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Mostrando postagens de outubro, 2025

QUANDO O CORPO FALA: PSICANALISE E O REAL DO SINTOMA

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  Desde Freud, a psicanálise se manteve em tensão com os discursos que pretendem domesticar o enigma do sintoma. A psicologia e a biologia buscam localizar o sintoma num terreno conhecido, causal, mensurável. Jairo Gerbase, em “A hipótese de Lacan”, articula esses discursos em termos precisos: há três orientações possíveis sobre o sintoma mental — a psicológica, a biológica e a psicanalítica —, e cada uma funda uma concepção distinta do sujeito e do real. Entre a moral do ambiente e a química do corpo, a psicanálise preserva o mistério do dizer. O sintoma, na hipótese de Lacan, é o lugar onde o significante toca o corpo e o faz falar; é o ponto em que o sujeito, afetado pelo inconsciente, tenta dar forma ao impossível. Por isso, a clínica psicanalítica não busca eliminar o sintoma, mas escutá-lo — pois nele ressoa o que, em cada sujeito, faz do corpo um lugar de linguagem e do inconsciente, um nome do real. A hipótese de Lacan Jairo Gerbase No campo que nos concerne, o do sintoma d...

A DEVASTAÇÃO NO MASCULINO E A VIOLÊNCIA CONTRA O FEMININO

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Johnson Tsang . “Here and There” Lucid Dream II .  Em: https://johnsontsang.wordpress.com/ Neste pequeno ensaio, apresento o artigo A devastação no masculino e a violência contra o feminino nas mulheres , de Denise Maurano e Joana Dark da Silva Souza, que se destaca pela consistente articulação entre a teoria e a clínica psicanalítica. As autoras deslocam a questão da violência contra a mulher do campo sociológico para uma dimensão estrutural do sujeito, apoiando-se na teoria lacaniana dos gozos — fálico e Outro. Com clareza e precisão conceitual, examinam como o encontro com o feminino pode ser vivido, por alguns sujeitos, como uma experiência devastadora, suscetível de desencadear formas extremas de violência. O texto oferece aos psicanalistas importantes elementos para pensar a relação entre o horror ao feminino , a fragilidade da posição fálica e as manifestações contemporâneas da violência. A devastação no masculino e a violência contra o feminino O artigo, “A devastação no ...

CLÍNICA PSICANALÍTICA

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- Questões da Clínica Contemporânea - Este texto sobre as questões da clínica contemporânea foi elaborado a partir de reflexões propostas em nosso grupo de estudo na Usina Dizer. Ele nasce, portanto, do diálogo e da troca de ideias, e pretende prolongar essa conversa, abrindo novas perguntas sobre o lugar da psicanálise hoje.  A modernidade e a invenção da psicanálise Sob a ótica da historiografia, os marcos inaugurais da modernidade são situados em três grandes acontecimentos: a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a Filosofia Iluminista. Esses eventos abriram um novo tempo histórico, marcados por promessas de emancipação e desenvolvimento, mas também com novas formas de violência e alienação. Na literatura, que se nutre da seiva da subjetividade em gestão, a modernidade encontra um marco privilegiado na obra poética e ensaística de Charles Baudelaire.  Para Walter Benjamin, As flores do mal e O pintor da vida moderna são textos fundadores da modernidade, pois neles...