domingo, março 19, 2023

JACQUES LACAN, SEMINÁRIO 1976-1977

 

O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte

Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan

 

 

 

Aula 5

18 de Janeiro de 1977

É bastante penoso, então aqui está: na verdade, isso é mais o testemunho de uma falha, à saber que eu me esgotei por quarenta e oito horas, fazendo o que eu chamaria...contrariamente do que é a trança … eu me esgotei por quarenta e oito horas fazendo o que eu chamaria de  uma quatrança. Aí está:



A trança é o princípio do nó borromeano, à saber que depois de seis vezes, encontramos...contanto que cruzemos esses três da maneira conveniente…...isso quer dizer que após seis manobras da trança, vocês encontram em ordem - na sexta manobra -  o 1, o 2 e o 3:


Isto é o que constitui o nó borromeano. Se vocês tiverem algum... se vocês procederem doze vezes, vocês também terão outro nó borromeano. Coisa curiosa, esse outro nó borromeano não se visualiza imediatamente, mas tem esse caráter que, ao contrário do primeiro nó borromeu que, como vocês viram antes, passa por cima do que está por cima - porque - vocês o vêem: o vermelho está por cima do verde - por baixo do que está por baixo: este é o princípio do qual deriva o nó borromeano, é em função desta operação que o nó borromeano se sustenta.


Da mesma forma, em uma operação a quatro, vocês colocarão um por cima e o outro por baixo:


E da mesma forma vocês operam, com por baixo do que está por baixo, e vocês terão assim um novo nó borromeano que representa aquele com doze cruzamentos:


O que pensar desta trança? Essa trança pode estar no espaço, não há nenhuma razão - pelo menos no nível da quatrança - para não podemos supor que ela esteja inteiramente suspensa. A trança, no entanto, é visualizável na medida em que é colocada no plano.

Passei uma outra época, que pretensamente era reservada as férias, me esgotando e tentando colocar em funcionamento um outro tipo de nó borromeano, à saber, aquele que obrigatoriamente teria sido feito no espaço, pois de onde eu partia não era do círculo como vocês o vêem ali, quer dizer, de algo que habitualmente é planificado, mas do que se chama de tetraedro.

Um tetraedro, isso se desenha assim:


Graças a isso, existem 1, 2, 3, 4, 5, 6 arestas. Devo dizer que os preconceitos que tive - porque se trata de nada menos que isso - me empurraram para operar com as quatro faces e não com as seis arestas, e que com as quatro faces é bem difícil, é impossível fazer um trançamento. É preciso as seis pontas para fazer um trançamento correto e eu amaria que com essas bolas, eu já as vejo voltando. [bolas lançadas na sala traçadas com o esquema]

O fato é que vocês constatarão que o trançamento, não para seis, mas para doze, é bastante fundamental. Quero dizer que o que se produz é que não se pode por a exercitar esse trançamento de tetraedros sem partir - desde os tetraedros, existem apenas três - sem partir da trança.

É um fato que me foi descoberto tarde, e que vocês verão aqui, desde que eu lhes passe essas bolas das quais - repito - eu amaria vê-las voltar porque não as elucidei - longe disso - plenamente. Vou, portanto, como habitualmente faço, enviá-las a vocês para que possam examinar. Eu amaria ver todas os quatro de volta. Na verdade, elas não são semelhantes.

Há quatro delas, e não é sem razão. É uma razão que eu mesmo ainda não dominei. É preferível…embora, bem claro, isso levaria muito tempo …seria preferível que, de uma dessas bolas à outra, que as comparassem, porque elas  são efetivamente diferentes.

Eu amaria que, desta trança de três...que é basal na operação desses nós borromeanos tetraédricos, aos quais, lhes repito, me apeguei sem dominá-los completamente ... eu amaria que vocês tirassem uma conclusão. É que, mesmo para os tetraedros em questão, também se procede ao que eu chamaria de planificação, para que isso fique claro.

É necessário planificá-lo - nessa ocasião esférico - para que possamos tocar com o dedo, se posso dizer, os cruzamentos em questão, os cruzamentos tetraédricos, são bem da mesma ordem, à saber, que o tetraedro que está por baixo, o terceiro tetraedro, passa por baixo, e que o tetraedro que está por cima, o terceiro tetraedro passa por cima.

É bem por causa disso que estamos,  em suma, ainda aqui, no nó borromeano. O que é lamentável, porém, é que mesmo no espaço, mesmo a partir de um pressuposto espacial, também sejamos obrigados neste caso a suportar...pois no final das contas somos nós que suportamos ... a suportar a planificação. Mesmo a partir de um pressuposto espacial, somos forçados a suportar essa planificação, muito precisamente na forma de algo que se apresenta como uma esfera:

 


Mas, o que isso quer dizer, senão que, mesmo manipulando o espaço, nós jamais a vemos senão em superfícies, superfícies sem dúvida que não são superfícies banais, já que as articulamos como planificadas.

A partir deste momento, ele está, nessas bolas…que acabei de distribuir para vocês e que gostaria de ver voltarem ...é, nessas bolas, manifesto que a trança é fundamental – aquela que se entrecruza doze vezes – é manifesto que esta trança fundamental faz parte de um toro.

Exatamente este toro que podemos materializar ao nível disto, à saber, a trança a doze, e que também poderíamos materializar ao nível disto, quer dizer, da trança a 6:


Na verdade, esta função do toro é bastante manifesta no nível das bolas que acabo de lhes remeter, porque não é menos verdadeiro do que entre os dois pequenos triângulos, se o fizermos – por favor, considerem essas bolas – se passarmos um fio de lã, teremos exatamente da mesma forma um toro.

Porque basta fazer um furo ao nível destes dois pequenos triângulos para constituir no mesmo lançe um toro.É bem por isso que a situação é homogênea, no caso do nó borromeano, tal como acabei de desenhar aqui, é homogênea entre este nó borromeano e o tetraedro.

Há, portanto, algo que não se torna menos verdadeiro para um tetraedro e que a função do toro ali regula o que é nodal no nó borromeano. É um fato, é um fato que estritamente jamais foi percebido, à saber, que tudo o que concerne ao nó borromeano só se articula por ser tórico.

Um toro se caracteriza especificamente por ser um furo. O que é lamentável é que o furo seja tão difícil de definir. É que o nó do furo com sua planificação é essencial: é o único princípio de sua contagem, e que só há uma maneira, até o presente, em matemática, de contar os furos por onde passam, quer dizer, fazer um trajeto tal que os furos sejam contados.

Isso é o que se chama de grupo fundamental. É bem por isso que a matemática não domina plenamente aquilo do que se trata.

Quantos furos existem em um nó borromeano?

É bem isso que é problemático, já que vocês vêem,  estando planificado, que são quatro:

São quatro, quer dizer, não há menos do que no tetraedro que tem quatro faces, das quais, em cada uma, podemos fazer um furo. Só que se pode fazer dois furos, até três, até quatro, fazendo um furo em cada uma das faces e que, neste caso, cada face se combinando com todas as outras e podendo até mesmo repassar por si mesma, não vemos como contar esses trajetos que seriam constituintes do que se chama de grupo fundamental.

Estamos, em suma, reduzidos à constância de cada um desses furos, que por isso desvanecem de uma maneira bastante sensível, já que um furo não é grande coisa. Como então distinguir o que faz furo e o que não faz furo?

Pode ser que a quatrança possa nos ajudar a compreendê-lo. Trata-se,  com efeito na quatrança de algo que solidariza com o que eu qualifiquei de três círculos, à saber, como vocês vêem aqui neste primeiro desenho, esses três círculos formam um nó borromeano.


Eles formam um nó borromeano, não que os três primeiros façam nó borromeano, pois, como está implicado, no fato de que o quarto, liberado se assim posso dizer, o quarto elemento liberado deve deixar cada um dos três livres.

Portanto, a quatrança liga, a partir da que está mais acima (em preto), com a condição de passar por cima da que está mais acima, ele se encontrará passando - sobre aquele que na planificação é intermediário (em verde) - passando abaixo, ele vai se encontrar ligando os três. Isso é bem, com efeito, o que vemos se passar aqui, à saber, com a condição de que vocês vejam isso como equivalente a isso:


Eu penso que vocês veem se tratar aqui de uma representação do Real na medida em que é aqui que vocês tem a apreensão, do Imaginário, do Sintoma e do Simbólico, sendo o Simbólico na ocasião muito precisamente o que temos que pensar como sendo o significante. O que isso quer dizer?

É que o significado nesta ocasião é um sintoma, o corpo, à saber, o Imaginário estando distinto do significado. Essa forma de fazer a cadeia nos interroga sobre isso: é que o Real... à saber, isso que na ocasião está marcado lá...é que o Real estaria todo especialmente suspenso ao Corpo.

Sim, vamos tentar ver aqui o que resultaria disso, à saber, esse X que está ali, nesse lugar…


... abriria e o Imaginário se continuaria no Real. De fato, é o que, com efeito, se passa, pois os corpos só são produzidos - da maneira mais fútil - como apêndices da vida, dito de outra forma é o que Freud especula quando fala do gérmem.

Encontramos aí, em torno da função falante, algo que, por assim dizer, isola o homem. E não é senão em função disso, é preciso marcar aí, que não há relação sexual. O que podemos, na ocasião, chamar de linguagem, se assim posso dizer, não supriria isso. É um fato que o bla-bla-blá móvel, móvel que se distingue do que não há relação. Sim, neste caso seria necessário que o Real…sem que possamos saber onde ele pára ...que o Real, nós o colocamos em continuidade com o Imaginário. Em outros termos, começa ali em algum lugar bem no meio do Simbólico:


Isso explicaria porque o Imaginário, aqui traçado em vermelho, efetivamente se redobra no Simbólico, mas que, por outro lado, lhe seja estrangeiro, como atesta o fato de que só há homem para falar. 

Isso se exprime aqui: que o Real está desenhado em verde.

Sim... eu amaria que alguém me interpelasse sobre o que venho hoje e para vocês, penosamente tentando formular dessa forma que torna o simbólico algo que não é fácil de exprimir. Eu penso que, quanto a esta trança a quatro,  me parece reproduzir, reproduzir muito exatamente o que está aqui:

 

Ou seja, é uma forma de representá-lo como a trança em questão.

Se eu efetivamente não consegui de imediato, é porque vocês devem crer que não é fácil fazer uma trança a 4: é necessário partir de um ponto que corta os inter-cruzamentos, por assim dizer, de uma maneira adequada, e pode ser que as coisas sejam tais que a partir de um desses pontos não se encontre uma maneira de fazer a trança.

É bem por isso que eu estou tão atrasado, tão atrasado que isso que eu tinha a dizer a vocês hoje acabou de forma tão condenável. Então, se alguém quiser me dar a réplica, à saber, me interrogar sobre o que eu tentei dizer hoje, ficar-lhe-ia muito reconhecido.

 

 

Questões

X

- Eu me permito lhe colocar uma questão. Eu queria perguntar a você, porque você disse: o pressuposto do espaço, e eu nunca compreendi bem - e eu humildemente admito isso diante desta nobre assembléia - se você diz ex-siste ou existe. Eu tenho o direito de ter minhas fraquezas. Mas por que você não poderia dizer: o pai do espaço?

 

Lacan  

Sim.

 

X

- …eu me pergunto. E então você disse: a pressuposição do tetraedro que é a três no espaço forma trança. Eu não estou no circo, mas eu lembro que já que estamos falando de uma esfera, com essas bolas que você enviou que são tão diferentes entre si,  que podemos trançar.

 

Lacan

- Podemos...?

 

X

- Podemos trançar na ilha Borromeo. Podemos fazer a trança no espaço como um malabarista.

 

Lacan

- É...

 

X

- É o que você disse, que é difícil no plano, você mesmo admitiu. Ninguém te disse?

 

Lacan

- Sim é verdade. Bom. Alguém mais tem alguma outra questão a colocar?

 

X

- A abertura do Real e do Imaginário com o Simbólico dobrado sobre si mesmo supõe que você passe do domínio do homem para o domínio da vida e do vivente?

 

Lacan

 - Certamente ele não é o único a viver.

 

X

- Você não pode me ouvir justamente porque eu não tenho um microfone. A técnica é feita assim como os microfones.Por que é que você não se serve dele? É para dar mais valor ao que você diz?

 

Lacan

 - Certamente não! Peço desculpas por ter precisado ir ao quadro mais de uma vez.

 

X

- Então, se a função falante isola o homem, que tal uma manifestação pré-verbal, quer dizer, a possível abertura do Real...eu reli: o Real em continuidade com o Imaginário ...como você vê, por exemplo, as manifestações pré-verbais que são as da arte, por exemplo.

 

Lacan

- As da...?

 

X

- …da arte, da música, a arte entre aspas, a pintura, a música, enfim, todas as artes que são, que não passam pela talking-cure, que não passam pelo falar? Então, se você colocar o Real em continuidade com o Imaginário por uma abertura aqui, eu creio...de uma experiência que é minha a de pintar...que a continuidade aqui desenhada por você no quadro por uma abertura está em ato...bem digo em ato - desta vez pelo corpo, que é como você definiu e como Freud o define pelo gérmem, como o corpo estando ali como apêndice...acho que ali, ao nível da pintura, se passa justamente um jogo de apêndice pré-verbal, quer dizer e aí, lhe peço que justamente encadeie isso, não que eu não saiba o que vem a seguir, mas que aguardo sua resposta.

 

Lacan

- Sim...

 

X

- Vejo neste grafo, que é a representação de um corte, mas onde há a possibilidade de uma abertura em ato que é o ato de pintar, que está ali justamente o fato de uma abertura, mas por uma continuidade que seria, me desculpe, uma espécie de… um pouco como quando você pega o caramelo, isso faz fios. Então, desta vez, não há o corte entre o sujeito e o lugar do Outro, não há essa alienação que nos foi descrita na música, da última vez, onde o pequeno(a) se desvanece, digamos que entre o Sujeito e o lugar do Outro isso é feitos de fios. É como quando se faz caramelo.

A partir da compulsividade do Sujeito ao lugar do Outro, vejo uma curiosa possibilidade da linguagem da pintura...que é a minha, e que é uma linguagem onde, ao nível do denotado, isto é, ao nível do que é o dicionário e do que é justamente colocado em abismo e que está em função do tempo em seu estudo da linguagem a partir a cura...aqui no fato pictórico há uma espécie de insistência...e como Lacan diz que o sentido não consiste no que significa no mesmo momento, efetivamente há sempre esse escorregada e esse jogo dos significantes como no Seminário dA Carta Roubada

...aqui haveria um processo de continuidade, de curiosa insistência, num primeiro nível que seria um nível do denotado...que existiria na poesia, que existe no que me concerne, numa experiência pictórica onde naquele momento há uma primeira colocação em cenário, em cena...os signos são cenográficos e vão insistir em um nível onde o primário passa para o secundário e - se você quiser - faz uma primeira colocação em forma de signos que eles mesmos serão então postos em condição de abismo pelo jogo de uma espécie de engrenagem cênica.

 

Lacan

- Pessoalmente, creio que seu pré-verbal, na ocasião, é totalmente moldado pelo verbal. Eu quase diria que é um hiper-verbal. O que você chama na ocasião, por exemplo,  de filamentos, é algo profundamente motivado pelo símbolo e pelo significante.

 

X

- Sim, eu também creio. Mas, digamos que a via é diferente e não passa por todo o processo do Simbólico e, não, não quero de forma alguma colocar em dúvida ou criticar o seu ensino, embora eu não esteja aqui para...

Lacan

- Não há nenhuma razão para que não se possa colocar meu ensino em dúvida.

X

- Não, mas digamos que ao nível do que já não é mais...

Lacan

- Estou tentando dizer que a arte em certas ocasiões [o] está além do simbolismo. A arte é um saber-fazer e o Simbólico é o princípio do fazer. Creio que há mais verdade no dizer da arte do que em não importa qual bla-bla-blá. Mas isso não quer dizer que isso passa por não importa qual via.

X

- Sim, eu somente queria dizer que as coisas...

Lacan

- Isso não é um pré-verbal. É um verbal à segunda potência. 

Aí está !

 

TEXTO EM FRANCÊS 

 

L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan



 Leçon 5

18 janvier 1977                                                                                                                                  

 

 

C’est plutôt pénible, alors voilà : à la vérité, ceci c’est plutôt le témoignage dun échec, à savoir que je me suis épui­sé pendant quarante huit heures, à faire ce que j’appellerais… contrai­rement à ce qu’il en est de la tres­se …je me suis épuisé pendant qua­rante huit heures à faire ce que j’appellerais une quatresse. Voilà:


La tres­se est au principe du nœud borroméen, c’est à savoir quau bout de six fois, on trouve…pour peu quon croise de la façon convenable ces trois……ceci veut dire qu’au bout de six manœuvres de la tresse, vous retrouvez dans l’ordre - à la sixième manœuvre - le 1, le 2 et le 3:



C’est ceci qui constitue le nœud borro­méen. Si vous en avez… si vous procédez douze fois, vous avez de même un autre nœud bor­roméen. Chose curieuse, cet autre nœud borroméen n’est pas visualisé immédiatement.Il a pourtant ce caractère que, contrairement au premier nœud borroméen qui, comme vous l’avez vu tout à l’heure, passe au-dessus de celui qui est au-dessus - puisque - vous le voyez : le rouge est au-des­sus du vert - au-dessous de celui qui est au-dessous : voilà le principe dont découle le nœud borroméen, c’est en fonction de cette opération que le nœud borroméen tient.



De même, dans une opération à quatre, vous mettrez un au-dessus, l’autre au-dessous : 



Et de même opérerez­-vous, avec au-dessous celui qui est au-dessous, vous aurez ainsi un nouveau nœud borroméen qui représente celui à douze croise­ments:



Que penser de cette tresse ? Cette tresse peut être dans l’espace, il n’y a aucune raison - en tout cas au niveau de la quatresse - que nous ne puissions la supposer entièrement suspendue. La tresse pourtant est visualisable pour autant qu’elle est mise à plat. J’ai passé une autre époque, celle qui était prétendument réservée aux vacances, à m’épuiser de même à essayer de mettre en fonction un autre type de nœud borroméen, c’est à savoir celui qui se serait fait obligatoirement dans l’espace puisque ce dont je partais, ça n’était pas le cercle comme vous le voyez là, c’est-à-dire de quelque chose qu’on met d’habitude à plat, mais de ce qu’on appelle un tétraèdre. 

Un tétraèdre, ça se dessine comme ça:

 


Grâce à ça, il y a 1, 2, 3, 4, 5, 6 arêtes.  Je dois dire que les préjugés que j’avais - car il ne s’agit de rien de moins – m’ont poussé à opérer avec les quatre faces et non pas avec les six arêtes, et qu’avec les quatre faces c’est tout à fait difficile, c’est impossible de faire un tressage. II y faut les six arêtes pour faire un tressage correct et j’aimerais que ces boules, je les vois revenir. [boules lancées à la salle portant le tracé du schéma] 

Le fait est que vous y constaterez que le tres­sage, non pas à six mais à douze, est tout à fait fondamental. Je veux dire que ce qui se produit, c’est qu’on ne saurait mettre en exercice ce tressage des tétraèdres sans partir - puisque de tétraèdres, il n’y en a que trois - sans partir de la tresse. 

C’est un fait qui m’a été découvert sur le tard, et dont vous verrez ici, pour peu que je vous passe ces boules dont - je le répète - j’aimerais les voir revenir parce que je ne les ai pas - loin de là - pleinement élucidées. Je vais donc, comme je fais d’habitude, vous les envoyer pour que vous les examiniez. J’aimerais les voir revenir toutes les quatre. En effet, elles ne sont pas semblables. 

Il y en a quatre, ce n’est pas sans raison. C’est une raison que je n’ai pas même encore maîtrisée. Il est préférable…quoi que bien entendu ça prendrait trop de temps …il serait préférable que, d’une de ces boules à l’autre, on les compare, car elles sont effectivement diferentes.

J’aimerais que, de cette tresse à trois… qui est basale dans l’opération de ces nœuds borroméens tétraédriques auxquels, je vous le répète, je me suis attaché sans y parvenir complètement …j’aimerais que vous tiriez une conclusion. C’est que, même pour les tétraèdres en question, on procède aussi à ce que j’appellerais une mise à plat, pour que ce soit clair. 

Il faut la mise à plat - dans l’occasion sphérique - pour qu’on touche du doigt si je puis dire, que les croisements en question, les croisements tétraédriques, sont bien du même ordre, c’est à savoir que le tétraèdre qui est en-dessous, le troisième tétraèdre, passe en-dessous, et que le tétraèdre qui est en-dessus, le troisième tétraèdre passe en-dessus. 

C’est bien à cause de ça que nous en sommes, là encore, au nœud borroméen. Ce qu’il y a de fâcheux pourtant, c’est que même dans l’espace, même à partir d’un présupposé spatial, nous soyons contraints aussi dans ce cas-là à supporter… puisqu’en fin de compte, c’est nous qui supportons …à supporter la mise à plat. Même à partir d’un présuppose spatial, nous sommes forcés de supporter cette mise à plat, très précisément sous la forme de quelque chose qui se présente comme une sphère:



Mais, qu’est-ce à dire, si ce n’est que, même quand nous manipulons l’es­pace, nous n’avons jamais vue que sur des surfaces, des surfaces sans doute qui ne sont pas des surfaces banales puisque nous les articulons comme mises à plat. 

À partir de ce moment, il est, sur les boules… que je viens de vous distribuer et que j’aimerais bien voir revenir …il est, sur les boules, mani­feste que la tresse fondamentale - celle qui s’entrecroise douze fois - il est manifeste que cette tresse fondamentale fait partie d’un tore.

Exactement ce tore que nous pouvons matérialiser au niveau de ceci, à savoir de la tresse à douze, et que nous pourrions d’ailleurs aussi bien matérialiser au niveau de ceci, c’est-à-dire de la tresse à 6:



À la vérité cette fonction du tore est tout à fait manifeste au niveau des boules que je viens de vous remettre, parce que il n’est pas moins vrai qu’entre les deux petits triangles, si nous faisons - je vous prie de consi­dérer ces boules -si nous faisons passer un fil polaire, nous aurons exactement de la même façon un tore. 

Car il suffit de faire un trou au niveau de ces deux petits triangles pour constituer du même coup un tore. C’est bien en quoi la situation est homogène, dans le cas du nœud borroméen, tel que je viens de le dessiner ici, est homogène entre ce nœud borroméen et le tétraèdre.

Il y a donc quelque chose qui fait qu’il n’est pas moins vrai pour un tétraèdre que la fonction du tore y règle ce qu’il y a de nodal dans le nœud borroméen. C’est un fait, c’est un fait qui n’a strictement jamais été aperçu, c’est à savoir que tout ce qui concerne le nœud borroméen, ne s’articule que d’être torique.

Un tore se caractérise tout à fait spécifiquement d’être un trou. Ce qu’il y a de fâcheux, c’est que le trou c’est très difficile à définir. C’est que le nœud du trou avec sa mise à plat est essentiel : c’est le seul principe de leur comptage, et qu’il n’y a qu’une seule façon, jusqu’à présent, en mathématiques, de compter les trous, c’est de passer par, c’est-à-dire de faire un trajet tel que les trous soient comptés. 

C’est ce qu’on appelle le groupe fondamental . C’est bien en quoi la mathématique ne maîtrise pas pleinement ce dont il s’agit.

Combien de trous y a-t-il dans un nœud borroméen ? 

C’est bien ce qui est problématique, puisque vous le voyez, mis à plat, il y en a quatre : 


Il y en a quatre, c’est-à-dire qu’il n’y en a pas moins que dans le tétraèdre qui a quatre faces, dans lesquelles, chacune, on peut faire un trou. À ceci près qu’on peut faire deux trous, voire trois, voire quatre, en faisant un trou dans chacune des faces et que, dans ce cas-là, chaque face se combinant avec toutes les autres et pouvant même repasser par soi, nous voyons mal comment compter ces trajets qui seraient constituants de ce qu’on appelle le le groupe fondamental. 

Nous en sommes donc réduits à la constance de chacun de ces trous, qui de ce fait s’évanouit d’une façon tout à fait sensible, puisqu’un trou ce n’est pas grand chose. Comment des lors distinguer ce qui fait trou et ce qui ne fait pas trou? 

Peut-être la quatresse peut nous aider à le saisir. Il s’agit en effet dans la quatresse de quelque chose qui solidarise ce dont il se trouve que j’ai qualifié trois cercles, c’est à savoir que, comme vous le voyez ici dans ce premier dessin, ces trois cercles forment nœud borroméen. 

 


Ils forment nœud borroméen, non pas que les trois premiers fassent nœud borroméen, puisque, comme c’est impliqué dans le fait que la quatrième, libérée si je puis dire, le quatrième élément libéré doit laisser chacun des trois, libre.

La quatresse lie pourtant, à partir de celui qui est le plus en-dessus [en noir], à condition de passer par-dessus celui qui est le plus en-dessus, il se trou­vera à passer - sur celui qui dans la mise à plat est intermédiaire [en vert] - à passer dessous, il se trouvera lier les trois. C’est bien en effet ce dont nous voyons ce qui se passe, c’est à savoir que, à condition que vous voyiez ça comme équivalent à ceci:


Je pense que vous voyez ici qu’il s’agit d’une représentation du Réel pour autant que cest ici que vous en avons l’appréhension, de l’Imaginaire, du Symptôme et du Symbolique, le Symbolique dans l’occasion étant très précisément ce qu’il nous faut penser comme étant le signifiant. Qu’est-ce à dire? 

C’est que le signifié dans l’occasion est un symptôme, le corps, à savoir l’Imaginaire étant distinct du signifié. Cette façon de faire la chaîne nous interroge sur ceci : c’est que le Réel…à savoir ceci dans l’occasion qui est marqué là…c’est que le Réel serait suspendu tout spécialement au Corps.

Oui, tâchons ici de voir ce qui résulterait de ceci, c’est à savoir que cet X qui est là, cette place…



... s’ouvrirait et que l’Imaginaire se continue­rait dans le Réel. C’est bien en effet ce qui se passe, puisque les corps ne sont produits - de la façon la plus futile - que comme appendices de la vie, autrement dit de ce sur quoi Freud spécule quand il parle du germen.

Nous trouvons là, autour de la fonction parlante, quelque chose qui, si l’on peut dire isole l’homme, dont il faudrait à ce moment-là marquer que ce n’est qu’en fonction de ceci qu’il n’y a pas de rapport sexuel, que ce que nous pouvons appeler dans l’occasion le langage, si je puis dire, y suppléerait. C’est un fait que le bla-bla meuble, meuble ce qui se dis­tingue de ceci qu’il n’y a pas de rapport. Oui, il faudrait dans ce cas que le Réel…sans que nous puissions savoir où il s’arrête …que le Réel, nous le mettions en continuité avec l’Imaginaire. En dautres termes, ça commence là quelque part au beau milieu du Symbolique:

 


Ça expliquerait que lImaginaire, ici tracé en rouge, effectivement se reploie dans le Symbolique, mais que il en est d’autre part étranger, comme en témoigne le fait qu’il n’y a que l’homme à parler. 

Ça s’exprime ici : que le Réel est dessiné en vert.

Ouais… J’aimerais que quelquun minterpelle à propos de ce que jai aujourdhui, pour vous, péniblement essayé de formuler de cette façon qui fait du symbolique quelque chose qui nest pas facile à exprimer. Je pense que, pour ce qui est de cette tresse à quatre, elle me semble reproduire, reproduire très exactement ce qui est ici:

 


C’est à savoir que c’est une façon de la représenter comme tresse dont il s’agit.

Si je n’y ai pas effectivement réussi d’emblée, c’est parce qu’il ne faut pas croire que ce soit aisé de faire une tresse à 4: il y faut partir d’un point qui sectionne les entrecroisements, si je puis dire, d’une façon appropriée, et il se peut que les choses soient telles qu’à partir d’un de ces points, on ne trouve pas moyen de faire la tresse.

C’est bien à ça que je me suis si longuement attardé, si longuement attardé qu’il en est résulté plus qu’un dommage pour ce que j’avais à vous dire aujourd’hui.Si donc quelqu’un veut bien me donner la réplique, à savoir m’interroger sur ce que j’ai voulu dire aujourd’hui, je lui en serais reconnaissant.

 

 

Questions

 

- Je me permets de vous poser une question. Je voulais vous demander, parce que vous avez dit : le présupposé espace, et je n’ai jamais très bien compris - et je l’avoue humblement devant cette noble assemblée - que vous disiez  ek-siste ou existe. J’ai le droit d’avoir mes faiblesses. Mais pourquoi ne pourriez-vous pas dire : le  père espa­ce ?

 

Lacan  

Oui

 

…Je me demande.  Et puis vous avez dit : le  présupposé tétraèdre qui est à trois dans l’espace forme tresse.  Je ne suis pas au cirque, mais je me souviens puisque nous parlons de sphère, avec ces balles que vous avez envoyées qui sont si différentes, on peut la tresser.

 

Lacan  

-  On peut…?

 

- On peut la tresser sur l’île Borromée. On peut faire la tresse dans l’espace comme le jongleur.

 

Lacan

 -   Ouais…

 

- C’est ce que vous avez dit qui est difficile à plat, vous l’avez avoué vous-même. Personne ne vous l’a dit ?

 

Lacan

-   Oui c’est vrai. Bien. Est-ce que quelqu’un d’autre a une question à poser ?

 

X

Est-ce que l’ouverture du Réel et de l’Imaginaire avec le Symbolique replié sur lui-même suppose que vous passiez du domaine de « l’homme » au domaine de « la vie et des vivants » ?

 

Lacan

  -   Il n’est certainement pas le seul à vivre.

 

X

Vous ne m’entendez pas parce que justement je n’ai pas de micro. La technique est faite ainsi qu’il y a des micros. Pourquoi est-ce que vous ne vous en servez pas ? Est-ce que c’est pour donner plus de valeur à ce que vous dites ?

 

Lacan

- Certainement pas ! Je m’excuse d’avoir dû aller au tableau plus d’une fois.

 

X

- Alors, si la fonction parlante isole l’homme, qu’en est-il d’une manifestation  préverbale, c’est-à-dire de l’ouverture possible du Réel…je relis : le Réel en continuité avec l’Imaginaire…comment voyez-vous par exemple des manifestations préverbales qui sont celles de l’art par exemple.

 

Lacan

-   Celles de… ?

 

X

- …l’art, la musique, l’« art » entre guillemets, la peinture, la musique, enfin tous les arts qui sont, qui ne passent pas par la talking-cure, qui ne passent pas par le parler ? Alors, si vous mettez le Réel en continuité avec l’Imaginaire par une ouverture ici, je crois…d’une expérience qui est la mienne de la peinture que la continuité ici dessinée par vous au tableau par une ouverture est en acte … je dis bien en acte - cette fois par le corps, qui est comme vous l’avez défini et comme Freud le définit par le germen, comme le corps étant là par appendice…je pense que là au niveau de la peinture se passe justement un jeu d’appendice pré-verbal, c’est-à-dire et alors là, je vous demande d’enchaîner justement, non pas que je ne sais pas la suite, mais que j’attends votre riposte.

 

Lacan

-   Oui…

 

X

- Je vois dans ce graphe, qui est la représentation donc d’une coupure, mais où il y a la possibilité d’une ouverture en acte qui est l’acte de la peinture, qui est justement là le fait d’une ouverture, mais par une conti­nuité qui serait, excusez-moi, une sorte de… un peu comme quand vous prenez du caramel, ça fait des fils. Alors cette fois il n’y a pas la coupure entre le sujet et le lieu de l’Autre, il n’y a pas cette aliénation qui nous a été décrite dans la musique, la fois dernière, où le petit(a) s’évanouit, disons qu’entre le Sujet et le lieu de l’Autre ça fait des fils. C’est comme quand on fait du caramel. 

À partir du compulsionnel du Sujet jusqu’au lieu de l’Autre, moi, je vois une possibilité curieuse du langage de la pein­ture…qui est la mienne, et qui est un langage où au niveau du dénoté, c’est-­à-dire au niveau de ce qui est le dictionnaire et de ce qui est justement mis en abîme et qui est en fonction de l’heure dans votre étude sur le langage à partir de la cure …ici dans le fait pictural il y a une sorte d’insistance…et comme Lacan dit que le sens ne consiste pas en ce qu’il signifie au moment même, effectivement il y a toujours cette glissade et ce jeu des signifiants comme dans le Séminaire de La Lettre volée

…ici il y aurait un processus de conti­nuité, de curieuse insistance, à un premier niveau qui serait un niveau du dénoté…qui existerait en poésie, qui existe en ce qui me concerne moi, dans une expérience picturale où à ce moment-là il y a une première mise en scénario, en scène…les signes sont scéno-engraphés et vont insister à un niveau où le primaire passe dans le secondaire et - si vous voulez - fait une première mise en forme de signes qui eux-mêmes seront après mis en condition d’abîme par le jeu d’une sorte d’engrenage scénique.

 

Lacan

- Moi, je crois que votre pré-verbal en l’occasion est tout à fait modelé par le verbal. Je dirais presque que c’est un hyper-verbal. Ce que vous appelez dans l’occasion par exemple ces filaments, c’est quelque chose qui est profondément motivé par le symbole et par le signifiant.

 

X

- Oui, je le crois aussi d’ailleurs. Mais, disons que la voie est autre et ne passe par tout le processus du Symbolique et c’est pas du tout pour mettre en doute ou en défaut votre enseignement, bien que je ne suis pas là pour…

 

Lacan 

- Il n’y a aucune raison qu’on ne puisse pas mettre mon ensei­gnent en défaut.

 

X

 - Non mais disons qu’au niveau de ce qui n’est plus…

 

Lacan

- J’essaye de dire que l’art dans l’occasion est au-delà du sym­bolisme. L’art est un savoir-faire et le Symbolique est au principe de faire. Je crois qu’il y a plus de vérité dans le dire de l’art que dans n’importe quel bla-bla. Mais ça ne veut pas dire que ça passe par n’im­porte quelle voie.

 

-  Oui, j’ai seulement voulu dire que les choses…

 

Lacan

 - Ce n’est pas un pré-verbal. C’est un verbal à la seconde puissance. 

Voilà !

 

 

 

A aula 5 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/05_insu18-01-77.mp3

 


 

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