Segunda Aula
01 de abril de 2008
Jacques Lacan:
01 de abril de 2008
Jacques Lacan:
Os pais:
Émilie Philippine Marie Baudry e
Charles Marie Alfred Lacan.
(Descendentes de prósperos comerciantes e católicos fervorosos.)
Os irmãos
O casal, Émile e Charles, teve quatro filhos:
1º. Jacques-Marie Émile Lacan (13 de abril de 1901 - 9 de setembro de 1981)
2º. Raymond (faleceu aos dois anos)
3º. Madeleine (casada, em 1925, foi viver na Indochina)
4º. Marc-Marie (Marc-François) – monge beneditino (ordenado em maio de 1935)
A medicina:
Entre 1927 e 1931, estudou a clínica das doenças mentais e do encéfalo no hospital Sainte-Anne, e estagiou na enfermaria especial da Chefatura de Política, para onde eram levados com urgência os indivíduos “perigosos”.
“Ele participava, na cantina da sala de plantão, junto com alguns colegas, da aristocracia dos candidatos à chefia da clínica. Fazia suas refeições à ‘mesinha’ animada por Henri Ey, onde se empregava o vocabulário elegante da fenomenologia e se via com desprezo o velho organicismo de Édouard Toulouse.”
Os mestres da psiquiatria:
Durante sua formação psiquiátrica, três mestres muito diferentes deixaram em Lacan uma marca importante:
Georges Dumas: Titular da cadeira de psicopatologia da Sorbonne, foi um terrível adversário da psicanálise.
Henri Claude: Grande rival de G. Dumas, de quem rejeitava o antifreudismo, Henri Claude foi Chefe da clínica de doenças mentais no Hospital Saint-Anne.
Gaëtan Gatian de Clérambault: Médico-chefe da enfermaria especial dos alienados da Chefatura de Polícia até 1934, ano em que se suicidou. Clérambault é lembrado pela paixão pelos tecidos, pelos debruns e as pregas e por sua teoria da erotomania.
A tese: O caso Aimée
Aimée = Marguerite Pantaine
Desde 1931, Lacan começa a efetuar uma síntese, a partir da paranóia, de três domínios do saber: a clínica psiquiátrica, a doutrina freudiana e o segundo surrealismo. Essa síntese, que se apoiava sobre um notável conhecimento de filosofia – Spinoza, Jaspers, Nietzsche, Husserl e Bergson -, lhe permitirá elaborar a tese de medicina, que será sua grande obra da juventude.
Seu trabalho representava uma ruptura com os trabalhos dos psiquiatras franceses da época, que viam na psicose paranóica um agravamento dos traços que definiam o caráter paranóico.
Da descrição fenomenológica exaustiva de um caso, sua tese, dirá Lacan, levou-o à psicanálise; o único meio de determinar as condições subjetivas da prevalência do duplo na constituição do eu.
Numa grande síntese de todas as aspirações freudianas e anti-organicistas da nova geração psiquiátrica francesa dos anos 1920, esse trabalho foi imediatamente considerado uma obra-prima por René Crevel, Salvador Dali e Paul Nizan. Que apreciaram, principalmente, a utilização feita por Lacan dos textos romanescos da paciente e da força doutrinária de sua posição quanto à loucura feminina.
- Em 1933, Lacan defende sua tese: “Da Psicose Paranóica em suas relações com a Personalidade”.
O primeiro casamento:
Em 1934, casou-se com Marie-Louise Blondin (1906-1983), irmã de seu amigo Sylvain Blondin, apelidada Malou. Desde o início, o casamento foi desastroso. Malou acredita ter-se casado com um homem perfeito, cuja fidelidade conjugal estaria à altura de seus sonhos de felicidade. Ora, Lacan não era esse homem, nem nunca seria. Três filhos nasceram: Caroline, Thibaut, Sibylle.
O amor por Sylvia:
Em 1937, apaixonou-se por Sylvia Maklès-Bataille (1908-1993). Separada nessa época de Georges Bataille, mas continuando a ser sua esposa. Sylvia era mãe de uma menina, Laurence Bataille (1930-1986), que se tornaria uma notável psicanalista.
Quando a segunda guerra começou, Sylvia Bataille se refugiou na chamada “zona livre”. A cada quinze dias, Lacan a visitava. Em Paris, ele interrompeu toda sua atividade pública, recebendo apenas sua clientela particular. Sem pertencer à Resistência, manifestou claramente hostilidade a todas as formas de anti-semitismo. Entretanto, era principalmente com sua vida privada que ele se preocupava durante os dois primeiros anos de guerra. Em setembro de 1940, Lacan encontrou-se em uma situação insustentável. Anunciou à sua mulher legítima, que estava grávida de oito meses, que Sylvia, sua companheira, também esperava um filho. Malou pediu o divórcio imediatamente e foi em plena crise de depressão que deu à luz, a 26 de novembro, uma menina à qual deu o nome de Sibylle.
Oito meses depois, em 3 de julho de 1941, Sylvia deu à luz a quarta filha de Lacan, Judith. Judith foi registrada com o sobrenome de Bataille.
No início do ano de 1941, Lacan instalou-se na rue de Lille nº5. Ficaria ali até a morte. Em 1943 Sylvia se instalou no nº3 da mesma rua com suas duas filhas, Laurence e Judith. Em julho de 1953, divorciada de Georges Bataille desde agosto de 1946, casou-se com Lacan.
A Instituição Psicanalítica: o percurso de Lacan.
- Em 1910, Freud patrocinou a criação de uma Associação Internacional de Psicanálise - International Psychoanalytical Association (IPA) -, para congregar as sociedades psicanalíticas existentes, normatizar a formação dos psicanalistas e evitar distorções e descaminhos na psicanálise, com a expansão de sua prática.
Atualmente sediada em Londres, a IPA é o organismo que coordena todo o movimento psicanalítico mundial.
- Em 1926 foi criada a Sociedade Psicanalítica de Paris – SPP (uma sociedade filiada a IPA).
- Em 1934, aos 33 anos, Lacan pede sua filiação a Sociedade Psicanalista de Paris:
- De 1932 a 1938. Lacan faz analise com Rudolf Loewenstein.
Na SPP, Lacan atraiu muitos alunos, fascinados pelo seu ensino e desejosos de romper com o freudismo acadêmico da primeira geração francesa. Começou então a ser reconhecido ao mesmo tempo como didata e como clínico.
A partir de 1936, Lacan iniciou-se na filosofia hegeliana, através dos seminários que Alexandre Kojève (1902-1968) dedicou à “Fenomenologia do espírito”. E na filosofia de Husserl, através dos seminários de Alexandre Koyré (1892-1964).
- 1953 – primeira cisão.
O motivo do rompimento foi à decisão tomada pela Sociedade Parisiense de fundar um Instituto de Psicanálise, encarregado de ministrar um ensino regulado e diplomável, tendo como modelo o da faculdade de Medicina. Para Lacan, com a criação do Instituto, o ensino da psicanálise ficava confinada a um isolamento doutrinal.
Neste mesmo ano, Lacan pede sua demissão da SPP e perde sua qualificação de membro da Associação Internacional.
Ainda neste ano, funda com Daniel Lagache a Sociedade Francesa de Psicanálise – SFP, para onde se transferiu a maior parte dos alunos da antiga Escola.
A SFP solicita o seu reconhecimento a IPA. No ano seguinte – 1954 – o pedido é rejeitado.
Em 1959 há uma nova solicitação de filiação. A IPA impõe, para o reconhecimento da SFP, que Lacan e Françoise Dolto não fossem reconhecidos como analistas didatas.
- A segunda cisão (“excomunhão”, como diria Lacan) do movimento psicanalítico ocorreu durante o inverno de 1963. A SFP se divide em dois grupos e foi dissolvida. Um grupo ratifica o ultimato da IPA e cria a Associação Psicanalítica Francesa – AFP. Lacan não figura mais na lista dos membros efetivos habilitados à análise didática e à supervisão.
Em 1964, Lacan fundou a Escola Freudiana de Paris EFP, enquanto a maioria de seus melhores alunos se posicionou ao lado de Lagache, na Associação Psicanalítica da França (AFP), reconhecida pela IPA. Na reunião de abertura da Escola, Lacan lê sua proposição - Ato de Fundação - que inicia com a famosa frase: “Fundo - tão sozinho quanto sempre estive em minha relação à causa psicanalítica – a Escola Francesa de Psicanálise.”
Obrigado a deslocar seu seminário, Lacan foi acolhido, graças à intervenção de Louis Althusser, em uma sala da École Normale Supérieure (ENS), onde pôde prosseguir seu ensino.
Na ENS, Lacan conquistou um novo auditório, uma parte da juventude filosófica francesa, à qual Althusse confiou o cuidado de trabalhar seus textos. Entre eles, encontrava-se Jacques Alain Miller, que se casou com Judith Lacan em 1966. Tornou-se redator dos seminários do sogro, seu executor testamentário e o iniciador, a partir de 1975, de uma corrente neolacaniana no próprio interior da EFP.Em 1965, com o estímulo da François Wahl, Lacan fundou a coleção “Champ Freudien” nas Éditions du Seuil e, no ano seguinte, em 15 de dezembro de 1966, publicou os Escritos.
Confrontado com as dificuldades de uma instituição gigantesca, Lacan tentou resolver os problemas de formação com a introdução do passe, novo procedimento de acesso à análise didática. Aplicado a partir de 1969, provocou a partida de um grupo de analistas oponentes, que formaram uma nova escola: a Organização Psicanalítica de Língua Francesa (OPLF) ou Quarto Grupo. Essa cisão, a terceira da história do movimento francês, marcou a entrada da EFP em uma crise institucional que resultou em sua dissolução a 5 de janeiro de 1980, e depois na dispersão do movimento lacaniano em cerca de vinte associações.
Neste mesmo ano – 1980 -, funda a Escola da causa Freudiana.
O ensino
Pré-ensino: 1936 a 1952
Em seus textos, desse período, Lacan se ocupa em redefinir o narcisismo freudiano a partir da sua formulação do estádio do espelho, de definir o sujeito como sujeito articulado com o sentido, e de algumas de suas formulações que introduzem a lingüística como ciência-piloto de seu trabalho.
Neste primeiro momento, seus escritos estão ligados à teoria freudiana, mas carecem da radicalidade do retorno a Freud; terão antecipado “a inserção do inconsciente como linguagem, mas carecem da lingüística de Saussure, que permite ao Lacan de 1953 dar estrutura de linguagem ao inconsciente; e conseguem um grande desenvolvimento do registro imaginário, mas fracassam em definir os registros simbólico e real.
1951: Intervenção sobre a Transferência. “A psicanálise é uma experiência dialética”. Com este texto, inicia a primeira dobra do Ensino de Lacan.
Primeiro movimento do Ensino de Lacan 1953 – 1970
Em seu escrito Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise (1953) e no seminário 1 Os escritos técnicos de Freud (1953-54), Lacan deixa de balbuciar noções estruturalistas e assume o conceito de estrutura que encontra nos primeiros textos de seu amigo Claude Lévi-Strauss. Juntamente com o conceito de estrutura, Lacan assume também as conseqüências teóricas implicadas neste conceito – ou seja, a lingüística de Ferdinand de Saussure como ciência-piloto e a oposição binária da fonologia de Roman Jakobson como modelo estrutural.
Segundo movimento: 1970 - 1980
O segundo período, que se anuncia no Seminário livro XVIII – D’um discours quin e serait pas du semblant, adquire sua força argumentativa a partir do Seminário livro XX – Mais, ainda. Neste segundo período Lacan se afasta do estruturalismo, porque rompe com o seu passado saussuriano. A lingüística deixa de ser o saber referencial, a estrutura deixa de ser uma ordem transcendente que captura o vivente impondo-lhe a sua legalidade. O que estará em jogo, neste segundo tempo do seu ensino, não é mais o binarismo diferencial que toda teoria estrutural implica, mas antes, a radicalização do unário como único. No começo não há dois, não há a estrutura como sistema diferencial, não há deriva. No começo há um, é o que afirma Lacan no Seminário XX. Por isso, o problema que apresenta este segundo período é como do um, do único, do diferencial, surge à estrutura como semblante, como aquilo que faz crer que há dois quando, na realidade, há um.
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