terça-feira, março 20, 2007


CURSO DO PROFESSOR MARCOS NESTE SEMESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA
UFSC

Curso: Estética e inestética no discurso filosófico
Ministrante: Prof. Marcos Muller
Dia: terça-feira: (Horário:das 13:30 às 16:30 horas);

Objetivo do curso:
Estabelecer uma leitura do texto “O olho e o espírito” de Maurice Merleau-Ponty à luz da proposta de constituição de um discurso inestético, tal como este foi concebido por Alain Badiou em seu “Pequeno manual de instética”.

Apresentação do curso:
Alain Badiou, em seu “Pequeno manual de inestética” (2002), reconhece haver, entre a filosofia e a arte, uma espécie de “laço” que muito faz lembrar a cumplicidade que Lacan reconheceu haver entre o discurso do mestre e o discurso da histérica. Se, por um lado, é a partir da provocação histérica (“o que tens tu para me ensinar?”) que o mestre se põe a trabalhar, por outro, é a obstinação do mestre que faz da histérica uma cortesã. Da mesma forma, para Badiou, a arte é a encarnação de uma dúvida que a filosofia é incapaz de dirimir, muito embora fosse à filosofia que os artistas, por séculos a fio, recorreram no intuito de compreender o mistério que eles viviam por dentro. Tal relação, na versão de Badiou, não fez mais que sedimentar três respostas distintas à interrogação sobre a “natureza” da arte, respostas estas que nem mesmo o século XX foi capaz de ultrapassar. A resposta “didática”, formulada por Platão, retorna no século XX pela pena do marxismo. A resposta “romântica”, estabelecida no século XIX, ressurge nos termos da hermenêutica heideggeriana. E o “classicismo” aristotélico, para o qual a arte não é mais que um órgão de prazer frente à impossibilidade de uma apresentação sensível da verdade, é ressuscitado no discurso psicanalítico. Mas Badiou não desacredita na possibilidade de uma transformação nessa história de submissão histérica da arte à filosofia. Mais do que isso, Badiou aposta na possibilidade de haver um discurso filosófico que opere a partir de uma verdade que, a sua vez, não tem origem no universalismo filosófico, mas na singularidade artística. A noção de inestética, em algum sentido, vem denominar essa possibilidade, que Badiou explica nos seguintes termos: “(p)or inestética entendo uma relação da filosofia com a arte, que, colocando que a arte é, por si mesma, produtora de verdades, não pretende de maneira alguma torná-la, para a filosofia, um objeto seu. Contra a especulação estética, a inestética descreve os efeitos estritamente intrafilosóficos produzidos pela existência independente de algumas obras de arte” (p. 8).
Em nosso curso, pretendemos discutir e “experimentar” a possibilidade de uma tal inestética, a qual encontramos executada não apenas nos capítulos em que Badiou disserta sobre a poesia, a dança, o cinema... Antes dele, num ensaio consagrado a estabelecer uma ontologia a partir da obra de arte, Merleau-Ponty escreve um clássico que poderíamos considerar um tratado de inestética avant la lettre. Com esse texto, Merleau-Ponty introduz a temática que será título de sua famosa obra incabada, postumamente denominada de “O visível e o invisível”, mas que, mais a contento de Badiou, deveria se chamar “A origem da verdade”. O que, enfim, a arte tem a nos dizer sobre a verdade? O que é uma verdade artística? Ou, conforme Derrida, “qual é a verdade em pintura” (1989, p. 10).

Bibliografia básica:

BADIOU, Alain. 2002 Pequeno manual de inestética. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade.
DERRIDA, Jacques.
La vérité en peinture. Paris: Flammarion.
FERRY, Luc. 1994. Homo aestheticus: a invenção do gosto na era democrática. Trad.Eliana Maria de Melo Souza - São Paulo: Ensaio. 1994.
HAAR, Michel.
2000 A obra de arte – ensaio sobre a ontologia das obras. Trad. Maria
Helena Kühner. Rio de Janeiro: Difel
MERLEAU-PONTY, MAURICE 1945: Phénoménologie de la perception. Paris, Gallimard. Tradução brasileira de Carlos A. R. Moura: Fenomenologia da percepção. São Paulo, Martins Fontes, 1994.
_____ 1960: Signes. Paris, Gallimard.
_____ 1962: “Candidature au Collège de France – Un inédit de Merleau-Ponty”. Revue de métaphysique et de morale, v. 1, n.67, pp. 401-9.
_____ 1964a: Le visible et l'invisible.
Paris, Gallimard. Tradução brasileira de José A. Gianotti>: O visible e o invisível. São Paulo, Perspectiva, 1992.
_____ 1969: La prose du monde. Paris, Gallimard.
_____. 2004. O olho e o espírito. Trad. Paulo Neves e alli. São Paulo: Cosac & Naify
SARTRE, Jean- Paul. 1997 O ser e o nada – ensaio de ontologia fenomenológica. Trad.Paulo Perdigão. 2.ed. Petrópolis: Vozes
_____ 1989. Que é a literatura. Trad. Carlos Felipe Moisés. SP: Ática, 1989.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom

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