quarta-feira, novembro 26, 2014

Questões sobre a Pós-Modernidade



Entre  0 e o 1
Questões sobre a Pós-Modernidade

Gustavo Capobianco Volaco



Se Deus está morto, tudo é permitido
Fiódor Dostoiévski

Não é ilógico pensar que o mundo é infinito
Jorge Luiz Borges




Já se tornou lugar comum afirmar que nossa contemporaneidade é marcada pela falência do que outrora fazia norma, vale dizer, o lugar do pai. Assim, o psicanalista francês Charles Melman, em entrevista a Jean Pierre-Lebrun, que virou livro, afirma, com todas as letras, que aquilo que caracteriza nossos dias é o “declínio da figura paterna” (MELMAN, 2003, p. 80) pois “não há mais nem autoridade, nem referência, menos ainda saber que se sustente” (Idem, Ibidem). A consequência, pensa Melman, dessa figura “anacrônica” (Idem, Ibidem ), já que fora de um tempo, é a produção de um “homem liberal, [...] sem gravidade”(Idem, p. 96) que não tem mais onde calcar seus pés, se re-calcar e, exatamente por isso, o que testemunharíamos seria uma atopia generalizada, um no man’s land produto de uma sociedade onde “o pai não é mais necessário” (Idem, p. 80).

Sustentando a mesma perspectiva, Jean Pierre Lebrun, antigo presidente da Association Freudienne Internationale e que acabamos de evocar, afirma que estamos testemunhando “o declínio da identidade do pai” (LEBRUN, 2004, p. 15) e “vários problemas contemporâneos parecem se originar nessa dinâmica, ou seja na erosão – se não for a desaparição – daquilo que constitui eixo de referência” (Idem, p. 17). A contrapartida dessa abolição seria a aparição de uma série infinita, sem barreira e sem pontos de arrimo que produziria uma “sociedade (que) se quer sem limite” (Idem, p.162) e constitui nela um sujeito que não sabe de onde vem, nem para onde vai, imerso como está num campo que é chamado, por outro psicanalista de “mundo desbussolado”(FORBES, 2005, p. 07).

Nesse percurso encontramo-nos com Danny Robert-Dufour, filósofo e professor da Universidade de paris VIII, e eis que sob sua pena, num excelente livro intitulado A Arte de Reduzir as Cabeças lemos que chegamos a uma época que vê, no sentido de presença, “a dissolução, até mesmo o desaparecimento das forças nas quais a “modernidade clássica” se apoiava” (DUFOUR, 2005, p. 25), e por isso estamos frente a um desconjuntamento daquilo que outrora fazia regra, já que sua função era baseada “no princípio unificador [...] à parte, em torno do qual se organizava o restante dos sujeitos”(Idem, p. 30). Uma vez mais, o leitor terá notado, que aquilo que Dufour aponta, em comunhão com Melman e Lebrun nada mais é que a derrocada desse lugar princeps e, consequentemente, o desnorteamento do próprio sujeito pois, como se organizar se a norma desapareceu.

E já que falamos em conjunto não nos custa acrescentar mais um elemento a ele, desta vez um antropólogo, catedrático de La Sapienza, em Roma. O que escreve ele acerca deste tempo chamado desde Lyotard de “pós-moderno” (LYOTARD, 2004, p. 32)? Vejamos: Máximo Canevacci, pois é esse seu nome, nos diz que toda “facticidade reificada” (CANEVACCI, 2012, p. 288) desapareceu e o trono, agora, está vazio. Por isso não é “mais possível definir aquilo que é um dos sentidos, um sentido uno” (Idem, p. 125) e dessa forma o que enfrentamos hoje são “multiperspectivas flutuantes” (Idem, p. 175) que não desembocam, como supostamente em outros tempos, nesse uni-verso que se cantava pelos quatro cantos do mundo embalando seus movimentos.

É interessante notar que todos eles acusam o mesmo golpe, digamos, já enunciado por Lacan em 1938 num artigo encomendado para a Encyclopédie Française como “declínio da imago paterna” (LACAN, 1981, p. 72). Mas os últimos dois nos possibilitam um certo deslocamento daquilo que faz figura a uma função estritamente lógica que é a que podemos depurar à partir da problemática do número 1. Já podemos encontrá-la nos escritos de Lacan, por exemplo, quando lança mão da chamada metáfora paterna e que produz, depois de sua operação, esse 1 que é unificador por excelência e produtor de sentido, de um sentido marcado pela bedeutung fálica



Mas será um pouco mais tarde, 33 anos para ser exato, que essa função se decantará, particularmente sobre um texto do matemático Johan Gottlob Frege intitulado Os Fundamentos da Aritimética onde acompanhamos a derivação do 1 à partir do 0, ou melhor, em sua relação com aquilo que marca um vazio. Diz Lacan em 1971: “Não há existência senão contra um fundo de inexistência e, inversamente, ex-sistere é extrair a própria sustentação somente de um exterior que não existe” (LACAN, 2012, p. 131) e o 1 nada mais é que a bejahung, traduzido frequentemente para o português como afirmação, como um “dizer sim” (HANNS, 1996, p. 47 ). E é aqui que mora o problema: tudo o que se afirma cai sob o número 1. Para pensarmos qualquer existência precisamos afirmá-la antes de mais nada e o 1 serve exatamente para isso. É preciso, antes de tudo, inscrever o 1, inventá-lo, criá-lo, originá-lo sempre em relação a esse “fundo de indeterminação” (LACAN, 2012, p. 125) o que fará Lacan escreve-lo da seguinte maneira: “Há Um (Yad’lun)” (Idem, p. 123), vale dizer, existe e, portanto, 1.

Isso tudo nos faz pensar se haveria mesmo a possibilidade de que esse Um fosse liquidado e se com ela, com essa liquidação, não teríamos, inevitavelmente, uma extinção completa do que chamamos de ser-humano. Ou pelo contrário, estaríamos vivendo numa época em que o “mito” (LACAN, 2012, p. 35) desse Um foi descortinado e ao o olharmos de frente ficou-nos difícil reconhecer-lhe qualquer hegemonia? De outra maneira: nossa época não estaria entre o 0 e o 1, “entre o centro e a ausência” (Idem, p. 117)?  Para situarmos isso parece-nos interessante evocar Michel Foucault e sua perspectiva de múltiplas genealogias que operam desde sempre e por vezes e com muito esforço, se coagulam num único ponto.

Foucault é peremptório: “não existe ponto absoluto” (FOUCAULT, 2004, p. 221) à priori. E a unicidade almejada, o tão sonhado no início Criou Deus o céu e a terra é efeito de uma tentativa de organizar “elementos instáveis ou perturbadores” (Idem, p. 195) que não seguem a lógica aristotélica, produzindo, em algum momento, a necessidade de “uma intervenção uniforme” (Idem, ibidem), de uma intervenção uniformizante que visa “assegurar a ordem”(Idem, p. 197) naquilo que antes de mais nada é múltiplo e equivocante.  Assim, no início, se inquirimos a genealogia do que quer que seja, o que encontramos é “um sistema complexo de elementos múltiplos, distintos, e que nenhum poder de síntese domina” (Idem, Ibidem). Isto é, se percorremos o caminho de volta “o que se encontra no começo histórico das coisas não é a identidade ainda preservada da origem – é a discórdia entre as coisas, é o disparate” (Idem, p. 18) e que representamos assim:



De um enxame, essain, sai um S1*

O que constatamos à partir de Foucault? O mesmo que em Lacan: há, exatamente, porque não há. 1 porque 0. Que antes de haver esse princípio unificador, de um pai que nos teria criado, nas origens há uma algaravia que tentamos marcar com o significante 0, um impredicável ou um, se o leitor prefere “enumerável” (LACAN, 2012, p. 145). E não é essa algaravia que hoje está evidente, ou seja, que de muitos se faz um e mais: esse um só, se o faz e por um breve instante essa lógica que abre espaço para uma pluralidade sem fim? Não passamos de essain ao S1 e novamente ao essain? O que caiu não foi exatamente a ilusão de uma “causalidade universal” (FOUCAULT, 2010, p. 209) e estamos frente a uma polimorfia, polifonia, e/ou polissemia?

É aqui que entram algumas considerações do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e que nos parecem preciosas. O que diz ele? Utilizando a excelente metáfora da fluidez dos líquidos, escreve que são os “padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar” (BAUMAN, 2001, p. 14), ser conformes a, tomar a forma de, “que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta” (Idem, Ibidem). Mas, é bom que se frise, não porque tenham desaparecido da face da terra, mas, porque “eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram desprovidos de boa parte de seu poderes de coercitivamente compelir e restringir” (Idem, p. 36) e, assim que se erigem, tendem, inevitavelmente, a se liquifazerem. Portanto: essain, S1, S1, S1, S1, S1, essain.




Não estaria aqui, enfim, nesse encadeamento, a “mutação cultural” (MELMAN, 2003, p. 80) que estamos a perseguir? Não estamos frente “a polifonia das verdades” (LEBRUN, 2004, p. 151) sempre cambiantes e jamais derradeiras? Nosso mundo não é o “da porosidade dos limites” (CANEVACCI, 2008, p. 156) e, principalmente, “da incongruência das sequências” (DUFOUR, 2005, p. 157)? Nosso tempo não “permitiu que coexistissem autoridades em número tão grande que nenhuma poderia se manter por muito tempo e menos ainda atingir a posição de exclusividade” (BAUMAN, 2001, p. 76) e assim o 1 deixa de ser o centro para dar espaço ao infinito.

Portanto, se Bauman está certo, não é que 1 desapareceu, que foi liquidado ou derrocado. E nem poderia, pois como tentamos demonstrar à partir de algumas formulações lacanianas, “há Um” (LACAN, 2012, p. 36). O que acontece, hoje, é que ele não se sustenta por muito tempo. Tão logo surge 1 vários Outros se presentificam e aquilo que era de um poder pretensamente incomensurável se liquefaz a cada parada. Sendo assim, fica-nos a pergunta: se há o Um mas ele não se mostra mais todo e podemos olhar com muita facilidade para um Outro aspecto da existência, não passamos de uma lógica falocêntrica – que se lembre do resultado da metáfora paterna – para uma Outra que se se relaciona com ele, o excede? Não caímos em cheio na lógica dita da mulher, essa espécie de “Deus de duas faces” (MILLER, 1997, p. 09) chamado Janus?
Vejamos o seguinte esquema:



Temos, acima, dois quadrantes marcados por setas. À esquerda vemos o sujeito, o sujeito eminentemente “idiota” **(LACAN, 1985, p. 105) porque ritornélico e que para fazer relação, precisa enquadrar seu parceiro como objeto e formar, assim, o par conjuntivo-disjuntivo da sua “fantasia” (Idem, p. 108). O falo, o totem, como queria Freud em Totem und Tabu, está do seu lado mas, é bom que se note, está fora de seu alcance pois para existir e promover existência deve “ex” (LACAN, 1993, p. 18), no sentido de fora, “sistir”(Idem, Ibidem). Já à direita temos a mulher, marcada por esse A barrado que diz que falta um significante e que S1 é insuficiente para dizê-la totalmente e que, por essa razão, situa uma indefinição. Parte dela uma seta em direção ao ϕ, sempre incapaz de dar, a ela, qualquer espécie de existência que não seja parcial e, ao mesmo tempo, uma outra que toca o infinito, que toca o impossível de tudo dizer pois seu ponto, final, falta.

Resumidamente podemos dizer que aquilo que caracteriza o homem é muito simplesmente sua orientação dada pelo esquema ϕ(H). E essa era a lógica que preponderava até o advento da era moderna e que, “aos poucos” deu espaço para “uma sociedade altamente complexa e fragmentada” (JUNIOR, 2005, p. 27). Já a mulher, bífida por natureza o que temos é ϕ(M) S(A). Diz Lacan “se ele”, o ser falante, se inscreve na parte mulher, “não permitirá nenhuma universalidade, será não-todo (LACAN, 1993, p. 107) e, completamos, se o S1, significante mestre surge, por alguma razão, ei-la para desdizê-lo como concentrador de todas as verdades abrindo o campo para o enxame. Teríamos, aqui, a pós-modernidade!


 Pois não seria hoje, caro leitor, um tempo enfim dA Mulher? Não estamos a verificar antes da derrocada do pai uma espécie de entre Um e Outro que sempre fez ordem na mulher? Não conseguimos perceber hoje, aquilo que brilhantemente enxergou Foucault? O pai estaria mesmo morto ou o que verificamos é seu caráter “ubuesco” (FOUCAULT, 2010, p. 11), contraditório em essência e assim que alguma coisa tenta se edificar com sua coroa e seu cetro, rapidamente podemos denunciá-la como pantomima, ou melhor, como puro semblante, como, dissemos isso acima, significante da inexistência e necessariamente líquido? Eis-nos, parece, no campo próprio a mulher que diz que “não é verdade que a função fálica seja o” (LACAN, 2012, p. 99) fundamental, que não é verdade que tudo seja 1, que não é verdade que tudo tenha que ser circunscrito por ϕ ou que tudo tenha que ser totalizante e findável, seja no sentido de término ou no de finalidade. Em suma e para terminar, por hora: estaríamos no tempo do “tudo, mas isso não” (LACAN, 2007, p. 15). E a mulher, que “não existe” (LACAN, 1993, p. 51 ) não pára de se não inscrever. Se o que trabalhamos até aqui está certo, a famosa frase de Simone de Beauvoir, “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher” (BEAUVOIR, 2000, p. 65), precisaria ser modificada: hoje nascemos mulher. Independentemente do gênero nascemos não no tempo do 1, só e pleno, mas no tempo entre o 0, marca da inexistência e o 1, momento do que há. E é com isso que temos de nos virar!

NOTAS

Há aqui uma homofonia só possível em francês entre essain (enxame) e S1

** LACAN, Jacques. Mais, Ainda, livro 20. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, p. 105.

Bibliografia

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BAUMAN, Z. (2001). A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

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BORGES, J. L. (1972). A Biblioteca de Babel, in Ficções. Porto Alegre: Editôra Globo S.A.

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DUFOUR, D.-R. (2005). A Arte de Reduzir as Cabeças. Sobre a Nova Servidão na Sociedade Ultraliberal. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.

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 FOUCAULT, M. (1993) História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Editora Perspectiva S.A.

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________________.  (1985). História da Sexualidade, vol. 3, O Cuidado de Si. Rio de Janeiro: Graal.

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FREGE, J. G. (1989). Os Fundamentos da Aritmética, Uma Investigação Lógico-Matemática sobre o Conceito de Número. São Paulo: Nova Cultural.

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________________. (1992). O Avesso da Psicanálise, Livro  17. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

________________. (1985).  Mais, Ainda, livro 20. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

________________. (1988). Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, Livro 11. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

________________. (1993). Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

LEBRUN, J.-P. (2004). Um Mundo sem Limite, Ensaio para uma Clínica Psicanalítica do Social. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.

MELMAN, C. (2003). O Homem sem Gravidade, Gozar a Qualquer Preço. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.

________________. (2003) Novas Formas Clínicas no Início do Terceiro Milênio. Porto Alegre: CMC Editora.

MILLER, J.-A. (1997). Psicoterapia e Psicanálise, in Psicanálise e Psicoterapia. São Paulo: Papirus.


terça-feira, novembro 18, 2014

CURSO



PÓS-GRADUAÇÃO


DISCURSOS SOBRE A SEXUALIDADE

Psicanálise, Literatura e Filosofia




INICIO: 2015

LOCAL: FACVEST - FLORIANÓPOLIS-SC


COORDENAÇÃO: MARIA HOLTHAUSEN



PERIODICIDADE: MENSAL 

HORÁRIOS: SEXTA-FEIRA - 19:00 às 22:00 h

                     SÁBADO - 08:30 às 12:00 h
                                       13:30 às 17:30 h

CARGA HORÁRIO: 360h - 24 meses


INFORMAÇÕES: FACVEST - (48) 3371-0259

                          FACVEST/GISELY - (48) 9982-5282

                Maria Holthausen: (48) 9957-7654



O que pode haver de comum entre a atitude do ciumento Bartolo - personagem da opera “O Barbeiro de Sevilha”, que guarda sua amada Rosina confinada para poder desfrutá-la mais tarde – e a atitude de um jovem que, nos dias de hoje, droga-se para procrastinar a ejaculação e, assim, assegurar a continuidade da excitação?

No que o Don Juan retratado por Mozart em sua ópera Don Giovanni é assim tão distinto da fugacidade das relações em tempos pós-modernos? 
Que relação pode haver entre a exortação econômica ao consumo - especialmente daquilo que está em liquidação - e as diferentes formas de controle sexual, desde aquelas exercidas pelo Estado até os rituais obsessivos compartilhados pelos amantes?

Trata-se de questões instigantes, das quais se ocuparam os mais diversos discursos. Não somente na ciência e na religião, também na arte, na literatura e na filosofia, foram produzidos muitas reflexões com o objetivo de elevar o entendimento sobre a sexualidade mais além do moralismo e da dominação ideológica. Como os diferentes discursos sobre a sexualidade podem refletir e refletir-se em nossa vida em particular?

A polifonia em torno do significante “sexo” não autoriza mais os discursos dogmáticos proferidos cada qual a partir de um saber específico. Já não se pode mais interpretar a sexualidade humana como efeito exclusivo da verdade, da moral, da pulsão, do desejo, do gozo, do biopoder, do erotismo... Mas todos estes temas contribuem para que os discursos sobre a sexualidade comuniquem entre si contextos e práticas aparentemente desconectadas, como o discurso privado de cada qual como paciente, as ficções literárias e as reflexões políticas.

Especular sobre o comércio e interface entre os dizeres sexuais produzidos nos espaços clínicos, literários e políticos é a intenção maior deste curso. A partir de dinâmicas grupais e estudos dirigidos de textos, propomos uma discussão sobre algumas das principais referenciais no assunto.

Mais do que um curso teórico, trata-se de um curso de desenvolvimento pessoal A partir de dinâmicas grupais e vivências terapêuticas, abordaremos os mais representativos discursos literários, psicanalíticos e filosóficos, tais como os de Freud, Lacan, Foucault, Merleau-Ponty, Clarice Lispector, Octávio Paz, Georges Bataille que tratam sobre a problemática da vivência sexual do indivíduo: sedução, ciúme, traição, disfunções e outros mais.


              


A CLÍNICA HOJE: OS NOVOS SINTOMAS

  (O) Curso Livre (da) Formação chega ao 23º Módulo abordando o tema   “A clínica hoje: Os novos sintomas” e acontece nos dias 01 e 02 de m...