terça-feira, janeiro 04, 2011

APRENDENDO SOBRE BION


Franciele do Amaral Melo



Marli Pereira da Luz
Acadêmicas do Curso de Psicologia da UNIVESC




BREVE HISTÓRICO:



Wilfred Ruprecht Bion nasceu dia 8 de dezembro de 1897, em Mutra Punjab, Índia. Faleceu na Inglaterra em 1979. Alistou-se no exercito inglês por ocasião da primeira grande-guerra, onde permaneceu por dois anos recebendo altas condecorações. Durante a segunda guerra casou-se com a atriz Betty Jardine, que morreu quando a sua filha nasceu em 1945. Após o falecimento da esposa Bion se casou, pela segunda vez, com Francesca. Desta união nasceram dois filhos. Francesca influenciou sua carreira e lhe acompanhou até o fim de seus dias.

INICIO DA CARREIRA COMO PSICANALISTA

Em vários momentos de sua obra Bion foi influenciado pelos princípios filosóficos de Kant. Esses princípios se mostram, principalmente, nos conceitos de valorização da relação humana, ética, e a relação médico/paciente.



Bion se interessa pela psicanálise quando faz análise com Rickman, que foi analisando de Freud. Após fazer sua formação analítica com Melanie Klein, Bion se torna seu mais importante discípulo.



Nos anos 60, efetua uma revisão filosófica do texto freudiano fundamentando-a, ao mesmo tempo em Kant e Klein. Nesta revisão, divide o aparelho psíquico em duas funções mentais: Alfa e a Beta. Assim denominadas para evitar a acumulação de significados que um nome específico traria consigo.

Alfa é definida como investigação que se ocupa do pensar: do pensamento e da aprendizagem pela experiência emocional. Os elementos Alfa seriam os precursores da memória que teriam uma grande capacidade de articulação. Quando a função Alfa, entre a mãe e o bebê, fracassa, o aparelho psíquico não fabrica elementos Alfa. Não metabolizando as experiências emocionais.



Com esse fracasso, os elementos Betas que são os facilitadores da identificação projetiva, não produzem sonhos e não são transformados em elementos Alfa.



Mas suas reflexões não tiveram boa repercussão na Sociedade britânica. No ano de 1968, Bion juntamente com sua família foi se instalar na Califórnia.


TEORIAS DESENVOLVIDAS POR BION


Parte Psicótica da Personalidade 
Bion designa a PPP não como uma questão psiquiátrica, mas como um modo de funcionamento mental coexistente a outros tantos. Assim todo o paciente psicótico tem uma parte neurótica em sua personalidade, os neuróticos também têm uma parte psicótica oculta.

As características básicas que estão presentes na PPP são:

- Fortes pulsões destrutivas com predomínio da inveja e da voracidade.

- Baixa tolerância as frustrações, no lugar de modificá-las.

- As relações interpessoais mais intimas são caracterizadas pelo vinculo sadomasoquista.

- Uso excessivo de dissociações e identificações projetivas patológicas.

- Uso excessivo de projeções, sentimentos e pensamentos persecutórios.

- Grande ódio à realidade interna e externa, com preferência pelo mundo das ilusões.

- Ataque aos vínculos de percepção e aos de juízos críticos, resultando num prejuízo do pensamento verbal, da formação de símbolos e do uso da linguagem.

- A onipotência, a onisciência e a imitação substituem o processo de aprender com experiência. O orgulho dá lugar à arrogância, o desconhecimento leva á estupidez e a curiosidade se transforma em intrusividade.

- A pouca capacidade de descriminação leva a uma confusão entre o verdadeiro e o falso, tanto do próprio self como do que está fora.

- Fuga á verdade, prevalecendo à negação através de distorções. Camuflagens, omissões ou mentiras deliberadas.


A Teoria do Conhecimento

Bion em sua prática clínica chegou à conclusão de que os pensamentos não existem sem as emoções, e que é necessário que exista na mente uma função que construa o sentido das experiências emocionai. Essa função ele denominou de vinculo K: o conhecimento. Uma criança pode tanto aprender a tolerar como modificar a realidade com a atividade do pensar e do conhecer.

No que se refere ao vinculo mãe/bebê, Bion enfatiza a criação do vinculo primário que é a REBIERE materna.

No desenvolvimento do vínculo do conhecimento surgem três possibilidades:

1- Se a capacidade de RÊVERIE da mãe for adequada e suficiente, a criança terá condições de fazer uma aprendizagem com as experiências positivas e negativas vividas, impostas pelas privações e frustrações. A criança, nesse caso, desenvolve uma função K que possibilita enfrentar novos desafios em um círculo benéfico de aprender com a experiência, à medida que introjeta a função K da mãe.

2- Caso contrário, se a capacidade de RÊVERIE da mãe para conter a angústia da criança não for suficiente, as projeções que tenta depositar na mãe são obrigadas a retornar a ela sob a forma de um “terror sem nome”, o qual gera mais angústia e mais ódio.

3- No lugar de K forma-se um vínculo – K, ou um não K, que são os casos mais extremos em que a mãe externa não contém e não dá significado, sentido e nome às identificações projetivas do bebê.

É importante salientar que a função K não se refere somente à posse de um conhecimento ou saber, mas sim a um enfrentamento do “não saber”. Assim, o saber será o resultado da tarefa do descobrimento e do aprendizado com as experiências da vida: as boas e as más.

A função do conhecimento está intimamente ligada à da formação de símbolos, sendo esses que permitem uma evolução da criança à condição de poder conceituar, generalizar e abstrair, expandindo o seu pensar e o seu conhecer.

Para Bion, uma teoria é um produto de um processo de pensar e, simultaneamente, é uma pré-concepção que espera realizações que se aproximem dela. A pré-concepção é análoga ao pensamento vazio kantiano. A concepção é a junção de uma pré-concepção com uma realização e o pensamento surge da união de uma pré-concepção com uma frustração. Os conceitos têm nome, são concepções ou pensamentos firmados.


Memória e Desejo 
Bion trás a sua conhecida proposta de “sem memória sem desejo” ancorada em vários pressupostos. Diz que como registradora dos fatos acontecidos, a memória pode ser enganadora, pois é distorcida pela influência de forças inconscientes e os desejos interferem na operação do julgar, pela ausência de mente onde ao mais importante é a observação, já que os desejos distorcem o julgamento suprimindo o material a ser julgado.


Para Bion a sessão de psicanálise não deve ter historia nem futuro, a única importância para ele na sessão é o desconhecido. Ainda trás como sugestão para o psicanalista que não traga a memória às questões abordadas nas sessões anteriores priorizando uma melhor concentração do que esta acontecendo na sessão corrente.

Em relação ao desejo Bion, diz que o psicanalista não deve apresentar desejo de fim da terapia, da semana ou do ano, assim como desejos de resultados, de “cura” ou mesmo de compreensão.

Agindo desta forma o psicanalista terá no inicio muita ansiedade, mas que com o passar do tempo adquirirá a certeza de que cada sessão se completa por si própria.

Bion em sua visão de tratamento pontua que não se deve polemizar com o paciente e nem contrapor a sua verdade com a do analista e sim abrir novos caminhos para visualizar um fato em comum, porque através disso ele possibilita o paciente a refletir.

Com relação ao setting analítico, ele nos dá a entender que não se refere somente a horários, espaço físico e honorário, mas a um “campo analítico”, onde analista e paciente vão interagir, influenciando e sendo influenciado um pelo outro. Podendo assim a encontrar novas soluções.

Bion atribui importância relevante a dor psíquica, pois através do fato de sentir dor e, é necessário sofrê-la, poderá crescer com a experiência. Todo processo de mudança de um individuo no processo de análise, sempre virá acompanhada de dor e sofrimento, sendo que o mesmo pode fugir da dor ou enfentá-la, sendo que este ultimo caminho é o que trás a transformação.

Para Bion um paciente está em condições de terminar sua análise quando adquiriu uma função psicanalítica, ou seja, longe fisicamente de seu analista consegue dialogar com suas diversas “partes”. Segundo a psicanálise não deveria ficar só nos consultórios, pois é uma prática de vida. Por isso que não existe uma crise da psicanálise, pois a função analítica é inerente ao ser humano e enquanto existir o homem existirá a psicanálise.


REFERENCIAS



Instituto WILFRED BION, fundado em 1992
Formação em Psicoterapia Psicanalista.
Jardim Botânico. Porto Alegre.

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