Postagens

Mostrando postagens de julho, 2025

O MURMÚRIO DAS COISAS

Imagem
O poema-coisa em Rilke e a soberania perdida do mundo (Para aqueles que ainda sabem escutar o que não é dito) Há momentos na história em que a linguagem se desfaz. Não por excesso de ruído apenas, mas por uma espécie de deslealdade ontológica: ela já não corresponde ao mundo. Os signos multiplicam-se, inflacionam-se, tornam-se máscaras ocas. O mundo, então, recua. As coisas calam. Ou, pior: falam em nossa linguagem, e por isso mesmo perdem a sua. Rainer Maria Rilke compreendeu esse exílio do real com um pressentimento raro. Seus poemas-coisa não são objetos poéticos. São, ao contrário, testemunhos da tentativa de devolver às coisas a sua voz — não uma voz humana, não uma voz lírica, mas um murmúrio denso, impessoal, que sobe da matéria quando o sujeito se cala. Sob o olhar de Rodin — escultor de presenças e não de formas —, Rilke desvia-se do simbolismo para uma poética da escuta. Deixa de usar as palavras como espelhos da alma para fazer delas vasos: recipientes onde o objeto se insta...

PSICANÁLISE: CURA E SINTOMA

Imagem
  O que significa o termo “cura” em psicanálise? E o sintoma, é só algo a ser eliminado?  Nesse fragmento da primeira aula de seu seminário 'Coisas de Fineza', Jacques-Alain Miller lança luz sobre essas questões, mostrando como a teoria lacaniana evoluiu para uma 'segunda clínica'. Uma percepção essencial para entender as nuances que transformaram a forma de pensar a experiência analítica." Fragmento do Seminário: COISAS DE FINEZA EM PSICANÁLISE Jacques-Alain Miller 12 de novembro de 2008 Pois bem, começarei por dar meu título. É uma questão que me serve de apoio, de guia, toda suave, ao passo que meu discurso talvez não seja. O título é Coisas de fineza em psicanálise. Ano passado sonhei que este ano me manteria ancorado no porto. Eis-me aqui, no entanto, embarcando com vocês para mais uma de nossas novas aventuras ao mar, sempre recomeçadas, votado a arfar nos remos. Há aqui, porém, uma escolha forçada. Se preciso remar com força é porque o movimento do mundo o e...