Curso do Professor Marcos
neste Semestre - 2017/2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA CATARINA
CURSO DE PSICOLOGIA
FIL 5779 FILOSOFIA DA
PSICANÁLISE (72h)
Segunda-feira – Das 14H00 ‘as 17H00
Prof. Marcos José Müller
Abordagens do conceito de inconsciente. O estatuto de
cientificidade da psicanálise. Freud e seus seguidores.
PLANO DE ENSINO
Objetivos:
Ao término do curso o aluno deverá ser capaz de:
1. Identificar os principais conceitos relativos à teoria
freudiana das pulsões.
2. Dissertar a maneira como a temática freudiana da pulsão é
investigada no contexto do Seminário XI de Jacques Lacan
3. Caracterizar o modo como Lacan faz, no mesmo seminário, o
comentário da obra O visível e o invisível de Merleau-Ponty
4. Identificar as possibilidades e limites no diálogo entre as
obras lacaniana e merleau-pontyana relativamente à noção de pulsão
Sinopse:
No seminário XI (Os
quatro conceitos fundamentais da psicanálise), Jacques-Lacan interrompe a
primeira sessão, dedicada a discutir a noção freudiana de pulsão, para tratar
não mais dos conceitos fundamentais da psicanálise, mas do modo como Maurice
Merleau-Ponty, na obra póstuma "O visível e o invisível", estabelece
aquilo que Lacan denominou de uma diferença entre o olho e o olhar : mais além
da visibilidade do mundo, no seio daquilo que emerge como horizonte de invisibilidade,
um olhar vem me surpreender, denunciando minha própria vidência. Lacan – agora
interessado em delimitar a gênese do sujeito da psicanálise (o sujeito do
desejo) - reconheceu, na noção merleau-pontyana de olhar, uma possível
indicação daquilo que Freud denominou de pulsão de morte, como se, para
Merleau-Ponty, a divisão (Esquize) do Outro (como Invisível) vem denunciar
minha própria castração e, por conseguinte, a causa do desejo (objeto a). Mas
Lacan não tem certeza se, com a noção de “vidência”, Merleau-Ponty não recai
novamente no imaginário platônico de um ultra-olhar, do qual cada corpo seria
uma versão. Ora, como Lacan “leria” as mesmas passagens de Merleau-Ponty, agora
do ponto de vista do sujeito do gozo, para quem a divisão do Outro já não importa
mais? A dúvida se sustentaria? Ou ela seria letal para a nova mirada lacaniana?
Para dar conta de cada uma destas questões, vamos recorrer aos textos em que
Merleau-Ponty gesta seus conceitos, precisamente, os textos que tratam de
construir uma ontologia a partir da obra de arte.
Fundamentação:
“O que há então, não são
coisas idênticas a elas mesmas que, em seguida, se ofereceriam ao vidente, e
não é um vidente vazio antes de tudo que, em seguida, se ofereceria a elas, mas
alguma coisa de que não poderíamos estar mais perto senão lhe apalpando com o
olhar, porque o olhar mesmo as envolve, as veste com sua carne. De onde vem
que, fazendo isto, ele as deixa em seu lugar, que a visão que nós as tornamos
nos parecer vir delas” (M. Ponty, 1964, p.173)
Mas não é entre o
visível e o invisível que nós temos que passar. A esquize que nos interessa não
é a distância que se mantem entre o que existe de formas impostas pelo mundo e
aquilo contara o que a intencionalidade da experiência fenomenológica nos
dirige (...). O olhar só se apresente a nós sob a forma (...) da nossa
experiência, a saber, a falta constitutiva da agonia da castração. O olho e o
olhar, tal é para nós a esquize na qual se manifesta a pulsão no nível do campo
escópico (Lacan, 1964, 69-70/72-73)
“De sorte que o vidente,
estando preso no que vê, continua a ver-se a si mesmo: há um narcisismo
fundamental de toda visão, daí por que, também ele sofre, por parte das coisas,
a visão por ele exercida sobre elas; daí, como disseram muitos pintores, o sentir-me
olhado pelas coisas, daí, minha atividade ser identicamente passividade – o que
constitui o sentido segundo e mais profundo do narcisismo: não ver de fora,
como os outros vêem, o contorno de um corpo habitado, mas sobretudo ser visto
por ele, existir nele, emigrar para ele, ser seduzido, captado, alienado pelo
fantasma, de sorte que vidente e visível se mutuem reciprocamente, e não mais
se saiba quem vê e quem é visto. É a essa Visibilidade, a essa generalidade do
Sensível em si, a esse anonimato inato do Eu=-mesmo que há pouco chamávamos de
carne, e sabemos que não há outro nome na filosofia ocidental para designá-lo“(Merleau-Ponty, 1964, 135.)
“Uma vez que vemos
outros videntes, não temos apenas diante de nós o olhar sem pupila, espelho sem
estanho das cosias, este pálido reflexo, fantasma de nós mesmos, que elas
evocam ao designar um lugar entre elas de onde as vemos: doravante somos
plenamente visíveis para nós mesmos, graças a outros olhos. Essa lacuna onde se
encontram nossos olhos, nosso dorso, é de fato preenchido, mas preenchido por
um visível de que não somos titulares; por certo, para acreditarmos numa visão
que não é a nossa, para a levarmos em conta, é sempre, inevitável e unicamente,
ao tesoura da nossa visão que recorremos e, portanto, tudo quanto a experiência
nos pode ensinar já está, nela previamente esboçado. Mas é próprio do visível,
dizíamos, ser a superfície de uma profundidade inesgotável; é o que torna
possível sua abertura a outras visões além da minha. (Merleau-Ponty, 19054, p.
139)
Programa
1. O discurso da pulsão
em Freud: os três ensaios sobre a sexualidade.
2. A cura pelo desejo e
o lugar da pulsão no primeiro ensino de Lacan
3. Em torno do “objeto
a”: o retorno a Freud
4. Constituição do
sujeito do inconsciente no Campo do Outro e a “separação” como resposta à
“alienação”
5. Do olhar como “OBJETO
a MINÚSCULO”
6. Mais além da
fenomenologia: o quiasma vidente-visível em Merleau-Ponty
7. O invisível: chora ou
pulsão?
8. A esquize no
invisível: outrem como Gestalt
9. (Des)psicologização
da Gestalt em Merleau-Ponty: a carne e seus poros
10. Porosidade carnal e
o falasser lacaniano
11. Psicanálise da
Carne: Merleau-Ponty leitor de Freud
12. A Análise Gestáltica
Referências
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