sexta-feira, março 10, 2023

JACQUES LACAN, SEMINÁRIO 1076-1977

 O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte

Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan

 

Aula 4

11 de Janeiro de 1977


O que é que regula o contágio de certas fórmulas? Não penso que seja convicção com a qual as pronunciamos, porque não se pode dizer que esteja aí o suporte a partir do qual propaguei meu ensino.

Enfim, é a Jacques-Alain Miller que cabe testemunhar sobre isso: ele considera que o que tagarelei no curso desses meus vinte e cinco anos de seminário porta essa marca?

Bom. Isto, sobretudo porque eu me esforçei para dizer a verdade, mas não a disse com tanta convicção, me parece. Eu ainda estava bastante tocado para ser conveniente.

Falar a verdade sobre o quê? Sobre o saber. Foi nisso que eu acreditei que poderia fundar a psicanálise, já que no final das contas, tudo o que disse se sustenta. Dizer a verdade sobre o saber, não era necessariamente supor o saber ao psicanalista, vocês sabem: eu defini com esses termos a transferência, mas isso  não quer dizer que isso não seja uma ilusão.

Sobra que, como eu disse em algum lugar nesta coisa que eu reli com um pouco de espanto, ainda me impressiona bastante o que eu falei antigamente, eu não imaginava jamais que eu pudesse ter dito isso. Resta, portanto, isto: que o Saber e a Verdade não têm entre si...como eu digo nesta Radiofonia que está no N°2 – 3 de Scilicet ...que o Saber e a Verdade não têm nenhuma relação entre si. Devo agora digitar um prefácio para a tradução italiana desses quatro primeiros números de Scilicet.

Naturalmente, não é muito cômodo para mim, dada a antiguidade desses textos. Certamente sou bastante inábil na maneira de receber a carga do que eu mesmo escrevi. Não que isso me pareça sempre a coisa mais sem inspiração possível, mas é sempre um pouco na contramão e é isso o que me surpreende.

O Saber em questão é, portanto, o inconsciente. Há algum tempo, convocado a algo que não era mais nada do que o que estamos tentando fazer em Vincennes sob o nome de Clínica Psicanalítica, salientei que o Saber em questão não era nem mais nem menos que o inconsciente, e que em suma era muito difícil saber bem qual a ideia que Freud tinha disso.

Tudo o que ele diz - me parece... me pareceu - impõe que seja um Saber.

Vamos tentar definir o que isso pode nos dizer, um Saber. Trata-se, no Saber, do que podemos chamar de efeitos de significante. Tenho aqui uma coisa que - devo dizer - me aterrorizou. É uma coleção que foi publicada sob o título de La Philosophie en effet.

A Filosofia em efeito - em efeito de significantes - é justamente o que estou me esforçando para tirar do jogo, quero dizer que não creio fazer filosofia...sempre fazemos mais do que acreditamos …não há nada mais escorregadio do que este domínio. Vocês também fazem isso, algumas vezes, e não é certamente o que vocês mais tem para se regozijar.

Freud não tinha senão muito poucas idéias do que era o inconsciente. Mas me parece - lendo-o - que podemos deduzir que ele pensava que eram efeitos de significante.

O homem…temos que chamar bem assim uma certa generalidade, uma generalidade da qual não podemos dizer que alguns emergem: Freud não tinha nada de transcendente, era um médicozinho que fazia - meu Deus - o que podia para o que se chama curar, que não vai muito longe...o homem portanto - já que falei do homem - dificilmente o homem se cura desse trabalho de Saber.

Isso lhe é imposto pelo que chamei de efeitos de significante, e ele não se sente à vontade: não sabe fazer com o Saber. Isso é chamado de debilidade mental, da qual - devo dizer - eu não me excluo. Não me excluo disso simplesmente porque tenho que lidar com o mesmo material que todo mundo e esse material é o que nos habita.

Com esse material, ele não sabe e fazer. É a mesma coisa que esse “fazer com” de que eu estava falando antes, mas nuances como essas são muito importantes nas línguas. Não se pode dizer isso, e fazer, em todas as línguas. Saber e fazer, é outra coisa do que saber fazer. Isso quer dizer se desvencilhar. Mas esse (e) fazer indica que não tomamos realmente a coisa, em suma, um conceito.

Isso nos leva a empurrar a porta de certas filosofias. Não devemos empurrar esta porta muito rapidamente, porque devemos permanecer no nível em que coloquei o que chamei em suma de discursos: os ditos são o dizer que ajuda. Mesmo assim, devemos aproveitar bem a equivocidade oferecida pela língua em que falamos.

O que é esta ajuda? Será que é o dizer ou será que é o dito? Na hipótese analítica, é o dizer, ou seja, a enunciação, a enunciação do que chamei à pouco de verdade.

E desses dizer-ajuda não os tenho senão…no ano em que eu estava falando sobre O Avesso da Psicanálise, vocês certamente não se lembram... eu não os tenho, como os distingui, senão em modos de quatro, com os quais me diverti em fazer girar numa sequência de quatro justamente e que, nesta sequência de quatro, a Verdade - a verdade do dizer - a Verdade estava em suma implicada porque, como vocês devem se lembrar - sim, como vocês devem se lembrar - isso se apresentava assim:


figura 1


Quero dizer, era o discurso do mestre que é o discurso menos verdadeiro. O menos verdadeiro quer dizer o mais impossível.


figura 2

Com efeito, marquei esse discurso com a impossibilidade, foi pelo menos assim que o reproduzi no que foi impresso no Radiofonia. Esse discurso é mentiroso e é precisamente nisso que atinge o Real: Verdrängung, Freud assim o chamou, e no entanto é bem um dito que o ajuda.

Tudo o que se diz é uma escroqueria. Não é apenas o que se diz a partir inconsciente. O que se diz à partir do inconsciente participa do equívoco, do equívoco que é o princípio do dito espirituoso: equivalência do som e do sentido, aí está em nome do que acreditei poder avançar, que o inconsciente estava estruturado como uma linguagem.

Percebi, assim, um pouco tarde e sobre algo que apareceu na Langue française: lexique et grammaire, revista trimestral, é um pequeno artigo que aconselho a verem de perto porque é de alguém por quem tenho muita estima, é de Jean-Claude Milner. É o número 30, publicado em maio de 1976. Chama-se Reflexões sobre a Referência.

O que, depois de ler este artigo, é para mim objeto de uma interrogação, é isto: é o papel que ele dá à anáfora. Ele percebe que a gramática, isso joga um certo papel e que, nomeadamente, uma frase como esta não é tão simples:

Eu vi 10 leões e tu viste 15 deles.

 

A anáfora inclui o uso deste deles. Ele vai direto ao ponto ao dizer muito precisamente que este deles não visa os leões, que ele visa o 10. Eu prefireria que ele não tivesse dito: tu viste 15, prefiriria que ele disesse : tu viste mais deles, porque nesses quinze, a questão é que ele não contou o tu.

Mas é certo que na frase distinta: Eu capturei 10 dos leões e você capturou 15, a referência não é mais a 10, mas a leões.

É - creio eu - bastante impressionante que, no que chamo de estrutura do inconsciente, a gramática deva ser eliminada. Não devemos eliminar a lógica, mas devemos eliminar a gramática. Em francês há muita gramática. Em alemão há ainda mais. Em inglês há uma outra, mas que de alguma forma está implícita. E é preciso que a gramática esteja implícita para ter seu peso justo.

Gostaria de lhes indicar uma coisa, que é de uma época em que o francês não tinha tal carga de gramática, eu gostaria de lhes indicar sobre isso algo chamado Les bigarrures du seigneur des Accords. Ele viveu com certeza no final do século 16.

E ele (Étienne Tabouroté impressionante porque parece todo o tempo jogar com o inconsciente, o que é mesmo curioso, já que ele não fazia nenhuma espécie de ideia disso, menos ainda que Freud, mas que põe em jogo a mesma coisa. Como chegar a dizer este tipo de coisa delicada que é, em suma, o uso? Como precisar a maneira como, nessa delicadeza, se especifica o inconsciente, que é sempre individual?

Há uma coisa que choca, é que não há três dimensões na linguagem. A linguagem é sempre plana. E é bem por isso mesmo que minha história distorcida, do Imaginário, do Simbólico e do Real, com o fato de que o Simbólico, é o que passa por cima do que está por cima e que passa por baixo do que está por baixo, é bem o que lhe dá o valor. O valor é que é plano.

Ele é plano, e de uma forma, que vocês sabem - porque eu o repeti para vocês, repassei - cuja função vocês conhecem, o valor, à saber, que isso tem o efeito de que, qualquer um dos três sendo dissolvido, os outros 2 são liberados. Isso é o que eu chamei em seu tempo pelo termo nó, mas que não é um nó, mas, efetivamente, uma cadeia. Esta cadeia da mesma forma, é impressionante que ela possa ser planificada.


figura 3

E eu vou dizer que...é uma reflexão como essa que me inspirou o fato de que, no que diz respeito ao Real, se quer identificá-lo com a matéria ...eu proporia escrever assim: a alma-à-três. Essa seria uma maneira mais séria de se referir a esse algo com o qual estamos lidando, que não é à toa que é homogêneo aos outros dois.

Que um homem nomeado Charles-Sanders Peirce como era chamado...vocês sabem, eu já escrevi esse nome antes, uma e outra vez ...que este Peirce ficou bastante surpreso com o fato de que a linguagem não exprime, propriamente falando, a relação, isso é bem algo que é impressionante.

Que a linguagem não permite uma notação como X tendo um certo tipo – e não outro – de relação com Y, é bem isso que me autoriza – já que o próprio Peirce articula que para isso seria necessária uma lógica ternária, e não, como a que usamos, uma lógica binária – e é isso que me autoriza a falar da alma-a-três , como de algo que necessita um certo tipo de relação lógica.

Pois é... Bem, de qualquer forma, volto com efeito a esta Philosophie em effet , coleção que aparece na Aubier-Flammarion, para dizer o que me assustou um pouco no que caminha, em suma, de algo que inaugurei com meu discurso. Há um livro que apareceu lá, de um homem nomeado Nicolas Abraham e uma nomeada Maria Torok. Pois é…Chama-se Cryptonymie, o que indica bastante o equívoco, à saber, que o nome está aí escondido, e é chamado Le Verbier de l’Homme aux loups (O Palavreado do Homem dos Lobos).

Eu não sei, pode haver alguns que estiveram lá e que assistiram a minhas elucubrações sobre O Homem dos Lobos. É  a este propósito que falei da foraclusão do Nome do Pai. 

O  Verbier de l’Homme aux loups  é algo em que, se as palavras têm um sentido, creio reconhecer o impulso do que sempre articulei. À saber, que o significante, é disso que se trata no inconsciente, e o fato de que o inconsciente é que, em suma,  há fala... enquanto há o falaser…se fala totalmente só, porque não se diz jamais senão uma só e mesma coisa, salvo se nos abrimos a dialogar com um psicanalista. Não há meio de fazer de outra forma senão recebendo, em suma, de um psicanalista o que desarma sua defesa e tudo o que se elucubra sobre as pretensas resistências.

É bastante impressionante que a resistência – como eu disse – seja algo que toma seu ponto de partida no próprio analista e que a boa vontade do analisante jamais encontra nada de pior do que a resistência do analista.

A psicanálise – eu disse, repeti muito recentemente – não é uma ciência. Ela não tem estatuto de ciência e ela não pode senão aguardar por isso, esperar por isso. Mas é um delírio que se espere que ela carregue uma ciência. É um delírio que se espere que ela se torne científica. Podemos aguardar muito tempo.

Podemos aguardar muito tempo, eu disse porque, simplesmente porque não há progressos e o que esperamos não é forçosamente o que recolhemos. É um delírio científico, portanto, esperar que ele traga uma ciência, mas isso não quer dizer que a prática analítica jamais trará essa ciência. É uma ciência que, entretanto, tem menos chance de amadurecer porque é antinômica, mas mesmo assim, pelo uso que temos dela, sabemos que há relações entre ciência e lógica.

Há uma coisa que – devo dizer – ainda me supreende mais do que a difusão...a difusão do que sabemos bem que se faz, a difusão do que se chama meu ensino, minhas ideias, pois isso quereria dizer que eu tenho ideias…a difusão do meu ensino para essa alguma coisa que é o outro extremo dos agrupamentos analíticos…que é essa coisa que caminha sob o nome de Instituto de Psicanálise …uma coisa que me espanta ainda, mais não é que Le Verbier de l'Homme aux loups, ele não somente vagueia mas ele está tendo bebês, é porque alguém que eu não conhecia - para falar a verdade, eu o supus em análise - mas eu não sabia se ele estava em análise - mas é uma hipótese simples - é um homem nomeado Jacques Derrida que fez um prefácio a este Verbier.

Ele faz um prefácio absolutamente fervoroso, entusiasmado, no qual acredito perceber um frêmito que está ligado... não sei com qual dos dois analistas ele está lidando, o certo é que ele os acopla. E não consigo encontrar isso - devo dizer...malgrado eu tenha começado as coisas por esta via ...eu não acho este livro, nem este prefácio, muito bons. No gênero do delírio, eu lhes falo isso, não posso dizer que seja na esperança do que vocês irão ver - eu até preferiria que vocês renunciassem a isso - mas de qualquer forma eu sei muito bem que no final vocês vão correr até a Aubier-Flammarion, mesmo que seja apenas para ver o que eu chamo de extremo.

É certo que isso combina com o  - de mais a mais - medíocre impulso do que eu vou lhes falar. Isso combina, e é que eu temo e que, em suma, me sinto mais ou menos responsável, à saber, de ter aberto as eclusas para algo que eu bem poderia ter fechado.

Eu poderia muito bem ter reservado só para mim a satisfação de jogar com o inconsciente sem explicar a farsa, sem dizer que é por esse truque dos efeitos de significante que se opera. Eu poderia muito bem ter guardado para mim mesmo, pois, em suma, se eu não tivesse verdadeiramente sido forçado, eu jamais teria praticado esse ensino.

Não se pode dizer que o que Jacques-Alain Miller publicou sobre a cisão de 53, que foi com entusiasmo que assumi o resgate deste assunto do inconsciente. Diria ainda mais, não amo igualmente a segunda tópica, quero dizer, aquela em que Freud se deixou arrastar por Groddeck. Claro, não se pode fazer de outra maneira: essas planificações, o Isso com o grande olho que é o Eu. O Isso, é... tudo se planifica.

Mas, enfim, este Eu…que por sinal em alemão não se chama Eu, se chama Ich - Wo es war…onde estava: não sabemos nada do que estava na bola deste Groddeck para sustentar este Isso, este Es. Ele pensou que o Isso tratava daquilo que em vocês é vital. É o que ele diz quando escreve seu Buch, seu Livro do Isso, seu livro do Es, ele diz que é o que há de vivo em vocês.

Essa ideia de uma unidade global do que há de vivo em vocês, é bastante evidente que com Isso dialoga, e é isso mesmo que eu tenho designado pelo nome de A maiúsculo, é que há outra coisa, o que chamei há pouco a alma-a-três, a alma-a-três que não é somente o Real, que é alguma coisa com a qual expressamente - digo isso - não temos relações. Com a linguagem nós perseguimos aos gritos essa coisa, é o que quer dizer S(A), é isso o que Isso quer dizer, que isso não responde. É bem por isso que nós falamos totalmente sós, que nós falamos totalmente sozinhos até que surja o que se chama um eu, quer dizer, qualquer coisa que não garante que não se possa, propriamente falando, delirar.

É bem por isso que apontei que, como Freud aliás, não era bom olhar de tão perto para o que é da psicanálise e que entre loucura e debilidade mental, não temos senão a escolha.

Isso é o suficiente por hoje.


figura 1: Nécessaire/Necessário, Impossible/Impossível, Contingent/Contingente, Possible/Possível, Impuissance/Impotência, Semblant/Semblante, Jouissance/Gozo, Plus de jouir/Mais-de-gozar, Vérité/Verdade.

 



 L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan

 

 

 

Leçon 4

11 Janvier 1977

 

Qu’est-ce qui règle la contagion de certaines formules ? Je ne pense pas que ce soit la conviction avec laquelle on les prononce, parce qu’on ne peut pas dire que ce soit là le support dont j’ai propagé mon ensei­gnement.

Enfin ça, c’est plutôt Jacques-Alain Miller qui peut là-dessus porter un témoignage : est-ce qu’il considère que ce que j’ai jaspiné, au cours de mes vingt cinq années de séminaire portait cette marque ?

Bon. Ceci, d’autant plus que ce dont je me suis efforcé, c’est de dire le vrai, mais je ne l’ai pas dit avec tellement de conviction, me semble-­t-il. J’étais quand même assez sur la touche pour être convenable. 

Dire le vrai sur quoi ? Sur le savoir.  C’est ce dont j’ai cru pouvoir fonder la psychanalyse, puisqu’en fin de compte tout ce que j’ai dit se tient. Dire le vrai sur le savoir, ça n’était pas forcément supposer le savoir au psy­chanalyste, vous le savez : j’ai défini de ces termes le transfert, mais ça ne veut pas dire que ça ne soit pas une illusion. 

Il reste que, comme je l’ai dit quelque part dans ce truc que j’ai relu moi-même avec un peu d’étonnement, ça me frappe toujours ce que j’ai raconté dans l’ancien temps, je ne m’imagine jamais que c’est moi qui aie pu dire ça. Il en reste donc ceci : que le Savoir et la Vérité n’ont entre eux…comme je le dis dans cette Radiophonie là, du N°2 - 3 de Scilicet …que le Savoir et la Vérité n’ont aucune relation entre eux. Il faut que je me tape maintenant une préface pour la traduction italienne de ces quatre premiers numé­ros de Scilicet.

Ça ne m’est naturellement pas tellement commode, vu l’ancienneté de ces textes. Je suis certainement plutôt faiblard dans la façon de recevoir la charge de ce que j’ai moi-même écrit. C’est pas que ça me paraisse toujours la chose la plus mal inspirée, mais c’est toujours un peu en arrière de la main et c’est ça qui m’étonne.

Le Savoir en question donc, c’est l’inconscient. Il y a quelque temps, convo­qué à quelque chose qui n’était rien de moins que ce que nous essayons de faire à Vincennes sous le nom de « Clinique psychanalytique », j’ai fait remar­quer que le Savoir en question, c’était ni plus ni moins que l’inconscient et qu’en somme c’était très difficile de bien savoir l’idée qu’en avait Freud. 

Tout ce qu’il dit - me semble-t-il… m’a-t-il semblé - impose que ce soit un Savoir.

Essayons de définir ce que ça peut nous dire ça, un Savoir. Il s’agit, dans le Savoir, de ce que nous pouvons appeler effets de signifiant. J’ai là un truc qui - je dois dire - m’a terrorisé. C’est une collection qui est parue sous le titre de La Philosophie en effet.

La Philosophie en effet - en effets de signifiants - c’est justement ce à propos de quoi je m’efforce de tirer mon épingle du jeu, je veux dire que je ne crois pas faire de phi­losophie…on en fait toujours plus qu’on ne croie …il n’y a rien de plus glis­sant que ce domaine. Vous en faites, vous aussi, à vos heures, et ce n’est certainement pas ce dont vous avez le plus à vous réjouir.

Freud n’avait donc que peu d’idées de ce que c’était que l’inconscient. Mais il me semble - à le lire - qu’on peut déduire qu’il pensait que c’était des effets de signifiant. 

L’homme… il faut bien appeler comme ça une certaine généralité, une généralité dont on ne peut pas dire que quelques-uns émergent : Freud n’avait rien de transcendant, c’était un petit médecin qui faisait - mon Dieu – ce qu’il pouvait pour ce qu’on appelle guérir, ce qui ne va pas loin …l’homme donc -puisque j’ai parlé de l’homme - l’homme ne s’en tire guère de cette affaire de Savoir. 

Ça lui est imposé par ce que j’ai appelé les effets de signifiant, et il n’est pas à l’aise : il ne sait pas faire avec le Savoir. C’est ce qu’on appelle sa débilité mentale, dont - je dois dire - je ne m’excepte pas. Je ne m’en excepte pas simplement parce que j’ai à faire au même matériel que tout le monde et que ce matériel, c’est ce qui nous habite. 

Avec ce matériel, il ne sait pas « y faire ». C’est la même chose que ce « faire avec » dont je parlais tout à l’heure, mais c’est très important ces nuances comme ça, de langue. Ça ne peut pas se dire ce « y faire », dans toutes les langues. Savoir y faire, c’est autre chose que de savoir faire. Ça veut dire se débrouiller. Mais cet « y faire » indique qu’on ne prend pas vraiment la chose, en somme, en concept.

Ceci nous mène à pousser la porte de certaines philosophies. Il faut pas pousser cette porte trop vite, parce qu’il faut rester au niveau où j’ai placé ce que j’ai en somme appelé les discours : les dits, c’est lendire qui secourt. Il faut quand même bien profiter de ce que nous offre d’équi­voque la langue dans laquelle nous parlons. 

Qu’est-ce qui secourt? Est-ce que c’est le dire ou est-ce que c’est le dit ? Dans l’hypothèse analytique, c’est le dire, c’est-à-dire l’énonciation, l’énonciation de ce que j’ai appelé tout à l’heure la vérité. 

Et dans ces dire secours j’en ai…l’an­née où je parlais de L’Envers de la psychanalyse  vous ne vous en sou­venez sûrement pas …j’en avais comme ça distingué en gros quatre, parce que je m’étais amusé à faire tourner une suite de quatre justement et que, dans cette une suite de quatre, la Vérité - la vérité du dire - la Vérité n’était en somme qu’impli­quée, puisque comme vous vous en souvenez peut-être - oui, comme vous vous en souvenez peut-être - ça se présentait comme ça : 

 


 Je veux dire que c’était le discours du maître qui était le discours le moins vrai. Le moins vrai, ça veut dire le plus impossible.



J’ai en effet marqué de l’impossibilité ce discours, c’est tout au moins ainsi que je l’ai reproduit dans ce qui a été imprimé de Radiophonie. Ce discours est menteur et c’est précisément en cela qu’il atteint le Réel : Verdrängung Freud a appelé ça, et pourtant, c’est bien un dit qui le secourt. 

Tout ce qui se dit est une escroquerie. Ça ne l’est pas seulement de ce qui se dit à partir de l’inconscient. Ce qui se dit à partir de l’inconscient participe de l’équivoque, de l’équivoque qui est le principe du mot d’esprit : équivalence du son et du sens, voilà au nom de quoi j’ai cru pouvoir avancer que l’inconscient était structuré comme un langage.

Je me suis aperçu, comme ça, un peu sur le tard et à propos de quelque chose qui est paru dans Lexique et grammaire ou bien Langue Française, revue trimestrielle, c’est un petit article que je vous conseille de regarder de près parce qu’il est de quelqu’un pour qui j’ai beaucoup d’estime, il est de Jean-Claude Milner. C’est le n°30, paru en Mai 1976. Ça s’appelle Réflexions sur la référence

Ce qui, après la lecture de cet article, est pour moi l’objet d’une interrogation, c’est ceci : c’est le rôle qu’il donne à l’anaphore. Il s’aperçoit que la grammaire, ça joue un certain rôle et que nommément la phrase qui n’est pas si simple:

J’ai vu 10 lions et toi - dit-il - tu en as vu 15.

 

L’anaphore comporte l’usage de ce enIl met les choses très précisément au point en disant que ce en ne vise pas les lions, il vise les 10. Je préférerai qu’il ne dise pas : tu en as vu 15, j’ai­merais mieux qu’il dise : tu en as vu plus. Parce que, à la vérité, ces 15 il ne les a pas comptés, le tu en question. 

Mais il est certain que dans la phrase distincte : J’ai capturé 10 des lions et toi, tu en as capturé 15, la référence n’est plus au 10, mais qu’elle est aux lions. 

Il est - je crois - tout à fait saisissant que dans ce que j’appelle la structure de l’inconscient, il faut éliminer la grammaire. Il ne faut pas éliminer la logique, mais il faut éliminer la grammaire. Dans le français il y a trop de grammaire. Dans l’allemand il y en a encore plus. Dans l’anglais il y en a une autre, mais en quelque sorte implicite. Il faut que la grammaire soit implicite pour pouvoir avoir son juste poids.

Je voudrais vous indiquer quelque chose, qui est d’un temps où le fran­çais n’avait pas une telle charge de grammaire, je voudrais vous indiquer ce quelque chose qui s’appelle Les bigarrures du seigneur des Accords. Il vivait tout à fait à la fin du siècle XVIème

Et il [Étienne Tabourot] est saisissant parce qu’il semble tout le temps jouer sur l’inconscient, ce qui tout de même est curieux, étant donné qu’il n’en avait aucune espèce d’idée, encore bien moins que Freud, mais que c’est tout de même là-dessus qu’il joue. Comment arriver à saisir, à dire cette sorte de flou qui est en somme l’usa­ge ? Et comment préciser la façon dont, dans ce flou, se spécifie l’incons­cient qui est toujours individuel ?

Il y a une chose qui frappe, c’est qu’il n’y a pas trois dimensions dans le langage. Le langage, c’est toujours mis à plat. Et c’est bien pour ça que mon histoire tordue là, de l’Imaginaire, du Symbolique et du Réel, avec le fait que le Symbolique, c’est ce qui passe au-dessus de ce qui est au-des­sus et ce qui passe au-dessous de ce qui est en-dessous, c’est bien ce qui en fait la valeur. La valeur, c’est que c’est mis à plat.

C’est mis à plat, et d’une façon dont vous savez - parce que je vous l’ai répété, ressassé - dont vous savez la fonction, la valeur, à savoir que ça a pour effet que, l’un quelconque des trois étant dissout, les 2 autres se libèrent. C’est ce que j’ai appelé dans son temps, du terme de nœud pour ce qui n’est pas un nœud, mais effectivement une chaîne. Cette chaîne quand même, il est frappant qu’elle puisse être mise à plat.



Et je dirai que… c’est une réflexion comme ça que m’a inspiré le fait que pour ce qui est du Réel, on veut l’identifier à la matière …je pro­poserai plutôt de l’écrire comme ça : l’âme à tiers. Ce serait comme ça une façon plus sérieuse de se référer à ce quelque chose à quoi nous avons affaire, dont ce n’est pas pour rien qu’elle est homogène aux deux autres. 

Qu’un nommé Charles-Sanders Peirce comme il s’appelait…vous le savez, j’ai déjà écrit ce nom, maintes et maintes fois …que ce Peirce était tout à fait frappé par le fait que le langage n’exprime pas à proprement parler la relation, c’est bien là quelque chose qui est frap­pant. 

Que le langage ne permette pas une notation comme X ayant un cer­tain type - et pas un autre - de relation avec Y, cest bien ce qui m’autorise - puisque Peirce lui-même articule quil faudrait pour ça une logique ternaire, et non pas, comme on en use, une logique binaire - cest bien ce qui m’autorise à parler de l’âme à tiers, comme de quelque chose qui nécessite un certain type de rapports logiques.

Ouais… Eh ben tout de même, je vais en effet venir à cette Philosophie en effet, collection qui paraît chez Aubier-Flammarion, pour dire ce qui m’a un peu effrayé dans ce qui chemine en somme de quelque chose que j’ai inauguré par mon discours. Il y a un livre qui y est paru, d’un nommé Nicolas Abraham et d’une nommée Maria Torok. Ouais…Ça s’appelle Cryptonymie, ce qui indique assez l’équivoque, à savoir que le nom y est caché, et ça s’appelle Le Verbier de l’Homme aux loups.

Je ne sais pas, il y en a peut-être qui sont là et qui ont assisté à mes élucubrations sur L’Homme aux loups. C’est à ce propos que j’ai parlé de forclusion du Nom du Père. 

Le Verbier de l’Homme aux loups est quelque chose où, si les mots ont un sens, je crois reconnaître la poussée de ce que j’ai articu­lé depuis toujours. À savoir que le signifiant, c’est de cela qu’il s’agit dans l’inconscient, et que le fait que l’inconscient c’est qu’en somme on parle…si tant est qu’il y ait du parlêtre …qu’on parle tout seul, parce qu’on ne dit jamais qu’une seule et même chose, sauf si on s’ouvre à dialoguer avec un psychanalyste. Il n’y a pas moyen de faire autrement que de recevoir d’un psychanalyste ce quelque chose qui en somme dérange, d’où sa défense et tout ce qu’on élucubre sur les pré­tendues résistances. 

Il est tout à fait frappant que la résistance - je l’ai dit - c’est quelque chose qui prenne son point de départ chez l’analys­te lui-même et que la bonne volonté de l’analysant ne rencontre jamais rien de pire que la résistance de l’analyste.

La psychanalyse - je l’ai dit, je l’ai répété tout récemment - n’est pas une science. Elle n’a pas son statut de science et elle ne peut que l’at­tendre, l’espérer. Mais c’est un délire dont on attend qu’il porte une science. C’est un délire dont on attend qu’il devienne scientifique. On peut attendre longtemps. 

On peut attendre longtemps, j’ai dit pourquoi, simplement parce qu’il n’y a pas de progrès et que ce qu’on attend ce n’est pas forcément ce qu’on recueille. C’est un délire scientifique donc, et on attend qu’il porte une science mais ça ne veut pas dire que jamais la pratique analytique portera cette science. . C’est une science qui a d’autant moins de chance de mûrir qu’elle est antinomique, que quand même par l’usage que nous en avons, nous savons qu’il y a des rapports entre la science et la logique. 

Il y a une chose qui - je dois dire - m’étonne encore plus que la diffusion…la diffu­sion dont on sait bien qu’elle se fait, la diffusion de ce qu’on appelle mon enseignement, mes idées, puisque ça voudrait dire que j’ai des idées …la diffusion de mon enseignement à ce quelque chose qui est l’autre extrême des groupements analytiques…qui est cette chose qui chemine sous le nom d’Institut de Psychanalyse …une chose qui m’étonne encore plus, ce n’est pas que Le Verbier de l’Homme aux loups, non seulement il vogue mais il fasse des petits, c’est que quelqu’un dont je ne savais pas que - pour dire la vérité, je le crois en analyse – dont je ne savais pas qu’il fût en analyse - mais c’est une simple hypothèse - c’est un nommé Jacques Derrida qui fait une préface à ce Verbier

         Il fait une préface absolument fervente, enthousiaste où je crois percevoir un frémissement qui est lié… je ne sais pas auquel des deux analystes il a affaire, ce qu’il y a de certain, c’est qu’il les couple. Et je ne trouve pas - je dois dire…malgré que j’aie engagé les choses dans cette voie …je ne trouve pas que ce livre, ni cette préface soient d’un très bon ton. Dans le genre délire, je vous en parle comme ça, je ne peux pas dire que ce soit dans l’espoir que vous irez y voir - je préférerais même que vous y renonciez - mais enfin je sais bien qu’en fin de compte vous allez vous précipiter chez Aubier-Flammarion, ne serait-ce que pour voir ce que j’appelle un extrême.

C’est certain que ça se combine avec la - de plus en plus - médiocre envie que j’ai de vous parler. Ce qui se combine, c’est que je suis effrayé de ce dont en somme je me sens plus ou moins responsable, à savoir d’avoir ouvert les écluses de quelque chose sur lequel j’aurais aussi bien pu la boucler. 

J’aurais aussi bien pu me réserver à moi tout seul la satisfaction de jouer sur l’inconscient sans en expliquer la farce, sans dire que c’est par ce truc des effets de signifiant qu’on opère. J’aurais aussi bien pu le garder pour moi, puisqu’en somme si on ne m’y avait pas vraiment forcé, je n’aurais jamais fait d’enseignement. 

On ne peut pas dire que ce que Jacques-Alain Miller a publié sur la scission de 53, ce soit avec enthousiasme que j’ai pris la relève sur le sujet de cet inconscient. Je dirai même plus, je n’aime pas tellement la seconde topique, je veux dire celle où Freud s’est laissé entraîner par Groddeck. Bien sûr, on ne peut pas faire autrement : ces mises à plat, le Ça avec le gros oeil qui est le Moi.  Le Ça, c’est… tout se met à plat. 

Mais enfin, ce Moi …qui d’ailleurs en allemand ne s’appelle pas Moi, s’appelle Ich - Wo es war …là où c’était : on ne sait pas du tout ce qu’il y avait dans la boule de ce Groddeck pour soutenir ce Ça, cet Es. Lui pensait que le Ça dont il s’agit, c’était ce qui vous vivait. C’est ce qu’il dit quand il écrit son Buch, son Livre du ça, son livre du Es, il dit que c’est ce qui vous vit.

Cette idée d’une unité globale qui vous vit, alors qu’il est bien évident que le Ça dialogue, et que c’est même ça que j’ai désigné du nom de grand A, c’est qu’il y a quelque chose d’autre, ce que j’appelais tout à l’heure l’âme à tiers, l’âme à tiers qui n’est pas seulement le Réel, qui est quelque chose avec quoi expressément - je le dis - nous n’avons pas de relations. Avec le langage nous aboyons après cette chose, et ce que veut dire S(A) c’est ça que ça veut dire, c’est que ça ne répond pas. C’est bien en ça que nous parlons tout seuls, que nous parlons tout seuls jus­qu’à ce que sorte ce qu’on appelle un moi, c’est-à-dire quelque chose dont rien ne garantit qu’il ne puisse à proprement parler délirer.

C’est bien en quoi j’ai pointé que, comme Freud d’ailleurs, qu’il n’y avait pas à y regarder de si près pour ce qui est de la psychanalyse, et qu’entre folie et débilité mentale, nous n’avons que le choix. 

En voilà assez pour aujourd’hui.

 

 

A aula 4 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/04_linsu11-01-77.mp3


  

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