Devastação e
gozo na ópera Erwartung
opus
17,de Schoenberg
I Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle (SPID)
- Brasil
II Universidade do
Estado Rio de Janeiro (UERJ) - Brasil
No início, era
a arte...
Desde Freud, o trabalho dos artistas vem auxiliando os
psicanalistas em sua lida com as questões do inconsciente. Seja nas obras de
Sófocles, Jensen, Goethe e Dostoiévski,
para Freud, seja nas produções deShakespeare, Edgar Allan Poe, Marguerite
Duras, James Joyce e Bernini, para Lacan, a arte sempre esteve presente nas
reflexões sobre os enigmas que o trabalho com o inconsciente impõe aos
analistas.
Conforme observava o pai da psicanálise, "provavelmente,
bebemos na mesma fonte e trabalhamos com o mesmo objeto [que os artistas],
embora cada um com seu próprio método. A concordância entre nossos resultados
parece garantir que ambos trabalhamos corretamente" (Freud, 1907 [1906]/
1976: 93). Ainda mais do que isso, Freud acreditava que a arte se antecipava à
psicanálise.
As "loucuras de amor" que as mulheres são capazes de
cometer sempre apareceram na história, na mitologia, na literatura, na música,
bem como na psicanálise, como uma questão que leva escritores, poetas, músicos,
historiadores e psicanalistas a produzir trabalhos. Embora muito já se tenha
investigado e escrito sobre o tema, ele permanece comparecendo na clínica e
fazendo questão em casos de maior ou menor gravidade, mas sempre ligado a uma
satisfação paradoxal que ultrapassa os limites do prazer, convocando o analista
à reflexão a fim de fazer avançar as análises destes sujeitos.
Neste artigo, convidamos o leitor a pensar a ligação do
amor-paixão feminino com o gozo sem medida, por vezes mortífero, que devasta a
mulher. O termo "devastação" (ravage) é utilizado por Lacan em
dois momentos do seu ensino. Primeiro, no escrito intitulado O aturdito (1972/2003), em meio às formulações
sobre o feminino, sua lógica não-toda referida ao falo e o gozo
correspondente, localizando a devastação como uma "realidade" (Lacan,
1972/2003: 465) que se estabelece a partir da relação com a mãe. Quatro anos
depois, a devastação reaparece, no Seminário O
sinthoma (Lacan,
1975-1976/2007), situada no lugar do parceiro sexual da mulher, diante da
impossibilidade do rapport sexual.
Mas onde se encontra a origem do amor feminino e por que pode ser
enlouquecedor, de forma particular, para as mulheres? É nos desenvolvimentos
teóricos de Freud sobre a constituição da sexualidade feminina (Freud,
1925/1976; 1931/1974) e da feminilidade (Freud, 1933 [1932]b/1976) que
encontramos as mais importantes referências do autor à primeira relação amorosa
da menina - que dimensionou até o nível da catástrofe -, afirmando que esta lhe
servirá de modelo ou protótipo para as experiências futuras com os parceiros.
Com os seminários lacanianos, pudemos avançar na compreensão das mulheres a
ponto de considerar que é também no interior da ligação amorosa da menina com a
mãe que se localiza o germe do gozo sem limite, mais além do princípio de
prazer, que encontramos na clínica.
Pela delicadeza que a clínica nos traz, buscamos introduzi-la
principalmente através da arte, mais especificamente, da ópera Erwartung [Espera] opus 171, composta por Arnold Schoenberg, em 1909,
com libreto de autoria da Marie Pappenheim2. Sobre o uso do texto da ópera, é importante
ressaltar que não propomos uma apreciação ou análise crítica da obra, do
compositor ou da libretista, mas, antes, uma leitura clínica da articulação do
feminino com o gozo nas experiências de amor de mulheres. Também não se trata
de encetar uma discussão sobre psicanálise e arte, mas de lançar mão de um
trabalho de arte apenas na medida em que possa contribuir para enriquecer e
servir como inspiração para a reflexão sobre a clínica. Em suma, utilizamos a
obra de Schoenberg na medida em que dela podemos extrair algum ensinamento a
respeito das mulheres devastadas em sua relação com o gozo.
Da ópera...
Erwartung, Opus 17 conta sobre uma mulher que vaga sozinha
por uma densa floresta, na assustadora escuridão da noite, à espera do homem
amado. O texto fragmentado, repleto de frases incompletas entrecortadas por
exclamações, dá a ideia do estado de desamparo, desespero e confusão mental em
que ela se encontra. Depois de muito sofrimento, angústia e temor, na última
cena ela encontra seu amado morto, ensanguentado. A cena reúne uma mistura de
afetos que giram em torno de paixão, ira, ciúmes, tristeza e luto, numa
intensidade emocional tal que toca profundamente o espectador. Trata-se da
encenação do encontro com o traumático, com o real, envolvendo amor, gozo, sexo
e morte, como veremos adiante.
A ópera é um "monodrama"3 (Friedlander, 1999: 3) encenado em um
único ato que contém quatro cenas. Há apenas uma personagem, uma mulher sem
nome, denominada die Frau ou a mulher. As quatro
cenas podem ser resumidas conforme a seguir.
Primeira cena: a Mulher se encontra à margem de um denso bosque, à noite, numa
tensão entre o medo e o impulso de entrar na floresta escura a fim de encontrar
seu parceiro. Segunda e terceira cenas: entra no bosque sem
enxergar o que a rodeia. Estranhas sensações corporais e visões de figuras
assustadoras, criadas pelas sombras, se mesclam com pensamentos sobre seus
encontros amorosos. De repente, tropeça em algo que parece ser um corpo, mas
trata-se apenas do tronco de uma árvore. Em meio a um cenário de horror, num
apelo desesperado, clama por socorro ao homem amado. Quarta cena:
desarrumada, machucada, fraca e exaurida, a Frau sai do bosque
e segue por um caminho iluminado apenas pela lua. Ao longe, avista uma casa.
Nas janelas, as cortinas estão fechadas, impedindo-a de saber o que se passa lá
dentro. Tudo é silencioso, sem movimento, de uma quietude que evoca a morte.
Olha em volta, ele também não está lá. Cansada, esbarra em algo e, ao tatear,
sente suas mãos molhadas, é sangue, há alguém ali, um homem morto. Em completo
desespero, reconhece o amante ensanguentado a seus pés. O que se vê é uma
mulher "fora de si", tomada pela dor, num domínio onde a força da
pulsão a invade em toda sua intensidade.
Neste artigo, faremos referência a duas passagens da ópera4 que consideramos fundamentais para
pensar a questão do gozo ligado ao amor/paixão femininos. Ambas fazem parte da
última cena e, em cada uma, apesar do curto espaço de tempo que as separa,
observam-se afetos completamente díspares e até antagônicos.
No primeiro fragmento, ao encontrar o homem amado morto, a Mulher
enche de beijos seu corpo inerte, para logo em seguida ser tomada de ira pela
suposição de infidelidade. Chama a suposta outra mulher de
"bruxa" e "prostituta". Volta seu ódio para o amante, chuta
seu corpo e chama-o de "traidor", "mentiroso". Na cena,
testemunhamos uma intensa participação do corpo que parece preencher os
silêncios das frases, aludindo à presença de algo que não pode ser dito, que
está além do sentido. O corpo ali goza, fazemos aqui uma referência à ideia de
um corpo que "se goza", o "isso se goza", que Lacan
apresenta no Seminário mais, ainda(Lacan,
1972-1973/2008: 29).
Nesta encenação, um dos principais afetos em jogo é o ciúme. Freud
(1925/1976: 315) já destacara tal afeto como um traço feminino, uma das
possíveis consequências psíquicas da inveja do pênis. Através de um
deslocamento, a inveja persistiria na mulher adulta no traço do ciúme. Aqui,
também a convergência do amor e do ódio chama atenção. Enquanto Freud nos
alerta para o ódio em que se converte o amor da menina pela mãe, Lacan introduz
um neologismo - hainamoration - para falar da "enamoração
feita de ódio e de amor" (Lacan, 1972-1973/2008: 97), que parece ser o
caso no louco amor feminino.
O segundo fragmento de interesse acontece já nos últimos instantes
da ópera. Após a cena inflamada que acabamos de mencionar, num momento de
tristeza, a Mulher canta:
Meu amado, o dia está amanhecendo... O que vou fazer aqui,
completamente só?... Nessa vida sem fim... nesse sonho sem limites e sem
cores... uma vez que o limite da minha existência era onde quer que você
estivesse... e todas as cores do mundo brilhavam apenas dos seus olhos... A luz
amanhecerá para todos os outros... menos para mim, completamente só na minha
escuridão..."5(Friedlander, 1999; tradução nossa).
... à clínica
A dificuldade de sustentar as análises de certas mulheres, nas
quais o que se apresenta como queixa, ou seja,isso que não
funciona (Soler, 2005: 224) no amor - fragmento de real que as leva a
procurar um analista - mostra-se também o principal modo de gozo, foi o que
levou à realização desta pesquisa. Quando mencionamos esse tipo de gozo, é em
articulação ao real lacaniano, o real que é "sem lei [...] [que] não tem
ordem" (Lacan, 1975-1976/2007: 133), que não obedece às leis da linguagem
e do qual o máximo que se pode almejar é chegar a "um pedaço" (Lacan,
1975-1976/2007: 133). Um encontro com o real que deixa o sujeito perdido, à
deriva, em êxtase, extasiado, arrebatado. Arrebatamento no qual a mulher se
arrebenta; arrebentamento, poderíamos dizer. Real que causa
estragos; estrago, devastação, ravage, diria Lacan (1972/2001:
465).
Esse estrago, devastação ou arrebatamento, conforme mostram
algumas Frauen (mulheres) na clínica, faz "sair do
corpo", "enlouquecer", "descontrolar-se",
"surtar" ou "ficar fora de si", expressões que denotam um
mais-além que essas experiências de gozo devastador atingem. Parecem apontar
que há algo que resta mais além do significante e que se apresenta no corpo
como gozo sem uma localização delimitada. Em outras palavras, estas experiências
arrebatadoras atingem o corpo em suas sensações indizíveis, podendo ser
consideradas experiências de ultrapassagem de limites, de extrapolação das
possibilidades da fala, encontro com a pulsão de morte, muda, desatrelada da
linguagem.
Estas mulheres, no amor, parecem loucas, se estragam,
são danificadas até mesmo porque nestes casos não há limites às concessões
"que cada uma faz a um homem: de seu corpo, de sua alma,
de seus bens" (Lacan, 1972/2003: 540). É o que observamos, por exemplo, no
relato de mulheres que se colocam em situações nas quais arriscam tudo -
reputação, emprego, guarda dos filhos - a fim de receber "um pouco de amor
do parceiro" (sic). Uma mulher definia sua ligação com o homem amado como
uma "obsessão", expressão não raro encontrada nos relatos femininos.
Os encontros de amor não lhe proporcionavam prazer, tudo o que fazia era
"para ele ter prazer", só queria que ele a amasse. Apesar
de todas as concessões feitas por anos a fio, este homem a "troca"
por outra, ocasião em que ela fica "fora de si" e protagoniza um ato
de agressão até então impensável. Incapaz de entender ou mesmo de colocar em
palavras o que sentiu naquele momento arrebatador, no qual não se reconhece,
diz apenas: "Eu não vi mais nada, não era eu, estava fora de
mim". Na sequência, pensa em tirar a própria vida.
As situações clínicas às quais nos referimos nos levam a indagar
se na devastação - mencionada em dois momentos nos quais Lacan aborda o gozo
Outro - poderíamos localizar o ponto de confluência do amor e do gozo na lógica
feminina. não encontramos em Lacan uma ligação clara entre devastação e gozo
feminino, mas nos escritos de analistas que continuam a avançar no ensino por
ele transmitido. Colette Soler afirma que o núcleo da devastação "é o gozo
outro que devasta o sujeito no sentido forte de aniquilá-lo pelo espaço de um
instante" (Soler, 2005: 185). Já, para Marie-Hélene Brousse (2002: 144), o
homem que devasta a mulher é aquele que "reaviva o sem limite do gozo
feminino não saturado pela função fálica".
A devastação, portanto, estaria vinculada não a qualquer gozo, mas
justamente ao gozo feminino, um gozo "radicalmente Outro" (Lacan,
1972-1973/2008: 89). Soler (2005) usa a palavra "eclipse" para falar
desta experiência de gozo, expressão que é de interesse tanto no que diz
respeito aos casos da clínica, quanto à mulher de Erwartung. Sobre
os efeitos subjetivos desse outro gozo, a psicanalista francesa considera que
"vão da mais leve desorientação até a angústia profunda, passando por
todos os graus de extravio e evitação" (Soler, 2005: 185).
O destino do primeiro amor feminino: catástrofe e ódio
É possível encontrar a origem do amor nas mulheres, como
devastação, ou estrago, na ligação intensa, apaixonada, exclusiva e duradoura
com a mãe, nos primórdios da vida erótica da menina, em razão dos primeiros e incomensuráveis impulsos
libidinais que estão em jogo que, segundo Freud (1931/1974: 260), comportam
"todas as fixações e recalques" que darão origem às neuroses.
Destacamos aqui a dimensão incomensurável, ilimitada, da força pulsional e sua
propriedade de fixar-se aos objetos e a determinadas formas de satisfação. O
fim da relação primeira da menina com a mãe e o desvio do seu investimento
libidinal na direção do pai, Freud verifica, é um movimento psíquico que
representa mais do que uma simples troca de objeto. Esse movimento de
afastamento da mãe, correlativo à constatação da castração feminina, pressupõe
toda uma reorganização das pulsões - um misto de sentimentos de decepção,
vergonha, desprezo, paixão, gozo, amor e ódio, enfim, "turbilhões
pulsionais" (Assoun, 1993: IX) - que resulta num desfecho bastante
problemático para a menina, tomando a dimensão de uma verdadeira
"catástrofe" (Freud, 1931/1974: 275), uma derrubada do
que se havia organizado em termos pulsionais até então. Daí que, ao fim da
ligação apaixonada da menina pela mãe, o amor dá lugar ao ódio (Freud, 1933
[1932]b/1976), que pode nunca chegar a ser completamente superado, deixando
rastros. Seguindo na mesma direção, ou seja, conferindo à relação com a mãe um
peso a mais na constituição psíquica da mulher, Lacan irá nomear esta ligação
utilizando a palavraravage (Lacan, 1972/2001: 465), que significa
"estrago, devastação" (Rónai, 2012: 222).
Outra referência importante quanto às peculiaridades do amor
feminino encontra-se na conferência intitulada "Ansiedade e vida
instintual", onde Freud alega que, se a menina está livre da ameaça da
castração, outro perigo a assombra, a saber, o "temor à perda do
amor" (Freud, 1933 [1932]a/1976: 110). Esta constatação atesta como, desde
os primórdios, a questão do amor para a mulher toma uma dimensão crucial,
incomensurável mesmo, na sua vida psíquica. A preciosidade em jogo é tudo, isto
é, toda a vida: "para uma mulher, a perda do amor ultrapassa a dimensão
fálica a que Freud a reduzia, pois o que ela perde, ao perder o amor, é ela
mesma" (Soler, 2005: 83).
Com Freud, situamos esta dimensão da perda como consequência das
características da castração feminina que torna o desfecho do seu complexo de
Édipo lento e gradativo, laço frouxo que pode não completar-se de todo (Freud,
1925/1976), podendo continuar a produzir efeitos ainda na vida adulta. Como as
mulheres não temem perder um órgão, não apresentam a angústia de castração no
modelo masculino.
Na verdade não sucede nas mulheres, pois embora elas tenham um
complexo de castração, não podem ter medo de serem castradas. Em seu sexo, o
que sucede é o temor à perda de amor, o que é, evidentemente, um prolongamento
posterior da ansiedade da criança quando constata a ausência da mãe (Freud,
1933 [1932]a/1976: 110).
Em artigo bem anterior (Manso de Barros, 1998), consideramos que
através desta explicação Freud justificava o motivo que leva as mulheres a
permanecerem infantis por tempo bastante prolongado na vida adulta, pois,
temendo a perda de amor e sendo incapazes de superar este temor, nunca
se tornam suficientemente independentes do amor de outras pessoas e, nesse
caso, comportam-se como crianças (Freud, 1933 [1932]a/1976: 111), com toda
a passionalidade inerente a elas. Pontuamos que não é sem muito sofrimento que
a menina passa a desvalorizar a mãe castrada e dirige seu amor à mãe fálica. No
pensamento freudiano, o que acontece à menina é bem diferente do que ocorre ao
menino já que, na verdade, o complexo de castração prepara a menina para entrar
no complexo edípico enquanto no menino virá a dissolvê-lo. Portanto, "a
angústia de castração comparece em intensidades diversas na mulher e no homem.
Imaginariamente o homem perde apenas um pedaço, a mulher se perde toda"
(Manso de Barros, 1998: 173-174)
Para Freud (1933 [1932]b/1976: 159), "a menina é forçada a
abandonar a ligação com sua mãe através da influência de sua inveja do pênis, e
entra na situação edipiana como se esta fora um refúgio".
Tal situação faz com que seja mais difícil, senão impossível, para
as mulheres, a superação do complexo edípico, influenciando decisivamente na
formação do supereu. Então, podemos pensar que as mulheres ficariam sob o
domínio do impulso pulsional que não foi destruído ou dissolvido pelo id, o
contrário do caso do menino (Manso de Barros, 1998: 171).
Em consequência da especificidade deste desenlace na constituição
da menina, a formação do supereu nestes sujeitos sofre "um prejuízo"
(Freud, 1933 [1932]b/1976: 159) de modo que ele "nunca é tão
inexorável" (Freud, 1925/1976: 320) como o masculino, constituindo-se numa
maior vinculação com suas "origens emocionais" (Freud, 1925/1976:
320), que podem ser entendidas como herdeiras da ligação primitiva com a mãe.
Sendo assim, os julgamentos femininos seriam mais influênciados por seus
sentimentos ambivalentes. Estas observações são de grande valor para a reflexão
sobre o gozo ligado ao amor-paixão feminino, com a vasta gama de afetos que o
acompanha.
Nas verdadeiras mulheres há sempre algo meio extraviado
Embora em sua abordagem lógica do complexo de Édipo, levada a
efeito no Seminário As formações do inconsciente (1957-1958),
Lacan não faça uma distinção clara, como Freud, entre as operações na menina e
no menino, encontramos duas observações curiosas, uma das quais é de interesse
para a nossa reflexão. Ao mencionar as peculiaridades relativas ao Édipo
feminino, Lacan enuncia: "nas verdadeiras mulheres, há sempre algo meio
extraviado" (Lacan, 1957-58/1999: 202; grifo nosso). No seminário
sobre O desejo e sua interpretação, Lacan estende as considerações
freudianas sobre o complexo de castração a uma profunda foraclusão nas
mulheres, que aponta para um "estranhamento", uma recusa de seu ser,
uma perda de si mesma:
Para a menininha, como se sabe, o complexo de castração surge
primeiro como uma exprobração, um rancor dirigido à mãe, ao que vem aqui
agregar-se todas as frustrações anteriores. Aqui o pai chega em posição de
substituição; o pênis real do pai é o substituto simbólico daquilo de que a
menininha se viu frustrada. Ela passa então ao nível da privação,
com a crise que isto provoca: renunciar ao objeto - o pai - ou renunciar aos
instintos identificando-se com ele. Eis o dilema da mulher: para encontrar a
satisfação instintiva da maternidade, deve passar pelas vias da linha
substituída - pênis, filho - mas na linha de seu desejo se vê até certo ponto
na necessidade de ser esse falo por ser esse o signo mesmo do desejado. Esta é
a origem profunda da Verwerfung da mulher, de seu rechaço como ser, do
"estranhamento" de seu ser naquilo que deve parecer. Pois enquanto se
exibe e se oferece como objeto de desejo, se encontra identificada de uma
maneira latente com o falo, esse significante do desejo do Outro6 (Lacan, 1982: 113).
Nos anos 70, com a elaboração da lógica do não-todo,
Lacan conseguirá avançar nesta ideia indicando que, se há algo extraviado, não
se trata de que as mulheres tenham perdido algo, nem de que alguma coisa
relativa à operação do Édipo nelas tenha ficado incompleta. A nova lógica
referida ao feminino permite não subtrair a relevância e a centralidade da
castração e da função do falo na constituição destes sujeitos e, ao mesmo
tempo, acolher a peculiaridade deste resto extraviado situado mais além do
Édipo. As fórmulas quânticas da sexuação (Lacan, 1972-1973/2008) sugerem que o
sujeito que se posiciona no lado Mulher, não-todo submetido à
Lei do Pai, é passível de perder-se. E é num gozo Outro, feminino,
suplementar que as mulheres se perdem, se extraviam, aproximando-se da loucura
e do caráter destruidor, desmesurado da pulsão, tema que aparece não só na
clínica, como também na arte.
Um exame mais detido da palavra da língua francesa, utilizada por
Lacan (1957-1958/1998), no Seminário 5,égarer (extraviar)
mostra que, além da acepção de perda, ela também tem o sentido de
"desvairar" (Rónai, 2012: 82), termo popularmente utilizado para
designar as manifestações excessivas, exaltadas das mulheres quando perdem
a cabeça diante das experiências de amor.
A forma louca, feminina, de amar
Que a mulher esteja constantemente em busca do amor, isto não é
novidade. Mas o que faz algumas mulheres chegarem à beira de enlouquecer e
de perder o controle quando se sentem rejeitadas,
"trocadas" ou não amadas, e a sofrerem como resultado dos atos impulsivos
a que são levadas nestas circunstâncias?
Ao denominar de "erotomaníaca" a forma feminina de amar,
Lacan (1958/1998: 742) já indicava uma proximidade das mulheres com a loucura,
como passíveis de foracluir seu ser. Embora esta formulação pareça ser um ponto
importante, Lacan não se alonga muito em esclarecimentos, o que nos leva a
buscar algumas pistas em autores como Freud e Clérambault.
Segundo o psiquiatra francês, e professor de Lacan, Gaëtan Gatian
de Clérambault, que se dedicou ao tratamento da paranoia, a erotomania alude à
"convicção ilusória de ser amado, e [ao] ardor na busca do objeto"
(Clérambault, 1921/2009: 301), podendo se apresentar em diferentes graus. De
forma semelhante, a propósito da análise do caso Schreber, Freud esclarece que
a erotomania é uma percepção de ser amado. As afeições "começam
invariavelmente não por qualquer percepção interna de amar, mas por uma
percepção externa de ser amado" (Freud, 1911/1969: 86). A ilusão de ser
amada, seja no nível do delírio (psicose), seja da fantasia (neurose), parece
apresentar-se na teoria e na clínica psicanalítica como uma característica
própria do feminino. A angústia da perda do amor, ponto crucial para as
mulheres, nos indica por que, para elas, "ser amada é uma necessidade mais
forte que amar" (Freud, 1933 [1932]b/1976: 162). Nesse sentido, a inversão
das posições subjetivas de amar e ser amado, tal como se observa na erotomania,
se mostra ressaltada no amor feminino. Lacan definiu diferentes formas de amor
em homens e mulheres, sempre numa referência ao desejo e ao objeto, que aqui,
em 1958, ainda é objeto do desejo7. Assim, enquanto a mulher teria uma forma
erotômana de amar, o homem amaria de forma fetichista. Dentro desta
perspectiva, a mulher ocuparia o lugar de "fetiche" (Lacan,
1958/1998: 743), de objeto, no amor do parceiro, o que parece congruente com a
fantasia feminina de ser amada, pois, seguindo a gramática: o
sujeito ama; o objeto é amado. O psicanalista Márcio Peter de Souza Leite
resume toda esta questão do amor nas mulheres, em uma frase: "Que o Outro
me ame é a forma erotomaníaca da demanda [de amor] da mulher"8.
O gozo feminino e a absolutização do amor: die frau e
as mulheres na clínica
Retomando a ópera de Schoenberg, daremos um salto no tempo de
quase setenta anos e, já nos moldes do nosso tempo atual, reencontraremos entre
as figuras do discurso amoroso que circulam nos fragmentos organizados por
Roland Barthes, a Frau de Erwartung à espera
do seu amado. ESPERA, escreve Barthes (2003: 163), "tumulto de angústia
suscitado pela espera do ser amado, ao sabor dos mais ínfimos atrasos
(encontros, telefonemas, cartas, retornos)". Nesta versão contemporânea,
encontramos mulheres que, na expectativa de um telefonema do amante, sucumbem
ao transbordamento das intensidades pulsionais. Perdem-se, enlouquecem em
elucubrações: por que o parceiro não está com elas, estará com a outra? Nestes
casos, vê-se o insuportável pensamento de ciúmes, obsessão que invade o corpo
feminino.
Barthes (2003: 164) organiza o roteiro desta Espera, em que o
amado se atrasa, num prólogo e três atos que podem ser assim resumidos. No
Prólogo, "um ataque de nervos" marca o desencadeamento da angústia.
Na sequência, o primeiro ato é marcado pelo pensamento de que haveria algum
mal-entendido sobre o local ou a hora do encontro, ainda prevalecendo as
possíveis significações que o Simbólico pode fornecer. Segue-se o segundo ato
com o surgimento da cólera, que leva a violentas recriminações pela ausência do
parceiro, culminando no último ato, no qual se presentificam a morte, o luto, o
abandono, a presença avassaladora do Real.
Este roteiro evoca também o caso da mulher que, por anos, se
submete sem prazer aos desejos do amado àespera de ser escolhida
como A sua Mulher. Ao ser "trocada" por
outra, quase "enlouquece", fica "fora de si" e, nestes
instantes de encontro com pedaços de real, não vê saída senão em pensamentos de
morte.
A encenação de Erwartung, Opus 17, em
outubro de 2009, na cidade de Belo Horizonte, teve como solista a cantora
lírica carioca Eliane Coelho. Por ocasião do evento, Eliane, que há anos reside
na áustria, concedeu uma entrevista em que se refere à vivência da personagem
como um "autoflagelo" (Coelho, 20099). Nas palavras da soprano, a personagem de Erwartung é
uma mulher "loucamente apaixonada, que se estraga, se arrebenta"
(Coelho, 2009). Em termos lacanianos, podemos falar de uma mulher devastada, um
dos nomes da experiência feminina diante do amor.
Arrebatada pela paixão, ao ver seu amante morto, ao mesmo tempo
que sofre a sua perda, ela se enraivece e envenena a si própria com pensamentos
de ciúmes e traição. Mesmo no momento de grande dor pela perda do amado,
ressente-se por crer não ter sido a única mulher para ele. É como única,
diz Lacan, que uma mulher quer ser reconhecida pelo parceiro (Lacan, 1972/2003:
467). Amor e luto, então, se misturam aos ciúmes e ao ódio, pela existência
desta Outra mulher, aquela que, supostamente, por dominar os mistérios da
feminilidade e da sedução, seria ainda mais especial; aquela que talvez nem
existisse de verdade, ou que fosse ela mesma.
A ópera foi composta em 1909, período em que Freud havia analisado
e escrito muito sobre as histéricas, mas ainda não havia formulado o conceito
de pulsão de morte, nem revisado suas ideias a respeito da sexualidade feminina
e da feminilidade. Assim, o saber psicanalítico existente na época se referia
mais à histeria do que propriamente ao feminino ou, talvez, a ambos, já que a
doutrina freudiana não demarcava uma clara separação, como fez Lacan, entre
estas duas posições. Neste ponto, podemos nos interrogar se toda a encenação de Erwartung não
seria compatível com o que Lacan irá teorizar, posteriormente, como o que se
encontra do lado do feminino, não-todo a situar-se na função
fálica, mais além do simbólico. Freud considerava que os artistas se
antecipavam à psicanálise e, de fato, aqui parece ter sido o caso. Se Lacan
(1972-1973) utiliza o êxtase dos místicos como paradigma do gozo feminino,
Schoenberg visa "representar em câmera lenta tudo o que ocorre durante um
único segundo de excitação espiritual máxima" (Schoenberg citado por
Friedlander, 1999: 2; tradução nossa). "Transe" é outro termo usado
pelos especialistas nesta obra em referência ao estado fora de si ou
de arrebatamento manifestado pela enigmática personagem (Friedlander, 1999),
expressões que nos sugerem o que Lacan inscreve sob a denominação do gozo Outro
ou feminino, um "gozo do corpo [...] para além do falo" (Lacan,
1972-1973/2008: 80).
O amor desmedido, que enlouquece as mulheres, mostra sua face
tanto na concepção da "forma erotomaníaca de amor" (Lacan,
1958/1998), quanto no lado feminino da sexuação (Lacan, 1972-1973). Este
último, não-todoabarcado pela lógica fálica, nos remete mais uma
vez ao resto "meio extraviado" (Lacan, 1957-1958/1999: 202),
foracluído, que permanece fora do Édipo, tornando possível o acesso ao que há
de ilimitado do pulsional. Este amor-paixão, portanto, transpõe o terreno do
princípio do prazer e de Eros, tal qual uma invasão dos limites, num movimento
para além do contorno que o Nome-do-Pai institui a partir da operação de
castração.
O silêncio e a escuridão presentes na ópera parecem aludir ao
inconsciente pulsional, o Isso (ou Id) freudiano, à pulsão de morte e ao Real
de Lacan. Também são enfatizadas a confusão emocional, a instabilidade e a
intensidade dos afetos: ora vê-se a invasão dos impulsos de Eros, ora a
quietude e o silêncio inerentes à pulsão de morte.
O clima de obscuridade na encenação de Erwartung possibilita
diferentes leituras que podem sugerir desde um sonho ou pesadelo, um devaneio,
uma ilusão, até um delírio. Teria die Frau, ela mesma, passado ao
ato e assassinado o amante numa crise de ciúmes, loucura feminina de amor? No
poema de Pappenheim parece que sim (Simms, 1997: 105), mas Schoenberg omite,
deixa em aberto, no ar... Seria alucinação, ou realidade? Conforme Saramago10 assinala, "há muitas perguntas em
aberto" deixadas na ópera, assim como há muitas perguntas não respondidas
acerca das mulheres e das manifestações do gozo feminino.
A música atonal11, capturando o espectador na pulsão
invocante, o leva a experimentar toda a paleta de fortes cores pulsionais,
passeando por escalas e sonoridades dissonantes que vão da angústia do vazio à
paixão e aos ciúmes, ao amor e ao ódio, além dos limites do suportável e do
representável, em direção ao Real. A própria partitura, complexa e densa, coloca
em cena um gozo excessivo. Nela, os murmúrios e gritos expressados na voz da
soprano, entremeados com o silêncio, parecem invocar sons muito primitivos, sem
significação, pura pulsão - transe, eclipse. Como "num delírio, [a mulher]
inicia uma espécie de lamento numa linguagem fragmentada, torrente incoerente de
lembranças, palavras de amor, palavras de ódio,
confundindo passado com presente, negando a realidade" (Pérez, 2005; grifo
nosso12) Assim como algumas mulheres que
encontramos na clínica, ela está "fora de si".
Arrebatada, arrebentada, numa versão feminina do amor-ódio, gozo
ilimitado, die Frau beija em frenesi o corpo do amado morto e,
em seguida, o agride entregando-se a um acesso (excesso!) de ciúmes e ira cujo
fundamento seria uma suposição de infidelidade com a Outra Mulher,
"bruxa", "prostituta", a quem ela atribuio crime de amor.
não poderia ser entendida neste sentido a observação de Lacan (1972-1973/2008)
de que o gozo feminino não está todo ocupado com o homem?
Findo o transe, eclipse ou arrebatamento, o que se vê no palco é
uma mulher melancólica, desvitalizada, perdida mesmo. As palavras entoadas
tristemente exprimem a sua dependência do Outro do amor:
Meu amado [...] O que vou fazer aqui, completamente só?... Nessa
vida sem fim... nesse sonho sem limites e sem cores... uma vez que o limite da
minha existência era onde quer que você estivesse... e todas as cores do mundo
brilhavam apenas dos seus olhos... A luz amanhecerá para todos os outros...
menos para mim, completamente só na minha escuridão... (Friedlander, 1999;
tradução nossa).
Esta dependência do amor do parceiro quase que para existir amiúde
pode ser observada na clínica. Neste ponto, retomamos as palavras de Manso de
Barros (1998: 174), "a mulher se perde toda", e de Colette Soler
(2005: 83) quando afirma que o que a mulher perde, "ao perder o amor, é
ela mesma". Esse parece ser o verdadeiro sentido do termo escolhido por
Lacan, em 1958, para nomear de forma feminina (erotomaníaca) o amar. Diante da
fórmula lacaniana segundo a qual A mulher não existe - dada a
ausência deste significante no inconsciente -, podemos perguntar
se, para as mulheres que se posicionam como die Frau, o
parceiro do amor seria a condição necessária para terem uma existência que
tornasse suportável a inconsistência de seu ser de mulher.
Enquanto die Frau mata o amado, há também outras
mulheres no dia-a-dia da clínica que, quando "enlouquecem" ou ficam
"fora de si" pensam em tirar a própria vida. Uma forma e outra
aparecem como variações sobre o mesmo tema: o enlouquecimento, a morte, o
impossível de representar, o real, vivências de sofrimento sem limite, "arrebatamento"
(ravissement) (Lacan, 1965/2003: 198), considerando que
"arrebatamento é quando a mulher perde o amor de um homem, e este era o
único nó que a enlaçava" (Lutterbach Holck, 2011: 59).
As reticências no texto poético indicam os momentos de descontinuidade
na fala, onde não há significante, onde o analisando para, no momento de
emergência do real, aquele que não cessa de não se escrever (Lacan,
1972-1973/2008: 155). Ali onde a palavra não chega, onde a pulsão não é
abarcada pelo simbólico, resta o corpo que se transtorna, chuta e se contorce;
briga, grita e xinga, "fora de si", movimentando-se em desordem, num
gozo transbordante, sem medida. Para o que se encontra mais além do registro
fálico e da linguagem, o sujeito não pode encontrar palavras para dizer, há
apenas o encontro com o real. Como analistas, nos deparamos com as tentativas
destas mulheres de dizer algo em torno de um gozo que elas só sabem que
experimentam no corpo. "Entrar em desespero",
"descontrolar-se", "enlouquecer" ou "sair do corpo"
são alguns exemplos. Tampouco nas sessões seguintes conseguem formular algo a
respeito destas experiências arrebatadoras: "Está tudo bem, não tenho nada
para falar".
Por ora, deixaremos o estudo deste tema, tão difícil quanto
instigante do ponto de vista da clínica, com a seguinte questão: o que pode a
análise diante do gozo Outro, da devastação feminina e da lógica de
"absolutização do amor" (Soler, 2005: 185) que empuxa o sujeito para
uma busca mortífera e insaciável do Outro? Seria uma invenção de si mesma, um
saber fazer com o real, ir além da castração?
Referências bibliográficas
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Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
. Fragmentos da ópera estão disponíveis em:
http://www.youtube.com/watch?v=H7bJUzMqaYs e
http://www.youtube.com/watch?v=iYHHXY2lhe4.
2 Marie Pappenheim (1882-1966) era uma jovem estudante de medicina na Universidade de Viena, que também escrevia poesia. Segundo especula-se, era familiarizada com os escritos de Freud, já que seu irmão era psiquiatra na mesma cidade (Pérez, 2005). Além disso, havia os laços de parentesco com Bertha (Simms, 1997), a famosa Anna O. de Breuer, primeira histérica tratada pelo método catártico, utilizando o que ela mesma nomeou de talking cure (Freud, 1893-1895/1988: 64-65).
3 ópera ou peça teatral encenada por apenas um ator ou cantor que interpreta um só personagem.
4 Por conta do difícil acesso ao texto original, em alemão, foi utilizada uma tradução do libreto para o ingles, extraída da tese de doutorado sobre a ópera Erwartung, Op. 17, defendida pela soprano e professora de canto Claudia Lynn Friedlander, na McGill University em Montreal, Canadá, 1999.
5 Beloved, beloved, day is breaking... What am I to do here, all alone?... In this endless life... in this dream without limits and colors... since the limit of my existence was wherever you were... and all the colors of the world shone only from your eyes... Light will dawn for all others... but I, all alone in my darkness?...(Friedlander, 1999 - Libretto da ópera).
6 O seminário VI, recém-editado em francês, ainda sem tradução para o português, encontra-se em parte no livro Las formaciones del inconsciente y el deseo e su interpretación, sob o nome do próprio Lacan, de onde este trecho foi extraído em livre tradução nossa para o português. Buenos Aires: Nueva Visión, 1982, p. 113.
7 O objeto a só será formalizado cinco anos depois, em 1963, no Seminário 10, A angústia.
8 Ver Leite, M. P. S. A essência da feminilidade: mulheres lacanianas. Documento da Internet, disponível em.
9 Ver Coelho, E. Entrevista concedida a Yane Mabel. Belo Horizonte, 2009. Documento da Internet, disponível em.
10 Ver Saramago, J; Corghi, A. (2006). Blog sobre a obra literária de José Saramago. Documento da Internet, disponível em.
11 Nova lógica de organização das notas musicais nos processos de composição musical, desenvolvida entre 1908 e 1912. O sistema atonal marca uma ruptura com a organização harmônica existente até então, passando a incluir os sons desagradáveis.
12 Ver Pérez, M. T. Erwartung, comentário e resumo da ópera. A ópera e suas histórias. Documento da Internet, disponível em.
2 Marie Pappenheim (1882-1966) era uma jovem estudante de medicina na Universidade de Viena, que também escrevia poesia. Segundo especula-se, era familiarizada com os escritos de Freud, já que seu irmão era psiquiatra na mesma cidade (Pérez, 2005). Além disso, havia os laços de parentesco com Bertha (Simms, 1997), a famosa Anna O. de Breuer, primeira histérica tratada pelo método catártico, utilizando o que ela mesma nomeou de talking cure (Freud, 1893-1895/1988: 64-65).
3 ópera ou peça teatral encenada por apenas um ator ou cantor que interpreta um só personagem.
4 Por conta do difícil acesso ao texto original, em alemão, foi utilizada uma tradução do libreto para o ingles, extraída da tese de doutorado sobre a ópera Erwartung, Op. 17, defendida pela soprano e professora de canto Claudia Lynn Friedlander, na McGill University em Montreal, Canadá, 1999.
5 Beloved, beloved, day is breaking... What am I to do here, all alone?... In this endless life... in this dream without limits and colors... since the limit of my existence was wherever you were... and all the colors of the world shone only from your eyes... Light will dawn for all others... but I, all alone in my darkness?...(Friedlander, 1999 - Libretto da ópera).
6 O seminário VI, recém-editado em francês, ainda sem tradução para o português, encontra-se em parte no livro Las formaciones del inconsciente y el deseo e su interpretación, sob o nome do próprio Lacan, de onde este trecho foi extraído em livre tradução nossa para o português. Buenos Aires: Nueva Visión, 1982, p. 113.
7 O objeto a só será formalizado cinco anos depois, em 1963, no Seminário 10, A angústia.
8 Ver Leite, M. P. S. A essência da feminilidade: mulheres lacanianas. Documento da Internet, disponível em
9 Ver Coelho, E. Entrevista concedida a Yane Mabel. Belo Horizonte, 2009. Documento da Internet, disponível em
10 Ver Saramago, J; Corghi, A. (2006). Blog sobre a obra literária de José Saramago. Documento da Internet, disponível em
11 Nova lógica de organização das notas musicais nos processos de composição musical, desenvolvida entre 1908 e 1912. O sistema atonal marca uma ruptura com a organização harmônica existente até então, passando a incluir os sons desagradáveis.
12 Ver Pérez, M. T. Erwartung, comentário e resumo da ópera. A ópera e suas histórias. Documento da Internet, disponível em
IN: Pepsic - Periódicos Eletrônicos em Psicologia
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0101-48382014000100009&script=sci_arttext
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