sábado, abril 08, 2023

JACQUES LACAN - SEMINÁRIO 1976-1977

 

O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte


Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan


Aula 8

08 de Março de 1977

 

Nós escrevemos… digo nós porque não importa quem pode escrever, digo nós porque me incomoda dizer eu. Isso me incomoda... não sem razão: em nome do que o eu produziria algo na ocasião?

Então acontece que eu disse, e por isso acontece o escrito, eu disse que não há metalinguagem, à saber, que não se fala sobre a linguagem. Acontece que reli algo - que está na Scilicet 4 - que chamei, enfim, que intitulei... é por isso que é uma coisa assim que traz sua marca …bem, eu intitulei O Aturdito, e em O Aturdito percebi, reconheci algo: em O Aturdito - essa metalinguagem - eu diria que quase a faço nascer.

Naturalmente isso seria um achado. Isso seria um achado, mas não há há achado, porque não há mudança. Este quase que acrescentei à minha frase, este quase sublinha que não aconteceu. É um semblante de uma metalinguagem e como uso no texto, eu uso esta escrita: pareser, serblante para metalinguagem.. Para fazer um verbo reflexivo desse parecer, se o desvincula da afruição que é ser, e enquanto o escrevo, ele aparece. Aparece quer dizer um semblante de ser.

Aí está!

E então, a este propósito, percebi que foi para um prefácio que abri este escrito, para um prefácio que tive que fazer para uma edição italiana que eu havia prometido... não é certo que o farei, não é certo que o farei porque isso me entedia …mas me dei conta a este propósito… consultei alguém que é italiano… para quem esta língua, da qual não entendo nada, é sua língua materna...Consultei alguém que me indicou que há algo que se assemelha a pareser, que se assemelha a pareser, mas que não é, que não é fácil de introduzir com a deformação da escrita que emprego.

Resumidamente, não é fácil transcrever, por isso propus que meu prefácio não fosse traduzido no final das contas, tanto mais que não há nenhum espécie de inconveniente em não traduzir o que quer que seja, em particular o prefácio.

Como todos os prefácios, eu estaria inclinado a…como ordinariamente é que se passa nos prefácios ... eu estaria inclinado a me aprovar, até mesmo a me aplaudir. Isso é o que de hábito acontece. É a comédia. É da ordem da comédia e isso me fez, me induziu a... me empurrou na direção de Dante. Esta comédia é divina, bem claro, mas isso só significa uma coisa, e é que ela é bufa.

Eu falo do bufão em O Aturdito, falo dele em não sei em qual página, mas falo dele. Isso quer dizer que podemos zombar com a pretendida obra divina. Não existe nenhuma obra divina a menos que se queira identificá-la com o que chamo o Real.

Mas quero precisar essa noção que faço do Real. Eu amaria que isso se espalhasse. Tem um face... desconhecida se ousamos avançar em termos como esse ...há uma face pela qual esse Real se distingue daquilo que está - para dizer a palavra - enodado a ele. Algumas coisas precisam ser esclarecidas aqui. Se podemos falar de face se isso tiver seu peso, quer dizer, isso tem que fazer sentido. É bem claro que é na medida em que essa noção de Real pela qual avanço é algo consistente, que posso prosseguir.

E aqui eu gostaria de fazer uma observação: é que os anéis de barbante - como eu os chamei - em que eu faço consistir esta tríade do Real, do Imaginário e do Simbólico:



... aos quais fui empurrado, não por não importa quem, mas pelas histéricas, de modo que parti do mesmo material que Freud, porque é para dizer alguma coisa de coerente sobre as histéricas que Freud edificou toda a sua técnica, que é uma técnica, quer dizer, alguma coisa na ocasião muito frágil.

Ainda assim, gostaria de salientar isto: é que os anéis de barbante de vez em quando não se sustentam. É necessário um pouco mais.

Isto é o que, devo dizer, me foi sugerido por – outro dia – o curso de Soury... Soury dá um curso na quinta-feira à noite – não vejo por que não deveria contar a vocês – às sete e quinze em Jussieu, em um lugar que vocês devem perguntar a ele. Espero que muitas das pessoas que estão aqui vão para lá... ele muito justamente apontou para mim que esses anéis de barbante só se mantinham juntos na condição de serem alguma coisa que deve ser chamada pelo seu nome: um toro.

Em outros termos, existem três toros. Existem três toros que são necessários, porque se não os supusermos, não se pode colocar em evidência o fato de que esses toros são necessários para o reviramento dos ditos toros. Em outros termos, um toro, habitualmente o desenhamos assim:


Bem entendido, este é um desenho totalmente insuficiente, pois não se vê – salvo indicando expressamente desta forma – que é uma superfície e não uma bolha em uma bola.



Que esta superfície se revire, tem propriedades, de onde resulta ... tenho, a meu tempo, evocado o toro que se revira …de onde resulta… é graças a isto que surge, que revira, o toro…que por exemplo seria um dos três, este por exemplo [verde]:



... que revira o toro contendo os outros dois outros anéis de barbante  que devem eles mesmos ser representados por um toro, quer dizer, o que vocês veem aqui, que eu desenhei desta maneira, não deve ser desenhado como começei a desenhar, mas ser desenhado assim, quer dizer, com dois outros toros. E dois outros toros não são dois outros anéis de barbante.

Isso quer dizer que esses três toros são nós borromeanos? Absolutamente não ! Porque se for dessa forma, assim que vocês cortarem o toro, que é por exemplo esse aqui, que eu designei ali: se for dessa forma assim que vocês cortarem, isso não libertará os outros dois toros.

 


Vocês têm que cortá-lo... se posso me exprimir de forma metafórica ...vocês têm que cortá-lo no sentido do comprimento para que ele se liberte:



A condição, portanto, de que o toro seja cortado apenas de uma forma, enquanto pode ser cortado de duas, é algo que merece ser retido, ser retido no que chamarei, nesta ocasião, não de metáfora, mas de estrutura. Pois a diferença que há entre metáfora e estrutura é que a metáfora é justificada pela estrutura.

Tecendo o do que se trata do Dante em questão, fui levado a reler um livro antigo que meu livreiro me trouxe, pois ele vem de tempos em tempos para me trazer coisas, ele é nomeado Delécluze, foi publicado em 1854, ele era amigo de Baudelaire, e se chama Dante e a poesia amorosa e isso não é tranquilizador. É tanto menos tranquilizador que, como eu disse à pouco, Dante começou nesta ocasião...na ocasião da dita poesia amorosa …começou a bufonear.

Ele criou… não o que eu não criei, à saber, uma metalinguagem ...ele criou o que podemos chamar de uma nova língua, o que poderíamos chamar de uma metalíngua, porque depois de tudo, qualquer nova língua é uma metalíngua, mas como todas as novas línguas, ela é formada sobre modelo das antigas, o quer dizer que ela fracassa. Que fatalidade é essa que, seja qual for a genialidade de alguém, ele recomeça no mesmo trilho, nesse trilho que faz a língua fracassar, que em suma é uma bufonaria da língua?

A língua francesa não é menos que as outras, é unicamente porque temos o gosto, a prática, que nós a consideramos como superior. Ela não é em nada superior ao que quer que seja. Ela é exatamente como o Algonquin ou o Coiote, ela não é melhor. Se fosse melhor, poderíamos dizer o que Dante enuncia em algum lugar, ele enuncia em um escrito que ele produziu em latim e se chama de Nomina sunt – pronunciamos sonte em francês – consequentia rerum .

A consequência quer dizer o que nesta ocasião? Isso não pode querer dizer senão uma consequência real, mas não há uma consequência real, pois o Real, como o simbolizei pelo nó borromeano, o Real se desvanece em um pó de toros porque, claro, esses dois toros ali, no interior do outro, esses dois toros ali se desenodam.

Eles se desenodam, e isso quer dizer que o Real – pelo menos como acreditamos o representar – o Real está ligado apenas por uma estrutura... se nós postulamos que a estrutura, isso não quer dizer senão um nó  borromeano. O Real é, em suma, definido como incoerente na medida em que é justamente estrutura.  Tudo isso apenas esclarece a concepção que alguém – que calha de ser eu nesta ocasião – tem do Real: o Real não constitui um universo, salvo se está enodado a duas outras funções.

Não é tranquilizador, não é tranquilizador porque uma dessas funções é o corpo vivente. Não sabemos o que é um corpo vivente. Este é um caso no qual nos remetemos a Deus. Eu quero dizer que… Eu quero dizer: se o que eu digo faz sentido ... o que quero dizer é que li uma tese, que, coisa bizarra, foi publicada em 1943.

Não a procurem, porque vocês nunca vão colocar as mãos nela, vocês nunca vão colocar as mãos nela porque vocês estão aqui em número muito maior do que os exemplares que saíram da tese, é a tese de uma mulher chamada Madeleine Cavet que nasceu em 1908 – a tese especifica isso – quer dizer, cerca de sete anos depois que nasci, e o que ela diz não é tolice.

Ela percebe perfeitamente que Freud é alguma coisa absolutamente confusa, que como dizemos: ele está mais perdido que cego em tiroteio. 

E ela toma uma medida, ela evoca nesta ocasião a obra de Pasteur. Pasteur, é um caso engraçado. Quero dizer que, até ele – porque afinal é dele que isso vem – até ele acreditávamos no que se pode chamar de geração espontânea, à saber, que acreditávamos que, ao abandonar – esse era o fundamento aparente -... ao abandonar um corpo vivente, naturalmente isso começa a fervilhar, quero dizer, isso fervilha com os chamados micro-organismos, pelo que se imagina que esses micro-organismos possam vir a crescer em não importa o quê. É bem certo que se vocês deixam uma xícara exposta ao ar, há coisas que se depositam ali, dependendo da ocasião, e formam o que se chama de cultura.

Mas o que Freud demonstrou… o que Pasteur! Demonstrou… este lapso tem todo o seu valor, dado o sentido da tese da dita Madeleine Cavet …o que o Pasteur demonstrou é que, na condição somente de colocar uma pequena bola de algodão na entrada de um vaso, que  isso não faz abundar nada em seu interior e esta é manifestadamente uma das gerações não espontâneas mais simples. Mas então, isso supõe coisas estranhas. De onde vêm esses microrganismos? Nós estamos hoje reduzidos a pensar que eles vêm de nenhuma parte. Dito de outra forma, que foi Deus quem os fabricou.

É muito, muito chato que tenhamos abandonado essa fenda da geração espontânea que era, em suma, uma muralha contra a existência de Deus. Nós...  nosso caro Pasteur também foi considerado pelos médicos da época como um sacerdote formidável, o que também é bem verdade: ele tinha convicções religiosas.

Nós esquecemos completamente esta aventura, esta aventura do dito Pasteur, nós  a esquecemos. Nós esquecemos e o fato de estarmos reduzidos a pensar que há vida, mais ou menos pululante, em meteoritos não resolve a questão. O fato de não encontrarmos o menor traço de vida na Lua, nem em Marte, não arranja melhor as coisas.

Porque, em nome do quê, senão em nome de um ser que deve estar localizado em alguma parte, de um ser que o teria feito expressamente à maneira do homem, como se o homem... que – ele – manipula e mexe as coisas ...como se o homem tivesse visto de um lance que havia um macaco, um Macaco-Deus – quero dizer que Deus iria macaquear – como se tudo começasse à partir daí, o que, em suma, fecharia o ciclo. Todos sabem que o deus-macaco, essa é praticamente a ideia que podemos fazer da ideia de como o homem nasce, e isso também não é algo que seja completamente satisfatório.

Por que o homem é o que eu chamo de ser de fala, ou seja, tem esse modo de falar de uma maneira tal que nomina non sunt consequencia rerum, dito de outra maneira, que há algo em algum lugar que vai mal na estrutura, na estrutura tal como eu a concebo, a saber, a do nó dito borromeano.

É bem esse o caso. Tudo isto vale a pena evocar com este nome: Borromeu, uma data histórica, à saber a forma com a qual, em suma, a própria ideia da estrutura foi elucubrada. É impressionante ver o que isso queria dizer na época que, se uma família se retirava de um grupo de três, as outras duas ficavam no mesmo lance livres, livres para não mais se dar mais bem. Claro, vale a pena lembrar a sordidez da história dos Borromeu.

Não só os nomes não são consequência das coisas, como podemos afirmar expressamente o contrário. Eu tenho um neto que se chama Luc... é uma ideia engraçada, mas foram os pais dele que o batizaram ... ele se chama Luc e ele diz coisas que são bastante apropriadas: ele diz que, em suma, as palavras que ele não entendeu, ele se esforçou para dizê-las, e ele deduz que foi isso que fez sua cabeça inchar, porque ele tem, como eu...não é surpreendente, já que ele é meu neto ... ele tem uma cabeça tão grande quanto a minha.

Isso se chama – para falar propriamente, não sou hidrocefálico – mas ainda tenho uma cabeça...e uma cabeça é caracterizada pela média, eu tenho uma cabeça bastante grande. Meu neto também eevidentemente, ele está errado em pensar que dessa forma ele definiu bem o inconsciente – porque é disso que se trata – que dessa forma ele definiu bem o inconsciente – à saber, que as palavras entraram em sua cabeça – e ele deduziu no mesmo lance que é por isso que ele tem uma cabeça grande.

É uma teoria, em suma, não muito inteligente, mas pertinente no sentido daquilo que a motiva. Há algo que ainda lhe dá a sensação de que falar é parasitário. Então ele vai um pouco mais longe até pensar que é por isso que ele tem uma cabeça grande. É muito difícil não escorregar, nesta ocasião, para o imaginário do corpo, à saber, para a cabeça grande. O terrível é que é lógico e a lógica na ocasião não é pouca coisa, a saber, que é o parasita do homem.

Eu disse à pouco que o universo não existe, mas será que isso é verdade? É verdade que o Um que está no princípio da noção do universo, que o Um é capaz de se transformar em pó, que o Um do universo não seja um ou seja apenas um entre outros. Que exista um, por si só, implica o universal? Isso comporta dizer que, por mais excluído que seja o universal, a foraclusão desse universal implica a manutenção da particularidade. Existe um, isso jamais vai muito pra frente em lógica, exceto de uma forma coerente com uma sequência: existe um que satisfaça a função. A lógica da função é, em suma, o que repousa sobre a lógica do Um.

Mas isso quer dizer ao mesmo tempo, e é isso que tentei esboçar em alguma parte do meu grafo... neste grafo que fiz antigamente e sobre o qual, assim, algumas pessoas especulam ...escrevi essa alguma coisa que é o significante, o significante daquilo que no Outro não existe, o que eu escrevi assim: S(Ⱥ).

Mas o Outro, o Outro em questão, é preciso chamá-lo pelo nome: o Outro é sentido, é o Outro que não o real. É muito difícil não flutuar na ocasião. Há uma escolha a ser feita entre o infinito atual...que pode ser circular, desde que não haja origem designável …e os nós enumeráveis, quer  dizer, finitos.

Há muitas possibilidades aí, o que quer dizer que se interrompe a escritura... esta é a minha definição do possível… só se continua se quisermos. De fato nós abandonamos, porque sempre é possível abandonar, porque é mesmo impossível não abandonar realmente.

O que chamo de o impossível é o Real, se limita à não-contradição. O Real é o impossível somente de se escrever, ou seja: não cessa de não se escrever. O Real é o possível enquanto espera que se escreva.

E devo dizer que tive a confirmação disso, porque não sei... uma mosca me picou, fui até Saclay, mais exatamente, pedi a alguém que me conduzisse até lá.

É um homem nomeado Goldzahl... é engraçado que ele tenha esse nome que significa número de ouro, sim! ... ele me introduziu em uma pequena sala onde havia um traço ... porque Saclay é imenso, é absolutamente enorme, vocês não podem imaginar o número de pessoas que lá dentro só lidam com papéis, são 7000, eles não fazem nada a não ser garatujar papéis, salvo as poucas pessoas que estão ali nesta pequena sala e, graças a presença delas, se vê porque existem ali tantos aparelhos funcionando…por meio dos quais, vemos o traço ondulatório do que representa… claro que tivemos que montar os aparelhos para que isso funcionasse, que isso fosse representado …do que representa o magnetismo dos ímãs principais.

Vemos outros aparelhos se movimentarem, porque podemos qualificar como movimento isso que vai da esquerda para a direita e que é sustentado por um ponto, um ponto no final de uma linha, que faz um traço, e nesta sala só vemos esses traços , e assim é de fato concebível simbolizar a estrutura por algo que circunda em forma de círculo cada um desses pontos, cada um desses pontos que representam uma partícula. Uma partícula, portanto, articula-se com todos esses aparelhos dos quais é bem certo que são o que se chama Ψ, dito de outra maneira, o que Freud não poderia deixar de marcar senão com a letra inicial da psique.

Se não houvesse esses cientistas que se ocupam com partículas, também não haveria psartículas, e isso nos força a mão para pensar que, não somente há o falaser, mas que há também o falapsser, em outros termos, que tudo isso não existiria se não houvesse o funcionamento dessa coisa grotesca chamada pensamento. Tudo o que estou dizendo aqui, eu penso que não tem mais valor disso que conta o meu neto.

É assaz lamentável que o Real não se conceba senão como ser impróprio. Não é bem como com a linguagem. A linguagem só é imprópria para dizer seja lá o que for. O Real só é impróprio para ser realizado. De acordo com o uso da palavra realizar, isso não quer dizer outra coisa além de imaginar como sentido.

Existe uma coisa que em todo caso é certa – se é que uma coisa pode ser – é que a própria ideia mesma de Real comporta a exclusão de todo sentido. É somente na medida em que o Real é esvaziado de sentido que podemos apreendê-lo um pouco. O que evidentemente não me leva a nem mesmo dar-lhe o sentido do Um, mas, mesmo assim, temos que nos segurar em alguma parte, e essa lógica do Um é bem o que resta, o que resta como existência. Aí está.

Eu lamento muito ter falado com vocês hoje sobre essa espécie de extremo. Mesmo assim, teria que dar outro rumo, quero dizer, levar à ideia de que não há Real que exclui qualquer tipo de sentido, é exatamente o contrário de nossa prática. Porque nossa prática nada nessa espécie de indicação precisa de que não apenas nomes, mas simplesmente palavras, têm um significado. Não vejo como explicar isso.

Se as nomina não se prendem de modo algum às coisas, como é possível a psicanálise? A psicanálise seria de certa forma o que se poderia chamar de farsa, quero dizer, do semblante. Mesmo assim, situei no enunciado de meus vários discursos a única maneira pensável de articular o que se chama de discurso psicanalítico.

Relembro a vocês que o lugar do semblante onde coloco o objeto(a), que o lugar do semblante não é aquele que articulei como o da Verdade. Como pode um sujeito - já que é assim que eu designo o S com a barra: $, como pode um sujeito, um sujeito com toda sua fraqueza, sua debilidade, tomar o lugar da Verdade e até fazer que isso dê resultados?

Ele é colocado ali dessa maneira, à saber, um Saber...

 


Em? Não foi assim que escrevi naquela época?

Jacques-Alain Miller - $ no lugar de S1, Sno lugar de S2, S2 no lugar de $.




Vocês veem que há o suficiente para ficar confuso! Sim. Incontestavelmente é melhor assim. É incontestavelmente melhor assim, mas é ainda mais perturbador assim, quero dizer que a falha entre S1e S2 é mais marcante, porque aqui há algo interrompido e que em suma o S1, é apenas o começo do saber. Mas um saber que se contenta em começar sempre, como se diz, e isso não leva a nada.

É bem por isso que, quando fui a Bruxelas, não falei da psicanálise nos melhores termos. Existem alguns que eu reconheço, que estão lá. Porque começar a saber, para não chegar lá, é uma coisa que vai, enfim, assaz muito bem com o que chamo de minha falta de esperança, mas enfim isso implica um nome, um termo que me resta deixá-los adivinhar.

Os belgas que me ouviram falar em Bruxelas estão livres para compartilhar com  vocês isso ou não.


Texto em francês


L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan


Leçon 8

08 Mars 1977

 

On écrit… Je dis on, parce que n’importe qui peut écrire, je dis on parce que ça me gêne de dire je. Ça me gêne… pas sans raison : au nom de quoi le je se produirait-il en l’occasion? 

Donc il se trouve que j’ai dit, et que de ce fait ça se trouve écrit, j’ai dit qu’il n’y a pas de métalangage, à savoir qu’on ne parle pas sur le langage. Il se trouve que j’ai relu quelque chose - qui est dans le Scilicet 4 - que j’ai appelé, enfin que j’ai intitulé…c’est en ça que c’est une chose comme ça qui porte votre marque …enfin je l’ai intitulé L’étourdit, et dans L’étourdit je me suis aperçu, j’ai reconnu quelque chose : dans L’étourdit - ce métalangage - je dirais que je le fais presque naître. 

Naturellement ça ferait date. Ça ferait date, mais il n’y a pas de date, parce qu’il n’y a pas de changement. Ce presque que j’ai ajouté à ma phrase, ce presque souligne que ce n’est pas arrivé. C’est un semblant de métalangage et comme je m’en sers dans le texte, je me sers de cette écri­ture : s’embler, s’emblant au métalangage. En faire un verbe réfléchi de ce s’embler, le détache de l’affruition qu’est l’être, et comme je l’écris, il parest. Parest veut dire un s’emblant d’être. 

Voilà !

Et alors, à ce propos, je m’aperçois que c’était pour une préface que j’ai ouvert cet écrit, pour une préface que j’avais à faire pour une édition italienne que j’avais promise… il n’est pas sûr que je la donne, il n’est pas sûr que je la donne parce que ça m’ennuie …mais je me suis rendu comp­te à ce propos que… j’ai consulté quelqu’un qui est italien… pour qui cette langue à laquelle je n’entends rien, est sa langue maternelle …j’ai consulté quelqu’un qui m’a fait remarquer qu’il y a quelque chose qui ressemble à s’embler, qui ressemble à s’embler, mais qui n’est pas, qui n’est pas faci­le à introduire avec la déformation d’écriture que je donne. 

Bref, ce n’est pas facile à transcrire, c’est pour ça que je proposais qu’on ne traduise pas ma préface après tout, ce d’autant plus qu’il n’y a aucune espèce d’in­convénient à ce qu’on ne traduise quoi que ce soit, en particulier pas la pré­face.

Comme toutes les préfaces, je serais incliné à… comme d’ordinaire c’est ce qui se passe dans les préfaces …je serais incliné à m’approuver, voire à m’applaudir. C’est ce qui se fait d’habitude. C’est la comédie. C’est de l’ordre de la comédie et ça m’a fait, ça m’a induit à… ça m’a poussé vers Dante. Cette comédie est divine, bien sûr, mais ça ne veut dire qu’une chose, c’est qu’elle est bouffonne. 

Je parle du bouffon dans L’étourdit, j’en parle à je ne sais quelle page, mais j’en parle. Ça veut dire qu’on peut bouffonner sur la prétendue œuvre divine. Il n’y a pas la moindre œuvre divine à moins qu’on ne veuille l’identifier à ce que j’appelle le Réel. 

Mais je tiens à préciser cette notion que je me fais du Réel. J’aimerais qu’elle se répande. Il y a une face… inouï qu’on ose avancer des termes comme ça …il y a une face par laquelle ce Réel se distingue de ce qui lui est - pour dire le mot - noué. Il faudrait préciser là certaines choses. Si on peut parler de face, il faut que ça prenne son poids, je veux dire que ça ait un sens. Il est bien clair que c’est en tant que cette notion du Réel que j’avance, est quelque chose de consistant, que je peux l’avancer.

Et là je voudrais faire une remarque : c’est que les ronds de ficelle - comme je les ai appelés - en quoi je fais consister cette triade du Réel, de l’Imaginaire et du Symbolique: 



...à laq uelle j’ai été poussé, pas par n’im­porte qui, par les hystériques, de sorte que je suis reparti du même maté­riel que Freud, puisque c’est pour dire quelque chose de cohérent sur les hystériques que Freud a édifié toute sa technique, qui est une technique, c’est-à-dire quelque chose en l’occasion de bien fragile.

Je voudrais tout de même faire remarquer ceci : c’est que les ronds de ficelle dans l’occasion, ça ne tient pas. Il faut un peu plus. 

C’est ce qui m’a été, je dois dire, suggéré par - l’autre jour - le cours de Soury… Soury fait un cours le jeudi soir - je ne vois pas pourquoi je ne vous le dirais pas - à sept heures et quart à Jussieu dans un endroit que vous lui demanderez. J’espère que plusieurs des personnes qui sont ici s’y rendront …il m’a fait remarquer très justement que ces ronds de ficelle, ça ne tenait qu’à condition d’être quelque chose qu’il faut bien appeler par son nom : un tore. 

En d’autres termes, il y a trois tores. Il y a trois tores qui sont nécessaires, parce que si on ne les suppose pas, on ne peut pas mettre en évidence le fait que ces tores sont nécessités par le retournement des dits tores. En d’autres termes un tore, nous avons l’habitude de le dessiner comme ça:



Bien entendu c’est un dessin tout à fait insuffisant, puisqu’on ne voit pas - sauf à l’indiquer expressément sous cette forme - que c’est une surface et pas du tout une bulle dans une boule.



 

Que cette surface se retourne, a des propriétés, d’où il résulte… j’ai, dans mon temps, évoqué que le tore se retournait …d’où il résulte… c’est grâce à ça qu’il apparaît, que retourné, le tore…qui par exemple serait un des trois, celui-ci par exemple [vert] :



…que retourné le tore contient les deux autres ronds de ficelle qui doivent être eux-mêmes représentés par un tore, c’est-à-dire que ce que vous voyez ici, que j’ai dessiné de cette façon, doit, non pas se dessiner comme je viens de commencer à le dessiner, mais se dessiner comme ça, à savoir deux autres tores. Et deux autres tores, ça n’est pas deux autres ronds de ficelle. 

Est-ce à dire que ces trois tores sont des nœuds borroméens ? Absolument pas ! Car si c’est ainsi que vous coupez le tore qui est par exemple celui-ci, que j’ai désigné là : si c’est ainsi que vous le cou­pez, ça ne les libérera pas les deux autres tores.



Il faut que vous le cou­piez… si je puis dire pour m’exprimer de façon métaphorique …il faut que vous le coupiez dans « la longueur » pour qu’il se libère :



La condi­tion donc que le tore ne soit coupé que d’une seule façon, alors qu’il peut l’être de deux, est quelque chose qui mérite d’être retenu, d’être retenu dans ce que j’appellerai, dans l’occasion, non pas une métaphore, mais une structure. Car la différence qu’il y a entre la métaphore et la structure, c’est que la métaphore est justifiée par la structure.

En filant ce dont il s’agit dans le Dante en question, j’ai été amené à relire un vieux livre que mon libraire m’a apporté, puisqu’il vient de temps en temps mapporter des trucs, cest dun nommé Delécluze, ça a été publié en 1854, c’était un copain de Baudelaire, ça s’appelle Dante et la poésie amoureuse et ça n’est pas rassurant. C’est d’autant moins rassu­rant que, comme je l’ai dit tout à l’heure, Dante a commencé à cette occa­sion… à l’occasion de ladite poésie amoureuse …a commencé à bouffonner.

Il a créé… non pas ce que je n’ai pas créé, à savoir un métalangage …il a créé ce qu’on peut appeler une nouvelle langue, ce qu’on pourrait appe­ler une métalangue, parce qu’après tout, toute langue nouvelle cest une métalangue, mais comme toutes les langues nouvelles, elle se forment sur le modèle des anciennes, c’est-à-dire qu’elle est ratée. Qu’est-ce qu’il y a comme fatalité qui fait que, quel que soit le génie de quelqu’un, il recommence dans le même rail, dans ce rail qui fait que la langue est ratée, qu’en somme c’est une bouffonnerie de langue? 

La langue française ne l’est pas moins que les autres, c’est unique­ment parce que nous en avons le goût, la pratique, que nous la considé­rons comme supérieure. Elle n’a rien de supérieure à quoi que ce soit. Elle est exactement comme l’Algonquin ou le Coyote, elle ne vaut pas mieux. Si elle valait mieux, on pourrait en dire ce qu’énonce quelque part Dante, il énonce ça dans un écrit qu’il a fait en latin et il l’appelle Nomina sunt - on prononce sonte en français - consequentia rerum.

La conséquence voulant dire en l’occasion quoi ? Ça ne peut vouloir dire que conséquence réelle, mais il n’y a pas de consé­quence réelle, puisque le Réel, comme je l’ai symbolisé par le nœud bor­roméen, le Réel s’évanouit en une poussière de tores parce que, bien sûr, ces deux tores là, à l’intérieur de l’autre, ces deux tores là se dénouent. 

Ils se dénouent, et ceci veut dire que le Réel - tel tout au moins que nous croyons le repré­senter - le Réel n’est lié que par une structure… si nous posons que struc­ture, ça ne veut rien dire que nœud bor­roméen. Le Réel est en somme défini d’être incohérent pour autant qu’il est justement structure.Tout ceci ne fait que préciser la conception que quelqu’un - qui se trouve être en l’occasion moi - a du Réel : le Réel ne constitue pas un uni­vers, sauf a être noué à deux autres fonctions. 

Ça n’est pas rassurant, ça n’est pas rassurant parce qu’une de ces fonctions est le corps vivant. On ne sait pas ce que c’est qu’un corps vivant. C’est une affaire pour laquelle nous nous en remettons à Dieu. Je veux dire que… Je veux dire : si tant est que ce que je dis ait un sens …ce que je veux dire, c’est que j’ai lu une thèse, qui, chose bizarre, a été émise en 1943. 

Ne la cherchez pas, parce que vous ne mettrez jamais la main dessus, vous ne mettrez jamais la main dessus, parce que vous êtes ici beaucoup plus nombreux que le nombre de ce qui est sorti de ces exemplaires de thèse, c’est la thèse d’une nommée Madeleine Cavet qui est née en 1908 - la thèse le précise - c’est-à­-dire environ sept ans plus tard que moi, et ce qu’elle dit n’est pas sot. 

Elle s’aperçoit parfaitement que Freud, c’est quelque chose d’absolument confus, que comme on dit : une chatte ne retrouverait pas ses petits. 

Et elle prend une mesure, elle évoque à cette occasion l’œuvre de Pasteur. Pasteur, cest une drôle daffaire. Je veux dire que, jusqu’à lui - car enfin c’est de lui que ça vient - jusqu’à lui on croyait à ce qu’on peut appeler la génération spontanée, à savoir qu’on croyait que, à abandon­ner - c’était là le fondement apparent - …à abandonner un corps vivant, naturellement ça se met à grouiller dessus, je veux dire que ça grouille de ce qu’on appelle micro-organismes, moyennant quoi on s’imaginait que ces micro-organismes pouvaient pousser sur n’importe quoi. C’est bien certain que si on laisse un gobelet à l’air, il y a des trucs qui s’y déposent et qui même, à l’occasion, font ce qu’on appelle culture. 

Mais ce que Freud a démontré… ce que Pasteur ! a démontré… ce lapsus a toute sa valeur, étant donné le sens de la thèse de ladite Madeleine Cavet …ce que Pasteur a démontré, c’est que, à condition seulement de mettre un petit coton à l’entrée d’un vase, ça ne se met pas à foisonner à l’intérieur et c’est manifestement une des démonstrations les plus simples de la non-génération spontanée. Mais alors, ça suppose d’étranges choses. D’où viennent-ils ces micro­-organismes? On en est réduit de nos jours à penser qu’ils viennent de nulle part. Autant dire que c’est Dieu qui les a fabriqués. 

Il est très, très embêtant qu’on ait abandonné cette ouverture de la génération sponta­née qui était en somme un rempart contre l’existence de Dieu. Nous... notre cher Pasteur était d’ailleurs considéré par les médecins de l’époque comme un redoutable curé, et c’est en plus tout à fait vrai : il avait des convictions religieuses. 

On oublie tout à fait cette aventure, cette aven­ture du dit Pasteur, on l’oublie. On l’oublie et le fait d’en être réduit à penser qu’il y a de la vie, plus ou moins pullulante, sur des météo­rites ne résout pas la question. Le fait que nous ne trouvions pas la plus petite trace de vie sur la lune, ni sur Mars, n’arrange pas les choses. 

Car pourquoi, au nom de quoi, sinon au nom d’un être qu’il faut tout de même situer quelque part, d’un être qui aurait fait ça expressément à la manière de l’homme, comme si l’homme… qui - lui - manipule et trifouille des choses …comme si l’homme tout d’un coup avait vu qu’il avait un singe, un singe-Dieu - je veux dire que Dieu le singerait - comme si tout partait en somme de là, ce qui en somme boucle la boucle. Chacun sait que le dieu-singe, c’est à peu près l’idée que nous pouvons nous faire de l’idée de la façon dont naît l’homme et ça n’est pas non plus quelque chose qui soit complètement satisfaisant. 

Car pourquoi l’homme a-t-il ce que j’appelle le parl’être, à savoir cette façon de parler de façon telle que nomina non sunt consequentia rerum, autrement dit qu’il y a quelque part une chose qui va mal dans la structure, dans la structure telle que je la conçois, à savoir le nœud dit borroméen.

C’est bien le cas. Tout ça vaut la peine d’évoquer par ce nom : Borromée, une date historique, à savoir la façon dont a été élucubrée l’idée même en somme de la structure. Il est tout à fait frappant de voir que ça voulait dire à l’époque, que si une famille se retirait d’un groupe de trois, les deux autres se trouvaient du même coup libres, libres de ne plus s’entendre. Bien sûr, le sordide de cette histoire des Borromée vaut la peine d’être rappelé.

Non seulement les noms ne sont pas la conséquence des choses, mais nous pouvons affirmer expressément le contraire. J’ai un petit-fils qui s’appelle Luc… c’est une drôle d’idée, mais c’est ses parents qui l’ont baptisé …il s’appelle Luc et il dit des choses tout à fait convenables : il dit qu’en somme les mots qu’il ne comprenait pas, il s’ef­forçait de les dire, et il en déduit que c’est ça qui lui a fait enfler la tête, parce qu’il a comme moi… c’est pas surprenant, puisqu’il est mon petit-fils…il a comme moi une grosse tête. 

C’est ce qu’on appelle - je suis pas à proprement parler hydrocéphale - mais j’ai quand même une tête… et une tête, on la caractérise par la moyenne, j’ai plutôt une grosse tête. Mon petit-fils aussi et il a le tort évidemment de penser que, cette façon qu’il a de définir si bien l’inconscient - car c’est de ça qu’il s’agit - cette façon qu’il a de définir si bien l’inconscient - à savoir que les mots lui entraient dans la tête - il en a déduit que du même coup c’est pour ça qu’il a une grosse tête. 

C’est une théorie, en somme pas très intelligente, mais pertinente en ce sens qu’elle est motivée. Il y a quelque chose qui quand même lui donne le sentiment que parler c’est parasitai­re. Alors il pousse ça un petit peu plus loin jusqu’à penser que c’est pour ça qu’il a une grosse tête. C’est très difficile de ne pas glisser, à cette occasion, dans l’imaginaire du corps, à savoir de la grosse tête. L’affreux, c’est que c’est logique et la logique dans l’occasion, c’est pas une petite affaire, à savoir que c’est le parasite de l’homme. 

J’ai dit tout à l’heure que l’univers n’existait pas, mais est-ce que c’est vrai ? Est-ce que c’est vrai que l’Un qui est au prin­cipe de la notion de l’univers, que l’Un est capable de s’en aller en poudre, que l’Un de l’univers ne soit pas un ou ne soit qu’un entre autres. Qu’il en existe un, implique-t-il à soi tout seul l’universel ? Ceci comporte qu’on dise que, tout exclu que soit l’universel, la forclusion de cet universel implique le maintien de la particularité.  Il en existe um, ça n’est jamais avancé en logique, que de façon cohérente avec une suite : il en existe un qui satisfait à la fonction. La logique de la fonction est en somme ce qui repose sur la logique de l’Un. 

Mais ceci veut dire du même coup, et c’est ce que j’ai essayé de crayonner quelque part dans mon graphe… dans ce graphe que j’ai commis dans un ancien tempssur lequel, comme ça, quelques personnes spéculent …j’ai écrit ce quelque chose qui est le signifiant, le signifiant de ce que l’Autre n’existe pas, ce que j’ai écrit comme ça: S(Ⱥ). 

Mais l’Autre, l’Autre en question, il faut bien l’ap­peler par son nom : l’Autre, c’est le sens, c’est l’Autre que le réel. C’est très difficile de ne pas flotter en l’occasion. Il y a un choix à faire entre l’infini actuel… qui peut être circulaire, à condition qu’il n’y ait pas d’origine désignable …et les nœuds dénombrables, c’est-à-dire finis.

Il y a beaucoup de possibles là-dedans, ce qui veut dire qu’on inter­rompt l’écriture… c’est ma définition du possible …on ne la continue que si on veut. De fait on abandonne, parce qu’il est toujours possible d’abandonner, parce qu’il est même impossible de ne pas abandonner réel­lement. 

Ce que j’appelle l’impossible, c’est le Réel se limite à la non­ contradiction. Le Réel est l’impossible seulement à écrire, soit : ne cesse pas de ne pas s’écrire. Le Réel, c’est le possible en attendant qu’il s’écrive.

Et je dois dire que j’en ai eu la confirmation, parce que je sais pas… une mouche m’a piqué, je suis allé à Saclay, plus exactement j’ai deman­dé à une personne de m’y conduire. 

C’est un nommé Goldzahl…c’est amusant qu’il ait ce nom qui veut dire nombre d’or, eh oui ! …il m’a introduit dans une petite salle où il y avait trace… parce que c’est immense Saclay, c’est absolument énorme, on n’imagine pas le nombre de gens qui grat­tent du papier là-dedans, il y en a 7000, ils ne font d’ailleurs que de grat­ter du papier, sauf les quelques personnes qui sont là dans cette petite salle et grâce à quoi est vu ce qui témoigne du fonctionnement de la plupart des appareils …moyennant quoi, on voit le tracé ondulatoire de ce qui représente… bien sûr il a fallu qu’on monte les appareils de façon à ce que ça fonctionne,  que ça soit représenté …de ce qui représente le magnétisme des principaux aimants. 

On voit sur d’autres appareils se déplacer, parce que on peut qualifier de déplacement ce qui va de gauche à droite et qui se supporte d’un point, un point au bout d’une ligne, ça fait trace, et dans cette pièce on ne voit que ces traces, dont il est en somme concevable de symboliser la structure par quelque chose qui entoure en forme de cercle chacun de ces points, chacun de ces points qui représente une particule. Une particule donc s’articule à tous ces appareils dont il est bien certain que l’ensemble de ces appareils, c’est ce qu’on appelle Ψ, autrement dit ce que Freud n’a pas pu s’empêcher de marquer comme l’initiale de la psyché. 

S’il n’y avait pas de ces savants qui s’occupent des particules, il n’y aurait pas non plus de psarticules et ça nous force la main à penser que, non seulement il y a le parl’être, mais qu’il y a aussi le psarl’être, en d’autres termes que tout ça ’existerait pas s’il n’y avait pas le fonctionnement de cette chose pourtant grotesque qui s’appelle la pensée. Tout ce que je vous dis là, je ne pense pas que ça ait plus de valeur que ce que raconte mon petit-fils. 

C’est assez fâcheux que le Réel ne se conçoive que d’être impropre. C’est pas tout à fait comme le langage. Le langage n’est impropre qu’à dire quoi que ce soit. Le Réel n’est impropre qu’à être réalisé. D’après l’usage du mot to realize, ça ne veut rien dire d’autre que imaginer comme sens. 

Il y a une chose qui est en tout cas cer­taine - si tant est qu’une chose puisse l’être - c’est que l’idée même de Réel comporte l’exclusion de tout sens.  Ce n’est que pour autant que le Réel est vidé de sens, que nous pouvons un peu l’appréhender. Ce qui évi­demment me porte à ne même pas lui donner le sens de l’Un, mais il faut quand même bien se raccrocher quelque part, et cette logique de l’Un est bien ce qui reste, ce qui reste comme existence. Voilà.

Je suis bien fâché de vous avoir entretenu aujourd’hui de cette espè­ce d’extrême. Il faudrait quand même que ça prenne une autre tournure, je veux dire que de déboucher sur l’idée qu’il n’y a pas de Réel que ce qui exclut toute espèce de sens, est exactement le contraire de notre pratique. Car notre pratique nage dans cette espèce de précise indication que, non seulement les noms, mais simplement les mots, ont une portée. Je ne vois pas comment expliquer ça. 

Si les nomina ne tiennent pas d’une façon quelconque aux choses, comment est-ce que la psychanaly­se est possible? La psychanalyse serait d’une certaine façon ce qu’on pourrait appeler du « chiqué », je veux dire du semblant. C’est tout de même comme ça que j’ai situé dans l’énoncé de mes différents dis­cours la seule façon pensable d’articuler ce qu’on appelle le discours psy­chanalytique.

Je vous rappelle que la place du semblant où j’ai mis l’objet(a), que la place du semblant n’est pas celle que j’ai articulée de la Vérité. Comment est-ce qu’un sujet - puisque c’est comme ça que je désigne le S avec la barre: $, comment est-ce qu’un sujet, un sujet avec toute sa faiblesse, sa débilité, peut tenir la place de la Vérité et même faire que ça ait des résultats? 

Il s’y place de cette façon, à savoir un Savoir…



Hein ? C’est pas comme ça que je l’ai écrit à l’époque ?

Jacques-Alain Miller -  $ à la place de S1, S1 à la place de S2,  S2 à la place de $.




Vous voyez qu’il y a de quoi s’embrouiller ! Oui. C’est incontestablement mieux comme ça. C’est incontestable­ment mieux comme ça, mais c’est encore plus troublant comme ça, je veux dire que la faille entre S1 et S2 est plus frappante, parce qu’ici il y a quelque chose d’interrompu et qu’en somme le S1, ça n’est que le com­mencement du savoir.  Mais un savoir qui se contente de toujours com­mencer, comme on dit, ça n’arrive à rien. 

C’est bien pourquoi, quand je suis allé à Bruxelles, je n’ai pas parlé de la psychanalyse dans les meilleurs termes. Il y en a que je reconnais, qui sont là. Car commencer à savoir, pour n’y pas arriver, c’est quelque chose qui va, somme toute, assez bien avec ce que j’appelle mon manque d’es­poir, mais enfin ça implique un nom, un terme qu’il me reste à vous lais­ser à deviner. 

Les personnes belges qui m’ont entendu en parler à Bruxelles étant libres de vous en faire part ou pas.

 

A aula 8 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/08_insu08-03-77.mp3


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