Embaraço, humilhação e transparência psíquica:
O tímido
e sua dependência do olhar
Refletiremos,
aqui, sobre algumas características do sujeito cuja principal queixa gravita em
torno da timidez — exatamente aquele que fica paralisado diante do paradoxo de
ser supervisível ou de ser invisível, de ter uma atitude voyeurista ou
exibicionista diante do outro, de ser invadido pela mirada de qualquer um ou de
ser completamente opaco a ela, de nunca poder ser visto a partir do ângulo
correto. Este sujeito expressa de modo paradigmático o sentimento de
insuficiência narcísica diante do olhar, insuficiência articulada a um grau
intenso de dependência. O dito tímido depende em larga medida de um olhar
privilegiado para ter acesso aos principais parâmetros a respeito de si mesmo.
Nosso intuito é discutir sobre as vicissitudes desse olhar, sobre a relação de
dependência nele implicada e sobre algumas formas pelas quais essa dependência
se estabiliza e se constrói. Em função de alguns fatores da cultura atual (EHRENBERG,
1998; GIDDENS, 2002; GOULEJAC, 1996; VERZTMAN, 2005; PINHEIRO, VERZTMAN,
VENTURI & BARBOSA, 2006), tais
como o esvaziamento de alguns predicados subjetivos correlacionados a ideais
coletivos, a dificuldade de se relacionar com o desejo do outro através de uma
atitude interpretativa, ou mesmo os limites contemporâneos para construir uma
atividade imaginativa que prescinda do referente à fisicalidade, o olhar se
torna o ponto de partida e o ponto de chegada da atitude avaliativa sobre si
mesmo e sobre o outro.
Procurarei,
ao longo do texto, demonstrar que os sujeitos implicados em nossa investigação
encontram saídas vacilantes para impasses na dinâmica do olhar, pagando o preço
do embaraço, da humilhação ou da transparência psíquica. Muitas vezes essas
três características podem ser observadas em conjunto, embora o mais comum seja
a conjugação da sensação de transparência com uma das outras duas. Esta
reflexão tem como base uma pesquisa clínica realizada pelo Núcleo de Estudos em
Psicanálise e Clínica da Contemporaneidade (Nepecc,
www.psicologia.ufrj. br/nepecc),
coordenado por Teresa Pinheiro, Regina Herzog e Julio Verztman, acerca do
atendimento psicanalítico a pacientes que apresentam o diagnóstico psiquiátrico
de fobia social. Sugiro a consulta ao material já produzido por este núcleo de
pesquisa (VERZTMAN,
2005; PINHEIRO, VERZTMAN, VENTURI & BARBOSA, 2006; VERZTMAN, HERZOG &
PINHEIRO 2010; VERZTMAN, HERZOG, PINHEIRO & FERREIRA, 2012; VENTURI &
VERZTMAN, 2012) para que
o leitor possa se familiarizar com o uso do referido diagnóstico psiquiátrico
na aproximação com o tema da timidez. Utilizamos as palavras tímido ou timidez
apenas para nomear uma característica presente em todos os pacientes atendidos
por nossa equipe. Este termo foi pinçado de seus discursos porque respeita um
modo de autodesignação no que tange a uma qualificação de si mesmo e de seus
sintomas.
“Tímido” ou “timidez” não descrevem um
universo psicopatológico restrito que faça sentido para a psicanálise. Este
sujeito que se queixa de timidez, entretanto,
nos oferece elementos importantes para estudarmos questões narcísicas
relacionadas à problemática do olhar e às suas formas de dependência.
É
necessário, antes de tudo, informar que chegamos a este universo teóricoclínico
a partir de um estudo anterior sobre a vergonha. Partindo da sugestão freudiana
presente em Luto e melancolia (FREUD, 1917/1993), segundo a qual o melancólico é
capaz de afirmar as piores coisas de si sem experimentar esta emoção, nos
servimos de autores pós-freudianos de correntes heterogêneas (CICCONE
& FERRANT, 2009; GREEN, 2003; MILLER, 2003; TISSERON, 1992; ZYGOURIS,
1995), a fim de
explorar os aspectos narcísicos da vergonha (VERZTMAN, 2011). O que se segue está em continuidade
com esta discussão.
As vizinhanças
emocionais da vergonha
No
projeto-piloto desta pesquisa, que envolveu o atendimento a apenas dois
pacientes com o diagnóstico de fobia social — antes da oferta de atendimento
aos demais — duas possibilidades de experiência da vergonha chamaram a atenção:
a vergonha vivida como embaraço e a vergonha vivida como humilhação. O paciente
1 (vergonha como embaraço) conseguia nomear alguns de seus medos diante da
exposição ao olhar do outro, conseguia evitar situações nas quais poderia
sentir vergonha. O motivo de sua vergonha lhe escapava inteiramente, e não
percebia qualquer animosidade intencional no outro, mesmo que isto fosse
constantemente temido. O paciente 2 (vergonha como humilhação), ao contrário,
era muito mais retraído, desconfiado, não conseguia sequer definir o que sentia
e se precavia permanentemente da possibilidade palpável de sofrer humilhação
intencional por parte do outro. Para a distinção entre embaraço e humilhação,
seguiremos alguns apontamentos de De La Taille (2002). Este autor, pesquisador no campo da
psicologia do desenvolvimento moral nos fornecerá parâmetros descritivos
relevantes para nossa discussão.
Embaraço
Em
português e em francês (mas não em inglês) há certa sobreposição entre vergonha
e embaraço, mas mesmo assim há diferenças importantes. O embaraço em geral é
considerado a vertente menos intensa e judicativa do universo semântico da
vergonha. O embaraço é a sensação de desconforto que ocorre quando alguém se
sente exposto (DE LA TAILLE, 2002, p.75-76). Ele denuncia os sofrimentos
correlacionados com toda a trama relacional da exposição, tais como estar na
posição de objeto, não ter qualquer controle sobre o que está sendo visto,
sofrer as consequências da passividade diante do outro, suportar com dor a
reflexividade própria da relação com o olhar do outro, entre outros fatores.
O
desconforto com a exposição, entretanto, é um aspecto comum entre a vergonha e
o embaraço:
“Longe de ser mera questão de definição,
veremos que o sentimento de vergonha decorrente do simples ‘ser objeto para
outrem’ (e não somente do ‘ser objeto desprezado por outrem’) é importante para
compreender o referido sentimento, notadamente no seu desenvolvimento durante a
infância.” (DE LA TAILLE, 2002, p.77)
O simples fato de se sentir objeto
do olhar de alguém pode produzir este sofrimento, mesmo que o olhar alheio não
traga um juízo negativo. Este é um aspecto fundamental para o que
caracterizamos em nossa pesquisa como o tímido embaraçado. Ele procura
permanentemente antecipar o perigo do julgamento negativo e, assim, do desprezo
alheio, através de uma forma particular e crônica de angústia (PACHECO-FERREIRA,
2012). Caso contrário,
o permanente embaraço se tornaria vergonha inconsolável. Isto porque, em
comparação com a vergonha, do ponto de vista moral o embaraço não ocupa papel
relevante. A vergonha é um passo adiante do embaraço, já que aí ser objeto do
olhar de outrem equivale a ser objeto de desprezo de outrem.
De
la Taille sugere que o embaraço é uma forma muito antiga de experiência da
vergonha. O autor demonstra a indissociabilidade entre consciência de si,
consciência da própria perceptibilidade e embaraço como sofrimento produzido
pela exposição. O embaraço testemunha aquilo que não é assimilável como
perfeição narcísica no desenvolvimento da criança. No processo de separação da
alteridade que consolida a estabilização da imagem narcísica, o perigo de ser
tomado como objeto do olhar alheio vai se conjugando a outros perigos: ser
malvisto e, consequentemente, deixar de ser objeto de estima do outro. O papel
do ambiente é fundamental para que estes perigos não sejam negados, ao menos
como perigos potenciais, mas também não se tornem ameaçadores a ponto de paralisar
o infante no seu gesto espontâneo. É neste sentido que Ciccone
e Ferrant (2009)
propõem uma diferença entre vergonha experimentada e vergonha sinal de alarme:
“Numa primeira aproximação, a vergonha sinal
de alarme pressente a analidade, a confusão e a ferida narcísica como
consequência do risco de perda de amor do objeto. Como sublinhamos, ela veicula
a memória afetiva das falhas parciais da afinação entre o sujeito e seu
ambiente, ao mesmo tempo que uma saída possível se apoia nesse mesmo ambiente. Nesse
tipo de situação atravessada por todos os seres humanos, o fato de ser pequeno,
dependente e correndo o risco de desamparo, é constantemente tratado e cuidado
pelas capacidades continentes de um ambiente suficientemente atento e
atencioso. A vergonha sinal de alarme veicula também os fracassos parciais da
aprendizagem da higiene, do controle esfincteriano e de todas as falhas da
continência corporal. Essas inevitáveis feridas narcísicas são tratadas ao
longo do tempo — mesmo sem serem nunca completamente ultrapassadas — pela
colocação em jogo dos autoerotismos e dos processos de interiorização das
funções de salvaguarda atribuídas, de início, ao objeto.” (CICCONE
& FERRANT, 2009, p.61-62. Tradução livre)
Voltando
à nossa discussão anterior, podemos dizer que o embaraço, o qual estamos
associando à vergonha sinal de alarme — é um desconforto relacionado ao disparo
de um sistema de alarme que mobiliza o psiquismo a se proteger contra feridas
que atingiriam o domínio narcísico. Estamos aqui supondo que o embaraço é a
parte deste sistema que limita a exposição e a impede de se tornar uma
exposição que contraria a imagem idealizada — ou ao menos aceitável — de si.
Dessa forma, o embaraço implica um tipo de sofrimento cujo referente não é o
rebaixamento da autoimagem, fruto do julgamento alheio, própria das experiências
mais típicas de vergonha consumada. O embaraço é a antecipação da vergonha. É a
percepção do perigo de sentir vergonha, é uma proteção contra a vergonha. Para
que estas “funções de salvaguarda” diante do embaraço — para retomar a
expressão de Ciccone e Ferrant — possam se efetivar, é imprescindível o papel
do objeto. É o objeto que vai alçar a um futuro indeterminado ou a uma hipótese
presente, mas longínqua, a ameaça de expulsão subjetiva que as experiências
mais intensas de vergonha encerram.
Não
sabemos ao certo os motivos, mas a clínica dos ditos ‘tímidos’ nos coloca
diante da suposição de que pode haver hipertrofia do embaraço. Nesse caso, a
ameaça da vergonha é tão presente e, ao mesmo tempo, tão pouco inserida em
qualquer narrativa ou aspecto integrado do psiquismo, que a vida gira em torno
de antecipar e prevenir sua emergência. Há um verdadeiro curto-circuito entre
exposição e vergonha, entre o alarme e sua consumação, o qual tem como pano de
fundo a fragilidade da proteção proporcionada pelo ambiente. Sempre que o
sujeito se expõe a um perigo que não consegue nomear, ou seja, o perigo de vir
a sentir uma vergonha irreparável, o simples contato com o olhar do outro que
enuncia tal ameaça o paralisa e o empurra para a solidão, um dos contextos capazes
de lhes assegurar proteção.
Alguns
pacientes nos permitem um vislumbre deste tipo de vivência. O sentimento de
vergonha nas relações sociais costuma ser a principal queixa. Uma paciente
relata que não gosta de andar na rua ou de ônibus. Não gosta de andar de ônibus
porque quando se senta, sabe que as pessoas do outro lado podem vê-la, e fica,
neste momento, terrivelmente exposta. Revela o temor de que pensem algo
negativo a seu respeito, embora não saiba dizer muito claramente o que elas
possam pensar. Suas fantasias quanto ao olhar do outro podem apresentar caráter
persecutório, mas estas são pouco elaboradas. Diz apenas que podem que ela tem
“cara de boba” ou que é “magrinha”. Imagina com angústia poder, por qualquer
motivo, vir a fazer uma cena ridícula, como, por exemplo, levar um tombo e ser
motivo de riso. Esforça-se permanentemente para não chamar a atenção alheia de
nenhuma maneira, mas sabe que este esforço é infrutífero. Há uma afinidade
natural entre si e o olhar invasivo de quem a circunda.
É
frequente que esses sujeitos tenham poucas lembranças de infância. Outra
paciente, por exemplo, não sabe dizer quando começou a se sentir envergonhada,
afirmando que “sempre foi assim”. Após algum tempo de análise, ela propôs uma
origem para seu sentimento excessivo de estar exposta.
Certa época, já
adolescente, passou a ter que almoçar fora de casa. Foi muito difícil ter que
pedir sua própria comida. Estava acostumada ao fato de sua mãe sempre ter
providenciado isso por ela. Este breve momento de separação da mãe disparou
nesta paciente um sinal de alarme para o perigo de rejeição por parte de
qualquer um que cruzasse o seu olhar. Os fatos mais banais eram vividos com
ansiedade, ruborização e medo, contando como certo que, na sua fantasia
pudessem ser observados por terceiros. Quando discutirmos o tema da
transparência psíquica, voltaremos às peculiaridades deste tipo de relação
intersubjetiva com a mãe.
Por
ora, ressaltamos o embaraço permanente vivido pela paciente quando está fora do
alcance do olhar materno. Não supõe nenhuma animosidade clara por parte do
outro anônimo que “teima” em avaliá-la; todavia, teme ser tomada por inadequada
ou ridícula a qualquer momento. Desenvolve a estratégia de antecipar todos os
ângulos nos quais a visão incidiria sobre ela, mas sua incapacidade de
construir uma barreira ao que será visível mantém seus sistemas de alarme
excessivamente sensíveis.
O
embaraço, a princípio medida protetora no que tange a ameaças ao domínio
narcísico, se torna um sofrimento permanente para certos tímidos. Este
sofrimento é a marca de uma relação com o objeto construída sobre a
impossibilidade de prescindir de seu olhar. Estar longe — geralmente do olhar
materno — é estar em perigo. Um perigo desconhecido quanto à sua fonte e seu
modo de operar. As estratégias criadas para tornar a vida suportável são:
permanecer em estado de alerta — vivido como embaraço — ou estar ao abrigo do
olhar privilegiado já descrito. Autores como Mc Dougall (1992), com sua descrição do amor materno
fusional; Pontalis (1991),
através de sua metáfora sobre um tipo de possessão
subjetiva que exerce sua dominação a partir de dentro; e Aulagnier
(1990), com sua bela
proposição de direito ao segredo como
condição de pensar, nos fornecem subsídios para compreender um tipo de
relação com o objeto materno pautada numa atitude invasiva.
Humilhação
A
humilhação, em seu sentido forte, implica o sentimento de ser rebaixado pelo
outro. O ato de rebaixar ou o sentimento de ter sido rebaixado produzem a
frequente articulação entre vergonha e humilhação. Na vergonha, como vimos, o
sujeito se sente rebaixado diante de seus ideais. É uma emoção que pode ser
desencadeada quando qualquer membro da comunidade, o qual, aos olhos do
sujeito, encarna ou sustenta esses ideais, testemunha a sua queda. Este outro é
somente a testemunha, frisamos. A vergonha ocorrerá mesmo que o outro sequer
perceba os motivos que levaram o sujeito a ter que se esconder da sua mirada.
Ela pode acontecer ainda quando o outro não tem qualquer julgamento negativo em
relação a tal imagem. Como já dissemos, na vergonha o outro é apenas o
depositário de uma projeção narcísica desvalorizada; ela é o resultado de uma
operação na qual o que está em jogo é: o que eu sentiria se pudesse me ver do
lugar a partir do qual o outro me vê? Assim, ela é uma emoção referida ao campo
do narcisismo porque o olhar do outro tem pouca relevância nesta relação de si
a si. O que toma a cena é a maciça projeção sobre este olhar.
Desse
modo, uma das condições para que a vergonha se desencadeie é a plausibilidade
dessa projeção, ou seja, deve existir alguma afinidade entre a minha projeção e
o modo como minha imagem é recebida. Tal plausibilidade se organiza geralmente
sobre traços amplos e vagos. O principal deles diz respeito ao fato de o outro
ser um membro da comunidade, que acredita nos mesmos valores que o sujeito
envergonhado contrariou.
Para
retomar o tema do autorrebaixamento presente tanto na vergonha quanto em certos
casos de humilhação, podemos dizer: só há vergonha quando o sujeito assume
internamente a sua desvalorização. Mesmo quando ela é imposta violentamente a
partir de fora, o sujeito envergonhado procura se esconder do campo de visão do
outro, porque sabe que sua simples presença pode produzir indignação diante do
que ele se tornou após ser coberto pela vergonha. Ele pode então projetar no
outro sua própria indignação.
Vejamos
agora algumas características diferenciais do sentimento de humilhação.
Humilhação implica violência (DE LA TAILLE, 2002, p.78), e violência, neste caso,
intencional. O outro não é apenas uma projeção da minha indignação quanto à
minha própria imagem, mas é a fonte de uma indignação que me toma a partir de
fora. O sujeito se perde do lugar de origem de seu próprio rebaixamento. O
outro, por algum motivo enigmático ou completamente fora do campo do sentido, é
ativo em retirar coercitivamente os atributos narcísicos articulados a certos
valores mantenedores da dinâmica do sujeito com seus ideais. Vergonha e
humilhação coexistem quando a violência é extrema a ponto de o sujeito
internalizar a imagem negativa imposta como se fosse a sua (DE
LA TAILLE, 2002, p.78-79).
Supomos
que para a humilhação se tornar vergonha deve haver desequilíbrio entre a
natureza da violência vinda do outro e as barreiras narcísicas capazes de
proteger o sujeito de incorporá-la à sua própria identidade. O sentimento
profundo de vergonha sentido por sobreviventes de campos de concentração
evidencia a fragilidade dessas barreiras em situações extremas de violência. No
outro lado da balança, percebemos que construções narcísicas frágeis podem favorecer
experiências marcantes de humilhação consumada ou medo permanente de ser
humilhado. Nestas situações, ser visto pelo outro pode equivaler a ser
humilhado ou vir a ser humilhado pelo outro.
Examinemos
o que Ciccone e Ferrant (2009) denominam vergonha de ser:
“O trauma narcísico
primário relacionado à vergonha de ser é ligado à falha dessa função de eco e
de ‘espelho vivo’. O sentimento de continuidade narcísica apresenta um furo, se
torna inconsistente. Nessa conjuntura, o objeto não foi ‘psiquicamente
ausente’, foi ativamente desqualificante. A função espelho reenvia ao bebê que
este está inteiramente preso a uma desqualificação de suas necessidades, isto
é, de seu próprio ser. Pode-se dizer, nesse sentido, que a vergonha de ser é
uma vergonha primária.” (CICCONE & FERRANT, 2009, p.67-70).
Para
estes autores, a vergonha de ser exprime um acontecimento tão primário que só o
outro pode sentir vergonha. O sujeito se esconde, mas não consegue saber do que
se esconde: ele sabe que o outro é capaz de humilhá-lo pelo simples fato de ser
visto, mas perde o contato com o que sente, exprimindo apenas seu aspecto
comportamental. Percebemos ressonâncias entre essa descrição e o que
caracterizamos como humilhação. Como afirmamos anteriormente, várias formas de
fragilidade narcísica podem contribuir para experiências de humilhação
consumadas e sua repetição traumática ao longo da existência. Respeitando a
suposição de externalidade da vergonha presente no conceito de vergonha de ser,
encontramos na clínica sujeitos que não têm acesso ao sentimento de vergonha,
mas somente à intenção humilhante vinda de fora. Sabem que o olhar do outro é
perigoso, apesar de não saberem qual é o perigo.
Este
é um ponto comum que aflige tanto tímidos embaraçados quanto tímidos humilhados.
Ambos temem permanentemente o que o outro possa ver diante de sua imagem, sem
representar — diferentemente do sujeito envergonhado — o que precisa permanecer
escondido. Diante dessa impossibilidade de decidir, procuram se defender do
olhar escondendo-se por inteiro. Mas enquanto o sujeito embaraçado coloca todas
as suas fichas em seus sistemas de alarme, acreditando que estes poderão
controlar minimamente a exposição e, por conseguinte, a consumação de uma
vergonha insuportável, o sujeito humilhado já não alimenta essa esperança. Ele
conhece a intenção do outro de humilhar, embora não consiga estabelecer
qualquer narrativa que envolva a si como ponto de amarração dessa intenção. A
única coisa que conhece do outro é a sua capacidade de humilhá-lo — uma
capacidade de humilhação sem história. O si mesmo se torna “aquele que foi e
será permanentemente humilhado”. As narrativas para essa humilhação são
prosaicas, demonstrando certa pobreza na atitude predicativa do eu.
As
queixas desses pacientes, a duras penas formuladas em análise, nos dão uma
pálida ideia do sentimento de humilhação como resultado de parâmetros frágeis
para dar contorno à localização de si diante do olhar. O significado particular
com que usam a palavra “desconfiança” ou o modo como um deles descreve seu
hábito de “estudar as pessoas” para formular julgamentos que, por vezes, se
revelam precipitados e equivocados, expressa um tipo particular de relação com
a alteridade. Esse hábito de estudo
excessivo do outro, que toma por inteiro suas existências, os impede de se
aproximar de outras pessoas, em decorrência do medo de se decepcionar com elas.
Vivem para antecipar a possibilidade do pior.
Um
matiz merece comentário: não se trata de um mecanismo obsessivo. A antecipação
do pior é pura repetição da única experiência que encontra sentido em suas
histórias, é o único saber que conseguem manejar. Sabem que, do outro, devem
esperar o pior. Mais uma vez, aqui há pouco espaço para a dúvida e sua
característica obsessiva. Ao examinarmos suas histórias, percebemos que nas
suas relações mais iniciais o objeto não foi capaz de contribuir para a
integração e a internalização de experiências vividas como violentas. O outro,
externalizado e anônimo, se tornou uma mistura de receptáculo e fonte de toda a
agressividade.
Um
de nossos pacientes refere que as raízes de seu problema se estendem até
situações de sua infância e adolescência, nas quais foi vítima de “racismo”, de
“rejeição” ou de “injustiças”. A expressão racismo para qualificar as zombarias
de colegas pelo fato de usar óculos demonstra a fragilidade de sua narrativa
sobre seu sentimento de humilhação. Percebe a hostilidade contra um traço seu
como algo que evocaria seu pertencimento a uma suposta raça. O racismo é, em
seu vocabulário, uma palavra que aponta para o pior tipo de exclusão violenta
vinda de um conjunto particular de seres humanos. Em seu caso, curiosamente,
esta exclusão atingiria uma raça relacionada diretamente a um instrumento para
poder ver o que os outros veem — a raça daqueles que não possuem a faculdade de
enxergar e se proteger do que enxergam. Uma raça que, por outro lado, precisa
de uma película para mediar o que se percebe do olhar que lhe é dirigido.
O
paciente associa mais tarde que raízes anteriores de seu sentimento de
humilhação remetem a ter nascido com problemas na visão. Acredita que este era
o motivo para a rejeição por parte de crianças que se recusavam a brincar ou
estar com ele. Em ambas as situações mencionadas, percebemos sua solidão ao
enfrentar experiências de rejeição e exclusão. O sentimento permanente de humilhação
é o único resquício de um tipo de relação em que o objeto se ausentou de sua
função de mediação e foi ativamente desqualificante.
A
título de recapitulação: ao contrário da vergonha — quando “outro com intenção
de rebaixar” nem sempre existe — na humilhação há sempre esse outro. É comum a
associação entre vergonha e humilhação se o sujeito humilhado internalizar os
valores de quem o humilhou. Nesse caso, o sujeito humilhado aceita a imagem
negativa imposta a partir de fora, de forma violenta. Se na vergonha algo é
desnudado em função de alguma ação ou característica do sujeito, na humilhação
essa interioridade exposta é arrancada violentamente, rompendo a dimensão de
segredo, fundamental para a relação com o outro.
Para
compreendermos melhor como o olhar do outro traz permanentemente o risco de
romper a dimensão do segredo, constituinte no psiquismo da construção da
interioridade, passemos ao exame da transparência psíquica.
A transparência psíquica
Numa
primeira pesquisa clínica, que incidiu sobre a clínica de sujeitos melancólicos
e outros sujeitos portadores de lúpus eritematoso sistêmico em atendimento
analítico (VERZTMAN & PINHEIRO, 2012), já era evidente o tema da
transparência subjetiva como índice de fragilidade narcísica. Os sujeitos
melancólicos estavam vinculados a um ideal de transparência que apareceu sob a
forma da aspiração a uma linguagem unívoca, límpida e assim transparente para
qualquer um que se utilizasse de seus signos. Este era o aspecto linguístico da
transparência. Outro aspecto — que podemos denominar imagético — do ideal de
transparência ocorreu sob a forma da evocação de imagens para o analista que
não comportassem enganos, numa situação na qual seria impossível os dois não
enxergarem a mesma imagem do mesmo modo.
Podemos
dar como exemplo desta aspiração à transparência a fala de um paciente
melancólico (VERZTMAN, 2012):
“A verdade é uma só, como uma identidade, um rótulo num pote em que está
escrito — açúcar”. Este mesmo paciente, no primeiro encontro com sua analista,
trouxe consigo uma pasta contendo receitas médicas, exames laboratoriais,
textos de jornal e muitos outros documentos. Ali ele dizia que “estava tudo
seu” (devidamente catalogado), “a história”, e apontava para a importância da
sua ciência sobre o que trazia. Ele precisava se assegurar de que sua analista
ia “olhar” para tudo aquilo, pois tinha uma necessidade (embora com pouca
esperança de realizá-la) de “ser visto como um todo”. É somente ao se tornar
transparente que ele adquire alguma confiança em ser percebido. Ele só podia
acreditar no que percebia de si mesmo se sua analista olhasse para “a história”
exatamente do mesmo modo que
ele.
Percebemos
outro aspecto da aspiração à transparência — o qual podemos denominar aspiração
a ser visto por dentro — nesta passagem do tratamento de uma paciente lúpica (VERZTMAN
& PINHEIRO, 2012)
Ela pergunta à sua analista: “A senhora está notando alguma coisa?”.
Visivelmente decepcionada pelo fato de a analista não conseguir notar o que ela
desejava que tivesse sido percebido, a paciente arregaçou as mangas da blusa e
exibiu o punho até então coberto, dizendo: “perdi o meu relógio”. A paciente em
questão estava testando a capacidade da analista de ver o que os olhos não
podiam ver. E de ver o que não podia ser visto. A visão estava pouco integrada
a outras dimensões capazes de conferir existência a algo tão complexo como ter
um interior. Apenas se os limites do corpo não fossem barreira ao olhar, a
existência desse espaço interior invisível poderia estar assegurada.
É
importante notar que a aspiração à transparência nestas formas distintas não se
relaciona com a emergência de angústia ou significa qualquer tipo de ameaça. A
aspiração à transparência é um apelo ao reconhecimento do outro, expressa a
esperança de vir a ser percebido. Isto não ocorrerá do mesmo modo na timidez.
“A timidez, essa angústia
social, indica que todos ficam sempre informados. O ser é transparente sob o
olhar do outro; o castigo está a caminho, apenas a fuga pode salvar [...]. Como
cada um de nós já notou, não há algo mais visível que um tímido. Enrubescendo,
gaguejando, fugindo ou procurando a melhor a melhor tática de evitar os encontros
[...].” (AVRANE, 2007, p.143. Tradução livre)
Entre
os tímidos há também um desejo de transparência e um ideal de transparência,
construídos na relação com adultos privilegiados, em relação aos quais a
barreira do olhar estaria esmaecida. Uma paciente afirma não ter segredos com
sua mãe. Ela e sua mãe dormem na mesma cama, apesar de a paciente ter seu
próprio quarto. Há um pequeno detalhe na ausência de segredos entre as duas:
ela nos informa não conseguir esconder nada da mãe; diz que ficaria muito aflita
caso guardasse algum segredo.
É
nessa relação de transparência mútua que ela encontra alguma segurança.
Segurança baseada na submissão à necessidade da mãe de conhecê-la “por dentro e
por fora”. Segurança de um olhar penetrante que a protege, ao preço de ser sua
única garantia contra os riscos de outro olhar que, encontrando barreiras para
enxergá-la por inteiro, pode acabar por humilhá-la ou ridicularizá-la. Desse
modo, ao contrário dos pacientes de nossa pesquisa anterior, já referidos, os
tímidos (sobretudo os que sofrem de embaraço) foram alvo de uma promessa: se
estes adultos pudessem ver através deles algo que ninguém mais poderia ver, a
segurança desse olhar privilegiado os protegeria dos perigos do olhar externo.
O
investimento desejante do outro tem no ideal de transparência sua forma mais
acabada de perfeição narcísica. Para ser desejado pelo outro é preciso ser
transparente ao seu olhar. Há uma confluência entre o campo do desejo e o fato
de ser permanentemente observado. É através desta forma particular de
investimento escópico que o tímido encontra algum parâmetro para a experiência
de ser desejado. Note-se que ao contrário do sujeito melancólico, o sujeito
tímido foi alvo de maciço investimento parental. É fácil perceber que logo esse
idílio de comunhão de olhares vai encontrar seu fim: o olhar do outro vai se
bifurcar entre uma função protetora já descrita e uma função persecutória. O
perigo da mirada alheia será cada vez mais experimentado.
A
impossibilidade cada vez maior de contar com a função protetora do olhar do
adulto privilegiado faz com que a sensação de transparência do tímido se
espraie pelo mundo, expressando ao mesmo tempo anseio de amor exclusivo do
outro e receio intenso de que o outro não corresponda a esse anseio,
rejeitando-o e humilhando-o.
Outra
paciente diz que tem muito a dizer, o que infelizmente não consegue, sobretudo
na presença de mais de uma pessoa. Este aspecto é frequente entre os tímidos. O
olhar de “mais de um” os dilacera. Segundo seu relato, ninguém diria que ela é
inteligente apenas observando-a, o que ela de fato aguarda. Ela suplica pela
segurança de uma mirada que extraísse os seus atributos ideais de uma só vez.
Ao invés disso, a opacidade do olhar alheio comum, “a outra pessoa, o mais de
um”, a reenvia para o abismo. Na sala de aula, é como se estivessem olhando
para ela e pensando: “coitada, ela não consegue”, “o que ela está dizendo?! Não
dá para entender nada!”, “quem ela pensa que é?!”. O outro privilegiado não foi
capaz de manter sua promessa.
A
distância cada vez mais sentida entre proteção
pela transparência e a experiência de
extensão da transparência a qualquer olhar faz com que o outro “mais de um”
se torne cada vez mais um estranho, a quem não posso conhecer, mas que pode
(isto é sempre uma pergunta, raramente uma certeza) me conhecer inteiramente na
minha transparência e, assim, me julgar.
O
tímido se vê permanentemente como um réu num suposto “tribunal do olhar” (AVRANE,
2007, p.160) e evita
dar provas aos promotores de que há algo abjeto em seu interior. “Ao tribunal
do olhar, o tímido é convidado sem cessar. Suas confissões se tornam um pleito
[...]. Tanto as figuras mostradas quanto os gestos ou textos expostos os
colocam em evidência. As estratégias não são iguais, mas a necessidade de um
julgamento pelo olhar é absoluta” (idem, ibidem. Tradução livre).
O
tribunal, entretanto, ocupa cada vez mais espaço em seu mundo e um perigo deve
ser fonte de suas precauções: o perigo de ser descoberto. A angústia
antecipatória do tímido (PACHECO-FERREIRA, 2012) é fonte privilegiada de mal-estar,
uma vez que ele não tem como saber o que deve esconder. Esta forma particular
de angústia, como Freud já sublinhara (1917/1993), é uma medida protetora. Está
conjugada à necessidade de se mostrar incessantemente e conhecer todos os
detalhes do modo como recebe o retorno deste olhar. É também uma forma de apelo
desesperado ao reconhecimento: “A timidez cede lugar em seguida à provocação,
isto é, a uma forma de procurar no olhar do outro o reconhecimento e nele
encontrar a imagem esperada” (AVRANE, 2007, p.161. Tradução livre).
Esta
provocação, sempre fracassada, expressa dois sentidos para a transparência
psíquica: ser inteiramente acessível à percepção do outro ou, ao contrário, ser
invisível.
“O sujeito deseja ser
reconhecido como objeto de investimento do outro, teme, porém não possuir os
predicados que o outro, supostamente, desejaria que ele tivesse. Resultado: nem
quer ser visto nem quer deixar de ser visto. O paradoxo é o cerne do sujeito
envergonhado” (COSTA, 2012, p.12).
Para concluir
Procuramos
demonstrar, por meio do exemplo do sujeito dito ‘tímido’, que há todo um
universo do olhar a ser explorado pela clínica psicanalítica contemporânea. O
tímido testemunha a hipertrofia do campo escópico, produzindo certos tipos de
sofrimento que qualificamos como embaraço, humilhação e transparência psíquica.
Estas modalidades de padecimento interrogam diretamente os limites do olhar
para mediar de modo absoluto a relação com a alteridade. Cabe aos psicanalistas
descobrir, na clínica singular de cada um, meios de alcançar alguma
relativização para o peso da mirada alheia.
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Autor: Julio Verztman
Professor do Programa de Pós-Graduação em Teoria
Psicanalítica IP-UFRJ; coordenador do Núcleo de Estudos em Psicanálise e
Clínica da Contemporaneidade (Nepecc); psiquiatra do IpubUFRJ
FONTE:
Revista Àgora
http://www.scielo.br/pdf/agora/v17nspe/11.pdf
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