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A PERVERSÃO COMO DISCURSO, ESTRUTURA E SINTOMA DE UMA ÉPOCA

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Lucian Freud,  Interior Amplo, Notting Hill  , 1998.  Este ensaio rastreia o conceito de perversão: de uma estrutura psíquica singular, definida pela recusa da castração ( Verleugnung ), a um sintoma social generalizado . Discutimos a subversão freudiana e a leitura lacaniana, onde o objeto fetiche garante o gozo ao invés de causá-lo . Essa lógica do  contrato, em vez de Lei simbólica, não pertence apenas ao indivíduo. Na "cidade perversa" contemporânea , o mercado substitui o pai e o supereu ordena: " goza, consome, aparece " . Entenda  por que a perversão revela a dificuldade da cultura em aceitar a perda e como a psicanálise é o lugar onde a falta ainda pode resistir . Entre a Lei e o Gozo: a Perversão como Discurso, Estrutura e Sintoma de uma Época A palavra perversão carrega um peso histórico e moral que antecede a psicanálise. Antes de Freud, ela habitava os domínios da psiquiatria e do direito penal — onde designava o desvio, o vício, o crime, o a...

QUANDO O CORPO FALA: PSICANALISE E O REAL DO SINTOMA

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  Desde Freud, a psicanálise se manteve em tensão com os discursos que pretendem domesticar o enigma do sintoma. A psicologia e a biologia buscam localizar o sintoma num terreno conhecido, causal, mensurável. Jairo Gerbase, em “A hipótese de Lacan”, articula esses discursos em termos precisos: há três orientações possíveis sobre o sintoma mental — a psicológica, a biológica e a psicanalítica —, e cada uma funda uma concepção distinta do sujeito e do real. Entre a moral do ambiente e a química do corpo, a psicanálise preserva o mistério do dizer. O sintoma, na hipótese de Lacan, é o lugar onde o significante toca o corpo e o faz falar; é o ponto em que o sujeito, afetado pelo inconsciente, tenta dar forma ao impossível. Por isso, a clínica psicanalítica não busca eliminar o sintoma, mas escutá-lo — pois nele ressoa o que, em cada sujeito, faz do corpo um lugar de linguagem e do inconsciente, um nome do real. A hipótese de Lacan Jairo Gerbase No campo que nos concerne, o do sintoma d...

A DEVASTAÇÃO NO MASCULINO E A VIOLÊNCIA CONTRA O FEMININO

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Johnson Tsang . “Here and There” Lucid Dream II .  Em: https://johnsontsang.wordpress.com/ Neste pequeno ensaio, apresento o artigo A devastação no masculino e a violência contra o feminino nas mulheres , de Denise Maurano e Joana Dark da Silva Souza, que se destaca pela consistente articulação entre a teoria e a clínica psicanalítica. As autoras deslocam a questão da violência contra a mulher do campo sociológico para uma dimensão estrutural do sujeito, apoiando-se na teoria lacaniana dos gozos — fálico e Outro. Com clareza e precisão conceitual, examinam como o encontro com o feminino pode ser vivido, por alguns sujeitos, como uma experiência devastadora, suscetível de desencadear formas extremas de violência. O texto oferece aos psicanalistas importantes elementos para pensar a relação entre o horror ao feminino , a fragilidade da posição fálica e as manifestações contemporâneas da violência. A devastação no masculino e a violência contra o feminino O artigo, “A devastação no ...

CLÍNICA PSICANALÍTICA

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- Questões da Clínica Contemporânea - Este texto sobre as questões da clínica contemporânea foi elaborado a partir de reflexões propostas em nosso grupo de estudo na Usina Dizer. Ele nasce, portanto, do diálogo e da troca de ideias, e pretende prolongar essa conversa, abrindo novas perguntas sobre o lugar da psicanálise hoje.  A modernidade e a invenção da psicanálise Sob a ótica da historiografia, os marcos inaugurais da modernidade são situados em três grandes acontecimentos: a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a Filosofia Iluminista. Esses eventos abriram um novo tempo histórico, marcados por promessas de emancipação e desenvolvimento, mas também com novas formas de violência e alienação. Na literatura, que se nutre da seiva da subjetividade em gestão, a modernidade encontra um marco privilegiado na obra poética e ensaística de Charles Baudelaire.  Para Walter Benjamin, As flores do mal e O pintor da vida moderna são textos fundadores da modernidade, pois neles...

FREUD: O EXÍLIO, O SONHO E O LEGADO DO INCONSCIENTE

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Sigmund Freud: vida, obra e herança do criador da psicanálise No dia 23 de setembro de 1939, em Londres, morreu Sigmund Freud. Doente, exilado, enfraquecido pela longa batalha contra um câncer na mandíbula, Freud morreu sob a sombra da guerra que já tomava a Europa. Mas o destino singular de sua vida e obra havia se consolidado: nada seria igual depois da invenção da psicanálise. Freud nasceu em 1856, em Freiberg, na Morávia — então parte do Império Austro-Húngaro, hoje território da República Tcheca. Descendente de uma família judia, cresceu em Viena, cidade onde viveria a maior parte de sua vida. Esse pertencimento judaico, em uma Europa atravessada pelo antissemitismo, nunca deixou de marcar seu percurso. Freud não era religioso, mas carregava em sua herança cultural e, na condição de cidadão do não-lugar, forjou um traço fundamental de sua sensibilidade crítica. Estudioso brilhante, iniciou-se na medicina e na neurologia, pesquisando sobre o sistema nervoso e trabalhando com pa...