sábado, abril 01, 2023

JACQUES LACAN - SEMINÁRIO 1976-1977

 

O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte


Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan

 

Aula 7

15 de Fevereiro de 1977


Para vocês terem uma ideia do porquê, da última vez, eu o fiz falar – lhe pedi para falar – Alain Didier-Weill, é porque evidentemente me preocupo com as histórias de cadeia borromeana. Esta é uma cadeia borromeana. Como vocês podem ver:



Este elemento pode ser dobrado de tal forma que esses dois círculos se fechem, como os que vocês veem aqui, e que realiza um nó borromeano.

Não é absolutamente tão simples e o fato de eu ter incomodado Pierre Soury várias vezes... que é alguém que ouso crer, tem a ver com o fato de ele ter se dedicado muito ao nó borromeano … mais recentemente, lhe coloquei a questão de saber como quatro tetraedros podem ser ligados de uma maneira borromeana. Ele imediatamente me deu a solução, uma solução que verifiquei ser válida. É algo que implica o que vocês veem aqui:



À saber, não uma relação entre esses termos que são esféricos, mas uma relação que chamarei tórica. Suponham que... me pareceu que era igualmente tórico o modo sobre qual – mas só o recebi ontem à noite – o modo sobre o qual Pierre Soury me enviou o nó borromeano de quatro tetraedos. 

Isto simplesmente para lhes explicar que isso me preocupa, bem claro, de saber se, a um espaço esfericamente representável, a aplicação do nó borromeano engendra legalmente um espaço tórico, e isto para lhes explicar que, em suma, como eu estava no meio de todo esse imbógio, foi a Alain Didier-Weill que fiz apelo, o apelo de me substituir neste enunciado, pois eu vislumbrava grandes promessas no que ele havia proposto à partir do nome de Bozef.

Esse nome de Bozef que para ele... que ele apresenta como um intruso na Carta Roubada, esse nome de Bozef, eu o interpelei sobre esse nome de Bozef e nesse famoso Eu sei que ele sabe... - que ele sabe: o Rei - …porque eu o informei. Informei do que é  que não é dito. Em princípio, Alain Didier-Weill, ao introduzir o Bozef na história de A carta roubada, não sabe formalmente o que está avançando.

Testemunha isso a questão que lhe fiz e à qual ele respondeu. Ele respondeu: se Bozef pudesse ser substituído por um personagem do conto de Poe, só poderia ser a Rainha, eventualmente o ministro quando está - como sublinho - numa posição feminizada.

É um fato que se introduz efetivamente pelo que vocês sabem, à saber, o rapto da carta, por isso dita roubada, ao passo que o que enuncio, reestabelecendo o texto da Poe, The purloined Letter, à saber, é que a carta não não chega, a carta se prolonga em seu circuito. Fiz um certo número de considerações sobre isso que vocês encontrarão em meu texto, um texto que está no início do que se chama meus Escritos.

Mostro como é impressionante ver que o fato de estar, em suma, na dependência desta carta, feminiza um personagem que - se pode dizer de outra forma - não é precisamente senão audacioso, mesmo que seja apenas por causa do rapto da carta que a Rainha sabe que ele é possuidor e está feminizado por tudo isso, não que seja pela prova que ele tem de esconder do Outro - que é o Rei - a carta escandalosa.

Ele diz para si mesmo: o Outro não sabe. Mas isso é simplesmente o equivalente ao fato de ele deter a carta: ele sabe. Daí a extrapolação que faz Alain Diddier-Weill, extrapolação que se deve ao fato da detenção desta carta. Que ele a esconda do Outro, não faz o Rei saber nada sobre isso.

Alain Didier-Weill continua: no que a história da Rainha do conto se diferencia de Bozef é que a Rainha experimenta abertamente  com o ministro esses 4 tempos do  saber, que ele mesmo descreveu, e dos quais se encontra traços em Poe pela ascendência que o ministro tem em detrimento do conhecimento que o raptor... do conhecimento que a vítima tem do seu raptor …e dos quais os 4 tempos são, como ele diz:

– o ministro sabe

– que a Rainha sabe

– que o ministro sabe

– que ela sabe.

É verdade que isso é identificável e que, em seguida, Alain Didier-Weill, em sua letra, me apontou que a Rainha, no entanto, não vê esta depossessão objetiva pelo Ministro como a despossessão subjetiva que Bozef atinge no nível que ele lhes enunciou da última vez, como B– R3.

É verdade que há uma carência no enunciado que nos fez, na última sessão, Alain Didier-Weill. Mas eu nisso, ando em falso. Bozef, embora seja dotado de um nome... e é bem aí que está a falha onde eu surpreendo Alain Didier-Weill ...Bozef, embora seja dotado de um nome, não é alguma coisas que mereça ser nomeada, quero dizer que não é algo que se parece com alguma coisa que, digamos, se vê. Não é nomeável.

Bozef é, eu diria, a encarnação do Saber Absoluto, e o que Alain Didier-Weill extrapola, bem fora da margem do conto de Poe, é o encaminhamento à partir dessa hipótese... à saber, que Bozef é a encarnação do que especificarei mais tarde, do que quer dizer o Saber Absoluto ...mostra o encaminhamento a partir desta hipótese - que ele é ele mesmo, Bozef, esta encarnação - mostra o encaminhamento de uma verdade que de fato não pipoca em lugar algum.

Em nenhum momento o ministro - que guardou esta carta em suma como prova de sua boa vontade à rainha - em momento algum o ministro teve a ideia de comunicar esta carta, por exemplo ao Rei, que aliás é o único que estaria em posição de tirar dela as consequências.

A verdade, pode-se dizer, demanda ser dita. Ela não tem voz, para demandar para ser dita, pois em suma ela se pode, como se diz - e isso é de bem o extraordinário da linguagem - ela se pode... como o francês, que deve ser considerado como um indivíduo, colocou essa forma em uso? ela se pode, digo eu depois dele - trata-se do francês concreto - ela se pode, digo eu depois dele, que ninguém diga, nem mesmo Bozef.

E é bem de fato o que se passa. À saber, que este mítico Bozef - já que ele não está no conto de Poe - não diz absolutamente nada. O Saber Absoluto - eu diria - não fala a qualquer preço. Se ele quer se calar ele se cala.

O que eu chamei de Saber Absoluto numa ocasião é isto: é simplesmente que existe saber em algum lugar - não importa onde - no Real, e isso graças à  existência aparente... quer dizer, caída de uma forma tal que se trata de prestar contas ...a existência aparente de uma espécie para a qual, como disse, não há relação sexual.

É uma existência puramente acidental, mas sobre a qual se raciocina a partir do fato, se assim posso dizer, à partir do fato de ser capaz de enunciar algo sobre a aparência, já que tenho sublinhado a existência aparente. A ortografia que dou a palavra parecer, que escrevo pareser, existe apenas o pareser, do qual teremos de saber que o ser, na ocasião, não é mais que uma parte do falaser, como eu disse, quer dizer, de que é feito unicamente do que fala.

O que quer dizer o Saber enquanto tal? É o Saber enquanto que está no Real.

Este Real é uma noção que elaborei ao tê-lo colocado em um nó borromeano com as do Imaginário e do Simbólico.

O Real tal como aparece, o Real diz a Verdade, mas ele não fala e é preciso falar para dizer seja o que for.

O Simbólico, ele, suportado pelo significante, só conta mentiras quando fala – ele – e fala muito.

Ele se exprime ordinariamente pela Verneinung, mas o contrário da Verneinung... como enunciou alguém que teve a boa vontade de tomar a palavra em meu primeiro seminário ...o contrário da Verneinung - dito de outra maneira, do que vem com a negação - o contrário da Verneinung não dá a verdade.

Existe... quando se fala de contrário, se fala sempre de algo que existe, e que é verdadeiro de um particular entre outros, mas não existe um universal que responda por isso neste caso. E é pelo que a Verneinung é tipicamente reconhecível, que é necessário dizer uma coisa falsa, para conseguir fazer passar uma verdade. Uma coisa falsa não é uma mentira, ela só é uma mentira se for pretendida como tal, o que muitas vezes acontece, se ela de alguma forma visa que uma mentira passe por uma verdade.

Mas é preciso dizer que, à parte a psicanálise, o caso é raro. É na psicanálise que essa promoção da Verneinung, à saber, da mentira pretendida como tal para fazer passar uma verdade, é exemplar.

Tudo isso, bem claro, é enodado apenas por intermédio do Imaginário que está sempre errado. Ele está sempre errado, mas é dele que depende o que se chama consciência. A consciência está longe de ser o saber, pois ao que ela se presta é muito precisamente à falsidade.

Eu sei, isso jamais quer dizer nada, e se pode apostar facilmente que o que sabemos é falso. É falso, mas é sustentado pela consciência, cuja característica é precisamente , por sua consistência, sustentar o falso. À ponto de se poder dizer que devemos olhar duas vezes antes de admitir uma evidência, que devemos peneirá-la como tal, que nada é certo em matéria de evidências, e foi por isso que enunciei que era preciso esvaziar a evidência, que é do esvaziamento que se levanta a evidência.

É muito surpreendente que... que eu também possa passar para a ordem das confidências com que sou sobrecarregado por minhas análises cotidianas …um Eu sei que é consciência…quer dizer, não somente saber, mas a vontade de não mudar ...é algo que eu - posso lhes fazer essa confidência - comprovei muito cedo, comprovei por causa de alguém - como todo o mundo - que me era próximo, à saber aquela a quem eu chamava naquele momento - eu era 2 anos mais velho que ela, 2 anos e meio - de minha irmãzinha, chama-se Madeleine e disse-me um dia, não Eu sei, porque o eu teria sido muito, mas Manène sabe.

O inconsciente é uma entidade... que tentei definir pelo Simbólico, mas que não é, em suma, senão uma entidade a mais …uma entidade com a qual se trata de saber e fazer. Saber e fazer não são a mesma coisa que um Saber, que o Saber Absoluto de que falei agora mesmo.

O inconsciente é justamente o que faz algo mudar, o que reduz o que chamo de o sinthoma, o sinthoma que escrevo com a ortografia que vocês conhecem.

Sempre lidei com a consciência, mas de uma forma tal que fazia parte do inconsciente... já que é uma pessoa, d-uma na ocasião, d-um já que, a pessoa em questão coloca-se na terceira pessoa nomeando-se Manène... de uma forma que fazia parte do inconsciente, eu disse, já que é d-um que, como no meu título deste ano, d-um tropeço que se se joga no amor, que ela se entregava como portadora do Saber.

Ele ou ela é a terceira pessoa, é o Outro, tal qual eu o defino, é o inconsciente. Ele sabe,  no absoluto - e somente no absoluto - ele sabe que eu sei o que havia na carta, mas que sei tudo sozinho. Na realidade, portanto, ele não sabe nada, senão que eu sei, mas isso não é razão para que eu lhe diga.

De fato, esse Saber Absoluto, eu fiz mais do que uma alusão a ele em algum lugar, eu verdadeiramente insisti nele com meus tamancos grandes, à saber, todo o apêndice que adicionei ao meu escrito sobre A carta roubada, à saber, o que vai da página 52 à página 60, essa parte que intitulei de Parêntese dos parênteses, é precisamente esse algo que – ali – se substitui a Bozef.

Alain Didier-Weill, ele, não é que ele se substitui: ele se identifica a Bozef... Ele se sente, ele se sente no Passe.

É assaz curioso que ele tenha conseguido, de alguma forma neste escrito, encontrar, se assim posso dizer, o apelo que respondeu por mim, que me fez responder pelo Passe.

O Real de que se trata, é o nó inteiro. Porque nós falamos do Simbólico, é necessário situá-lo no Real. Existe, para este nó, a corda. A corda que é também o cor-po-da. Esse corpo que é também corda, é parasitado pelo significante. Pois o significante, se faz parte do Real, se é bem aí mesmo que tenho razão de situar o Simbólico, devemos pensar nisso, é que esse corpo/corda, só podíamos lidar com eles no escuro. Como nós reconheceríamos, no escuro, que são um nó borromeano?

É disso que trata o Passe. Eu sei que ele sabe, o que isso pode querer dizer senão objetivar o inconsciente, exceto que a objetivação do inconsciente requer um redobramento, a saber, que eu sei que ele sabe que eu sei que ele sabe. É somente nesta condição que a análise mantém seu seu estatuto.

Isso é o que faz obstáculo a alguma coisa que, limitando-se ao Eu sei que ele sabe, abre a porta ao ocultismo, à telepatia. É por não ter compreendido assaz bem, não ter compreendido assaz bem o estatuto do anti-saber, à saber, do anti-inconsciente... dito de outra forma, deste pólo, deste pólo que é o consciente …que Freud se deixava de tempos em tempos, lisonjear pelo que desde então tem sido chamado de fenômenos psi, à saber, que ele se deixava  deslizar docemente no delírio, a propósito do fato de que Jones lhe fazia entregar seu cartão de visita justamente depois que um paciente acidentalmente lhe mencionava o nome de Jones.

O Passe de que se trata, eu não o tenho examinado senão de um modo bastante tateante, como algo que não quer dizer nada a não ser se reconhecer entre a escuridão, se posso me exprimir assim, na condição de acendermos as luzes e notarmos que se trata de algo que não quer dizer nada a não ser se reconhecer entre o Issaber.

Existem línguas que fazem obstáculo ao reconhecimento do inconsciente? Isso é algo que me foi sugerido como questão por causa deste És tu, onde Alain Didier-Weill quer que Bozef se comunique com o Rei, neste momento em que ele me imputou - bem erroneamente - graças ao fato do que ele destacou o termo comunhão em algum parte dos meus Escritos.

És tu, será que existem línguas nas quais isso se poderia dizer Tu sabes, do verbo saber, à saber, algo que colocaria o Tu, que o faria deslizar para a terceira pessoa? Tudo isso para dizer que é verdadeiramente divinatório que Alain Didier-Weill possa religar o que chamo o Passe com A Carta Roubada.

Há seguramente algo que sustenta o lançe, algo que consiste na introdução de Bozef. Bozef passeia lá dentro como verdadeiramente indiquei  no próprio texto dA Carta Roubada... como verdadeiramente indiquei:  eu falo o tempo todo, em cada página, disto que está a ponto de se produzir e é mesmo nesse ponto que termino... que uma carta chega sempre a sua destinação, à saber, que ela é, em suma, endereçada ao Rei, e que é por isso que é preciso que ela lhe chegue.

Que em todo este texto falo apenas disso, à saber, da iminência do fato de que o Rei tenha conhecimento da carta, será que com isso se quer dizer, para saber como seguir adiante, que ele já a conhece? Não somente que já a conhece, mas eu diria que a reconhece. Será que esse reconhecimento não é bem precisamente o único que pode assegurar a manutenção do casal Rainha e Rei?


Aí está o que eu queria lhes dizer hoje.




 Texto em Francês

 

 

L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan

 

 

Leçon 7

15 Février 1977  

 

Pour vous donner une idée de ce pourquoi, la dernière fois, j’ai fait parler - je lui ai demandé de parler – Alain Didier-Weill, c’est parce que évidemment je me tracasse avec des histoires de chaîne borroméenne. Ceci est une chaîne borroméenne. Comme vous le voyez : 



Ça n’est pas absolument tout simple et le fait que j’ai dérangé plusieurs fois Pierre Soury... qui est quelqu’un dont j’ose croire que je suis pour quelque chose dans le fait qu’il ait beaucoup donné dans le noeud borroméen …je lui ai posé le plus récemment la question de savoir comment quatre tétraèdres peuvent se nouer borroméennement entre eux. Il m’en a aussitôt donné la solution, solution que j’ai vérifiée pour être valable. C’est quelque chose qui implique ce que vous voyez-là:



À savoir, non pas une relation entre ces termes qui soit sphérique, mais une relation que j’appellerai torique. Supposez que… Il ma semblé quétait tout aussi torique le mode sous lequel - mais je ne l’ai reçu qu’hier soir - le mode sous lequel Pierre Soury m’a envoyé le nœud borroméen des quatre tétraèdres. 

Ceci simplement pour vous expliquer que ça me fait souci, bien entendu de savoir si, à un espace repré­sentable sphériquement, l’application du nœud borroméen engendre éga­lement un espace torique et ceci pour vous expliquer qu’en somme, comme j’étais au milieu de tout cela très embrouillé, c’est à Alain Didier-Weill que j’ai fait appel, l’appel de se substituer à moi dans cet énoncé, puisque j’avais attendu de grandes promesses de ce pour quoi il avait avancé le nom de Bozef. 

Ce nom de Bozef qui pour lui… qu’il fait entrer comme un intrus dans La lettre volée, ce nom de Bozef, je l’ai interpellé sur ce nom de Bozef et ce fameux Je sais quil sait…  -  quil sait :  le Roi -  …parce que je l’en ai informé . Informé de quoi, c’est ce qui n’est pas dit. En principe Alain Didier-Weill, en introduisant le Bozef dans l’histoi­re de La lettre volée, ne sait pas formellement ce qu’il avance. 

Témoin, la question que je lui en ai posée et à laquelle il a répondu. Il a répondu : si Bozef pouvait être substitué à un personnage du conte de Poe, ce ne sau­rait être que la Reine, éventuellement le ministre quand il est - comme je le souligne - en position féminisée. 

C’est un fait que le fait de s’intro­duire par ce que vous savez, à savoir le rapt de la lettre, dite pour cela volée, alors que ce que j’énonce, en rétablissant le texte de Poe, The purloined Letter, à savoir la lettre qui ne parvient pas, la lettre prolongée dans son circuit. J’ai fait là-dessus un certain nombre de considérations que vous retrouverez dans mon texte, texte qui est au début de ce qu’on appelle mes Écrits.

Je montre combien il est frappant de voir que le fait d’être en somme dans la dépendance de cette lettre, féminise un person­nage qui - on peut le dire autrement - n’a pas précisément froid aux yeux, ne serait-ce que du fait de ce rapt de la lettre dont la Reine sait qu’il se trouve possesseur et il est féminisé pour autant, non pas que ce soit par l’épreuve qu’il a de cacher à l’Autre - qui est le Roi - la lettre scandaleuse. 

Il se dit : l’Autre ne sait pas. Mais ceci est simplement l’équivalent du fait qu’il détient la lettre : lui sait. D’où l’extrapolation que Alain Didier-Weill fait, extrapolation qui tient au fait de la détention de cette lettre. Qu’il la cache à l’Autre, ne fait pas que le Roi en sache quoi que ce soit.

Alain Didier-Weill poursuit : ce en quoi l’histoire de la Reine du conte est différente de Bozef tient à ce que si la Reine fait bien l’épreuve ouverte avec le ministre de ces 4 temps du savoir qu’il a décrits lui-même et dont il trouve trace dans Poe par l’ascendant qu’a pris le ministre aux dépens de la connaissance qu’a le ravisseur… de la connaissance qu’a la victime de son ravisseur …et dans lesquels les 4 temps sont à son dire:

 

      le ministre sait 

      que la Reine sait 

      que le ministre sait 

      qu’elle sait. 

 

C’est vrai que ceci est repérable et qu’à la suite de cela, Alain Didier-Weill, dans sa lettre, me fait remarquer que la Reine ne vit pas pour autant cette dépossession objective par le ministre comme la dépossession subjective à laquelle parvient Bozef au niveau qu’il vous a énoncé la dernière fois, comme B3-R3.

C’est vrai que là il y a une carence dans l’énoncé que nous a fait, à la dernière séance, Alain Didier-Weill. Mais je m’inscris, à cet égard, en faux. Bozef, quoi qu’il l’ait doté d’un nom… et c’est bien là qu’est le défaut où je surprends Alain Didier-Weill …Bozef, bien qu’il l’ait doté d’un nom, n’est pas quelque chose qui mérite d’être nommé, je veux dire que ce n’est pas quelque chose qui soit comme quelque chose qui, disons se voit. Ce n’est pas nommable. 

Bozef est, je dirais l’incarnation du Savoir Absolu, et ce qu’Alain Didier-Weill extrapole, tout à fait en marge du conte de Poe, c’est le cheminement à partir de cette hypothèse…à savoir que Bozef est l’incarnation de ce que je préciserai tout à l’heure, de ce que veut dire le Savoir Absolu …montre le cheminement à partir de cette hypothèse - qu’il est lui-même, Bozef, cette incarnation - montre le cheminement d’une vérité qui n’éclate en fait nulle part. 

À aucun moment, le ministre - qui a gardé cette lettre en somme comme un gage de la bonne volonté de la Reine – à aucun moment le ministre n’a même l’idée de communiquer cette lettre, au Roi par exemple, qui est d’ailleurs le seul qui se trouverait en position d’en tirer des conséquences.

La vérité, peut-on dire, demande à être dite. Elle n’a pas de voix, pour demander à être dite, puisque en somme il se peut, comme on dit - et c’est bien là l’extraordinaire du langage - il se peut… com­ment le français qu’il faut considérer comme un individu a-t-il mis cette forme en usage ? il se peut, dis-je après lui - le français concret dont il s’agit - il se peut, dis-je après lui, que personne ne la dise, pas même Bozef. 

Et c’est bien en fait ce qui se passe. C’est à savoir que ce Bozef mythique - puisqu’il n’est pas dans le conte de Poe – ne dit absolument rien. Le Savoir Absolu - je dirai - ne parle pas à tout prix. Il se tait s’il veut se taire. 

Ce que j’ai appelé le Savoir Absolu dans l’occasion c’est ceci : c’est simplement qu’il y a du savoir quelque part - pas n’importe où - dans le Réel, et ceci grâce à l’existence apparente… c’est-à-dire chue d’une façon dont il s’agit de rendre compte …l’existence apparente d’une espèce pour laquelle, je l’ai dit, il n’y a pas de rapport sexuel. 

C’est une existence pure­ment accidentelle, mais sur laquelle on raisonne à partir du fait, si je puis dire, à partir du fait qu’elle est capable d’énoncer quelque chose, sur l’apparence bien sûr puisque j’ai souligné l’existence apparente. L’orthographe que je donne au nom paraître, que j’écris parêtre, il n’y a que le « parêtre » dont nous avons à savoir, l’être dans l’occasion n’étant qu’une part du parl’être, comme je l’ai dit, c’est-à-dire de ce qui est fait unique­ment de ce qui parle.

Qu’est-ce que veut dire le Savoir en tant que tel ? C’est le Savoir en tant qu’il est dans le Réel. 

Ce Réel est une notion que j’ai élaborée de l’avoir mise en nœud borroméen avec celles de l’Imaginaire et du Symbolique. 

Le Réel tel qu’il apparaît, le Réel dit la Vérité, mais il ne parle  pas et il faut parler pour dire quoi que ce soit. 

Le Symbolique, lui, supporté par le signifiant, ne dit que mensonges quand il parle – lui - et il parle beaucoup. Il s’exprime d’ordinaire par la Verneinung, mais le contraire de la Verneinung… comme l’a bien énoncé quelqu’um qui a bien voulu prendre la parole dans mon premier séminaire …le contraire de la Verneinung - autrement dit de ce qui s’accompagne de la négation - le contraire de la Verneinung ne donne pas la Vérité. 

Il existe… quand on parle de contraire, on parle toujours de quelque chose qui existe, et qui est vrai d’un particulier entre autres, mais il n’y a pas d’universel qui en réponde dans ce cas-là. Et ce à quoi se reconnaît typiquement la Verneinung, c’est qu’il faut dire une chose fausse, pour réussir à faire passer une vérité. Une chose fausse n’est pas un mensonge, elle n’est un mensonge que si elle est voulue comme telle, ce qui arrive souvent, si elle vise en quelque sorte à ce qu’un mensonge passe pour une vérité. 

Mais il faut bien dire que, mise à part la psychanalyse, le cas est rare. C’est dans la psychanalyse que cette promotion de la Verneinung, à savoir du men­songe voulu comme tel pour faire passer une vérité, est exemplaire. 

Tout ceci, bien sûr, n’est noué que par l’intermédiaire de l’Imaginaire qui a toujours tort. Il a toujours tort, mais c’est de lui que relève ce qu’on appelle la conscience. La conscience est bien loin d’être le savoir, puisque ce à quoi elle se prête, c’est très précisément à la fausseté. 

Je sais, ça ne veut jamais rien dire, et on peut facilement parier, que ce qu’on sait est faux. Est faux, mais est soutenu par la conscience, dont la caractéristique est précisé­ment de soutenir de sa consistance, ce faux. C’est au point qu’on peut dire que, il faut y regarder à deux fois avant d’admettre une évidence, qu’il faut la cribler comme telle, que rien n’est sûr en matière d’éviden­ce, et c’est pour ça que j’ai énoncé qu’il fallait évider l’évidence, que c’est de l’évidement que l’évidence relève.

C’est très frappant que…je peux bien, moi aussi, passer à l’ordre des confidences dont je suis accablé par mes analyses quotidiennesv…un  Je sais, qui ait conscience… c’est-à-dire non seulement savoir, mais volonté de ne pas changer …c’est quelque chose que j’ai - je peux vous en faire la confidence - éprouvé très tôt, éprouvé du fait de quelqu’un - comme tout le monde - qui m’était proche, à savoir celle que j’appelais à ce moment-­là - j’avais 2 ans de plus qu’elle, 2 ans et demi – ma petite sœur, elle s’ap­pelle Madeleine et elle m’a dit un jour, non pas Je sais parce que le je  aurait été beaucoup, mais Manène sait.

L’inconscient est une entité… que j’ai essayé de définir par le Symbolique, mais qui n’est en somme qu’une entité de plus …une entité avec laquelle il s’agit de savoir y faire. Savoir y faire, c’est pas la même chose qu’un Savoir, que le Savoir Absolu dont j’ai parlé tout à l’heure. 

L’inconscient est ce qui fait changer justement quelque chose, ce qui réduit ce que j’appelle le sinthome, le sinthome que j’écris avec l’ortho­graphe que vous savez.

J’ai toujours eu affaire à la conscience, mais sous une forme qui faisait partie de l’inconscient… puisque c’est une personne, une elle dans l’oc­casion, une elle puisque, la personne en question s’est mise à la troi­sième personne en se nommant Manène …sous une forme qui faisait par­tie de l’inconscient, dis-je, puisque c’est une elle qui, comme dans mon titre de cette année, une elle qui s’ailait à mourre, qui se donnait pour porteuse de Savoir.

Il ou elle, c’est la troisième personne, c’est l’Autre, tel que je le défi­nis, c’est l’inconscient. Il sait, dans l’absolu - et seulement dans l’absolu - il sait que je sais ce qu’il y avait dans la lettre, mais que je le sais tout seul. En réalité, il ne sait donc rien, sinon que je le sais, mais que ce n’est pas raison pour que je le lui dise.

En fait, ce Savoir Absolu, j’y ai bien fait plus qu’allusion quelque part, j’y ai vraiment insisté avec mes gros sabots, à savoir que tout l’appendice que j’ai ajouté à mon écrit sur La lettre volée, à savoir ce qui va de la page 52 à la page 60, et que j’ai intitulé en partie Parenthèse des parenthèses, c’est très précisément ce quelque chose qui – là - se substitue à Bozef.

Alain Didier-Weill, lui, c’est pas qu’il se substitue : il s’identifie à Bozef… Il se sent, il se sent dans la Passe. 

C’est assez curieux qu’il ait pu, en quelque sorte dans cet écrit, trouver, si je puis dire, l’appel qui a répondu pour moi, m’a fait répondre par la Passe.

Le Réel dont il s’agit, c’est le nœud tout entier.  Puisque nous parlons du Symbolique, il faut le situer dans le Réel. Il y a, pour ce nœud, corde.  La corde, c’est aussi le corps-de. Ce corps-de, est parasité par le signi­fiant. Car le signifiant, s’il fait partie du Réel, si c’est bien là que j’ai rai­son de situer le Symbolique, il faut penser à ceci, c’est que cette corps-de, nous pourrions bien n’y avoir affaire que dans le noir. Comment recon­naîtrions-nous, dans le noir, que c’est un nœud borroméen? 

C’est de cela qu’il s’agit dans la Passe. Je sais qu’il sait , qu’est-ce que ça peut vouloir dire, sinon d’objectiver l’inconscient, à ceci près que l’objectiva­tion de l’inconscient nécessite un redoublement, à savoir que  je sais qu’il sait que je sais qu’il sait. C’est à cette condition seule que l’analy­se tient son statut. 

C’est ce qui fait obstacle, à ce quelque chose qui, à se limiter au  Je sais qu’il sait , ouvre la porte à l’occultisme, à la télépa­thie. C’est pour n’avoir pas assez saisi, assez bien saisi, le statut de l’anti­-savoir, à savoir de l’anti-inconscient… autrement dit de ce pôle, de ce pôle qu’est le conscient …que Freud se laissait de temps en temps chatouiller par ce qu’on a appelé depuis les phénomènes psy, à savoir qu’il se mettait à glisser tout doucement dans le délire, à propos du fait que Jones lui faisait passer sa carte de visite juste après qu’un patient lui ait eu men­tionné incidemment le nom de Jones.

La Passe dont il s’agit, je ne l’ai envisagée que d’une façon tâtonnan­te, comme quelque chose qui ne veut rien dire que de se reconnaître entre soir, si je puis m’exprimer ainsi, à condition que nous y insérions un av après la première lettre : se reconnaître entre S(av) oir. 

Y a-t-il des langues qui font obstacle à la reconnaissance de l’inconscient? C’est quelque chose qui m’a été suggéré comme question par le fait de ce Cest toi, où Alain Didier-Weill veut que communique Bozef avec le Roi dans ce moment, qu’il m’a imputé - bien à tort - grâce au fait qu’il a relevé le terme de « communion » quelque part dans mes Écrits. 

C’est toi, est-ce qu’il y a des langues dans lesquelles ça pourrait être un Toi sait du verbe savoir, à savoir quelque chose qui mettrait le Tu qui le ferait glisser à la troisième personne. Tout ceci pour avancer, pour dire que c’est vraiment divinatoire que Alain Didier-Weill ait pu relier ce que j’appelle la Passe avec La lettre volée

Il y a sûrement quelque chose qui tient le coup, quelque chose qui consiste dans l’introduction de Bozef. Bozef se promène là-dedans, comme je l’ai vraiment indiqué dans le texte même de La lettre volée… comme je l’ai vraiment indiqué : je parle tout le temps, à chaque page, de ceci qui est sur le point de se produire, c’est même au point que c’est là-dessus que je termine …qu’une lettre arrive toujours à destination, à savoir qu’elle est en somme adressée au Roi, et que c’est pour ça qu’il faut qu’elle lui parvienne. 

Que dans tout ce texte je ne parle que de ça, à savoir de l’imminence du fait que le Roi ait connaissance de la lettre, est-ce que ce n’est pas dire, à savoir avancer, qu’il la connaît déjà ? Non seulement qu’il la connaît déjà, mais je dirai qu’il la reconnaît. Est-ce que cette reconnaissance n’est pas, très précisément, ce qui seul peut assurer la tenue du couple Reine et Roi?

Voilà ce que je voulais vous dire aujourd’hui. 

 

 

 

A aula 7 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/07_insu15-02-77.mp3

 

 





 




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