domingo, abril 16, 2023

SEMINÁRIO LACAN: 1976-1977


O In-sabido que sabe d-um tropeço se joga no amorte

Seminário de 1976-1977

Jacques Lacan 

Aula 9

15 de Março de 1977


Existem pessoas bem intencionadas em meu entorno... e isso já levanta uma montanha de problemas: o que se pode fazer com pessoas bem intencionadas em meu entorno? É que elas não me conhecem! Porque quanto a mim não estou pleno de boas intenções … enfim essas pessoas bem-intencionadas às vezes me escrevem cartas tendendo… enfim, estava escrito… estava escrito que minha última gagueira concernente ao discurso que chamo de analítico foi um lapso. Me escreveram textualmente.

O que distingue o lapso do erro grosseiro? Tenho tanto mais tendência, quanto a mim, a pensar como erro o que se qualifica de lapso aqui, e que - mesmo assim - esse discurso analítico, eu havia falado um pouco dele... Quando falo, imagino que digo alguma coisa.

O desagradável é que onde eu fiz um lapso - onde eu deveria ter feito um lapso - em matéria, se assim posso dizer, foi em matéria de escrita que eu fiz um lapso. Isso toma uma importância particular quando se trata da escrita, para alguém - eu nesta ocasião - para alguém que acha. No passado eu cheguei a dizer, imitando alguém que é um pintor célebre: Eu não procuro, eu acho.  No ponto em que estou, tanto não acho como não procuro, dito de outra maneira, eu giro em círculos. E foi bem isso que se produziu a propósito desse lapso: as letras escritas não estavam no bom sentido - no sentido em que elas giram - mas estavam desordenadas.

Deve-se dizer que não cometi esse lapso inteiramente sem razão, quero dizer que a ordem em que as letras estavam girando, eu certamente fiz uma imagem disso, mas pelo menos creio que sei o que quis dizer. Vou tentar hoje explicar para vocês o quê.

Eu fui encorajado pela audiência que recebi, ontem à noite na Escola Freudiana, dasenhora Kress-Rosen. Não vou pedir que ela se levante, embora possa vê-la muito bem. Eu estava até bem inquieto em saber se ela estaria aqui entre os chamados ouvintes, e não vejo por que eu colocaria esse termo no feminino, uma vez que não tem sentido, não tem sentido válido.

A senhora Kress-Rosen teve a bondade de dizer ontem à noite, quase o que eu queria dizer a uma pessoa... da qual não há mais dúvida de que eu a encontre, já que ela é uma pessoa, a quem eu pedi para telefonar para casa e que não o fez ...ela é alguém que faz parte da rádio alemã, eu não sei muito bem, não sei o nome dela pra falar a verdade, mas ela me pediu – parece a conselho de Roman Jakobson – para responder algo sobre o que o concerne.

Meu primeiro sentimento foi dizer que o que eu chamo de linguisteria... Madame Kress-Rosen fez todo um sortilégio com esta denominação ... que o que chamo de linguisteria exige a psicanálise para ser sustentada. Eu acrescentaria que não há outra linguística senão a  que eu chamo de linguisteria, o que não não quer dizer que a psicanálise seja toda linguística.

O evento o prova, à saber, que se faz linguística há um longo tempo, desde Crátilo, desde Donato, desde Prisciano, que sempre se fez, e isso também não ajuda em nada, e eu tendia a dizer isso da última vez – percebi isso a propósito desse S1 e este S2 que estão separados na  notação correta do que chamei de discurso psicanalítico. Acho que, malgrado tudo, vocês conseguiram um pouco de informação com os belgas, e que o fato de eu ter falado da psicanálise como sendo uma escroqueria chegou aos seus ouvidos, eu diria mesmo que insisti nisso falando desse S1 que parece prometer um S2.

Vocês ainda têm que lembrar neste momento o que eu disse sobre o sujeito…é, à saber, a relação desse S1 com esse S...eu disse, em seu tempo, que um significante seria o que representa o sujeito ao lado de outro significante. Então o que podemos deduzir disso? Vou lhes dar uma pequena indicação, mesmo que seja apenas para clarear a minha rota, porque ela não é auto-evidente.

A psicanálise pode ser uma escroqueria, mas não é uma qualquer. É uma escroqueria que tomba justamente em relação ao que é o significante. E o significante, deve-se notar bem, é algo muito especial: tem o que se chama de efeitos de sentido, e me bastaria conotar o S2, não por ser o segundo no tempo, mas por ter um duplo sentido, para que o S1 tome seu lugar, e seu lugar corretamente.

Deve-se dizer ao mesmo tempo que o peso dessa duplicidade de sentido é comum a todo significante. Acho que a senhora Kress-Rosen não vai me contradizer nisso ... se ela quiser se opor de alguma forma, ela é totalmente livre para para me fazer algum sinal porque, repito, eu me felicito por ela estar aqui ... a psicanálise não é – eu diria – uma escroqueria mais do que a própria poesia, e a poesia se fundamenta precisamente sobre essa ambiguidade de que falo e qualifico como duplo sentido.

A poesia me parece de qualquer maneira originar-se da relação do significante com o significado. Podemos dizer que de certa forma a poesia é imaginariamente simbólica. Quero dizer que penso isso desde ontem, quando a senhora Kress-Rosen evocou Saussure e sua distinção entre a língua e palavra, não sem notar, aliás, que no que diz respeito a esta distinção, Saussure havia flutuado.

Ainda resta que seu ponto de partida…à saber, que a língua é fruto de uma maturação, de um amadurecimento de alguma coisa que se cristaliza no uso ...resta dizer que a poesia se levanta à partir de uma violência feita a esse uso e que – temos provas disso – se mencionei  da última vez Dante e a poesia amorosa, foi para marcar bem essa violência que a filosofia faz de tudo para apagar.

É bem por isso que a filosofia é o campo de ensaio da escroqueria e não podemos dizer que a poesia não joga aí também, à sua maneira, inocentemente, no que chamei há um instante, o que conotei de imaginariamente simbólico, isso se chama a Verdade.

Isso se chama a Verdade, notadamente no que concerne a relação sexual, à saber, como eu digo...talvez o primeiro, e não vejo por que eu não faria disso um título ...a relação sexual: ela não existe, digo propriamente falando, no sentido de que haveria algo que faria com que um homem necessariamente reconhecesse uma mulher. É certo que eu tenho essa fraqueza de reconhece-la, mas estou assaz advertido para apontar que não existe este la, o que coincide com a minha experiência, à saber, de que não reconheço todas as mulheres.

Ela não existe…mas deve-se dizer mesmo assim porque isso não é evidente …ela não existe, salvo se for incestuosa…é exatamente o que Freud adiantou ...ela não existe salvo se for incestuosa ou assassina, quero dizer que o que Freud disse é isso que o mito de Édipo designa: isso: que a única pessoa com quem se quer dormir é a mãe e, quanto ao pai, se o mata.

É mesmo um tanto mais provável quando não se sabe quem é seu pai e quem é sua mãe, e é exatamente por isso que o mito de Édipo tem um sentido: ele matou alguém que não conhecia e dormiu com alguém que ele não fazia nenhuma idéia de que era sua mãe. No entanto, foi assim que as coisas aconteceram de acordo com o mito, e o que isso quer dizer é que, em suma, só existe de verdadeiro a castração.

Em todo o caso com a castração, temos a certeza de escapar dela, como toda essa dita mitologia grega bem a designa para nós, quer dizer, que com o pai não se trata tanto de assassinato, mas de sua castração, que a castração passa pelo assassinato e que, quanto à mãe, o melhor que temos a fazer é cortá-la para se estar bem seguro de não cometer incesto. Sim…

O que eu gostaria é de lhes dar a refração dessas verdades no sentido. Seria necessário conseguir dar uma ideia de uma estrutura, que é tal que encarnaria o sentido de uma forma correta.

Contrariamente ao que se diz, não há verdade sobre o Real, pois o Real se desenha como excluindo o sentido. Isso ainda seria dizer demais, que existe o Real, porque dizer isso é o mesmo que supor um sentido.

A própria palavra Real tem um sentido, eu até, a meu tempo, joguei um pouco com ela, quero dizer que, para invocar as coisas, evoquei o eco da palavra reus que, como vocês sabem, em latim significa culpado: somos mais ou menos culpados do Real. É bem por isso mesmo que a psicanálise é uma coisa séria, quero dizer que não é absurdo dizer que ela pode deslizar para a escroqueria.

Há uma coisa que deve ser notada de passagem, que é que, como apontei na última vez para Pierre Soury... na última vez, quero dizer, em seu próprio local, em Jussieu, aquele de que lhes falei da última vez ...apontei a ele que o toro revirável que ele aproxima do nó borromeano é algo que, para o nó em questão, supõe que um único toro seja revirado.

Não, é claro, que não se possa revirar outros, mas então não é mais um nó borromeano. Eu dei a vocês uma ideia disso num pequeno desenho da última vez. Não é, portanto, surpreendente enunciar a propósito de que este toro… este toro que parte de um nó triplo borromeano, ...que este toro, se nós o revirarmos, podemos qualificar o que está nesse toro - nesse toro do Simbólico - como simbolicamente real.

O simbolicamente real não é o realmente simbólico, porque o realmente simbólico é o Simbólico incluído no Real. O Simbólico incluído no Real tem sim um nome, chama-se mentira. Ao passo que o simbolicamente real... quero dizer, o que do Real é conotado no interior do Simbólico …isso se chama angústia.

O sinthoma é real, é mesmo a única coisa verdadeiramente real, quer dizer que tem um sentido, que conserva um sentido no Real. É bem por isso que o psicanalista pode, se tiver a chance, intervir simbolicamente para dissolvê-lo no Real.

Dessa maneira eu vou mesmo notar para vocês de passagem o que é simbolicamente imaginário. Bem, isso é geometria... o famoso mos geometricus de que tanto se falou ...é a geometria dos anjos, quer dizer qualquer coisa que, malgrado a escritura, não existe.

Certa vez, provoquei muito o reverendo padre Teilhard de Chardin, apontando-lhe que, se ele se importava tanto com as Escrituras, ele tinha que reconhecer que existiam anjos. Paradoxalmente o reverendo padre Teilhard de Chardin não acreditava nisso, acreditava no homem, daí sua história de hominização do planeta. Não vejo por que acreditaríamos mais na hominização de qualquer coisa que seja do que na geometria.

A geometria concerne expressamente aos anjos, e quanto ao resto, quer dizer, quanto à estrutura, reina apenas uma coisa, é o que eu chamo de inibição. É uma inibição que eu ataco, quero dizer, que eu me inquieto com tudo o que lhes aporto como estrutura, uma inquietação que só está relacionada ao fato de que a verdadeira geometria não é aquela em que acreditamos, aquela que vem dos puros espíritos, mas aquela que tem um corpo, é isso o que queremos dizer quando falamos de estrutura. E para começar a colocar o preto no branco, vou mostrar do que é que se trata quando falamos de estrutura. Trata-se de algo como isso:



É, à saber, um toro furado - isso, devo a Pierre Soury - quero dizer que é fácil completar esse toro. Vocês veem bem que aqui está, se assim se pode dizer, a borda - se assim se pode exprimir, assim impropriamente - a borda do furo que está no toro e isso tudo é o corpo do toro.




Este toro, não é suficiente desenhá-lo assim. Porque percebemos que furando este toro, ao mesmo tempo fazemos um furo em outro toro. Isso é próprio do toro, porque é igualmente legítimo desenhar o furo aqui e fazer um toro que está, se assim posso dizer, encadeado a esse. De fato, é assim que se pode dizer que, ao furar um toro, fura-se ao mesmo tempo um outro toro, que é aquele que tem uma relação de encadeamento com ele.

Então, vou tentar figurar para vocês o que podemos aqui desenhar de uma estrutura da qual vocês veem que, desenhando em duas cores, penso que é suficientemente evidente que isso, à saber, o verde em questão, está no interior do toro vermelho, mas por outro lado aqui vocês podem ver que o segundo toro está no exterior. Mas este não é um segundo toro, pois o que está em jogo é sempre a mesma figura, mas uma figura que demonstra que pode deslizar para o interior deste que chamarei de toro vermelho, que desliza ao retornar e que realiza esse toro em cadeia com o primeiro.

Este verde... este verde que está na superfície, exterior ao toro vermelho …se o girarmos, ele será aqui representado por seu próprio deslize, e o que podemos dizer de um e o outro é que esse toro verde é exatamente o que representa o que poderíamos chamar de complemento do outro toro, quer dizer, do toro encadeado.

Mas suponhamos que seja o toro vermelho que fazemos deslizar assim. O que obteremos é isso, é algo que encontraremos numa realização inversa, que algo que é vazio estará enodado a algo que é vazio, à saber, que o que está ali, aparecerá lá. Dito de outra maneira, o que suponho com essa manipulação é que, longe de ter duas coisas concêntricas, teremos, ao contrário, duas coisas que se jogam uma na outra.

E o que quero lhes designar com isso é algo que me perguntaram quando falei da Palavra Plena e da Palavra Vazia. Esclareço agora:

 

- A palavra plena é uma palavra plena de sentido.

- A palavra vazia é aquela que só tem a significação.

 

Espero que a Sra. Kress-Rosen - cujo sorriso malicioso ainda vejo - não veja isso como um grande inconveniente.

Quero dizer com isso que uma palavra pode ser de uma vez plena de sentido...ela é plena de sentido porque ela parte dessa duplicidade que desenhei aqui, é porque a palavra tem duplo sentido, que ela é S2, que a palavra sentido é plena dele mesmo.

Quando falo da Verdade, é ao sentido que me refiro, mas o que é próprio da poesia quando ela falha é justamente ter uma só significação, ser puro nó de uma palavra com outra palavra. O fato é que a vontade de sentido consiste em eliminar o duplo sentido, o que não se concebe senão ao se realizar, se assim posso dizer, um corte, quer dizer, garantindo que exista apenas um sentido, o verde cobrindo o vermelho na ocasião.

Como pode o poeta realizar esse forçamento, fazer com que o sentido esteja ausente? É, bem entendido, substituindo-o, esse sentido ausente, pelo que chamei de significação. A significação não é o que um povo vaidoso acredita ser, se assim posso dizer.

A significação é uma palavra vazia, dito de outra maneira, é o que, a propósito de Dante, se expressa no qualificativo de sua poesia, à saber, que ela seja amorosa. O amor não passa de uma significação, quer dizer, ele é vazio e podemos ver claramente a maneira como Dante a encarna, essa significação.

O desejo tem um sentido, mas o amor, tal como já discuti em meu seminário sobre a Ética, tal como o amor cortês o suporta, é apenas uma significação.

Aí está. Eu me contentarei em dizer o que lhes disse hoje  porque, aliás, não vejo por que deveria insistir.

 

Texto em francês


L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre

Séminaire de 1976-1977

Jacques Lacan

 

Leçon 9

15 Mars 1977     



Il y a des gens bien intentionnés à mon endroit… et déjà ça soulè­ve une montagne de problèmes : qu’est-ce qui peut bien faire que des gens soient bien intentionnés à mon endroit ?  C’est qu’ils ne me connaissent pas ! Car, quant à moi je ne suis pas plein de bonnes inten­tions …enfin ces bien intentionnés m’ont quelquefois écrit des lettres tendant… enfin, c’était écrit… c’était écrit que mon bafouillage de la dernière fois concernant le discours que j’appelle analytique,  était un lapsus. Ils ont écrit ça textuellement. 

Qu’est-ce qui distingue le lapsus de l’erreur grossière? J’ai d’autant plus tendance, quant à moi, à classer comme erreur ce qu’on qualifie de lapsus que - quand même - ce discours analytique, j’en avais un tant soit peu parlé…Quand je parle, je m’imagine que je dis quelque chose. 

L’ennuyeux, c’est que là où j’ai fait lapsus - où je suis censé avoir fait lapsus - c’est en matière, si je puis dire, en matière d’écrit, que j’ai fait lapsus. Ça prend une particulière importance quand il s’agit d’écrit, par quelqu’un - moi en l’occasion - par quelqu’un trouvé. Autrefois il m’est arrivé de dire, à l’imitation d’ailleurs de quelqu’un qui était un peintre célèbre : Je ne cherche pas, je trouve. Au point où j’en suis, je ne trouve pas tant que je ne cherche, autrement dit je tourne en rond. Et c’est bien ce qui s’est produit à propos de ce lapsus : c’est que les lettres écrites n’étaient pas dans leur bon sens - dans le sens où elles tournent - mais étaient embrouillées. 

Il faut quand même bien dire que je n’ai pas fait ce lapsus tout à fait sans raison, je veux dire que l’ordre dans lequel les lettres tournaient, je l’ai certes imaginé, mais je crois tout au moins savoir ce que je voulais dire. Je vais essayer aujourd’hui de vous expliquer quoi. 

J’y suis encouragé par l’audition que j’ai reçue hier soir à l’École freudienne d’une madame Kress-Rosen. Je ne vais pas lui demander de se lever, encore que je la voie fort bien. Je me suis même tout à fait inquiété de savoir si elle était là parmi ce qu’on appelle des auditrices, et je ne vois pas pourquoi je met­trais ce terme au féminin, puisque ça n’a pas de sens, ça n’a pas de sens valable.

Madame Kress-Rosen a eu la bonté de dire hier soir, presque ce que je voulais dire à une personne…dont il n’est d’ailleurs plus question que je la rencontre, puisque c’est une personne à qui j’ai demandé de télépho­ner chez moi et qui ne l’a pas fait …c’est quelqu’un qui fait partie de la radio allemande, je ne sais pas très bien, je ne sais pas son nom à la véri­té, mais elle m’a demandé - paraît-il sur l’avis de Roman Jakobson - de répondre quelque chose sur ce qui le concerne.

Mon premier sentiment était de dire que ce que j’appelle la linguisterie…Madame Kress-Rosen a fait un sort à cette appellation …que ce que j’appelle la linguisterie exige la psychanalyse pour être soutenue. J’ajouterai qu’il n’y a pas d’autre linguistique que ce que j’appelle lin­guisterie, ce qui ne veut pas dire que la psychanalyse soit toute la linguis­tique. 

L’événement le prouve, c’est à savoir qu’on fait de la linguistique depuis très longtemps, depuis le Cratyle, depuis Donat, depuis Priscien, qu’on en a toujours fait, et ceci d’ailleurs n’arrange rien puisque je tendais à dire la dernière fois - je m’en suis aperçu à propos de ce S1 et de cet S2 qui sont séparés dans la notation correcte de ce que j’ai appelé discours psychanalytique. Je pense que malgré tout vous vous êtes un peu infor­més auprès des Belges, et que le fait que j’ai parlé de la psychanalyse comme pouvant être une escroquerie, est parvenu à vos oreilles, je dirais même que j’y insistais en parlant de ce S1 qui paraît promettre un S2.

Il faut quand même à ce moment-là se souvenir de ce que j’ai dit concernant le sujet… c’est à savoir le rapport de cet S1 avec cet S2 …j’ai dit, dans son temps, qu’un signifiant était ce qui représente le sujet auprès d’un autre signifiant. Alors quoi en déduire? Je vais quand même un peu vous donner une indication, ne serait-ce que pour éclairer ma route parce que, elle ne va pas de soi. 

La psychanalyse est peut-être une escro­querie, mais ça n’est pas n’importe laquelle. C’est une escroquerie qui tombe juste par rapport à ce qu’est le signifiant. Et le signifiant, il faut quand même bien remarquer qu’il est quelque chose de bien spécial : il a ce qu’on appelle des effets de sens, et il suffirait que je connote le S2, non pas d’être le second dans le temps, mais d’avoir un sens double, pour que le S1 prenne sa place, et sa place correctement. 

Il faut quand même dire que le poids de cette duplicité de sens est commun à tout signifiant. Je pense que Madame Kress-Rosen ne me contredira pas… si elle veut s’y opposer d’une façon quelconque, elle est tout à fait libre de me faire signe puisque, je le répète, je me félicite qu’elle soit là …la psychanalyse n’est pas - je dirai - plus une escroquerie que la poésie elle-même, et la poésie se fonde précisément sur cette ambiguïté dont je parle et que je qualifie du sens double. 

La poésie me paraît quand même relever de la relation du signifiant au signifié. On peut dire d’une certaine façon que la poésie est imaginairement symbolique. Je veux dire que, puisque Madame Kress-Rosen hier a évoqué Saussure et sa distinction de la langue et de la parole, non d’ailleurs sans noter, que quant à cette dis­tinction, Saussure avait flotté. 

Il reste quand même que son départ… à savoir que la langue est le fruit d’une maturation, d’un mûrissement de quelque chose qui se cristallise dans l’usage …il reste que la poésie relève d’une violence faite à cet usage et que - nous en avons des preuves - si j’ai évoqué la dernière fois Dante et la poésie amoureuse, c’est bien pour marquer cette violence que la philosophie fait tout pour effacer. 

C’est bien en quoi la philosophie est le champ d’essai de l’escroquerie et en quoi on ne peut pas dire que la poésie n’y joue pas, à sa façon, inno­cemment, ce que j’ai appelé à l’instant, ce que j’ai connoté de l’imaginairement symbolique, ça s’appelle la Vérité. 

Ça s’appelle la Vérité   notamment concernant le rapport sexuel, c’est à savoir que, comme je le dis… peut-être le premier, et je ne vois pas pourquoi je m’en ferai un titre …le rapport sexuel : il n’y en a pas, je veux dire à proprement parler, au sens où il y aurait quelque chose qui ferait qu’un homme reconnaîtrait forcément une femme. C’est certain que moi, j’ai cette faiblesse de la reconnaître la, mais je suis quand même assez averti pour avoir fait remarquer qu’il n’y a pas de la, ce qui coïncide avec mon expérience, à savoir que je ne reconnais pas toutes les femmes. 

Il n’y en a pas… mais il faut tout de même bien dire que ça ne va pas de soi …Il n’y en a pas, sauf incestueux… c’est très exac­tement ce qu’a avancé Freud …Il n’y en a pas sauf incestueux ou meurtrier, je veux dire que ce que Freud a dit, c’est que le mythe d’ŒDIPE désigne ceci : que la seule personne avec laquelle on ait envie de coucher, c’est sa mère, et que pour le père, on le tue. 

C’est même d’autant plus probable qu’on ne sait ni qui sont votre père et votre mère, c’est exactement comme ça que le mythe d’Œdipe a un sens : il a tué quelqu’un qu’il ne connais­sait pas et il a couché avec quelqu’un dont il n’avait aucune idée que c’était sa mère. C’est néanmoins comme ça que les choses se sont passées selon le mythe, et ce que ça veut dire, c’est qu’en somme il n’y a de vrai que la castration. 

En tout cas avec la castration, on est bien sûr d’y échapper, comme toute cette dite mythologie grecque nous le désigne bien, c’est à savoir que le père, c’est pas tellement du meurtre qu’il s’agit que de sa castration, que la castration passe par le meurtre et que, quant à la mère, le mieux qu’on ait à en faire, c’est de se le couper pour être bien sûr de ne pas commettre l’inceste. Ouais…

Ce que je voudrais, c’est vous donner la réfraction de ces vérités dans le sens. Il faudrait arriver à donner une idée d’une structure, qui soit telle que ça incarnerait le sens d’une façon correcte. 

Contrairement à ce qu’on dit, il n’y a pas de vérité sur le Réel, puisque le Réel se dessine comme excluant le sens. Ça serait encore trop dire, qu’il y a du Réel, parce que pour dire ceci, c’est quand même supposer un sens. 

Le mot Réel a lui-même un sens, j’ai même, dans son temps, un petit peu joué là-dessus, je veux dire que, pour invoquer les choses, j’ai évoqué en écho le mot reus qui comme vous le savez, en latin veut dire coupable : on est plus ou moins coupable du Réel. C’est bien en quoi d’ailleurs la psychanalyse est une chose sérieuse, je veux dire que c’est pas absurde de dire qu’elle peut glisser dans l’escroquerie.

Il y a une chose qu’il faut noter au passage, c’est que, comme je l’ai fait remarquer la dernière fois à Pierre Soury… la dernière fois, je veux dire dans son local même, à Jussieu, celui dont je vous ai parlé la dernière fois …je lui ai fait remarquer que le tore retournable dont il fait l’approche du nœud borroméen est quelque chose qui, pour le nœud en question, suppose qu’un seul tore est retourné. 

Non pas, bien sûr, qu’on ne puis­se en retourner d’autres, mais alors ce n’est plus un nœud borroméen. Je vous ai donné une idée de ça par un petit dessin la dernière fois. Il n’est donc pas surprenant d’énoncer à propos de ce tore…de ce tore qui part d’un nœud borroméen triple, …de ce tore si vous le retournez, de qualifier ce qui est dans le tore - dans le tore du Symbolique - de symboli­quement réel.

Le symboliquement réel  n’est pas le réellement symbo­lique, car le réellement symbolique c’est le Symbolique inclus dans le Réel. Le Symbolique inclus dans le Réel a bel et bien un nom, ça s’ap­pelle le mensonge. Au lieu que le symboliquement réel … je veux dire ce qui du Réel se connote à l’intérieur du Symbolique …c’est ce qu’on appelle l’angoisse. 

Le sinthome est réel, c’est même la seule chose vrai­ment réelle, c’est-à-dire qui ait un sens, qui conserve un sens dans le Réel. C’est bien pour ça que le psychanalyste peut, s’il a de la chance, intervenir symboliquement pour le dissoudre dans le Réel.

Alors je vais quand même vous noter en passant ce qui est symboli­quement imaginaire. Eh bien, c’est la géométrie… le fameux mos geome­tricus dont on a fait tant état …c’est la géométrie des anges, c’est-à-dire quelque chose qui malgré l’écriture n’existe pas. 

J’ai autrefois beaucoup taquiné le Révérend Père Teilhard de Chardin , en lui faisant remarquer que, s’il tenait tellement à l’Écriture, il fallait qu’il reconnaisse que les anges, ça existait. Paradoxalement le Révérend Père Teilhard de Chardin n’y croyait pas, il croyait en l’homme, d’où son histoire d’hominisation de la planète. Je vois pas pourquoi on croirait plus à l’hominisation de quoi que ce soit qu’à la géométrie. 

La géométrie concerne expressément les anges, et pour le reste, c’est-à-dire pour la structure, ne règne qu’une chose, c’est ce que j’appelle l’inhibition. C’est une inhibition à laquelle je m’attaque, je veux dire que je me soucie, je me fais un tracas pour tout ce que je vous apporte ici comme structure, un tracas qui est seule­ment lié au fait que la géométrie véritable n’est pas celle que l’on croit, celle qui relève de purs esprits, que celle qui a un corps, c’est ça que nous voulons dire quand nous parlions de structure. Et pour commencer à vous mettre ça noir sur blanc, je vais vous montrer de quoi  il s’agit quand on parle de structure. Il s’agit de quelque chose comme ça:






C’est à savoir d’un tore troué - ça, je le dois à Pierre Soury - je veux dire que c’est facile de le complé­ter ce tore. Vous voyez bien qu’ici c’est, si on peut dire, le bord - si on peut s’exprimer ainsi, aussi improprement - le bord du trou qui est dans le tore et que tout ça c’est le corps du tore. 





Ce tore, il ne suffit pas de le dessiner ainsi. Car on s’aperçoit qu’à le trouer ce tore, on fait en même temps un trou dans un autre tore. C’est le propre du tore, car il est tout aussi légitime de dessiner ici le trou et de faire un tore qui soit, si je puis dire, enchaîné avec celui-là. C’est bien en quoi on peut dire qu’à trouer un tore, on troue en même temps un autre tore qui est celui qui a avec lui un rapport de chaîne.

Alors je vais essayer de vous figurer ce qu’on peut ici dessiner d’une structure dont vous voyez qu’à le dessiner en deux couleurs, je pense qu’il est suffisamment évident que ceci, à savoir le vert en question, est à l’intérieur du tore rouge, mais que par contre ici vous pouvez voir que le second tore est à l’extérieur. Mais ça n’est pas un second tore, puisque ce dont il s’agit, c’est toujours de la même figure, mais une figure qui se démontre pouvoir glisser à l’intérieur de ce que j’appellerai le tore rouge, qui glisse en tournant et qui réalise ce tore en chaîne avec le premier.

Ce vert… ce vert qui se trouve être à la surface, extérieur au tore rouge …si nous le faisons tourner, il va se trouver ici représenté par sa propre glissade, et ce que nous pouvons dire de l’un et de l’autre, c’est que ce tore vert est très précisément ce qui représente ce que nous pourrions appeler le complémentaire de l’autre tore, c’est-à­-dire le tore enchaîné. 

Mais supposez que ce soit le tore rouge que nous fassions glisser ainsi. Ce que nous obtenons, c’est ceci, c’est quelque chose, qui va se trouver inversement réaliser que quelque chose qui est vide se noue à quelque chose qui est vide, c’est à savoir que ce qui est là, va apparaître là. Autrement dit ce que je suppose par cette manipulation, c’est que, loin que nous ayons deux choses concentriques, nous aurons au contraire deux choses qui jouent l’une sur l’autre.

Et ce que je veux désigner par là, c’est quelque chose sur quoi on m’a interrogé quand j’ai parlé de Parole Pleine et de  Parole vVide. Je l’éclaire maintenant:

 

-       La parole pleine, c’est une parole pleine de sens. 

-       La parole vide, c’est une qui n’a que de la signification. 

 

J’espère que Mme Kress-Rosen - dont je vois toujours le sourire futé - ne voit pas à ça un trop grand inconvénient. 

Je veux dire par là qu’une parole peut être à la fois pleine de sens…  elle est pleine de sens parce qu’elle part de cette dupli­cité ici dessinée, c’est parce que le mot a double sens, qu’il est S2, que le mot sens est plein lui-même. 

Quand j’ai parlé de Vérité, c’est au sens que je me réfère, mais le propre de la poésie quand elle rate, c’est juste­ment de n’avoir qu’une signification, d’être pur nœud d’un mot avec un autre mot. Il n’en reste pas moins que la volonté de sens consiste à éli­miner le double sens, ce qui ne se conçoit qu’à réaliser, si je puis dire, une coupure, c’est-à-dire à faire qu’il n’y ait qu’un sens, le vert recouvrant le rouge dans l’occasion.

Comment le poète peut-il réaliser ce tour de force de faire qu’un sens soit absent? C’est, bien entendu, en le remplaçant, ce sens absent, par ce que j’ai appelé la signification. La signification n’est pas du tout ce qu’un vain peuple croit, si je puis dire. 

La signification, c’est un mot vide, autrement dit c’est ce qui, à propos de Dante, s’exprime dans le qualificatif mis sur sa poésie, à savoir qu’elle soit amoureuse. L’amour n’est rien qu’une signification, c’est-à-dire qu’il est vide et on voit bien la façon dont Dante l’incarne, cette signification. 

Le désir a un sens, mais l’amour tel que j’en ai déjà fait état dans mon séminaire sur L’Éthique, tel que l’amour courtois le supporte, ça n’est qu’une signification.

Voilà. Je me contenterai de vous dire ce que je vous ai dit aujourd’hui, puisque aussi bien je ne vois pas pourquoi j’insisterai.

 

 

 

A aula 9 desse seminário pode ser ouvida, em francês, à partir do seguinte link:

http://www.valas.fr/IMG/mp3/09_insu15-03-77.mp3

                                                                                                                                   

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