terça-feira, janeiro 24, 2012

Da natureza e da cultura


“Como o jovem Marx dos Manuscritos econômicos e filosóficos, O rei Lear conjura uma política radical a partir de suas reflexões sobre o corpo. Mas esse não é bem o discurso sobre o corpo que está mais em voga nos dias de hoje. É o corpo mortal, não o masoquista, que está aqui em questão. Se Lear está bastante consciente da natureza como uma construção cultural, está também alerta para os limites dessa ideologia, a qual, em sua pressa de fugir das armadilhas do naturalismo, deixa de perceber aquilo que se refere ao corpo compartilhado, vulnerável, decadente, natural e tenazmente material que coloca uma interrogação sobre essa imodéstia culturalista. Mas a peça é igualmente cautelosa quanto a um naturalismo que crê poder haver uma inferência direta do fato ao valor, ou da natureza para a cultura. Ela sabe que “natureza” é sempre uma interpretação da natureza, desde o determinismo hobbesiano de Edmund até o rico pastoralismo de Cordélia, desde uma perspectiva de matéria sem sentido a uma visão de harmonia cósmica. A passagem da natureza para a cultura não pode ser uma passagem do fato para o valor, uma vez que a natureza sempre já é um termo valorativo.”

 
Terry Eagleton, in: A ideia de cultura – Cap. 3 – “Guerras Culturais”

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