quarta-feira, julho 08, 2009

Inconsciente:

Para começar, o inconsciente revela-se num ato que surpreende e ultrapassa a intenção do analisando que fala. O sujeito diz mais do que pretende e, ao dizer, revela sua vontade.


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Esse ato, mais do que revelar um inconsciente oculto e já presente, produz o inconsciente e faz com que ele exista.

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Ora, para que esse ato efetivamente dê existência ao inconsciente, é indispensável que um outro sujeito escute e reconheça a importância do inconsciente, sendo esse sujeito o psicanalista: “... o inconsciente implica que ele seja escutado? Em minha opinião, sim”, respondeu Lacan. (Televisão) De fato, para que o inconsciente exista, é ainda necessário que ele seja reconhecido.

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Mas esse reconhecimento não é um reconhecimento do pensar, é um reconhecimento do ser, ou seja, o psicanalista reconhece como ato, a partir de seu ser e de seu próprio inconsciente, o inconsciente do outro. Para reconhecer que o ato do analisando é um colocar em prática o inconsciente, é preciso, pois, um outro ato, o do analista. É claro que numerosas diferenças distinguem o ato do analisando do ato do analista, que um lapso do analisando é diferente da interpretação do psicanalista, mas, do ponto de vista em que nos situamos, ou seja, do ponto de vista que considera o inconsciente como uma estrutura, esses dois atos são formalmente idênticos, ou, se preferimos, significantes.

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Se o psicanalista está em condição de sancionar como ato a existência do inconsciente de seu analisando, é porque ele mesmo já percorreu, na condição de paciente, o caminho de uma análise.

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Essa conjunção de dois atos que, no campo da análise, põe em prática o inconsciente, permite-nos formular três hipóteses, que submeto a vocês:
. O inconsciente não é uma instância oculta, já presente, à espera de uma interpretação que venha revelá-lo, mas uma instância produzida quando a interpretação do analista, considerada como um ato de seu inconsciente, reconhece o ato do inconsciente do analisando.
· Assim produzido, o inconsciente é uma estrutura única, comum a ambos os parceiros analíticos. Por conseguinte, devemos corrigir a hipótese anterior e concluir que não existe um inconsciente pertencente ao analisando e, depois, um outro inconsciente pertencente ao psicanalista, mas há apenas um único inconsciente, o que é produzido e é singular no seio da transferência.
· Por fim, a terceira hipótese é a reafirmação de minha proposta inicial de pensar a existência do inconsciente exclusivamente dentro da análise, lembrando que o próprio Lacan também se deteve sobre esse mesmo problema, sem resolvê-lo. Em resposta à observação de um interlocutor que afirmou: “Eu disse que a psicanálise só pode ser válida dentro do campo de suas observações, que é a situação analítica”, Lacan replicou: “É exatamente isso o que digo. Não temos meios de saber se o inconsciente existe fora da psicanálise.”(Scilicet)
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Cinco Lições sobre a Teoria de Jacques Lacan
Juan-David Nasio




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