sábado, janeiro 07, 2023

JACQUES LACAN - SEMINÁRIO DE 1976-1977

 


                          



L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre  





O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte 

Seminário de 1976-1977
Jacques Lacan

Aula 1
16 de Novembro de 1976

     Aí está! Há um cartaz como este aqui que professa... Vocês souberam lê- lo? Como isso se dá para vocês? O in-sabido que sabe, isso ainda faz blábláblá, isso equivoca. O in-sabido que sabe, e depois eu traduzi o Unbewußt.

     Eu disse que havia – no sentido do uso em francês do partitivo – que havia d-um tropeço. É uma maneira tão boa de traduzir o Unbewußt quanto qualquer outra, como o inconsciente em particular, que em francês etambémem alemão, se equivoca com inconsciência.

      O inconsciente não tem nada a ver com a inconsciência. Assim, por que não traduzir tranquilamente por o in-sabido? Sobretudo porque tem de imediato a vantagem de destacar certas coisas: porque nos obrigamos à análise dos sonhos que constituem um erro como qualquer outro, como um ato falho, exceto que há algo aí em que nos reconhecemos. Nós nos reconhecemos no dito espirituoso porque no dito espirituoso há um apego ao que chamei lalíngua, nos reconhecemos no dito espirituoso, escorregamos nele... e sobre isso Freud fez algumas considerações que não são negligenciáveis. Quero dizer que o interesse do dito espirituoso para o inconsciente está mesmo assim ligado a essa coisa específica que envolve a aquisição da lalíngua.

      De resto, devemos dizer que para a análise de um sonho devemos nos ater ao que aconteceu no dia anterior? Não é bem assim. Freud fez disso uma regra, mas seria ainda apropriado perceber que há muitas coisas que, não só podem ir mais longe, mas que dependem do que podemos chamar de o próprio tecido do inconsciente.

      O ato falho também é uma questão que deve ser analisada de perto em função do que se passou, não no dia anterior, mas desta vez durante o dia. É verdadeiramente algo que levanta questões.

      Este ano, digamos que com este o in-sabido que sabe d-um tropeço, tentei introduzir alguma coisa que vai mais além, vai mais além do inconsciente: que relação há entre isto, que devemos admitir, que temos um interior que, chamamos como podemos... psiquismo, por exemplo – vemos até Freud escrever endo, endo-psíquico, não é óbvio que a ψυχή (Psykhé) seja endo, não é óbvio que este endo deva ser endossado – que relação existe entre esse endo, esse interior, e o que correntemente chamamos de identificação?

       Em suma, é isso que, sob este título que é assim fabricado para a ocasião, é isso que eu gostaria de colocar sob este título.

      Porque...é claro que a identificação é o que se cristaliza em uma identidade. Além disso, essa ficação – fication -, em francês, é enunciada em alemão de outra forma, Identifizierungdiz Freud, em um lugar onde fui procurá- la, porque não me lembrava de ter feito um seminário sobre a Identifizierung... eu não me lembrava, lembrava-me de que havia me dedicado a um capítulo, eu não sabia que lhe havia consagrado um ano... mas me lembrei que existe para Freud, pelo menos, três modos de identificação, à saber:

- A identificação à qual ele reserva - não sei bem por que - a qualificação de amor. Amor, é a qualificação que ele dá à identificação com o pai.

- Por outro lado, o que é que ele adianta de uma identificação feita de participação? Ele chama isso, ele atribui isso à identificação histérica.

- E depois tem uma terceira identificação que é aquela que ele fabrica com um traço, um traço que eu de outra feita... eu tinha guardado uma recordação dele, sem saber que tinha feito todo um seminário sobre a identificação...com um traço que chamei de unário.

     Esse traço unário nos interessa porque - como sublinha Freud - não é algo que tenha a ver especialmente com uma pessoa amada. Uma pessoa pode ser indiferente e um traço unário é escolhido como constituindo a base de uma identificação. Isso não é algo indiferente, pois é assim que Freud acredita poder dar conta da identificação com o bigodinho do Führer, que todos sabem que teve um grande papel na jogada.

    Essa é uma questão de bastante interesse porque dela resultaria certas proposições que foram feitas onde o fim da análise seria o de identificar-se com o analista. Para mim, penso que não, mas de qualquer forma é o que a Balint sustenta, e é muito surpreendente.

     Com o que nos identificamos no final da análise? Será que nos identificaríamos com nosso inconsciente? Eu não creio nisso.

     Eu não creio nisso, porque o inconsciente permanece...eu digo permanece, não digo permanece eternamente, já que não há nenhuma eternidade... resta o Outro. É o Outro com O maiúsculo que está em jogo no inconsciente.

     Não vejo que se possa dar um sentido ao inconsciente, senão situá-lo nesse Outro, portador de significantes, aquele que puxa as cordas do que é chamado imprudentemente... imprudentemente porque é aí que surge a questão do que é o sujeito a partir do momento em que depende tão inteiramente do Outro.

    Então, em que consiste essa situação que é a análise? Seria ou não seria identificar-se... identificar-se tomando as suas garantias, uma espécie de distanciamento... identificar-se com o seu syntoma?

    Propus que o sintoma, isso pode ser – é lucrativo, é comum – pode ser o parceiro sexual. Isso está de acordo com o que eu disse...com o que eu proferi sem fazer vocês vociferarem muito...é fato, eu disse que o sintoma, tomado nesse sentido é – para usar o termo conhecer – é o que a gente conhece, é até mesmo o que a gente conhece melhor, isso sem ir muito longe.

     Conhecer tem estritamente este sentido. É a única forma de conhecimento no sentido do que se propôs como suficienteque basta um homem dormir com uma mulher para dizer que a conhece, ou vice e versa. Como, apesar dos meus esforços, o fato é que não sou mulher, não sei o que uma mulher sabe sobre um homem.

    de que bastaria que um homem dormisse com uma mulher para que se dissesse que ele a conhece, ou inversamente. Como – malgrado meu esforço – é um fato que eu não sou uma mulher, eu não sei o que uma mulher conhece de um homem.

    É muito possível que isso vá muito longe. Masmesmo assimnão até o ponto de que uma mulher crie o homem.
    Mesmo quando se trata de seus filhos, é alguma coisa que se apresenta como um parasitismo. No útero da mulher, a criança é um parasita, e tudo o indica, inclusive o fato de que as coisas podem ir muito mal entre este parasita e este 
ventre. Assim, o que quer dizer conhecer?

Conhecer quer dizer:

– saber fazer com seu sintoma,
– saber como desvencilhar-se com ele, – saber como manipulá-lo.

    Saber, isso é algo que corresponde ao que o homem faz com sua imagem, é imaginar a maneira como se desvencilha com esse sintoma. Trata-se aqui, é claro, de narcisismo secundário, o narcisismo radical, o narcisismo que é chamado de primário nesta ocasião está excluído.

     Saber e fazer com seu sintoma é o fim da análise. É preciso reconhecer que isso é pouco. Isso verdadeiramente não vai longe. Como isso se pratica, é, bem claro, aquilo que me esforço para veicular diante dessa multidão, não sei dizer com que resultado. Eu embarquei nessa canoa, assim, porque basicamente fui provocado a isso. É o que resulta do que foi publicado por não sei qual série especial da Ornicar? sobre a cisão de 53. Seguramente eu teria sido muito mais discreto se a cisão de 53 não tivesse ocorrido.

      A metáfora em uso para o que se chama de acesso ao real é o que se designa de "o modelo". Há um homem nomeado Kelvin que se interessou muito por isso - Lorde, como ele se chamava: Lorde Kelvin - ele considerava que a ciência era algo onde funcionava um modelo, e que permitia o uso desse modelo para prever quais seriam os resultados do funcionamento do real.

     Recorre-se, portanto, ao imaginário para se fazer uma ideia do real. Então escrevam se fazer - se fazer uma ideia, eu disse - escrevam esfera para saber bem o que quer dizer o imaginário.

      O que propus no meu nó borromeano do Imaginário, do Simbólico e do Real, me conduziu a distinguir essas três esferas e, em seguida, reconectá-las. Então eu tive que partir dessas três bolas... aí estão as datas: enunciei O Simbólico, o Imaginário e o Real em 1954, intitulei uma conferência inaugural com esses três nomes, que, em suma se tornaram para mim o que Frege chama de nomes próprios.

    Fundar um nome próprio, é uma coisa que eleva um pouco o seu próprio nome: em tudo isso o único nome próprio é o meu. A extensão de Lacan ao Simbólico, ao Imaginário e ao Real é o que permite a esses três termos consistir, e não estou especialmente orgulhoso disso.

    Mas eu percebi, depois de tudo, que consistir queria dizer algo, à saber, que era preciso falar do corpo, que existe:

– um corpo do imaginário,
– um corpo do Simbólico, que é lalíngua,
– e um corpo do Real do qual não sabemos como ele sai.

    Não é simples, não que a complicação venha de mim, mas ela está aí mesmo. É porque eu fui - como diz o outro - confrontado com a ideia que suporta o inconsciente de Freud, que eu tentei, não responder, mas responder de maneira sensata, quer dizer, não imaginando que essa avisão... o que Freud estava avisado, é isso que quero dizer...que essa avisão concerne a algo que estaria no interior de cada um, de cada um daqueles que fazem multidão e que creem que fazem, portanto, uma unidade.

     Se traduziu esta noção de multidão que é o bem quer dizer Massenpsychologie, se a traduziu por Psicologia Coletiva e Análise do Eu. Nada aí funciona. Ainda que Freud tenha partido expressamente do que Gustave Lebon chamou nomeadamente de Psicologia das Multidões, se o traduziu por Psicologia Coletiva... uma coleção... uma coleção de pérolas, sem dúvida, cada uma sendo única.

     Ao passo que o que está em jogo é dar conta da existência - a existência, nessa multidão - de algo que qualifica como eu. O que poderia ser esse eu? Isso é o que vou tentar explicar para vocês, tentei imaginar este ano o uso do que é chamado uma topologia.

    Uma topologia... como vocês serão capazes de compreendê-lo apenas abrindo qualquer coisa que se chama Topologia Geral... uma topologia, isso é sempre baseado em um toro:


                                         

                                                                  


                   Mesmo que este toro seja na ocasião uma garrafa de Klein:

                                                              


                                           


                                                                   

             Porque uma garrafa de Klein é um toro, um toro atravessa a si mesmo.


                                                  
     


                                                                            →


      Já falei sobre isso há muito tempo.

       Aí está. Aqui, você vê que neste toro há algo que representa um interior absoluto, quando se está no vazio, na cavidade que pode constituir um toro. Este toro pode ser uma corda, sem dúvida, mas uma corda que se torce nela mesma, e há algo que é desenhável como o interior dessa corda. Nesse sentido, você só precisa implantar o que se enuncia como nó em uma literatura especial.

         Então, há evidentemente duas coisas, duas espécies de furos:


                                    



      O furo que se abre para o que se chama exterior (E), que põe em questão do que se trata em termos de espaço.

      O espaço passa por extenso quando se trata de Descartes.

     Mas o corpo nos fornece a ideia de uma outra espécie de espaço. Esse toro em questão, isso não parece ser imediatamente o que se chama corpo. Mas você verão que basta lhe revirar... não como se revira uma esfera, porque um toro é revirado de uma maneira completamente diferente. Se aqui, por exemplo, me ponho a imaginar que é uma esfera que está no interior de outra esfera:


                                



      Eu não obtenho nada parecido ao que vou tentar fazer vocês sentirem agora.

     Se eu fizer um furo na outra esfera, essa esfera sairá como um sino... mas é um toro, é um toro, o que quer dizer que vai se comportar de outra maneira.

     Tudo o que vocês tem que fazer é pegar uma simples câmara de ar, uma câmara de ar de um pneu pequeno, assim vocês podem colocar à prova, então vocês verão que o pneu se presta a isto... vocês veem o quanto eu peno para o manipular... se presta dessa maneira ao deslizamento, se assim posso dizer, no que se lhe oferece uma saída, o corte, o corte que praticamos aqui, e que se eu continuasse: supondo que o corte venha aqui virar, ser invertido, se assim se pode dizer... o que vocês vão obter é o que é diferente – diferente na aparência – do toro.

    Porque é bem e verdadeiramente um toro, embora visto, desta vez, em corte, é bem e verdadeiramente um toro exatamente como se tivéssemos cortado aqui o toro em questão. Eu penso que não lhes escapa que podemos virar isso até fecharmos o furo que fizemos no toro:


                          




           É bem e verdadeiramente a seguinte figura que obtemos:

                                     

                                            


     O consentimento de vocês não indica que isso os deslumbre, se assim posso dizer. Porém isso é bastante sensível. Basta experimentá-lo.

     Aqui vocês tem 2 toros, um dos quais representa o que ocorreu, enquanto o outro é o original:


   
                  
 

                                                                                         original

       Se vocês, em um desses toros acoplados da mesma maneira - isso nos conduzirá a outra coisa - em um desses toros acoplados vocês praticam a manipulação que eu lhes expliquei aqui, à saber, se vocês fizerem um corte aqui:


                                                  


          Vocês obterão algo que se traduz assim:


                                     

 ou


           À saber, que os toros estando acoplados, vocês tem no interior de um desses toros outro toro, um toro que é da mesma espécie deste que eu desenhei aqui (em amarelo). O que se designa aqui é o que vocês podem ver bem, é que este primeiro toro (em azul) tem aqui no que eu chamo de seu interior, algo do toro revirado, que está exatamente em continuidade com o que resta do interior deste primeiro toro, este toro revirado no sentido de que doravante é seu interior o que passa ao exterior.

      Ao passo que para designar este (em amarelo) como sendo o que se revira sobre este outro aqui [em azul], nós percebemos que aquele que designei aqui (em amarelo) permaneceu - ele - inalterado, quer dizer, que tem o seu primeiro exterior... o seu exterior à medida que surge no circuito... ele tem o seu exterior sempre no mesmo lugar. Houve, portanto - em um deles - um reviramento.

    Eu penso que... embora essas coisas sejam muito incômodas, inibem a imaginação... penso que transmiti a vocês do que se trata na ocasião. Quero dizer, eu me fiz - espero - ouvir sobre o que se trata aqui. É bastante notável que o que está aqui não tenha - embora seja literalmente um toro - não tenha a mesma forma, à saber, que se apresente como um bastão.

      É um bastão que não deixa de ser um toro. Quero dizer, como vocês já viram aqui:

                                              



    O que vem a se formar é algo que já não tem nada a ver com a primeira apresentação, aquela que une os dois toros:


                                                    

    Não é o mesmo tipo de encadeamento por causa do reviramento do que chamo na ocasião, o primeiro toro (em azul). Mas em relação a esse primeiro toro, em relação ao mesmo, o que vocês tem é algo que desenho assim:


                                                  

     Em relação ao mesmo, o toro-bastão, se nos lembrarmos do mesmo:


                                           

      O toro-bastão vem aqui, quer dizer que para sustentar as coisas, o furo que se deve fazer no toro, aquele que designei aqui, pode ser feito em não importa qual lugar do toro, até e inclusive cortar o toro aqui:

                                               


     Porque então é bastante óbvio que este toro cortado pode ser revirado da mesma maneira e que será juntando dois cortes que obteremos esse aspecto:


                                        



      Em outras termos, cortando este toro aqui, obtemos o que chamei de apresentação em bastão da mesma forma. Quer dizer, algo que se manifestará no toro por dois cortes permitirão uma redução, exatamente como ocorre juntando dois cortes... e não fechando o corte único, esse que fiz aqui... é juntando dois cortes que obteremos este bastão, que chamei por este termo, mesmo sendo um toro.

     Aí está o que hoje... e eu concordo que isso não é alimento fácil, mas o que eu gostaria da próxima vez... à saber, na segunda terça-feira de dezembro, ... o que eu gostaria de ouvir da próxima vez, de qualquer um de vocês, é a maneira pela qual, desses dois modos de dobradura do toro, se lhe acrescentamos um terceiro, que - ele - é este:


                                                                         


    

   Suponham que temos um toro em outro toro, a mesma operação é concebível para os 2 toros, à saber, a partir de um corte feito neste e de um outro corte, distinto pois não é o mesmo toro, feito naquele. É neste caso, bastante claro - lhes deixo conceber - que a dobradura destes dois toros nos dará o mesmo bastão:


                               



Mas :

– exceto que no bastão haverá um conteúdo análogo,
– exceto que para os 2 casos, desta vez, o interior será no lado exterior e o mesmo para este, quero dizer, para o toro que está no interior.

Como - lhes pergunto - como identificar, porque é distinto, como identificar: 

– A identificação histérica,

– A identificação amorosa dita com o pai,

– E a identificação que chamarei de neutra, aquela que não é nem uma nem outra, que é a identificação com um traço particular, com um traço que chamei – foi como traduzi o Einziger Zug – que chamei de: não importa qual traço?

     Como distribuir essas três inversões de toros homogêneos, portanto, em sua prática e, além disso, que mantêm a simetria, se assim posso dizer, entre um toro e outro, como distribuí-los, como designar de maneira homóloga:

– A identificação paternal,
– A identificação histérica,
– A identificação a um traço, que é apenas a mesma?

Esta é a questão sobre a qual eu gostaria, da próxima vez, que vocês tivessem a bondade de tomar partido.


A aula 1 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

 

http://www.valas.fr/IMG/mp3/01_insu16-11-76.mp3

 


Tradução: Gustavo Capobianco Volaco

Organização e revisão: Maria Holthausen




TEXTO EM FRANCÊS



L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre Séminaire de 1976-1977
Jacques Lacan

Leçon 1 Novembre 1976

     Voilà ! Il y a une affiche comme ça qui professe... Est-ce que vous avez su la lire ? Qu’est-ce que ça donne pour vous ? L’insu que sait, quand même ça fait bla-bla, ça équivoque. L’insu que sait, et après j’ai traduit l’Unbewußt.

     J’ai dit qu’il y avait - au sens de l’usage en français du partitif - qu’il y avait de l’une-bévue. C’est une façon aussi bonne de traduire l’Unbewußt que n’importe quelle autre, que l’inconscient en particulier, qui en français, et en allemand aussi d’ailleurs, équivoque avec inconscience.

     L’inconscient, ça n’a rien à faire avec l’inconscience. Alors pourquoi ne pas traduire tout tranquillement par l’une-bévue. D’autant plus que ça a tout de suite l’avantage de mettre en évidence certaines choses : pourquoi est-ce qu’on s’oblige dans l’analyse des rêves, qui constituent une bévue comme n’importe quoi d’autre, comme un acte manqué, à ceci près qu’il y a quelque chose où on se reconnaît. On se reconnaît dans le trait d’esprit, parce que le trait d’esprit tient à ce que j’ai appelé lalangue, on se reconnaît dans le trait d’esprit, on y glisse... et là-dessus Freud a fait quelques considérations qui ne sont pas négligeables. Je veux dire que l’intérêt du trait d’esprit pour l’inconscient est quand même lié à cette chose spécifique qui comporte l’acquisition de lalangue.

      Pour le reste, est-ce qu’il faut dire que pour l’analyse d’un rêve il faut s’en tenir à ce qui s’est passé la veille? Ça ne va pas de soi. Freud en a fait une règle, mais il conviendrait quand même de s’apercevoir qu’il y a bien des choses qui, non seulement peuvent remonter plus haut, mais qui tiennent à ce qu’on peut appeler le tissu même de l’inconscient.

      Est-ce que l’acte manqué aussi c’est une affaire qui doit être analysée étroitement selon ce qui s’est passé, non pas la veille, mais cette fois-ci dans la journée, c’est vraiment quelque chose qui pose question.

      Cette année, disons que, avec cette insu que sait de l’une-bévue, j’essaie d’introduire quelque chose qui va plus loin, qui va plus loin que l’inconscient : quel rapport y a-t-il entre ceci qu’il faut admettre que nous avons un intérieur qu’on appelle comme on peut... psychisme par exemple, on voit même Freud écrire endo, endo-psychique. Ça ne va pas de soi que la ψυχή ce soit endo, ça ne va pas de soi qu’il faille endosser cet endo...quel rapport y a-t-il entre cet endo, cet intérieur, et ce que nous appelons couramment l’identification?

     C’est ça en somme que, sous ce titre qui est comme ça fabriqué pour l’occasion, c’est ça que je voudrais mettre sous ce titre.

     Parce que... il est clair que l’identification, c’est ce qui se cristallise dans une identité. D’ailleurs ce ...fication dans le français est en allemand autrement énoncé, Identifizierung, dit Freud, dans un endroit où j’ai été le retrouver, parce que je ne me souvenais pas que j’avais fait un séminaire sur l’Identifizierung...je ne me souvenais pas : je me souvenais quand même de ce qu’il y avait dans le chapitre, je ne savais pas que j’y avais consacré une année...mais je me sou- venais qu’il y a pour Freud, au moins trois modes d’identification, à savoir :

– l’identification auquel il réserve - je ne sais pas bien pourquoi - la qualification d’amour. Amour, c’est la qualification qu’il donne à l’identification au père.

– Qu’est-ce que c’est que d’autre part ce qu’il avance d’une identification faite de participation ?

Il appelle ça, il épingle ça de l’identification hystérique.

– Et puis il y a une troisième identification qui est celle qu’il fabrique d’un trait, d’un trait que j’ai autrefois...j’en avais gardé quand même le souvenir sans savoir que j’avais fait tout un séminaire sur l’identification ...d’un trait que j’ai appelé unaire.

    Ce trait unaire nous intéresse parce que - comme Freud le souligne - c’est pas quelque chose qui a affaire spécialement avec une personne aimée. Une personne peut être indifférente et un trait unaire choisi comme constituant la base d’une identification. Ce n’est pas indifférent, puisque c’est comme ça que Freud croit pouvoir rendre compte de l’identification à la petite moustache du Führer dont chacun sait qu’elle a joué un grand rôle. À quoi donc s’identifie-t-on à la fin de l’analyse ? Est-ce qu’on s’identifierait à son inconscient ? C’est ce que je ne crois pas.

   Je ne le crois pas, parce que l’inconscient reste... je dis reste, je ne dis pas reste éternellement, parce qu’il n’y a aucune éternité...reste l’Autre. C’est de l’Autre avec un grand A qu’il s’agit dans l’inconscient.

   Je ne vois pas qu’on puisse donner un sens à l’inconscient, si ce n’est de le situer dans cet Autre, porteur des signifiants, qui tire les ficelles de ce qu’on appelle imprudemment... imprudemment parce que c’est là que se soulève la question de ce qu’est le sujet à partir du moment où il dépend si entièrement de l’Autre.

    Alors en quoi consiste ce repérage qu’est l’analyse ? Est-ce que ça serait ou ça ne serait pas s’identifier...s’identifier en prenant ses garanties, une espèce de distance...s’identifier à son symptôme ?

    J’ai avancé que le symptôme, ça peut être - c’est monnayable, c’est courant - ça peut être le partenaire sexuel. C’est dans la ligne de ce que j’ai proféré... proféré sans que ça vous fasse pousser des cris d’orfraie...c’est un fait, j’ai proféré que le symptôme pris dans ce sens c’est - pour employer le terme de connaître – c’est ce qu’on connaît, c’est même ce qu’on connaît le mieux, sans que ça aille très loin.

    Connaître n’a strictement que ce sens. C’est la seule forme de connaissance prise au sens où l’on a avancé qu’il suffirait qu’un homme couche avec une femme pour qu’on puisse dire qu’il la connaît, voire inversement. Comme - malgré que je m’y efforce - c’est un fait que je ne suis pas femme, je ne sais pas ce qu’il en est de ce qu’une femme connaît d’un homme.

    Il est très possible que ça aille très loin. Mais ça ne peut tout de même pas aller jusqu’à ce que la femme crée l’homme. Même quand il s’agit de ses enfants, il s’agit de quelque chose qui se présente comme un parasitisme. Dans l’utérus de la femme, l’enfant est parasite, et tout l’indique, jusques et y compris le fait que ça peut aller très mal entre ce parasite et ce ventre. Alors qu’est-ce que ça veut dire connaître?

Connaître veut dire :

– savoir faire avec ce symptôme,

– savoir le débrouiller,

– savoir le manipuler.

     Savoir, ça a quelque chose qui correspond à ce que l’homme fait avec son image, c’est imaginer la façon dont on se débrouille avec ce symptôme. Il s’agit ici, bien sûr, du narcissisme secondaire, le narcissisme radical, le arcissisme qu’on appelle primaire étant dans l’occasion exclu.

     Savoir y faire avec son symptôme c’est là la fin de l’analyse. Il faut reconnaître que c’est court. Ça ne va vraiment pas loin. Comment ça se pratique, c’est bien entendu ce que je m’efforce de véhiculer dans cette foule, je ne sais pas avec quel résultat. Je me suis embarqué dans cette navigation, comme ça, parce que dans le fond on m’y a provoqué. C’est ce qui résulte de ce qui a été publié par je ne sais quelle série spéciale d’Ornicar? sur la scission de 53. J’aurais été sûrement beaucoup plus discret si la scission de 53 n’avait pas eu lieu.

    La métaphore en usage pour ce qu’on appelle l’accès au réel, c’est ce qu’on appelle le modèle. Il y a un nommé Kelvin qui s’est beaucoup intéressé à ça - Lord même qu’il s’appelait : Lord Kelvin - il considérait que la science c’était quelque chose dans lequel fonctionnait un modèle, et qui permettait à l’aide de ce modèle, de prévoir quels seraient les résultats du fonctionnement du réel.

     On recourt donc à l’imaginaire pour se faire une idée du réel. Écrivez alors se faire - se faire une idée j’ai dit – écrivez le sphère pour bien savoir ce que l’imaginaire veut dire.

     Ce que j’ai avancé dans mon nœud borroméen de l’Imaginaire, du Symbolique et du Réel, m’a conduit à distinguer ces trois sphères et puis ensuite à les renouer. Il a fallu donc que je passe de ces trois boules... il y a les dates: j’ai énoncé Le Symbolique, l’Imaginaire, et le Réel en 54, j’ai intitulé une conférence inaugurale de ces trois noms, evenus en somme par moi ce que Frege appelle noms propres.

    Fonder un nom propre, c’est une chose qui fait monter un petit peu votre nom propre : le seul nom propre dans tout ça, c’est le mien. L’extension de Lacan au Symbolique, à l’Imaginaire et au Réel, est ce qui permet à ces trois termes de consister, je n’en suis pas spécialement fier.

     Mais je me suis après tout aperçu que consister ça voulait dire quelque chose, c’est à savoir qu’il fallait parler de corps, qu’il y a:

– un corps de l’Imaginaire,

– un corps du Symbolique, c’est lalangue,

– et un corps du Réel dont on ne sait pas comment il sort.

     Ce n’est pas simple, non que la complication vienne de moi, mais elle est dans ce dont il s’agit. C’est parce que j’ai été - comme dit l’autre - confronté avec l’idée que supporte l’inconscient de Freud, que j’ai essayé, non d’en répondre, mais d’y répondre de façon sensée, c’est-à-dire en n’imaginant pas que cette avision...ce dont Freud s’est avisé, c’est ça que je veux dire ...que cette « avision » concerne quelque chose qui serait à l’intérieur de chacun, de chacun de ceux qui font foule et qui croient être de ce fait une unité.

     On a traduit cette notion de foule que veut bien dire Massenpsychologie, on l’a traduit Psychologie collective et analyse du moi. Rien n’y fait. Freud a beau prendre expressément son départ de ce que Gustave Lebon a appelé nommément psychologie des foules, on traduit par psychologie collective... une collection...une collection de perles sans doute, chacun en étant une.

     Alors que ce dont il s’agit, c’est de rendre compte de l’existence - de l’existence dans cette foule - de quelque chose qui se qualifie moi. Qu’est-ce que ça peut être que ce moi ? C’est ce que pour essayer de vous l’expliquer, j’ai essayé d’imaginer cette année l’usage de ce qu’on appelle une topologie.

      Une topologie...comme vous pourrez le saisir rien qu’à ouvrir quoi que ce soit qui s’appelle Topologie générale...une topologie ça se fonde toujours sur un tore:

                                           

                                                


             Même si ce tore est à l’occasion une bouteille de Klein:

                                 

                                              


                                                  

            Car une bouteille de Klein est un tore, un tore qui se traverse lui-même


                           

                                                             →


          J’ai parlé de ça il y a bien longtemps.

          Voilà. Ici, vous voyez que dans ce tore il y a quelque chose qui représente un intérieur absolu, quand on est dans le vide, dans le creux que peut constituer un tore. Ce tore peut être une corde sans doute, mais une corde elle-même se tord, et il y a quelque chose qui est dessinable comme étant l’intérieur de la corde. Vous n’avez à cet égard qu’à déployer ce qui s’énonce comme nœud dans une littérature spéciale.

           Alors il y a évidemment deux choses, il y a deux espèces de trous:

                                                       



           Le trou qui s’ouvre à ce qu’on appelle l’extérieur [E], ça met en cause ce dont il s’agit quant à espace.

           L’espace passe pour étendue quand il s’agit de Descartes.

           Mais le corps nous fonde l’idée d’une autre espèce d’espace. Ça n’a pas l’air tout de suite d’être ce qu’on appelle un corps, ce tore en question. Mais vous allez voir qu’il suffit de le retourner...non pas comme se retourne une sphère, parce qu’un tore ça se retourne d’une toute autre façon. Si ici, par exemple, je me mets à imaginer que c’est une sphère qui est à l’intérieur d’une autre sphère:


                           


           Je n’obtiens rien qui ressemble à ce que je vais essayer de vous faire sentir maintenant.

           Si je fais un trou dans l’autre sphère, cette sphère-là va sortir comme un grelot ...mais c’est un tore, c’est un tore c’est-à-dire qu’il va se comporter autrement.

           Il suffirait que vous preniez une simple chambre à air, une chambre à air d’un petit pneu, que vous vous appliqueriez à mettre à l’épreuve, vous verrez alors que le pneu prête à cette façon...vous voyez comme j’ai de la peine à les manipuler ...prête à cette façon de s’enfiler, si je puis dire, dans ce qu’offre à lui d’issue, la coupure, la coupure que nous avons pratiquée ici, et que si je devais poursuivre: à supposer que la coupure vienne ici se rabattre, s’inverser, si l’on peut dire ...ce que vous allez obtenir est ceci qui est différent - différent en apparence - du tore.

           Car c’est bel et bien un tore tout de même, quoique, vu cette fois-ci en coupe, c’est bel et bien un tore exactement comme si nous coupions ici le tore dont il s’agit. Je pense qu’il ne vous échappe pas que à rabattre ceci jusqu’à ce que nous bouclions le trou que nous avons fait dans le tore:

                          



C’est bel et bien la figure qui suit que nous obtenons :


 

                                 



Ça ne semble pas ravir, si je puis dire, votre consentement. C’est pourtant tout à fait sensible. Il suf­fit d’y faire un essai.

Vous avez ici 2 tores dont l’un représente ce qui est advenu, alors que l’autre est l’original:


           

          



                                                                          original


Si vous, sur l’un de ces tores couplés de la même façon - ceci va nous conduire à autre chose - sur un de ces tores couplés vous pratiquez la manipulation que je vous ai expliquée ici, à savoir que vous y fassiez une coupure :


                             



Vous obtiendrez ce quelque chose qui se traduit comme ceci :



       ou 


          À savoir que les tores étant couplés, vous avez à lin­térieur de l’un de ces tores un autre tore, un tore qui est de la même espèce que celui que j’ai dessiné ici [en jaune]. Ce que désigne ceci, c’est qu’ici vous voyez bien que ce qui est du premier tore [en bleu] a ici ce que j’appelle son intérieur, quelque chose dans le tore s’est retourné, qui est exactement en continuité avec ce qui reste d’intérieur dans ce premier tore, ce tore est retourné en ce sens que désormais son intérieur est ce qui passe à l’exté­rieur. 

Alors que pour désigner celui-ci [en jaune] comme étant celui autour duquel se retourne celui qui est ici [en bleu], nous nous apercevons que celui que j’ai dési­gné ici [en jaune] est - lui - resté inchangé, c’est-à-dire qu’il a son premier extérieur…son extérieur tel qu’il se pose dans la boucle …il a son extérieur toujours à la même place. Il y a donc eu - de l’un d’entre eux - retournement. 

Je pense que…quoique ces choses soient fort incommodes, soient fort inhibées à imaginer …je pense quand même vous avoir véhiculé ce dont il s’agit dans l’occasion. Je veux dire que je me suis fait - je l’espère - entendre pour ce dont il s’agit. Il est tout à fait remarquable que ce qui est ici  n’ait pas - quoique ce soit littéralement un tore  - n’ait pas la même forme, à savoir que ça se présente comme une trique. 

C’est une trique qui n’en reste pas moins pourtant un tore. Je veux dire que comme vous l’avez déjà vu ici:


                        



Ce qui vient à se former, c’est quelque chose qui n’a plus rien à faire avec la première présentation, celle qui noue les deux tores: 


                          



Ça n’est pas la même sorte de chaîne du fait du retournement de ce que j’appelle dans l’occasion, le premier tore [en bleu]. Mais par rapport à ce premier tore, par rapport au même, ce que vous avez, c’est quelque chose que je des­sine comme ça : 


                            



        Par rapport au même, le tore-trique, si nous nous souvenons du même :


                                     



Le tore-trique vient ici, c’est-à-dire que pour appuyer les choses, le trou qui est à faire dans le tore, celui que j’ai dési­gné ici, peut être fait en n’importe quel endroit du tore, jusque et y compris couper le tore ici:


                           



      Car alors il est tout à fait manifeste que ce tore coupé peut se retourner de la même façon et que ce sera en joignant deux coupures que nous obtiendrons cet aspect:


                               



En d’autres termes en cou­pant ce tore ici, on obtient ce que j’ai appelé la présentation en trique de la même façon.  C’est-à-dire que quelque chose qui se manifestera dans le tore par deux coupures per­mettra un rabattement exactement tel que cest en joignant deux coupures… et non pas en fermant la coupure unique, celle que j’ai faite ici …c’est en joignant deux coupures que nous obtiendrons cette trique que j’ai appellé de ce terme, encore que se soit un tore.

Voilà ce qu’aujourd’hui… et je conviens que ce n’est pas nourritu­re facile, mais ce que j’aimerais la prochaine fois…à savoir dans le deuxième mardi de Décembre, …ce que j’aimerais entendre la prochaine fois, de quiconque d’entre vous, c’est la façon dont de ces deux modes de repliement du tore y étant adjoint un troisième, qui - lui - est celui-ci:


                   



Supposez que nous ayons un tore dans un autre tore, la même opération est concevable pour les 2 tores, à savoir d’une coupure faite dans celui-ci et d’une coupure autre, distincte, puisque ce n’est pas le même tore, faite dans celui-là. Il est dans ce cas, tout a fait clair - je vous le laisse à concevoir - que le repliement de ces deux tores nous donnera une même trique:



       




mais:

 

      à ceci près que dans la trique il y aura un contenu analogue,

      à ceci près que pour les 2 cas, cette fois-ci, l’intérieur sera à l’extérieur et de même pour celui-ci, je veux dire pour le tore qui est à l’intérieur.

 

Comment - vous poserai-je la question - comment identifier, car c’est distinct, comment identifier:

 

      l’identification hystérique, 

      l’identifica­tion amoureuse dite au père, 

      et l’identification que j’appellerai neutre, celle qui n’est ni l’une, ni l’autre, qui est lidentification à un trait parti­culier, à un trait que j’ai appelé - c’est comme ça que j’ai traduit l’Einziger Zug - que j’ai appelé : à n’importe quel trait ?

 

Comment répartir ces trois inversions de tores homogènes donc dans leur pratique, et en plus qui maintiennent la symétrie, si je puis dire, entre un tore et un autre, comment les repartir, comment désigner dune façon homologue : 

 

      L’identification  paternelle, 

      L’identification  hystérique, 

      L´identification  à un trait, qui soit seulement le même ? 

 

Voilà la question sur laquelle j’aimerais, la prochaine fois, que vous ayez la bonté de prendre parti.

 

 

A CLÍNICA HOJE: OS NOVOS SINTOMAS

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