uma prática sem valor: eis o que se trata de instituir para nós.

 

 


[1] Na verdade nem esse Needham a que se refere Lacan não se chama Robert e sim Rodney. Lacan corrigita isso, sem um mea culpa, na aula 12.



TEXTO EM FRANCÊS




L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan

 

Leçon 10

19 Avril 1977                                                                                                                               


J’ai un petit inconvénient aujourd’hui, j’ai mal au dos, de sorte que ça ne m’aide pas à tenir debout. Et quand je suis assis, j’ai aussi mal. Ça n’est certainement pas une raison, parce qu’on ne sait pas ce qui est inten­tionnel, pour qu’on élucubre ce qui est censé l’être.

Le moi, puisqu’on appelle ça comme ça… on appelle ça comme ça dans la seconde topique de Freud …le moi est supposé avoir des inten­tions, ceci du fait qu’on lui attribue ce qu’il jaspine, ce qu’on appelle son dire. Il dit - en effet - il dit, et il dit impérativement. C’est tout au moins comme ça qu’il commence à s’exprimer.

L’impératif, c’est ce que j’ai appuyé, disons du signifiant indice 2 : S2. Ce signifiant indice 2 dont j’ai défini le sujet, j’ai dit qu’un signifiant c’était ce qui représentait le sujet pour un autre signifiant. Dans le cas de l’im­pératif, c’est celui qui écoute qui, de ce fait vient S, devient sujet. Ça n’est pas que celui qui profère ne devienne pas lui aussi sujet, incidemment. Oui… 

Je voudrais attirer l’attention sur quelque chose : il n’y a en psychanalyse que des je voudrais. Je suis évidemment un psychanalyste qui a un peu trop de bouteille, mais c’est vrai que le psychanalyste, au point où j’en suis arrivé, dépend de la lecture qu’il fait de son analysant, de ce que son analysant lui dit en propres termes…

Est-ce que vous entendez, parce qu’après tout je ne suis pas sûr que ce porte-voix fonctionne? Est-ce que ça fonctionne là... dans les... Hein? Oui ? Bon ! 

…ce que son analysant croit lui dire, ceci veut dire que tout ce que l’analyste écoute ne peut être pris, comme on s’exprime, au pied de la lettre. 

Là il faut que je fasse une parenthèse, j’ai dit la tendance que cette lettre…dont ce pied indique l’ac­crochage au sol, ce qui est une métaphore, une métaphore piètre, ce qui va bien avec pied …la tendance que cette lettre a à rejoindre le Réel, c’est son affaire. Le Réel dans ma notation étant ce qui est impossible à rejoindre. 

Ce que son analysant, à l’analyste en question, croit lui dire, n’a rien à faire - et ça, Freud s’en est aperçu – n’a rien à faire avec la vérité. 

Néanmoins il faut bien penser que croire, c’est déjà quelque chose qui existe : il dit ce qu’il croit vrai. Ce que l’analyste sait, c’est qu’il ne parle qu’à côté du vrai, parce que le Vrai, il l’ignore. Freud - là - délire juste ce qu’il faut, car il s’imagine que le Vrai, c’est ce qu’il appelle - lui - le noyau traumatique. 

C’est comme ça qu’il s’exprime formellement, à savoir que, à mesure que le sujet énonce quelque chose de plus près de son noyau traumatique - ce soi-disant noyau, et qui n’a pas d’existence, il n’y a que la roulure, que l’analysant est tout comme son analyste, c’est-à-dire… comme je l’ai fait remarquer en invoquant mon petit-fils …l’apprentissage qu’il a subi d’une langue entre autres, qui est pour lui lalangue… que j’écris - on le sait - en un seul mot …dans l’espoir de ferrer - elle - la langue, ce qui équivoque avec faire-réel.

Lalangue quelle qu’elle soit est une obscénité. Ce que Freud désigne de - pardonnez-moi ici l’équivoque - l’obre-scène, c’est aussi bien ce qu’il appelle l’autre scène, celle que le langage occupe de ce qu’on appelle sa structure, structure élémentaire qui se résume à celle de la parenté.

Je vous signale que, il y a des sociologues qui ont énoncé sous le patronage d’un nommé Robert Needham…qui n’est pas le Needham qui s’est occupé avec tellement de soin de la science chinoise, qui est un autre Needham : le Needham de la science chinoise ne s’appelle pas Robert …lui, le Needham en question, s’imagine faire mieux que les autres en faisant la remarque - d’ailleurs juste – que la parenté est à mettre en question, c’est-à-dire qu’elle comporte dans les faits autre chose, une plus grande variété, une plus grande diversité que ce que… il faut bien le dire, c’est à ça qu’il se réfère …que ce que les analysants en disent. 

Mais ce qui est tout à fait frappant, c’est que les analysants - eux - ne parlent que de ça, de sorte que la remarque, incontestablement, que la parenté a des valeurs différentes dans les différentes cultures, n’empêche pas que le ressassage par les analysants de leur relation à leurs parents - d’ailleurs, il faut le dire, proches - est un fait que l’analyste a à supporter.

Il n’y a aucun exemple qu’un analysant note la spécificité, la particularité qui différencie - d’autres analysants - son rapport à ses parents plus ou moins immédiats. Le fait qu’il ne parle que de ça, est en quelque sorte quelque chose qui bouche toutes les nuances de sa relation spécifique, de sorte que La parenté en Question - c’est un livre paru au Seuil - que La parenté en Question met en valeur ce fait primordial que c’est de lalangue qu’il s’agit. 

Ça n’a pas du tout les mêmes conséquences que l’analysant ne parle que de ça parce que ses proches parents lui ont appris lalangue, il ne différencie pas ce qui spécifie sa relation à lui, avec ses proches parents. 

Il faudrait là s’apercevoir que ce que j’appellerai dans cette occa­sion la fonction de vérité, est en quelque sorte amortie par quelque chose de prévalant, et il faudrait dire que la culture est là tamponnée, amortie, et que, à cette occasion, on ferait mieux peut-être d’évoquer la métaphore - puisque culture est aussi une métaphore - la métaphore de l’agri du même nom. Il faudrait substituer à l’agri en question les termes de « bouillon de culture », ça serait mieux d’appeler culture un bouillon de langage.

Associer librement, qu’est-ce que ça veut dire?… Je m’efforce là de pousser les choses un petit peu plus loin. Qu’est-ce que veut dire asso­cier librement ? Est-ce que c’est une garantie… ça semble quand même être une garantie …que le sujet qui énonce va dire des choses qui aient un peu plus de valeur? Mais enfin chacun sait que la ratiocination…ce qu’on appelle comme ça en psychanalyse …la ratiocination a plus de poids que le raisonnement. 

Qu’est-ce qu’a affaire ce qu’on appelle des énon­cés, avec une proposition vraie ? Il faudrait tâcher, comme l’énonce Freud, de voir sur quoi est fondé ce quelque chose…qui ne fonctionne qu’à l’usure…dont est supposée la Vérité. Il faudrait voir, s’ouvrir à la dimension de la vérité comme variable, c’est-à-dire de ce que… en condensant comme ça les deux mots …j’appellerais la varité, avec un petit é avalé, la variété.

Par exemple, je vais donner quelque chose qui a bien son prix : si un sujet analysant glisse dans son discours un néologisme…comme je viens d’en faire par exemple à propos de la varité …qu’est-ce qu’on peut dire de ce néologisme ? 

Il y a quand même quelque chose qu’on peut en dire, c’est que le néologisme apparaît quand ça s’écrit. Et c’est justement bien en quoi ça ne veut pas dire, comme ça, automatiquement, que ce soit le Réel. C’est pas parce que ça s’écrit, que ça donne poids à ce que j’évo­quais tout à l’heure à propos de l’au pied de la lettre.

Bref, il faut quand même soulever la question de savoir si la psycha­nalyse… je vous demande pardon, je demande pardon au moins aux psychanalystes …ça n’est pas ce qu’on peut appeler un autisme à deux? 

Il y a quand même une chose qui permet de forcer cet autisme, c’est jus­tement que lalangue est une affaire commune et que…c’est justement là où je suis, c’est-à-dire capable de me faire entendre de tout le monde ici …c’est là ce qui est le garant - c’est bien pour ça que j’ai mis à l’ordre du jour Transmission de la psychanalyse - c’est bien ce qui est le garant que la psychanalyse ne boîte pas irréductiblement de ce que j’ai appelé tout à l’heure autisme à deux.

On parle de « la ruse de la Raison », c’est une idée philosophique. C’est Hegel qui a inventé ça. Il n’y a pas la moindre ruse de la Raison. Il n’y a rien de constant, contrairement à ce que Freud a énoncé quelque part:

 

Que la voix de la raison était basse, mais qu’elle répète toujours la même chose. 

 

Elle ne répète des choses qu’à tourner en rond. Pour dire les choses : la raison répète le sinthome. 

Et le fait qu’aujourd’hui j’aie à me présenter devant vous avec ce qu’on appelle un sinthome physique, n’empêche pas qu’à juste titre vous pouvez vous demander si ça n’est pas intentionnel, si par exemple je n’ai pas abondé dans une telle connerie de comportement que mon symptôme, tout physique qu’il soit, soit quand même quelque chose qui soit par moi voulu. 

Il n’y a aucune raison de s’ar­rêter dans cette extension du sinthome, puisque c’est quelque chose de suspect, qu’on le veuille ou non. Pourquoi ce sinthome ne serait-il pas intentionnel ? Il est un fait que l’élangue … j’écris ça : é.l.a.n.g.u.e …que l’élangue s’élongent à se traduire l’une dans l’autre, mais que le seul savoir reste le savoir d’élangues, que la parenté ne se traduit pas en fait, mais elle n’a de commun que ceci : que les analysants ne parlent que de ça. C’est même au point que ce que j’ap­pelle dans l’occasion un vieil analyste en est fatigué.

Pourquoi est-ce que Freud n’introduit pas quelque chose qu’il appel­lerait le lui. Quand j’ai écrit mon petit machin là, pour vous jaspiner, j’ai fait un lapsus, un de plus : au lieu d’écrire comme moi… ce comme moi n’était pas spécialement bienveillant, il s’agissait de ce que j’appelle­rais la débilité mentale …j’ai fait un lapsus, j’ai - à la place de comme moi - écrit comme ça. 

Écrire - puisque tout ça s’écrit, c’est même là ce qui constitue le dire - écrire que l’analysant se débrouille avec moi, c’est aussi bien moi avec lui. Que l’analyse ne parle que du moi et du ça, jamais du lui, c’est quand même très frappant. Lui pourtant, est un terme qui s’imposerait. 

Et si Freud dédaigne d’en faire état, c’est bien - il faut le dire - qu’il est égocentrique, et même super-égocentrique ! C’est de ça qu’il est malade. Il a tous les vices du maître : il ne comprend rien à rien. Car le seul maître, il faut bien le dire, c’est la conscience, et ce qu’il dit de l’inconscient n’est qu’embrouille et bafouillage, c’est-à-dire retourne à ce mélange de dessins grossiers et de métaphysique qui ne vont pas l’un sans l’autre.

Sans cela, Freud eût tiré les conséquences de ce qu’il dit lui-même que l’analysant ne connaît pas sa vérité, puisqu’il ne peut la dire. Ce que j’ai défini comme ne cessant pas de s’écrire, à savoir le sinthome, y est un obstacle. J’y reviens. Ce que l’analysant dit en attendant de se vérifier, ce n’est pas la vérité, c’est la varité du sinthome. 

Il faut accepter les condi­tions du mental aux premiers rangs desquelles est la débilité, ce qui veut dire l’impossibilité de tenir un discours contre quoi il n’y a pas d’objec­tion, mentale, précisément.Le mental, c’est le discours. On fait de son mieux pour arranger que le discours laisse des traces. 

C’est l’histoire de l’Entwurf, du projet de Freud, mais la mémoire est incertaine. Ce que nous savons, c’est qu’il y a des lésions du corps que nous causons, du corps dit vivant, qui sus­pendent la mémoire ou tout au moins ne permettent pas de compter sur les traces qu’on lui attribue quand il s’agit de la mémoire du discours.

Il faut soulever ces objections à la pratique de la psychanalyse. Freud était un débile mental, comme tout le monde…et comme moi-même à l’occasion, en particulier …en outre : névrosé. Un obsédé de la sexualité comme on l’a dit. 

On ne voit pas pourquoi ne serait pas aussi valable l’obsession de la sexualité   qu’une autre, puisque pour l’espèce humaine la sexualité est obsédante à juste titre. Elle est en effet anormale au sens que j’ai défini : Il n’y a pas de rapport sexuel. Freud - c’est-à-dire un cas - a eu le mérite de s’apercevoir que la névrose n’était pas structurellement obsessionnelle, qu’elle était hystérique dans son fond, c’est-à-dire liée au fait qu’il n’y a pas de rapport sexuel, qu’il y a des personnes que ça dégoûte, ce qui quand même est un signe, un signe positif, que ça les fait vomir.

Le rapport sexuel, il faut le reconstituer par un discours, c’est-à-dire quelque chose qui a une toute autre finalité. Ce à quoi le discours sert d’abord? Il sert à ordonner, j’entends à porter le commandement que je me permets d’appeler intention du discours, puisque il en reste - de l’im­pératif - dans toute intention. 

Tout discours a un effet de suggestion. Il est hypnotique. La contamination du discours par le sommeil vaudrait d’être mise en relief, avant d’être mise en valeur par ce qu’on appelle l’expé­rience intentionnelle, soit prise comme un commandement imposé aux faits. Un discours est toujours endormant, sauf quand on ne le comprend pas : alors, il réveille.

Les animaux de laboratoire sont lésés non pas parce qu’on leur fait plus ou moins mal, ils sont réveillés, parfaitement, parce qu’ils ne com­prennent pas ce qu’on leur veut, même si on stimule leur prétendu ins­tinct. Quand vous faites bouger des rats dans une petite boîte, vous sti­mulez son instinct alimentaire, comme on s’exprime, c’est de la faim tout simplement qu’il s’agit donc. Bref, le réveil, c’est le Réel sous son aspect de l’impossible. Qu’il ne s’écrive qu’à force ou par force, la nature, comme toute notion qui nous vient à l’esprit, est une notion excessivement vague.

À vrai dire la contre-nature est plus claire que le naturel. Les pré-socratiques, comme on appelle ça, avaient un penchant au contre-nature. C’est tout ce qui mérite qu’on leur attribue la culture. Il fallait qu’ils soient doués pour forcer un peu le discours, le dire impératif dont nous avons vu qu’il endort.

La vérité réveille-t-elle ou endort-elle? Ça dépend du ton dont elle est dite. La poésie dite endort. Et j’en profite pour montrer le truc qu’a cogité François Cheng qui s’appelle en vérité Cheng Tsi Chen. Il a mis François comme ça, histoire de se résorber dans notre culture, ce qui ne l’a pas empêché de maintenir très ferme ce qu’il dit. Et ce qu’il dit, c’est L’écriture poétique chinoise, c’est paru au Seuil et j’aimerais bien que vous en preniez de la graine, que vous en preniez de la graine, si vous êtes psychanalyste, ce qui n’est pas le cas de tout le monde ici.

Si vous êtes psychanalyste, vous verrez que ces forçages par où un psychanalyste peut faire sonner autre chose, autre chose que le sens…car le sens c’est ce qui résonne à l’aide du signifiant, mais ce qui résonne ça va pas loin, c’est plutôt mou …le sens ça tamponne, mais à l’aide de ce qu’on appelle l’écriture poétique vous pouvez avoir la dimension de ce que pourrait être l’interprétation analytique.

C’est tout à fait certain que l’écriture n’est pas ce par quoi la poésie, la résonance du corps s’exprime. Il est quand même tout à fait frappant que les poètes chinois s’expriment par l’ écriture et que - pour nous - ce qu’il faut, c’est que nous prenions la notion, dans l’écriture chinoise, de ce que c’est que la poésie, non pas que toute poésie… je parle de la nôtre spécialement …que toute poésie soit telle que nous puissions l’imaginer par l’écriture, par l’écriture poétique chinoise. 

Mais peut-être, y sentirez-vous quelque chose, quelque chose qui soit autre que ce qui fait que les poètes chinois ne peuvent pas faire autrement que d’écrire. Il y a quelque chose qui donne le sentiment qu’ils n’en sont pas réduits là, c’est qu’ils chantonnent, c’est qu’ils modulent, c’est qu’il y a ce que François Cheng a énoncé devant moi, à savoir : un contre-point tonique, une modulation, qui fait que ça se chante, car de la tonalité à la modula­tion, il y a un glissement. 

Que vous soyez inspirés éventuellement par quelque chose de l’ordre de la poésie pour intervenir, c’est bien en quoi je dirai, c’est bien vers quoi il faut vous tourner, parce que la linguistique est quand même une science que je dirais très mal orientée. Si la linguis­tique se soulève, c’est dans la mesure où un Roman Jakobson aborde franchement les questions de poétique. 

La métaphore, et la métonymie, n’ont de portée pour l’interprétation qu’en tant qu’elles sont capables de faire fonction d’autre chose. Et cette autre chose dont elles font fonc­tion, c’est bien ce par quoi s’unissent, étroitement, le son et le sens.

C’est pour autant que l’interprétation juste éteint un symptôme, que la vérité se spécifie d’être poétique. Ce n’est pas du côté de la logique articulée - quoique à l’occasion j’y glisse - ce n’est pas du côté de la logique articulée qu’il faut sentir la portée de notre dire, non pas bien sûr qu’il y ait quelque part quelque chose qui mérite de faire deux versants. Ce que toujours nous énonçons - parce que c’est la loi du discours - ce que toujours nous énonçons comme système d’opposition, c’est cela même qu’il nous faudrait surmonter, et la première chose serait d’éteindre la notion de Beau.

Nous n’avons rien à dire de beau. C’est d’une autre résonance qu’il s’agit, à fonder sur le mot d’esprit. Un mot d’esprit n’est pas beau, il ne se tient que d’une équivoque, ou - comme le dit Freud – d’une économie. Rien de plus ambigu que cette notion d’économie. Mais tout de même, l’économie fonde la valeur. 

Une pratique sans valeur : voilà ce qu’il s’agi­rait pour nous d’instituer.

 

 

 

 

A aula 10 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/10_insu19-04-77.mp3

 




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