Psicanálise e Linguística
Assim começa o primeiro capítulo do
Livro Os nomes indistintos, de
Jean-Claude Milner. Um ótimo texto. Uma leitura indispensável para aqueles que ousam
atravessar a teoria lacaniana.
"Existem
três suposições. A primeira, ou melhor, uma delas, pois já é demais pôr ordem
nisso, por mais arbitrária que seja, é que há:
proposição tética que só tem por conteúdo sua própria posição – um gesto de
corte, sem o qual não há nada que exista. Chamaremos isso de real ou R. Outra
suposição, dita simbólica ou S, é que há
alíngua, suposição sem a qual nada, e singularmente nenhuma suposição,
poderia ser dita. Uma outra suposição, enfim, é que há semelhante, na qual se institui tudo o que constitui laço: é o
imaginário ou I.
De
algumas dessas suposições deduzem-se, por análise, séries de proposição que se
encadeiam. Assim, do fato de haver semelhante concluiremos que há dessemelhante e, daí, que há relação, já
que basta dois termos serem considerados semelhantes ou dessemelhantes para que
uma relação entre eles seja definível. Concluiremos, em seguida, que existem
propriedades, já que basta que entre dois termos exista uma relação para que
uma propriedade comum possa, por abstração, ser construída. Concluiremos
igualmente que existem classes e que elas são fundadas nas propriedades, que as
propriedades são apenas uma maneira de construir semelhante, que existem todos
e que eles têm um limite, cada todo suspendendo-se no ponto onde surge um
dessemelhante. Concluiremos, enfim, que há representável, já que a
representação nada supõe a não ser a similitude e a relação. Pela simples
reiteração e combinação dos procedimentos acessíveis, os todos cuja existência
supomos poderão assim estar ligados uns aos outros num tecido de semelhante e
de dessemelhante, que podemos da mesma forma constituir como todo do
representável: o que nomeamos realidade."
Editora: Companhia de Freud
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