A Suplicante - Camille Clodel
O
peso da feminilidade
Maria Rita Khel
O que têm em comum a arte,
a psicanálise e a feminilidade? Que as três andem às voltas com a falta – até
aí, nada de novo. Mais vale dizer que a partir da falta, ou do vazio, ou de
como quer que se nomeie isto que não há, tanto a psicanálise quanto a arte são
expressões do inacabado – o que faz com que só existam em estado de constante
mutação. A feminilidade, não como aquilo que é próprio das mulheres mas como
aquilo que sabe gozar um pouco além do falo, nem sempre se põe mutante - mas
tem certamente este potencial. Uma vez que não gira (apenas) em torno do falo,
pode arriscar movimentos centrífugos em direção a não sei onde. Uma vez que não
se constitui a partir de uma obsessão em evitar a castração, a feminilidade é
um modo de gozar que pode arriscar um pouco mais na direção de uma desmesura,
ou seja, que aceita correr o risco de esbarrar na angústia, ou mesmos de ir um
pouco além. Daí que, é claro, todo artista, seja homem ou mulher, acaba (ou
começa) por saber algo a respeito da tal feminilidade.
Na obra de arte autêntica
o artista inventa sempre. Uma vez terminada, a obra torna-se outra coisa. Pois,
de uma forma ou de outra, a arte é sempre um começo. [1]
Quem disse isto não foi
uma mulher: foi Picasso. Um que aguentava melhor do que ninguém o desafio de
começar do nada, a partir da sucata, do lixo, do papel rasgado, e produzir –
sobretudo em sua escultura – não o monumental mas o efêmero, não o objeto
pronto e acabado que simula a Coisa mas uma coisa, despretensiosa - assim
mesmo, com letras minúsculas. Dar forma ao que não existia: criar uma coisa
capaz de revelar, em sua precariedade proposital, o próprio truque do artista
que transforma os restos e dejetos da civilização em ideia, em forma nova; que
transforma o lixo em graça, em vida, em movimento. Nas esculturas, e sobretudo
nas colagens de Picasso, a obra é ao mesmo tempo a coisa inventada e a
brincadeira que a originou. Uma mulher feita de telha, pedaços de cano, restos
de madeira e um galho seco, certamente não se pretende forma eterna e
realizada. Mas realiza a eternização do gesto livre que lhe deu origem.
Picasso, que amava o
bronze pela unidade que aquele metal é capaz de dar às formas mais
heteróclitas, alertou entretanto para o perigo desta uniformidade, defendendo o
caráter gauche das esculturas de sucata que representam uma parte importante de
seu trabalho: “se nós só enxergássemos a cabeça de touro, e não um selim de
bicicleta e o guidon que a compõem, esta escultura perderia o interesse" [2] .
Mas acrescenta: nada impede que algum dia alguém venha a recuperar o uso do
guidon e do selim de bicicleta, desmontando a cabeça de touro e reescrevendo o
sentido da obra no ato do desmanche.
Talvez esta definição da
incorporação do truque à obra restrinja-se à arte moderna, em que frequentemente
o gesto que transforma a matéria em objeto está presente e revelado na própria
obra, e não oculto pelo esforço de se produzir uma mímesis perfeita da
natureza. Na arte moderna o material escolhido, por exemplo, é tão expressivo
quanto a obra pronta, não por sua nobreza ou durabilidade, mas por conter, ele
próprio, uma história e um conceito; por impor sua presença concreta e
perturbadora à obra. A utilização de ossos em Cildo Meirelles, de sangue em
Damien Hirsch, de litros de óleo cru em Nuno Ramos, incorporando os cheiros
"inconvenientes" da matéria orgânica à obra, remetem necessariamente
à finitude e à transitoriedade de tudo, até mesmo do trabalho do artista. O
qual ainda assim, e contraditoriamente, visa à eternidade.
Voltemos à feminilidade.
Não por acaso a modernidade, período que afirmou o caráter inacabado da obra de
arte e incorporou o vazio à estrutura do objeto, à composição do poema, à
imagem abstrata (frequentemente vazia de significação), foi também o período em
que as mulheres fizeram sua passagem da reclusão doméstica para a esfera
pública. Pode ser uma coincidência, mas também pode não ser. É na modernidade,
como escrevem os organizadores deste livro, que o véu que encobre a falta nas
mulheres e metaforiza a feminilidade, torna-se transparente - “no ocidente, o
véu é transparente”.
A modernidade é um
fenômeno ocidental. É na modernidade que as mulheres começam a tornar pública
sua experiência através da escrita possibilitando que, pela primeira vez na
história, o perfil de uma certa “identidade” (aspas necessárias) feminina se
esboçasse. Isto porque a emergência de textos literários ou confessionais,
assim como a exposição das primeiras imagens pictóricas, de autoria de
mulheres, foi criando, aos poucos, um frágil campo identificatório para
milhares de outras mulheres, como alternativa à identificação com o ideal de mulher
que se oferecia e se delineava através do discurso dos homens. Algo como um
campo que possibilitasse a passagem do Eu Ideal - a feminilidade da fantasia
masculina - aos ideais do eu - os traços de identificação com as experiências
das primeiras mulheres escritoras.
Muito se discute, hoje,
sobre as características de uma escrita feminina. Mas as primeiras grandes
escritoras dos séculos XVIII e XIX, muitas das quais protegiam sua “dignidade”
detrás de pseudônimos masculinos, insistiam em afirmar que “a mente não tem
sexo”.
Esta antiga questão volta
a se colocar nos quatro debates entre psicanalistas e artistas gaúchas, com
participação da plateia, nos encontros do Happy Hour cultural do MARGS. Se a
arte e a feminilidade (e também a psicanálise) possuem características
fundamentais em comum, a rigor não faz nenhuma diferença que o artista seja
homem ou mulher, assim como o sexo do psicanalista não deve fazer grande
diferença na condução de uma análise, a não ser no que se refere ao imaginário
da transferência por parte do analisando.
Muito do que se disse, nas
entrevistas e nos debates sobre os trabalhos de Claudia Stern, Liana Timm,
Heloísa Crocco e Karim Lambrecht poderia se aplicar a obras criadas por
artistas de sexo masculino. Que a obra de arte seja produto de uma inquietação,
da falta-a-ser, e que seu sentido, enigmático para o próprio artista, só se
revele depois, no contato da obra com o público (Stern). Que a mola da criação artística
seja uma insatisfação, e a obra afirme a potência do(a) artista que estende seu
alcance de simbolização até o limite imposto pelo real (Timm). Que o belo seja
aquilo que recobre o vazio, e sua materialização exija do(a) artista uma
capacidade especial para suportar a angústia diante deste mesmo vazio (Crocco).
Que o(a) artista seja aquele capaz de se debruçar sobre o abismo e criar um
contorno que deixe “entrever o real, a morte, o nada” (Lambrecht). Que a arte,
sobretudo na modernidade, seja a expressão simbólica da violência, da crueldade
que nos habita (ainda Karim Lambrecht, a respeito de seus “banhos de sangue”).
Que diferença faz, em todos esses casos, que o artista seja uma mulher?
Alguma diferença, sim.
Mas...não toda. A primeira diferença se dá no plano das significações
imaginárias que atribuímos à sensibilidade artística das mulheres. Ainda é
novidade que mulheres assinem seu nome em obras que ocupam os grandes espaços
das cidades. O anonimato feminino perdurou por quase toda a história da
humanidade, com raras exceções pontuais aqui e ali, e mesmo no último século, quando
foi rompido, o máximo que se admitia era que as mulheres produzissem obras
discretas, intimistas, confessionais - obras de interesse exclusivo de outras
mulheres, que dissessem respeito apenas à experiência privada das mulheres.
Muitas das obras das artistas aqui apresentadas estão nas ruas, nas praças, nos
saguões de grandes bancos e de shopping centers, contribuindo para romper mais
um estereótipo a respeito da delicadeza feminina. Por que as mulheres estariam
limitadas à expressão dos sentimentos delicados, da intimidade, do que é vivido
em segredo? Por que os estereótipos ligados à vida doméstica continuam tão
presentes nas representações sociais do que seja "próprio" das
mulheres, quando há quase um século as mulheres já romperam a barreira da
privacidade e vêm participando cada vez mais da vida pública?
Penso que existe uma
inércia, característica das formações culturais, que faz com que continuemos
nos valendo de representações estabelecidas para dar conta de fenômenos novos,
até que - "só depois" - uma nova expressão possa emergir. À
impossibilidade lógica da existência de um conjunto fechado que defina A
Mulher, por falta de uma exceção que faça regra, somou-se a invisibilidade
histórica das mulheres, o silêncio histórico das mulheres. A Mulher não existe
e as mulheres, ao longo de séculos, não se fizeram representar no campo da
cultura a não ser como objetos da fantasia dos homens. No entanto algo se
produziu no anonimato secular, algo se transmitiu de geração em geração.
Técnicas sutis de
manipulação silenciosa, micro poderes tecidos na intimidade, na sutileza, nas
artes insinuantes elaboradas por gerações e gerações de mulheres que se
calavam, delegando ao outro a responsabilidade de falar por elas. O que se
produziu no anonimato e na opressão (consentida ou não) secular das mulheres
foi a ilusão de uma leveza, de uma delicadeza – típicas armas usadas pelos mais
fracos para dominar seus senhores sem despertar a fúria deles.
O que se produziu no
anonimato foram as artimanhas que, até hoje, confirmam a ilusão da leveza
feminina. Porque a feminilidade não é leve. Não há razão para que seja leve, a
não ser razões de estratégia. Se a feminilidade é o que ultrapassa a lógica
fálica, o que se aproxima da morte, do inominável, do sinistro – por que
haveria de se caracterizar pela leveza, pela delicadeza, pela graça dos véus
que metaforizam as artimanhas do oprimido do diante do opressor, ou que
representam a expressão da mulher silenciada diante do detentor da palavra?
A feminilidade não é leve
e as obras das artistas que aqui se
apresentam vão muito além da leveza e da delicadeza. Elas revelam, de um lado,
a força de uma potência feminina - potência criativa que se afirma ao encontrar
seu caminho, contra a insatisfação, o silêncio e a resignação. Potência que é
também erótica e que, sublimada, permite o gozo criador do artista e o gozo
estético de quem contempla a obra pronta. Revelam também que uma mulher, quando
opera no registro da feminilidade ( registro que não é exclusivo das mulheres,
nem as mulheres o habitam todo o tempo) ousa romper as barreiras - os véus? -
que nos separam da crueldade, do horror, da morte, do inconsciente.
Resumindo: uma artista,
mulher, operando no registro da feminilidade, dispõe de uma potência e de um
destemor que a tornam capaz de estender o ato criativo sempre um pouco mais
longe na direção do irrepresentável. A operação é perigosa, e aponta para os
limites da simbolização. Este é o título, aliás, de um excelente ensaio de Ana
Cecília de Carvalho [3] em que a autora analisa
casos de poetas que se suicidaram em pleno vigor produtivo. A hipótese da
autora é de que mesmo a operação sublimatória pode ser insuficiente para proteger
aqueles que tentam avançar muito longe na região do vazio, dominada pela pulsão
de morte. Ana Cecília analisa os casos exemplares dos suicídios da poeta
norteamericana Sylvia Plath e da brasileira Ana Cristina Cesar. Mas analisa
também o poeta judeu alemão Paul Celan, e outros homens suicidas. Podemos
evocar Gérard de Nerval. Ou, mais perto de nós, Torquato Neto. Ou Hemmingway.
Fora do campo da poesia, podemos pensar nos gênios dissolutos e auto
destrutivos de Antonin Artaud e Glauber Rocha. A lista é interminável. Haverá
diferença entre mulheres e homens, no que toca aos perigos do gozo criador?
Haverá diferença entre artistas mulheres e homens no que diz respeito à relação
com a feminilidade?
Por outro lado, não nos
enganemos: a sublimação e o ato criativo só são possíveis se o sujeito dispõe
de algum manejo do falo. Receptividade (feminina?) e potência (masculina?) são
recursos psíquicos essenciais ao artista. O manejo da castração e do falo são
indissociáveis; como já escrevi em outras ocasiões: ninguém suporta viver todo
o tempo na posição feminina.
Os grandes monolitos
criados pela escultora paulista Laura Vinci na década de 90, de ferro pesado,
bruto - objetos fálicos erguidos em direção ao céu - quem diria que foram
criados por uma jovem mulher?
Quanto à dimensão da
desmesura, vale perguntar: quem foi mais longe na expressão da dor, do
desamparo, da angustia de existir: Auguste Rodin (em Os Burgueses de Calais,
por exemplo) ou Camille Claudel (em A Suplicante, ou A Idade Madura)? Podemos
arriscar, isto sim, a hipótese de que a aluna e amante de Rodin expôs mais de
si mesma em suas esculturas, enquanto ele soube interpor uma distância segura
entre o homem - carne, ossos, coração - e a obra. Há sofrimento, tormento,
angústia, desmesura, risco, na escultura de Rodin. Pensemos em O Portal do
Inferno, por exemplo. Pensemos no seu Balzac. Mas não temos, nessas obras,
nenhuma chave óbvia de acesso à subjetividade do próprio Rodin. Existe uma
distância segura entre a vida e a obra da maioria dos grandes artistas.
Por outro lado, muitas das
esculturas de Camille Claudel parecem expor, sem véus, a intimidade da artista.
Não parece indevida a observação de Paul Claudel sobre A Suplicante: E, no
entanto, a mulher, ou antes, a jovem, esta alma nua, esta jovem ajoelhada (...)
Deixem-me, voltando-me para dentro de mim mesmo, não ver nela senão Anima,
nesta composição onde os laços são feitos de ruptura. (...) Mas, não! Esta
jovem nua é minha irmã, minha irmã Camille; suplicante, humilhada, de joelhos,
esta soberba, esta orgulhosa, foi assim que ela representou a si mesma. [4]
Isto nos leva a uma
segunda hipótese sobre a diferença entre a arte produzida por homens e por
mulheres, ainda que nos dois casos a feminilidade seja um vetor central. É que
as mulheres que se expressam publicamente talvez não saibam - ou não queiram? -
evitar a exposição pública de sua privacidade. Melhor dizendo: um artista
homem, formado (como todos os homens) segundo uma tradição milenar que lhe
confere um saber, um manejo de sua personalidade em público, tem mais
preocupação, ou interesse, em separar-se de sua obra. Os clichês habituais
sobre a poesia feminina, por exemplo, que falam do desnudamento da poeta
através de seus versos , da alma que se revela na escrita, etc, sugerem que o
véu que protege a intimidade de uma artista é bem mais transparente do que
aquele que separa um homem criativo da obra criada.
Claro que os véus faziam
sentido na obra das autoras das primeiras s gerações, quando ainda era
condenável que uma mulher assinasse publicamente seu nome. Mas eram véus muito
frágeis, que foram dispensados logo que o preconceito que condenava as mulheres
ao silêncio se dissolveu. Uma ou duas gerações separam por exemplo a poesia
atrevida de Ana Cristina Cesar da delicada Cecília Meireles. Em um debate
universitário, no Rio de Janeiro, na década de 70, alguém na platéia teria
criticado justamente a aparente ausência de véus na poesia de Ana C., que fala
de "coceiras no hímen" e nomeia insistentemente, sem eufemismos, o
desejo de uma mulher (a autora? a personagem literária que ela criou?). A
debatedora cobrava "mais feminilidade" na poesia de Ana Cristina,
usando como referência positiva os versos mais delicados de Cecília Meireles,
onde as metáforas são a brisa, a flor, as estrelas. Ao que Ana C. teria
prontamente respondido: "mas Cecília é homem!" [5]
É possível que, no que se
refere à falta de pudor de diversas artistas contemporâneas, o diferencial seja
realmente a mínima diferença irredutível entre homens e mulheres: a relação de
uns e outras com a castração e a inevitável angústia em confrontá-la. A
diferença entre o homem que se subjetiva pelo evitamento da realização de uma
fantasia de castração, e a mulher que parte da constatação de um fato consumado.
A diferença entre as defesas de quem se supõe capaz de evitar uma perda (já
ocorrida...) e as da subjetividade que se inaugura como não tendo "nada a
perder [6]
". É compreensível que um homem saiba o ponto onde se deter, diante da
angústia - o mesmo ponto a partir do qual uma mulher, ancorada na inveja
(palavra feia que nos envergonha, pois sugere o pior dos pecados capitais; mas
que também pode ser entendida no sentido da ambição) tenta sempre ir um pouco
além.
Estas observações
psicanalíticas, no entanto, só fazem sentido na presente discussão se
entendermos que a dialética fálico/castrado de que a psicanálise se serve para
pensar a diferença sexual é indissociável da dialética entre o público e o
privado. É a representação pública da masculinidade, e a potência de que um
homem dispõe no espaço público, que lhe confirma a ilusão de falicidade, ainda
que imaginariamente ela se apoie sobre a posse de um pênis. É a insignificância
pública das mulheres que faz valer a ilusão de sua "mais-castração",
ainda que a ausência do pênis contribua para consolidar esta fantasia. Foi em
razão da insignificância, da impotência milenar das mulheres no espaço público,
que Freud veio a observar a confusão fantasmática de suas histéricas, que
superpunham demanda de falo e demanda de pênis, e cujo único consolo era a
conquista do falo/filho que as condenavam à dependência absoluta de fazer-se
amar, ou pelo menos desejar, por um homem.
Assim, estas mulheres que
expõem e assinam suas obras superam, ao inscrever seus nomes no campo do Outro,
(nomes de mulher com sobrenomes herdados de homens, pais ou maridos...) o
imaginário infantil que sustentava a dialética do falo e da castração. Ao mesmo
tempo, formadas na tradição da privacidade e da domesticidade, destemidas
diante da inscrição indelével de uma perda que já se realizou, talvez não se
preocupem muito em evitar a exposição de sua intimidade em público. Talvez não
tenham tanto a perder; talvez não saibam como fazer. Nas obras de arte criadas
por mulheres, a feminilidade revela seu peso. Como no poema de Liana Timm:
Onde estamos?/ Em Qual?/
Em Jamais?/ Em Nunca Mais?// Estamos em Ferida.// Aberta, há mais de muitos
anos./ Com pás, enxadas e uma vasta gama/ De suores e traçados/ Labirintos.//
Estamos nunca prontos./ Há a casa e seus internos. Eternos./ Há a rua e seus
externos/ Há o mundo. Atrás do olho.//
Vou vazar teu olho./ E
remexer no estado natural da tua fala./ Nesse desejo tateante fora dos gestos./
Na pele./ Dessas formas envolventes./ Nesses meios./ Teus lençóis com
cicatrizes/ vão gelando a noite e meus cabelos crescem / nessa trança
salva-vidas. Aí me atiro em Ícaro./ E no tapete vou.// Buscar.
Leveza? Onde?
O campo da arte interroga
a psicanálise, desloca nossas certezas, nos obriga sempre a repensar a teoria -
como escreve Jaime Betts, é importante que as questões que a obra de arte
suscitam possam permanecer em aberto. Assim, encerro este prefácio afirmando
que, diante da arte, seja ela obra de homem ou de mulher, todas as nossas
certezas a respeito da mínima diferença que é condição do desejo sexual caem
por terra. Deixemos que os artistas continuem a falar disso e a nos fazer rever
a teoria. Mas saibamos também que a melhor interpretação para uma obra de arte
nunca se dá no campo da teoria; a melhor interpretação para uma obra de arte há
de vir, sempre, de outra obra de arte.
[1] - Citado em: Picasso
Sculptéur, catálogo da exposição de mesmo nome no museu Beaubourg, Paris, 2000.
[2] - Idem.
[3] - Ana Cecília de
Carvalho, "Pulsão e sublimação: os limites da simbolização" em:
Giovanna Bartucci (org.) Psicanálise, literatura e estéticas de subjetivação.
Rio de Janeiro, Imago, 2000.
[4] - Em: Camille Claudel.
Curadoria Reine-Marie Paris de la Chapelle. Secretaria do Estado e da Cultura
do governo do estado de São Paulo, 1997.
[5] - Episódio relatado em
conversa particular pelo poeta Armando Freitas Filho.[6] - Ver Maria Rita Kehl,
"A mínima diferença" em: Kehl, mínima diferença - o masculino e o
feminino na cultura Rio de Janeiro, Imago, 1996.
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